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PCH Atibaia : o contexto de reativação e a ocorrência de enchentes e inundações no município de Atibaia/SP

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NAYRA DE MORAES GONÇALVES

PCH Atibaia: O contexto de reativação e a

ocorrência de enchentes e inundações no

município de Atibaia/SP

84/2015

CAMPINAS 2015

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Dedico este trabalho a meus pais – Silvio Augusto Gonçalves e Marilene Pedrozo de Moraes –, essenciais para o cumprimento desta etapa, aos quais agradeço pelo apoio e incentivo. Ao Breno, pelo suporte e auxílio prestado em diversos momentos na realização deste trabalho. Minhas realizações e conquistas dedico e agradeço a vocês.

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Agradecimentos

Agradeço a todos que, generosamente, contribuíram para a realização desta dissertação. Primeiramente, gostaria de agradecer à minha orientadora, Prof.ª Dra. Sônia Regina da Cal Seixas, pela orientação, atenção e dedicação, por compartilhar seus conhecimentos comigo e me guiar durante a realização deste trabalho.

Agradeço também a todos da Faculdade de Engenharia Mecânica da UNICAMP, principalmente aos professores do Programa de Planejamento de Sistemas Energéticos, pela atenção, dedicação e empenho, principalmente ao Prof. Dr. Arnaldo Cesar da Silva Walter, Prof. Dr. Ennio Peres da Silva e Prof.ª Dra. Carla Kazue Nakao Cavaliero pela disponibilidade e acessibilidade, por poder compartilhar seu tempo e conhecimento, cujas contribuições e orientações foram essenciais para esta dissertação.

Em especial ao Prof. Dr. João Luiz de Moraes Hoeffel, quem considero um mestre, sendo muito importante em diversas conquistas, agradeço pelo incentivo, pela paciência, pelo exemplo, por partilhar sua vida e sua história, e parabenizo pela pessoa e pelo profissional que é.

Agradeço à CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – pela bolsa de estudos que me foi concedida; ao Programa de Planejamento de Sistemas Energéticos pelo apoio financeiro fornecido para a participação em congressos e eventos; ao CNPQ – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – e ao grupo de pesquisa Laboratório de Estudos Qualidade de Vida, Ambiente e Subjetividade, pelo incentivo e apoio, pelas discussões, sugestões e críticas, essenciais para a elaboração desta dissertação, e ao Projeto FAPESP (processo n. 2013/17173-5) pelo suporte recebido para a realização dos trabalhos de campo e elaboração de mapas e figuras.

A todos os profissionais que contribuíram para este trabalho, agradeço pelo material disponibilizado, a todos os entrevistados – técnicos, especialistas e população de Atibaia –, pela receptividade e colaboração, por partilhar sua percepção e disponibilizar seu tempo.

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Que na vida cotidiana suscitemos esperança no coração das pessoas com quem lidamos, tendo por lema proceder com amor e gentileza (...) Meishu Sama

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Resumo

O atual modelo de produção e consumo nos coloca perante uma crescente necessidade de produção de energia, sobretudo energia elétrica, e uma das principais fontes utilizadas no Brasil é a hidroeletricidade. Por outro lado, este modelo de desenvolvimento, baseado na industrialização e urbanização, gera pressão constante sobre os recursos naturais, com destaque para os recursos hídricos, o que, aliado com um planejamento urbano pouco efetivo, contribui para ocasionar impactos diversos, como enchentes e inundações. Dessa forma, esta dissertação visa a analisar o contexto em que ocorreu a tentativa de reativação da Pequena Central Hidrelétrica Atibaia, bem como as enchentes e inundações no município de Atibaia/SP. A metodologia utilizada na dissertação envolve a realização de revisão bibliográfica e a coleta de dados secundários junto a diversos órgãos governamentais e não governamentais atuantes na região; análise de relatórios; pesquisa de campo, que pode ser agrupada em três categorias: pesquisa empírica, entrevistas semiestruturadas com técnicos e especialistas envolvidos com a ocorrência de enchentes e inundações no município e aplicação de questionários à população; e, por fim, análise energética da PCH Atibaia. Com esses dados pode-se verificar que a ocorrência de enchentes e inundações deve ser atribuída a diversos fatores combinados entre si, e não a fatos isolados. Entre eles destaca-se o aumento do volume de precipitação em curto período de tempo nos meses de dezembro de 2009, janeiro de 2010 e 2011; aumento do grau de urbanização do município e, consequentemente, das áreas impermeáveis e da canalização dos recursos hídricos; ocupação de áreas de várzea e APP, entre outros. Verifica-se que o conflito sobre a reativação da PCH Atibaia teve origem em questões e interesses políticos e, pelo impacto e importância do tema e a diversidade de atores sociais envolvidos, ganhou grande destaque. Contudo, a maior parte da população – tanto afetada como não afetada – não possui muito conhecimento sobre o assunto, tendo sua opinião formada por questões que “ouviram falar”. Apesar disso, a maioria acredita que a reativação da PCH não tenha relação com a ocorrência dos eventos de enchente e inundações no município.

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Abstract

The current model of production and consumption place us towards a growing need for energy production, especially electricity, and one of the main sources used in Brazil is hydroelectricity. On the other hand, this model of development based on industrialization and urbanization, creates constant pressure on natural resources, especially water resources, which, combined with ineffective urban planning, contributes to cause different impacts such as floods and flooding. Thus, this work aims to analyze the context in which the attempt to reactivate the SHP Atibaia occurred, as well as its relation with floods and flooding in the municipality of Atibaia/SP. The methodology used in the dissertation involves literature reviews and the collection of secondary data from various governmental and non-governmental agencies active in the studied region; analysis of reports; field researches, which can be grouped into three categories: empirical research, semi-structured interviews with experts and specialists involved in the occurrence of floods and flooding in Atibaia and questionnaires applied with the local population; and finally, energy analysis of the SHP Atibaia. With this data it could be verified that the occurrence of floods and flooding should be attributed to several factors combined, and not isolated facts. Among them stands out the increase in the volume of rainfall in a short period of time in the months of December 2009, January 2010 and 2011; increase in the city's urbanization level and hence an increase in impervious areas and in the channeling of water resources; occupation of lowland areas and areas of permanent preservation (APP), among others. It appears that the conflict over the reactivation of SHP Atibaia originated both on issues and political interests, and due to the impact and importance of the topic, and the diversity of actors involved, the floods events gained extreme prominence. However, the majority of the population - both affected and unaffected - does not have much knowledge about it, and they have their opinion formed by issues that "were heard". Nevertheless, most believe that the reactivation of the SHP has no relation to the occurrence of floods and flooding events in the municipality of Atibaia.

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Lista de Ilustrações

Figura 1 – Custos de produção de energia elétrica no Brasil 11

Figura 2 – Empreendimentos em operação em novembro de 2008 18

Figura 3 – Diferença de escoamento antes e depois da urbanização 28

Figura 4 – Resposta da geometria do escoamento 29

Figura 5 – Participação da quantidade de desastres registrados por subgrupo e por continente em 2012 38 Figura 6 – Fluxograma de representação das estratégias metodológicas utilizadas 41

Figura 7 – Localização do município de Atibaia 46

Figura 8 – Densidade Demográfica 2013 48

Figura 9 – Evolução da ocupação do território no município de Atibaia 49

Figura 10 – Comparação Populacional entre o município de Atibaia, o estado de São Paulo e o Brasil 49 Figura 11 – Comparação da densidade demográfica entre o município de Atibaia, o estado de São Paulo e o Brasil 50 Figura 12 – Comparação da taxa de urbanização entre o município de Atibaia, o estado de São Paulo e o Brasil 50

Figura 13 – Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHI) 5 51

Figura 14 – Localização da bacia hidrográfica dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí 52

Figura 15 – Localização da bacia hidrográfica do Rio Atibaia 52

Figura 16 – Localização da APA do Sistema Cantareira 54

Figura 17 – Localização do Sistema Cantareira 55

Figura 18 – Localização da PCH Atibaia no município de Atibaia 58

Figura 19 – Vista externa da casa de força da PCH Atibaia, em Atibaia, SP 59

Figura 20 – Barragem da PCH Atibaia, em Atibaia, SP 59

Figura 21 – Comportas de fundo da PCH Atibaia, em Atibaia, SP 60

Figura 22 – Reservatório da PCH Atibaia, em Atibaia, SP 60

Figura 23 – Adutora esquerda da PCH Atibaia 60

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Figura 25 – Localização dos bairros afetados por enchentes e inundações em 2002 65 Figura 26 – Localização dos bairros afetados por enchentes e inundações no período de 2009 a 2010 67 Figura 27 – Localização dos bairros afetados por enchentes e inundações no período de 2010 a 2011 70

Figura 28 – Jardim Kanimar, janeiro de 2010 73

Figura 29 – Centro, janeiro de 2011 73

Figura 30 – Vazão média anual da PCH Atibaia 75

Figura 31 – Índice Pluviométrico médio anual para o município de Atibaia 76

Figura 32 – Vazão média anual estimada 77

Figura 33 – Razão entre vazão média anual estimada e vazão média anual real 77

Figura 34 – Comparação entre vazão média anual real e vazão média anual estimada da PCH Atibaia

78

Figura 35 – Ribeirão do Itapetininga – CTB, dezembro de 2014 108

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Lista de Tabelas

Tabela 1 – Classificação das centrais elétricas quanto à potência e quanto à queda de projeto 15 Tabela 2 – Evolução populacional e grau de urbanização no município de Atibaia 48

Tabela 3 – Número de afetados por período 64

Tabela 4 – Resumo dos danos ocasionados pelas enchentes e inundações em 2002 66 Tabela 5 – Resumo da avaliação sobre a intensidade do desastre ocasionado pelas enchentes e inundações em 2002 66 Tabela 6 – Resumo dos danos ocasionados pelas enchentes e inundações no período de 2009 a 2010 em Atibaia 68 Tabela 7 – Resumo da avaliação sobre a intensidade do desastre ocasionado pelas enchentes e inundações no período de 2009 a 2010 em Atibaia 69 Tabela 8 – Resumo dos danos ocasionados pelas enchentes e inundações no período de 2010 a 2011 em Atibaia 71 Tabela 9 – Resumo da avaliação sobre a intensidade do desastre ocasionado pelas enchentes e inundações no período de 2010 a 2011 em Atibaia 72 Tabela 10 – Tabela comparativa entre vazão real mensal, vazão estimada mensal e índice pluviométrico mensal no período de 2002 a 2011 79 Tabela 11 – Dados para o cálculo comparativo do perfil energético da PCH Atibaia entre os anos de 1962 e 2011 81

Tabela 12 – Sexo dos especialistas e técnicos entrevistados 84

Tabela 13 – Grau de instrução dos especialistas e técnicos entrevistados 84

Tabela 14 – Idade dos especialistas e técnicos entrevistados 84

Tabela 15 – Registro de casos de enchentes e inundações no município 85

Tabela 16 – Fatores que influenciaram a ocorrência de enchentes e inundações no município 85 Tabela 17 – Agentes envolvidos na ocorrência de enchentes e inundações no município 86 Tabela 18 – Influência da PCH Atibaia na ocorrência de enchentes e inundações no município 86

Tabela 19 – Reativação da PCH Atibaia 87

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Tabela 21 – Responsabilidade pela ocorrência das enchentes e inundações no município 89 Tabela 22 – Medidas que foram e vêm sendo tomadas para minimizar a ocorrência e os impactos das enchentes e inundações no município identificadas por especialistas e técnicos 90

Tabela 23 – Bairro de residência dos entrevistados da população afetada 91

Tabela 24 – Sexo dos entrevistados da população afetada 92

Tabela 25 – Idade dos entrevistados da população afetada 92

Tabela 26 – Nível de escolaridade dos entrevistados da população afetada 93

Tabela 27 – Ocupação dos entrevistados da população afetada 93

Tabela 28 – Renda dos entrevistados da população afetada 94

Tabela 29 – Período em que foi afetado por enchentes e inundações no município 94 Tabela 30 – Causas das enchentes e inundações identificadas pela população afetada 95 Tabela 31 – Medidas que foram e vêm sendo tomadas para minimizar a ocorrência e os impactos das enchentes e inundações no município, identificadas pela população afetada 96

Tabela 32 – Bairro de residência dos entrevistados da população não afetada 97

Tabela 33 – Sexo dos entrevistados da população não afetada 98

Tabela 34 – Idade dos entrevistados da população não afetada 98

Tabela 35 – Nível de escolaridade dos entrevistados da população não afetada 99

Tabela 36 – Ocupação dos entrevistados da população não afetada 99

Tabela 37 – Renda dos entrevistados da população não afetada 100

Tabela 38 – Período de ocorrência das enchentes e inundações no município 100

Tabela 39 – Causas das enchentes e inundações identificadas pela população não afetada 101 Tabela 40 – Medidas que foram e vêm sendo tomadas para minimizar a ocorrência e os impactos das enchentes e inundações no município, identificadas pela população não afetada 102

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Lista de Quadros

Quadro 1 – Classificação de Perigo 22

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Lista de Abreviaturas e Siglas

A – Área

ANA – Agência Nacional de Águas

ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica APA – Área de Preservação Ambiental

APP – Área de Preservação Permanente AVADAN – Avaliação de Danos

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CCC – Conta de Consumo de Combustível

CEDEC – Coordenadoria Estadual de Defesa Civil

CIIAGRO – Centro Integrado de Informações Agrometeorológicas CODEMA – Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente CGH – Central Geradora Hidrelétrica

COMDEC – Coordenadoria Municipal de Defesa Civil DAEE – Departamento de Águas e Energia Elétrica EAS – Estudo Ambiental Simplificado

ECP – Estado de Calamidade Pública EIA – Estudo de Impacto Ambiental EM-DAT – Emergency Events Database EPE – Empresa de Pesquisa Energética H – Altura

Iev – Índice de Evaporação Médio Mensal Iin – Índice de Infiltração Médio Mensal Ipl – Índice Pluviométrico Médio Mensal IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas PIB – Produto Interno Bruto

PCH – Pequena Central Hidrelétrica PIR – Planejamento Integrado de Recursos

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PPA – Power Purchase Agreement

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PROINFA – Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica RIMA – Relatório de Impacto Ambiental

RMSP – Região Metropolitana de São Paulo

Sabesp – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo SE – Situação de Emergência

SEADE – Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados SEDEC – Secretaria Nacional de Defesa Civil

SIGRH – Sistema de Informações para o Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo

SINDEC – Sistema Nacional de Defesa Civil

SSRH – Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo UGRHI – Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos

UHE – Usina Hidroelétrica Vesc – Água de Escoamento

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xxv SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 1 1.1 Objetivos 4 1.1.1 Geral 4 1.1.2 Específicos 4 1.2 Justificativa 4 1.3 Estrutura da Dissertação 6

2 ENERGIA, AMBIENTE E SOCIEDADE 8

2.1 A hidroeletricidade no Brasil 10

2.2 As Pequenas Centrais Hidrelétricas – PCHs 14

2.3 Riscos e vulnerabilidades socioambientais 19

2.4 Enchentes e inundações 24

2.4.1 Panorama global de enchentes e inundações 36

2.4.2 Panorama brasileiro de enchentes e inundações 40

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 41

3.1 Etapa 1: Obtenção de dados secundários 41

3.2 Etapa 2: Pesquisa de campo 42

3.3 Etapa 3: Análise Energética da PCH Atibaia 43

4 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA E DETALHAMENTO DO OBJETO DE ESTUDO 46

4.1 O Município de Atibaia 46

4.1.1 Área de Proteção Ambiental (APA) Várzea do Atibaia 55

4.2 PCH Atibaia 57

4.3 Agentes sociais envolvidos com as enchentes e inundações no município de Atibaia 61

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5.1 Enchentes e inundações no município de Atibaia 62

5.2 Caracterização e análise energética da PCH Atibaia 75

5.3 Fatores relacionados à ocorrência de enchentes e inundações no município de Atibaia 82

5.3.1 Análise dos relatórios 82

5.3.2 Entrevistas com especialistas e técnicos 83

5.3.3 Pesquisa com a população afetada 90

5.3.4 Pesquisa com a população não afetada 96

5.3.5 Conclusões 102

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES PARA PRÓXIMOS TRABALHOS 110

REFERÊNCIAS 122

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1 INTRODUÇÃO

Os avanços tecnológicos têm alterado significativamente o modo e a dinâmica de vida da sociedade. Ao mesmo tempo em que facilitam a vida das pessoas em alguns aspectos como o acesso a serviços e bens de consumo, proporcionando mais conforto e saúde, promovem mudanças de hábitos sociais e culturais da população. Essas mudanças vêm impulsionando a urbanização das cidades, o crescimento demográfico e a necessidade de mais insumos e energia, devido ao aumento da produção e, consequentemente, ao aumento da produção de resíduos, que, em conjunto com outros fatores, exercem pressão sobre a qualidade e disponibilidade dos recursos naturais (HOGAN; MARANDOLA, 2006) e podem gerar exclusão social e aumentar a exposição da população a diversos riscos e vulnerabilidades.

O consumo e, consequentemente, a necessidade de produção de energia, crescem cada vez mais, principalmente impulsionados pela expansão econômica e maior facilidade de acesso a bens e serviços, sobretudo nos países em desenvolvimento.

Nesse sentido, Baumol (1989, p. 212) salienta que:

A Revolução Industrial trouxe consigo crescente demanda de energia e matérias-primas que o mundo nunca tinha visto (...). Foi estimado, por exemplo, que nas duas primeiras décadas do século XX a humanidade consumiu mais energia do que havia feito em todos os séculos anteriores de sua existência.

Contudo, a atual crise de abastecimento de água na região Sudeste também afeta a produção de energia elétrica – uma seca histórica que comprometeu o nível dos reservatórios de água das grandes hidrelétricas – pondo em pauta o debate sobre a questão da segurança e sustentabilidade energética, bem como o atual planejamento energético brasileiro.

Outra questão importante a destacar é a pressão constante e progressiva sobre os recursos hídricos, já que as cidades se expandiram sem respeitar as características naturais e o percurso dos rios, havendo implantação de vias e construção de edificações em suas margens.

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Posteriormente, para “sanar” o problema das inundações que naturalmente ocorriam, optou-se por canalizá-los (AMARAL; RIBEIRO, 2012; TOMINAGA, 2012).

A urbanização altera não apenas a paisagem, como também a dinâmica hidrológica da bacia hidrográfica, modificando, inclusive, cursos hídricos. Verifica-se o aumento das vazões máximas devido à elevação da capacidade de escoamento através de dutos e canais; impermeabilização das superfícies à medida que a cidade se urbaniza; aumento de produção de resíduos sólidos e sedimentos (o último devido à desproteção das superfícies) (TUCCI, 2008), que, em conjunto e associados a outros fatores, podem ocasionar enchentes e inundações.

Verifica-se que a ocorrência de enchentes e inundações é cada vez mais frequente, gerando áreas de risco e vulnerabilidades socioambientais variadas. Segundo dados da Emergency Events Database – EM-DAT, um banco de dados internacional sobre desastres, no ano de 2013 foram cadastrados mundialmente 98 eventos relacionados a enchentes e inundações (considerando que muitos países não mantêm um banco de dados atualizado sobre esses eventos, o número real deve ser superior ao registrado oficialmente). Esses eventos causaram 8.355 mortes em todos os continentes, sendo a Ásia o mais afetado (EM-DAT, 2014).

O Brasil figura entre os países mais atingidos por inundações e enchentes mundialmente, tendo registrado 118 eventos desse tipo no período de 1900 a 2013, com 7.668 mortes e mais de 19 milhões de pessoas afetadas (entre desabrigados e desalojados) (EM-DAT, 2014).

Considerando a ocorrência de enchentes e inundações, principalmente em áreas urbanas ou urbanizadas, o relatório do IPCC (2014) destaca os problemas da Região Metropolitana de São Paulo, ressaltando as frequentes inundações que podem aumentar a vulnerabilidade de áreas densamente povoadas. O relatório também considera as inundações como um dos principais riscos globais relacionados às mudanças climáticas para as áreas urbanas.

O município de Atibaia, localizado no interior do Estado de São Paulo, a 65 km da capital, registrou casos de enchentes e inundações nos anos de 2002, 2009, 2010 e 2011, que causaram

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danos a 6.835 pessoas em 28 bairros do município (CEDEC, 2002; SEDEC, 2010; SEDEC, 2011).

O município de estudo é considerado uma Estância Turística e vem passando por diversas transformações socioambientais nas últimas décadas. A atividade turística tem impulsionado a criação de diversos empreendimentos e a oferta de serviços, mas também vem contribuindo para a crescente especulação imobiliária, já que o município apresenta diversas casas de segunda residência e é, muitas vezes, utilizado como cidade-dormitório para pessoas que trabalham na Região Metropolitana de São Paulo.

Além disso, a ocorrência de enchentes no período de 2009 a 2011 coincidiu com a realização de obras para a reativação de uma Pequena Central Hidrelétrica1 – PCH –, a PCH Atibaia, fazendo com que parte da população associasse esses eventos à referida obra, e resultando no cancelamento das obras e, consequentemente, da reativação esta PCH.

A reativação da PCH seria importante para complementar a produção de energia elétrica, que possui uma demanda cada vez maior. No Brasil, em alguns momentos, verificou-se déficit energético, já que a quantidade de energia produzida não atendia à demanda ou ainda, devido à lei de oferta e procura, ocorre o aumento da tarifa energética.

Além disso, seria importante resgatar um empreendimento que já possuía uma estrutura aproveitável do ponto de vista energético, e, por estar abandonado, ocasionava problemas à gestão municipal tais como vandalismo, prática de atos impróprios e violentos no local, bem como degradação da área.

Diante desse contexto, as indagações que permeiam esta dissertação são: quais foram os principais fatores que contribuíram para a ocorrência de enchentes e inundações no município de Atibaia? Houve, efetivamente, influência das obras para a reativação da PCH Atibaia na

1

Empreendimentos cujo aproveitamento hidrelétrico seja de potência entre 1,1 MW e 30 MW e reservatório com área igual ou inferior a 3 km2.

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ocorrência desses eventos? Quais medidas foram e vêm sendo tomadas para minimizar a ocorrência desses eventos, bem como a magnitude de seus impactos?

1.1 Objetivos

1.1.1 Geral

Analisar os contextos em que ocorreram a tentativa de reativação da Pequena Central Hidrelétrica Atibaia e as enchentes e inundações no município de Atibaia/SP, visando a identificar se houve relação entre os eventos.

1.1.2 Específicos

Apresenta-se como objetivos específicos:

- Realizar uma breve caracterização socioambiental do município de Atibaia;

- Descrever a ocorrência de enchentes e inundações no município, no período de 2000 a 2011, analisando seus efeitos socioambientais e as medidas tomadas para minimizá-los;

- Identificar os agentes sociais envolvidos com as enchentes e inundações no município de Atibaia e analisar a sua visão acerca do assunto.

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O tema energético é multidisciplinar, por envolver questões técnicas, econômicas, politicais, ambientais e sociais. Assim, o contexto em que se desenvolveram os fatos que impulsionaram a realização deste trabalho apresenta dois pontos primordiais: a tentativa de reativação da PCH Atibaia e a ocorrência de enchentes e inundações nesse município.

Existe uma divergência de opiniões sobre a reativação da PCH Atibaia, localizada em um bairro rural do município, já que um grupo representado principalmente pela Comissão dos Moradores dos Bairros Atingidos pelas Enchentes atribui a ocorrência dessas enchentes às obras para a reativação da referida PCH.

Segundo a visão defendida pela Comissão, a barragem da PCH estaria causando o estrangulamento da vazão do rio e, em tese, seria responsável pelas enchentes na região urbana de Atibaia. Esta convicção de que a PCH é a grande responsável pelas enchentes foi corroborada em função do relatório apresentado por um engenheiro contratado pela Comissão dos Moradores dos Bairros Atingidos pelas Enchentes em Atibaia para avaliar a situação (CESAR NETO, 2011).

Já segundo dados de um estudo preliminar apresentado pela Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo – SSRH – em conjunto com o Departamento de Águas e Energia Elétrica – DAEE –, existe um pequeno remanso que pode ser sentido em função da barragem da PCH Atibaia, mas sem capacidade de provocar eventos da magnitude registrada no Rio Atibaia (ATIBAIA, 2012).

Para fomentar ainda mais esse conflito, o Ministério Público ingressou com uma ação civil pública para responsabilizar judicialmente o prefeito e o ex-prefeito de Atibaia por irregularidades na formalização e manutenção da concessão para exploração da PCH, já que, de acordo com a ação, falhas na operação da usina juntamente com outros fatores de responsabilidade do poder público, como o assoreamento do Rio Atibaia e a ocupação irregular de áreas de várzea e de proteção permanente, contribuíram para a ocorrência das enchentes (MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2012).

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As enchentes e inundações ocasionaram diversos impactos e prejuízos ao município, além de terem afetado centenas de famílias, que, por sua vez, tiveram muitos danos financeiros, materiais e emocionais.

Contudo, a reativação da PCH Atibaia seria um importante passo ao município, devido à possibilidade de produzir energia elétrica, que é um bem social coletivo, e aproveitar uma estrutura e área que se encontravam subutilizadas, danificadas e vandalizadas.

1.3 Estrutura da Dissertação

Esta dissertação foi estruturada em seis capítulos, que apresentam suas subdivisões. O primeiro capítulo, já apresentado previamente, apresenta uma breve introdução sobre o tema de pesquisa, os objetivos que se pretende alcançar com a realização deste trabalho, bem como a justificativa e representatividade desta análise.

O segundo capítulo engloba a fundamentação teórica e conceitual que permeou esta pesquisa, através da realização de revisão bibliográfica de temas como energia, PCH, riscos, vulnerabilidades, enchentes e inundações.

O terceiro capítulo descreve as metodologias utilizadas nesta pesquisa, bem como as etapas adotadas, para que fosse possível atender aos objetivos propostos nesta dissertação e obter os resultados finais.

No quarto capítulo são realizados a caracterização da área e o detalhamento do objeto de estudo, com a apresentação do município de Atibaia e da PCH, bem como dos atores sociais envolvidos com os temas que permeiam esta dissertação.

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Atibaia, bem como das análises dos relatórios, das entrevistas e pesquisas realizadas neste trabalho, além de relacionar os resultados da análise energética com os resultados sociais.

Por fim, no capítulo seis, estão dispostas as considerações finais e recomendações para a realização de futuros trabalhos.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA: ENERGIA, AMBIENTE E SOCIEDADE

A energia é uma necessidade básica e essencial à sociedade e pode propiciar benefícios nas áreas de saúde, educação, segurança, sendo um importante fator para a redução da pobreza. De acordo com informações do Greenpeace (2007), a Meta de Desenvolvimento do Milênio de diminuir a pobreza global pela metade até 2015 (ou seja, o número de pessoas vivendo com menos de um dólar por dia) não será atingida sem que haja energia para aumentar a produção, renda, movimentar a economia e melhorar a qualidade de vida da população.

O consumo de energia foi lento até o século XVIII, quando, com a Revolução Industrial, houve um processo acelerado de inovações tecnológicas, aumentando o padrão do consumo de energia. Além disso, a partir do século XX houve uma expansão do uso dos combustíveis fósseis, sob outras fontes de energia.

Contudo, ainda verifica-se a existência de um déficit energético global, visto que, segundo dados do Greenpeace (2007) e Sawin (2004), cerca de um terço da população mundial ainda não possui acesso à eletricidade ou modernos serviços de energia, e outro terço dispõe apenas de acesso limitado. Esse déficit ocorre não apenas em razão de deficiências quanto ao suprimento da demanda de energia, como também devido à desigualdade relacionada ao consumo mundial, já que um cidadão americano comum chega a consumir cerca de 5 vezes mais energia quando comparado ao cidadão global, 10 vezes mais que o chinês e quase 20 vezes acima do consumido por um cidadão indiano (SAWIN, 2004). Apesar de a China e a Índia abrigarem mais de um terço da população mundial, representam juntas apenas 13% do consumo global de energia (SAWIN, 2004).

Tendências apresentadas por Geller (2003) indicam que, de acordo com o cenário business-as-usual, o uso de energia crescerá cerca de 2% ao ano nas próximas décadas, podendo dobrar os níveis registrados em 1990 até 2025, triplicar até 2050, crescendo mais ainda na segunda metade do século XXI. Os países em desenvolvimento, como China, Brasil e Índia, terão que aumentar

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(GREENPEACE, 2007), já que a classe de consumidores na maioria dos países em desenvolvimento representa menos da metade da população (GARDNER; ASSADOURIAN; SARIN, 2004).

Dados apresentados por Gardner, Assadourian e Sarin (2004) indicam que, com base apenas em projeções populacionais, a classe de consumidores globais2 está projetada, de forma conservadora, para atingir pelo menos 2 bilhões de pessoas até 2015. A China possui um potencial de expansão de mercado de 81%, equivalente a mais de 1 bilhão de novos potenciais consumidores, com números bastante semelhantes em escala para a Índia, enquanto no Brasil a classe de consumidores globais é de 57,8 milhões de pessoas, que representam 33% da população brasileira (segundo dados de 2002) (MELLO; HOGAN, 2007).

Essa expansão do mercado, com crescente aquisição de aparelhos eletrodomésticos e automóveis, gerará uma pressão ainda maior sobre os serviços energéticos, sobretudo sobre a demanda de energia elétrica.

O consumo de energia reflete a atividade produtiva (indústria, comércio e serviços) de uma localidade, bem como a sua capacidade de consumo. Em sociedades mais desenvolvidas não há muito espaço para crescimento da demanda por energia, enquanto que nos países em desenvolvimento existe uma grande parcela da sociedade excluída do mercado de consumo, o que representa uma demanda reprimida por eletrodomésticos, automóveis, eletroeletrônicos etc. (ANEEL, 2008).

Dentre as formas de energia disponíveis, a energia elétrica é a que mais se expande devido às suas características e aptidão para fornecer os principais serviços de energia desejados na sociedade atual (REIS; SILVEIRA, 2012).

2

Pessoas com renda superior a US$ 7.000 anuais em termos de paridade de poder aquisitivo (uma medida de renda ajustada ao poder aquisitivo em moeda local), aproximadamente o nível oficial da linha da pobreza da Europa Ocidental. A própria classe de consumidor global varia muito em termos de riqueza, mas seus membros dispõem de televisão, telefones e internet. Essa classe de consumidor soma cerca de 1,7 bilhão de pessoas (GARDNER; ASSADOURIAN; SARIN, 2004).

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2.1 A hidroeletricidade no Brasil

No Brasil, a maior parte da produção de energia elétrica é proveniente da hidroeletricidade, com aproveitamento do potencial hidráulico de cerca de 30%, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética - EPE (2013). As primeiras usinas foram instaladas entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX, principalmente para atender sistemas isolados, sendo constituídas por pequenos empresários ou pelas prefeituras municipais.

Dentre os países com maior potencial teórico do mundo, o Brasil se destaca em 3º lugar, com 3.040 TWh/ano, além de ocupar a mesma posição no ranking dos países com maior potencial hidrelétrico tecnicamente aproveitável (1.488 TWh/ano) (EPE, 2013).

A produção da energia hidrelétrica ocorre a partir do aproveitamento do potencial hidráulico de um curso d‟água, através da utilização da vazão do rio, da quantidade de água disponível em determinado período de tempo e seus desníveis, sejam eles naturalmente formados, como as quedas d‟água, sejam eles criados pela construção de barragens (TOLMASQUIM, 2005).

A energia hidráulica é proveniente da irradiação solar e da energia potencial gravitacional. O sol e a força da gravidade condicionam a evaporação, a condensação e a precipitação da água sobre a superfície da Terra. A gravidade ainda faz a água fluir pelo leito do rio, e esse movimento possui energia cinética, que pode ser convertida em energia mecânica, e esta, por sua vez, em energia elétrica, nas centrais hidrelétricas (TOLMASQUIM, 2005).

O aproveitamento do potencial hídrico para a produção de energia elétrica apresenta custo de produção relativamente menor em comparação com outras fontes (como os derivados de combustíveis fósseis e algumas fontes alternativas de energia, como o óleo diesel, o óleo combustível e a energia eólica), conforme apresentado na Figura 1. É considerada também uma energia limpa, visto que não provoca emissões de poluentes atmosféricos, libera pouca

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quantidade de gases causadores de efeito estufa na produção de energia, além de ser uma das fontes de energia limpa que podem ser comercialmente produzidas em larga escala.

(*) Gás natural liquefeito (**) Bagaço de cana

Figura 1 - Custos de produção de energia elétrica no Brasil

Fonte: Aneel (2008, p. 30)

A energia hidrelétrica é a segunda fonte de geração de energia elétrica mais importante no planeta, responsável por cerca de 20% de toda a eletricidade gerada no mundo, e é utilizada em mais de 150 países. Nos últimos anos, representantes de mais de 170 países chegaram a um consenso de que, como energia renovável, seu desenvolvimento deve ser apoiado internacionalmente, o que foi declarado inicialmente em 2002, na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, em Joanesburgo, e, novamente, em 2003, no Terceiro Fórum Mundial da Água em Kyoto (YUKSEL, 2010). Em comparação com outras fontes de energia, as vantagens que a energia hidrelétrica possui são (HUANG; YAN, 2009; YUKSEL, 2010):

 A fonte de energia utilizada, ou seja, a água, não se esgota durante a produção de eletricidade. As instalações hidrelétricas aproveitam a energia potencial da água para gerar eletricidade.

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 A energia hidrelétrica é a forma mais eficiente para gerar eletricidade, pois as turbinas hidráulicas podem converter até 90% da energia disponível em eletricidade.

 Oferece flexibilidade operacional, já que pode responder às flutuações de demanda por eletricidade.

 Promove a segurança energética e a estabilidade dos preços, já que a água é um recurso doméstico e, ao contrário do combustível ou de gás natural, não está sujeito às flutuações do mercado.

Contudo, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL (2008, p. 52):

O principal argumento contrário à construção das hidrelétricas é o impacto provocado sobre o modo de vida da população, flora e fauna locais, pela formação de grandes lagos ou reservatórios, aumento do nível dos rios ou alterações em seu curso após o represamento.

Os impactos resultantes da construção e implantação de usinas hidrelétricas estão relacionados ao tamanho, volume, tempo de retenção do reservatório, localização geográfica e características e condições hídricas.

A classificação de uma usina depende de sua potência instalada, conforme critérios estabelecidos pela Aneel, que elenca Centrais Geradoras Hidrelétricas (empreendimentos com potência instalada de até 1 MW), Pequenas Centrais Hidrelétricas (que devem possuir aproveitamento hidrelétrico com potência entre 1,1 e 30 MW e reservatório com área igual ou inferior a 3 km2) e Usina Hidrelétrica de Energia (com mais de 30 MW instalados) (ANEEL, 2008).

Considerando diversas hidrelétricas brasileiras, Ross (1999) e Silva (2014) elencam os impactos gerados nas várias fases de implementação de uma barragem, a saber: construção da barragem, enchimento e operação do reservatório e finalização da construção.

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Na fase de construção da barragem, por exemplo, há uma série de impactos diretos no meio físico e biótico, como o desmatamento para a instalação de canteiro de obras, alojamento e até mesmo vias de acesso, podendo haver também atividades de caça e pesca, que contribuem para a dispersão e o desaparecimento da fauna. A construção da barragem afeta ainda aspectos do relevo e da hidrografia do rio, como a intercepção da rede de drenagem, além de acarretar a alteração das bacias de captação e movimentação de grandes massas de terra na formação do reservatório.

Ainda na fase de construção da barragem, há os impactos socioeconômicos, como crescimento demográfico nos municípios do entorno, que intensificam a demanda por infraestrutura, serviços e emprego, podendo resultar em aumento da criminalidade.

Já no processo de enchimento e operação do reservatório, os impactos no meio físico e biótico atingem a flora, a fauna, o relevo, a hidrografia e o solo, já que ocorre desmatamento da área a ser inundada, o que afugenta a fauna e inviabiliza o desenvolvimento de atividades agropecuárias. O relevo sofre alteração pelos processos erosivos, que podem desencadear assoreamento e favorecer a proliferação de insetos.

Sobre a emissão de metano e gás carbônico, ocorre de maneira lenta, por difusão, ao longo dos cursos dos rios, abaixo das barragens, e é proporcional à área alagada. Contudo, comparativamente, as hidrelétricas emitem menos poluentes que outras fontes que utilizam combustíveis de origem fóssil.

Na fase de enchimento e operação do reservatório, ocorrem ainda impactos socioeconômicos diretos, como a necessidade de remoção das populações ribeirinhas, podendo interferir em bens de valores afetivos, culturais e religiosos dessas populações, além de afetar suas práticas agrícolas. Também há dificuldades de circulação e comunicação entre comunidades do entorno.

Por fim, na fase de término da construção, há um “esvaziamento demográfico”, gerando liberação de mão de obra e a desaceleração da economia local, o que pode acarretar em desemprego e desequilíbrio social.

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Entretanto, além dos impactos negativos, há alguns impactos positivos oriundos das usinas hidrelétricas, tais como a regularização de enchentes e estiagens, a navegabilidade dos rios e a criação de empregos (SILVA, 2014).

Existem metodologias para a análise de benefícios e impactos provenientes da instalação de uma hidroelétrica, sendo algumas obrigatórias, como os Estudos e Relatórios de Impactos Ambientais (EIA-RIMA), e outras facultativas, como o Planejamento Integrado de Recursos (PIR) ou a Metodologia para Avaliação da Sustentabilidade Socioeconômica e Ambiental da UHE (SILVA, 2014).

Um dos principais impactos produzidos pelas hidroelétricas, sem dúvida, é a área a ser alagada pelo reservatório. Contudo, os impactos podem ser minimizados através da implementação de medidas compensatórias à população local, além de que não se pode esquecer o ganho social que se tem com a produção de energia elétrica, que beneficia inúmeras comunidades.

2.2 As Pequenas Centrais Hidrelétricas – PCHs

Segundo Tolmasquim (2005), o surgimento das PCHs deveu-se à necessidade de fornecimento de energia para serviços públicos de iluminação e para atividades econômicas ligadas à mineração, fábricas de tecidos, serrarias e beneficiamento de produtos agrícolas. Nesse período, a grande maioria das unidades era de pequena potência, pois os custos elevados inviabilizavam a instalação de grandes usinas geradoras (TOLMASQUIM, 2005; SILVA, 2014).

As PCHs podem ser classificadas quanto à capacidade de regularização, ao sistema de adução e à potência instalada e queda de projeto, da seguinte forma (TOLMASQUIM, 2005):

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 Capacidade de regularização: a fio d‟água; de acumulação, com regularização diária do reservatório; de acumulação, com regularização mensal do reservatório; reversíveis.

 Quanto ao sistema de adução: adução de baixa pressão com escoamento livre em canal / alta pressão em conduto forçado; adução em baixa pressão por meio de tubulação / alta pressão em conduto forçado.

 Quanto à queda de projeto: classificadas em micro, mini e pequenas, de acordo com a Tabela 1:

Tabela 1 – Classificação das centrais elétricas quanto à potência e quanto à queda de projeto CLASSIFICA ÇÃO POTÊNCI A – P QUEDA DE PROJETO - Hd (m) DAS CENTRAIS

(kW) BAIXA MÉDIA ALTA

PEQUENAS 1.000 < P < 30.000

Hd < 25 25 < Hd

< 130

Hd > 130

Fonte: Elaboração própria a partir de Eletrobrás (2000).

Os impactos ambientais decorrentes de uma PCH são, sem dúvida, de magnitude muito inferior aos ocasionados por uma grande usina hidrelétrica. Ao contrário das usinas hidrelétricas de grande porte, as PCHs não utilizam reservatórios para o armazenamento de grandes volumes de água.

Uma PCH constitui-se, basicamente, por: barragem, reservatório, sistemas de captação e adução de água, casa de força e sistema de restituição de água ao leito natural do rio. Seu funcionamento é semelhante ao de uma usina hidrelétrica de grande porte, considerando as devidas proporções, necessitando de recursos hídricos disponíveis e desníveis de relevo que gerem movimentação nas águas (CERPCH, 2014).

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No caso das PCHs, a barragem tem a função de desviar parte da vazão do rio para as estruturas de adução. Já os sistemas de captação e adução levam a água à casa de máquinas (ou casa de força).

Assim, a água captada no reservatório formado pela barragem é direcionada para a casa de força através de túneis e/ou condutos metálicos, passando pela turbina hidráulica, e, posteriormente, através do canal de fuga é restituída ao leito natural do rio.

A central opera de acordo com o volume de água disponível no rio, podendo haver redução da potência de geração se houver redução do volume de água do rio. Entretanto, quando o volume de água é maior do que o necessário para a geração de energia na potência de geração máxima, esse volume excedente passa por cima da barragem através dos vertedouros, seguindo o leito natural do rio sem passar pelas máquinas (CERPCH, 2014).

Nas PCHs, assim como nas demais usinas hidrelétricas, a energia cinética é transformada em energia mecânica ao passar pelas turbinas, e posteriormente, em energia elétrica através de geradores (ANEEL, 2008).

A barragem de uma PCH geralmente possui uma ou mais comportas de fundo, que são utilizadas para (ANEEL, 2008):

Permitir a saída de um percentual da vazão total do rio denominada vazão sanitária ou vazão residual (sendo uma exigência ambiental, a vazão sanitária é necessária para manter o curso original do rio e o ecossistema local).

Permitir a passagem de água excedente durante as cheias, diminuindo a espessura da lâmina de água sobre os vertedouros (evitando, assim, o alagamento indesejável de outras estruturas da barragem).

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As PCHs que operam a fio d‟água (permitem a passagem contínua da água com capacidade nominal mais estável) aproveitam a vazão natural dos rios sem a necessidade de estocar água, requerendo uma pequena área inundável. Quando próximas aos consumidores, reduzem a necessidade de transmissão de energia por longas linhas, com a consequente diminuição de perdas no sistema, com custos de geração e implantação mais competitivos (ANEEL, 2008). Contudo, as PCHs apresentam potência instalada limitada, com capacidade de abastecimento de pequenos centros consumidores e custo por kW médio de energia elétrica maior do que o de uma usina de grande porte (ANEEL, 2008).

Mudanças institucionais e regulamentares, como remoção de barreiras à entrada de novos investidores na indústria de energia elétrica, têm estimulado novos empreendimentos de aproveitamento hidrelétrico de pequeno porte e menor impacto ambiental, como as PCHs (quando comparada a uma usina hidrelétrica de grande porte). A ANEEL criou condições de incentivo aos empreendedores, das quais se destacam (ANEEL, 2002, p. 42):

 Desconto igual ou superior a 50% nos encargos de uso dos sistemas de transmissão e distribuição interligado (Res. ANEEL n.º 281, de 1º de outubro de 1999).

 Autorização não onerosa para explorar o potencial hidráulico (Lei n.º 9.074, de 7 de julho de 1995, e Lei n.º 9.427, de 26 de dezembro de 1996).

 Isenção relativa à compensação financeira pela utilização de recursos hídricos (Lei n.º 7.990, de 28 de dezembro de 1989, e Lei n.º 9.427, de 26 de dezembro de 1996).

 Livre comercialização de energia para consumidores de carga igual ou superior a 500 kW (Lei n.º 9.648, de 27 de maio de 1998).

 Participação no rateio da Conta de Consumo de Combustível – CCC, quando substituir geração térmica a óleo Diesel nos sistemas isolados (Res. N.º 245, de 11 de agosto de 1999).

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 Comercialização da energia gerada pelas PCHs com concessionárias de serviço público, tendo como limite tarifário o valor normativo estabelecido pela Resolução n.º 22, de 1º de fevereiro de 2001.

Outros incentivos às PCHs são (TOLMASQUIM, 2005):

 Acordo de compra de energia – PPA: através de um acordo de compra de energia ( Power Purchase Agreement – PPA), as PCHs vendem os valores de energia assegurada diretamente às concessionárias de serviço público ou aos consumidores finais.

 PROINFA: O Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica – PROINFA, instituído pela Lei n.º 10.438, de 26 de abril de 2002, em que a ELETROBRÁS garante a compra de energia gerada em instalações conectadas ao Sistema Elétrico Interligado Nacional, que utilizem fontes eólicas, biomassa ou que se caracterizem como PCHs.

 Financiamento de projetos pelo BNDES: Oferece apoio a projetos de expansão e modernização nos segmentos de geração, transmissão e distribuição de energia, inclusive a geração a partir de fontes renováveis, assim como o apoio a projetos de eficiência energética.

A figura 2 demonstra que em novembro de 2008 havia em operação 320 PCHs, com cerca de 2,4 mil MW de potência instalada, além de outros tipos de empreendimentos, bem como sua potência correspondente.

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Apesar dos incentivos apresentados, um dos principais desafios que envolvem a implantação de PCHs é o aumento de entraves jurídicos que protelam o processo de licenciamento ambiental desses empreendimentos (ANEEL, 2008), embora a legislação brasileira exija a elaboração de Estudos de Impacto Ambiental – EIA – apenas para empreendimentos com potência acima de 10 MW, o que exclui uma parcela das PCHs e das CGHs. Além disso, as PCHs que possuem potência instalada de até 10 MW precisam apenas de um Estudo Ambiental Simplificado – EAS –, que corresponde a estudos mais simplificados e menos burocráticos comparados ao EIA.

Os principais benefícios relacionados às PCHs são os impactos ambientais de menor magnitude, principalmente se comparados às usinas hidrelétricas de energia, e apesar de sua capacidade de abastecimento englobar apenas centros consumidores próximos ao empreendimento, para o sistema como um todo, esses benefícios são de grande importância.

2.3 Riscos e vulnerabilidades socioambientais

A partir do século XX, a humanidade acelerou os processos de mudanças demográficas, expansão urbana e aumento da demanda por recursos, tais como energia e água. Essas alterações resultam em riscos significativos que podem intensificar as vulnerabilidades já existentes (SETO; SATTERTHWAITE, 2010).

A discussão sobre os riscos socioambientais torna-se mais intensa devido à ocorrência cada vez mais frequente de eventos e de catástrofes que envolvem situações variadas e diversas. Vive-se em plena sociedade de risco, pois o acelerado processo de modernização tem gerado riscos potenciais em um ritmo cada vez mais intenso (BECK, 1992; MATTEN, 2004).

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Os riscos surgiram como uma das principais externalidades do sistema capitalista, já que, conforme apontado por Beck (1992), a produção social de riqueza é sistematicamente acompanhada da produção social de riscos.

Segundo o autor, os problemas e conflitos relativos à distribuição em uma sociedade de escassez se sobrepõem aos problemas que surgem da produção, definição e distribuição de riscos técnico-científicos, uma vez que as posições sociais e os conflitos em uma sociedade de distribuição de riqueza estão relacionados também com a distribuição de risco.

Ademais, os avanços tecnológicos, tão presentes e importantes na atualidade, geram riscos relacionados à inovação, além dos riscos já existentes inerentes a cada atividade. Beck (2005) complementa que inerente à sociedade de risco é a transformação de riscos técnicos em riscos econômicos, riscos de mercado, riscos para a saúde, riscos políticos e assim em diante. Os passaram a ser apropriados para a reprodução do capital, com o surgimento das indústrias de seguro e a produção de objetos para a prevenção do risco (BECK, 1992).

Na sociedade de risco, mudanças ocasionadas por avanços técnico-econômicos e pela influência antrópica podem representar riscos locais e globais, em que decisões do dia a dia podem gerar resultados globais, e questões globais exercem influência sobre a vida individual (GIDDENS, 1997).

Diversas áreas do conhecimento têm o risco como objeto de estudo devido aos variados enfoques que se pode atribuir a esse conceito, uma vez que os riscos envolvem fatores ambientais, econômicos, sociais, políticos, tecnológicos, mercadológicos, entre outros, havendo a necessidade de se considerar essa complexidade nas pesquisas sobre esse tema.

Para Dagnino e Júnior (2007, p. 57), o conceito de risco está relacionado a uma definição ampla, já que o risco pode se apresentar em situações ou áreas em que há a "probabilidade, susceptibilidade, vulnerabilidade, acaso ou azar de ocorrer algum tipo de ameaça, perigo, problema, impacto ou desastre”.

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Já o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento –PNUD define risco como:

(...) a probabilidade de consequências perigosas ou perdas esperadas (de vida, pessoas feridas, meios de vida, atividades econômicas interrompidas ou danos ambientais) decorrentes de interações entre desastres naturais ou antrópicos e condições vulneráveis. Risco é convencionalmente expressado pela equação Risco = Desastre + Vulnerabilidade (ONU, 2004, p.136, tradução própria).

Porto (2007) considera que a concretização do risco depende basicamente de três aspectos principais: a magnitude do perigo ou da ameaça, a probabilidade de ocorrência e sua extensão e a vulnerabilidade das populações e territórios afetados.

O termo “perigo” relaciona-se a uma ou mais condições físicas ou químicas com potencial para causar danos, enquanto o “risco” é uma medida de prejuízos econômicos, à vida e de impactos ambientais, havendo uma combinação entre frequência da ocorrência de um evento indesejado e a magnitude de suas consequências (SERPA, 2002).

Os perigos ambientais envolvem quase todos os fenômenos da Terra e podem ser classificados de acordo com sua origem, considerados naturais ou tecnológicos. Os perigos naturais, por sua vez, podem ser divididos em hidrometeorológicos, geológicos e biológicos, conforme demonstra o Quadro 1 – Classificação de Perigo.

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Quadro 1 – Classificação de Perigo

Perigo (Hazard)

Um evento, fenômeno ou atividade humana potencialmente danoso, o qual pode causar perda de vidas ou ferimentos a pessoas, danos a propriedades, rupturas socioeconômicas ou degradação ambiental.

Perigos Naturais (Natural Hazards)

Processos ou fenômenos naturais que ocorrem na biosfera e que podem constituir-se em um evento danoso. Os perigos naturais podem ser classificados quanto à origem em: geológico, hidrometeorológico e biológico.

Origem Exemplos de fenômenos

Perigos geológicos

Processos ou fenômenos

naturais que podem ser de origem endógena ou exógena.

 Terremotos, tsunamis.

 Atividade e emissões vulcânicas.

 Movimentos de massa, escorregamentos, queda de blocos rochosos, liquefação.

 Colapso superficial, atividade de falha geológica.

Perigos hidrometeorológicos

Processos ou fenômenos

naturais de natureza atmosférica, hidrológica ou oceanográfica.

 Inundações/enchentes, corridas de lama/detritos.

 Ciclones tropicais, tempestades marinhas, ventanias, chuvas de tempestades, nevasca, relâmpagos.

 Secas, desertificação, fogo, temperaturas extremas, tempestades de areia.

 Permafrost, avalanches de neve.

Perigo biológico

Processo de origem biológica ou aqueles transmitidos por vetores biológicos, incluindo exposição aos

micro-organismos patogênicos,

tóxicos e substâncias bioativas.

 Eclosão de doenças epidêmicas, contágios de plantas ou de animais e de infestações extensivas.

Perigo Tecnológico (Technological Hazards)

Perigo associado com acidentes tecnológicos ou industriais, rompimento de infraestrutura ou atividades humanas que podem causar perda de vidas ou ferimentos à pessoa, danos a propriedades, rupturas socioeconômicas ou degradação ambiental. Exemplos: poluição industrial, radioatividade, resíduo tóxico, queda de barragens, acidentes industriais, etc.

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Verifica-se, portanto, que os riscos podem relacionar-se a mudanças climáticas, intervenções do ser humano no ambiente e à consequente degradação ambiental global, bem como com situações envolvendo relações pessoais, familiares e sexualidade (GIDDENS, 2000).

Essa situação contribui para provocar o estresse e as tensões da população, contudo, é importante destacar que os diferentes grupos sociais estarão submetidos aos riscos de forma diferenciada, principalmente aos relacionados às mudanças ambientais, a depender de suas condições de moradia, de acesso ao saneamento básico e ao tratamento médico, bem como de sua realidade socioambiental, que determinará o grau de vulnerabilidade ao qual estarão expostos.

Uma questão extremamente importante é a estreita relação entre risco e vulnerabilidade, já que o grau de fragilidade de determinado elemento (por exemplo, região, população, recurso natural) atua como determinante das consequências socioambientais de um dado risco e, por conseguinte, a avaliação dos riscos existentes é essencial para a identificação dos fatores de pressão que atuam sobre esse determinado elemento (PEREIRA; SOUZA, 2006).

Quando há uma perturbação, o meio pode “responder” de diferentes formas dependendo das características e condições locais naturais e humanas, ou seja, uma condição intrínseca que resulta em determinados efeitos adversos. Essa condição denomina-se vulnerabilidade (SANTOS, 2007).

O grau de vulnerabilidade aumenta de acordo com o nível de exposição ao risco, fazendo com que a análise do primeiro determine as respostas e estratégias perante o segundo. Além disso, a vulnerabilidade é resultado de complexas interações entre sistemas ambientais, sociais e econômicos, assim como os riscos (REBOTIER, 2012; KRISHNAMURTHY; LEWIS; CHOULARTON, 2014).

O risco é, por conseguinte, relacionado com a probabilidade de ocorrência e a exposição a uma situação de tensão (BAAN; KLIJN, 2004), enquanto a vulnerabilidade está relacionada com o grau de sensibilidade em relação à exposição a essa situação de estresse.

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Para Alwang et al. (2001), vulnerabilidade é a relação entre pobreza, risco e capacidade de gerenciamento de riscos, individuais, sociais e/ou institucionais.

Adger (2006) considera que vulnerabilidade é o estado de suscetibilidade a danos causados por exposição a tensões associadas a mudanças ambientais e sociais e ausência de capacidade de adaptação.

O grau de vulnerabilidade está diretamente relacionado com a capacidade ou incapacidade do grupo humano em se adaptar à mudança, determinando a intensidade que os possíveis danos possam produzir, o que faz com que esse conceito (vulnerabilidade) possua um caráter social. Na maioria das vezes, os contextos vulneráveis concentram-se principalmente em áreas de maior pobreza, com ausência de recursos e serviços que possam diminuir a fragilidade socioambiental diante de eventos de crise (PORTO, 2007).

Os riscos e vulnerabilidades possuem um viés socioambiental, já que abrangem várias dimensões, a partir das quais se torna possível identificar a vulnerabilidade de indivíduos, famílias ou comunidades, destacando-se elementos relacionados às características desses indivíduos ou famílias e elementos relativos ao meio social no qual estão inseridos (CUNHA et al., 2004).

2.4 Enchentes e inundações

Os eventos extremos, tais como enchentes e inundações urbanas, possuem alto impacto social, uma vez que geram prejuízos econômicos, culturais, perdas humanas e agravos à saúde. Suas causas estão intimamente relacionadas ao processo de urbanização, que gera a impermeabilização do solo e o aumento do escoamento superficial da água. Além disso, a retificação, o aterramento e o assoreamento de rios também contribuem para a incidência desses eventos, que são considerados o tipo de desastre mais comum no Brasil (ASMUS; SEIXAS,

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Apesar de as exposições ao risco de enchentes e inundações possuírem um longo histórico, a concepção desses eventos como risco é relativamente recente, já que anteriormente eram vistos como eventos naturais, conforme apontado por Khatibi (2011).

É importante destacar que, de forma geral, há diversos conceitos na literatura referentes aos termos enchente e/ou inundação.

Segundo o Ministério das Cidades e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT (2007) –, inundação é o transbordamento de um curso d‟água, que atinge a planície de inundação ou a área de várzea. Enchentes ou cheias são elevações do nível d‟água no canal de drenagem devido ao aumento da vazão, atingindo a cota máxima do canal. O alagamento é o acumulo momentâneo de água em determinado local por deficiência do sistema de drenagem. Já a enxurrada é o escoamento superficial concentrado e com alta energia de transporte, que pode ou não estar associado a áreas de domínios de processos fluviais.

Para Tucci (2008), existem dois tipos de enchentes que ocorrem em áreas urbanas:

 Enchentes devido à urbanização: resultado da ocupação do solo de forma a aumentar as áreas impermeáveis e com rede de condutos de escoamento.

 Enchentes em áreas ribeirinhas: enchentes naturais que, devido à ocupação irregular de alguns pontos da cidade, atingem a população que ocupa o leito maior do rio.

As enchentes devido à urbanização podem ser agravadas pela obstrução do escoamento através de aterros e pontes, assoreamento dos rios e drenagens mal implantadas; já as inundações em áreas ribeirinhas fazem parte de uma dinâmica natural do rio, que tem uma cheia maior, em média, a cada dois anos (TUCCI, 2008).

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Desta forma, as inundações ribeirinhas são processos naturais que ocorrem periodicamente nos cursos d‟água, resultantes do aumento da vazão dos rios devido a chuvas de magnitude elevada, durante os períodos chuvosos. Contudo, as inundações ribeirinhas podem ser ampliadas ou ter maiores efeitos em função de ações antrópicas.

Para Ostrowsky e Zmitrowicz (1991), as enchentes são fenômenos que ocorrem quando parte da precipitação sobre a bacia hidrográfica que não se infiltrou no solo é retida por um elemento interceptador e escoa superficialmente até alcançar um curso d‟água. Por consequência, a vazão desse curso d‟água aumenta progressivamente até atingir um valor máximo, para então decrescer de modo mais lento.

Onwuemele (2012) complementa que enchente é o transbordamento de uma grande quantidade de água sobre um espaço de terra não usualmente submerso que excede a capacidade local de drenagem, ocorrendo em função da combinação de eventos extremos hidrológicos e meteorológicos, mas que pode ser influenciada por fatores antrópicos. As enchentes causam enxurrada súbita e intensa em pequenas escalas de espaço e tempo, com períodos muito curtos entre a tempestade e a consequente inundação do rio, representando uma ameaça extrema à vida, à propriedade e à infraestrutura, devido ao rápido aumento dos níveis de água, altas velocidades e transporte de sedimentos e detritos.

Além disso, conforme salientam Vargas, Werneck e Ferreira (2008), a política de controle da drenagem empregada atualmente, que corresponde àquela que escoa o mais rapidamente possível a precipitação, baseia-se na canalização do escoamento, possuindo custo mais alto e causando maiores inundações, pois a canalização aumenta os picos para a jusante.

Enchentes e inundações são temas que têm sido amplamente estudados e discutidos e, apesar de serem problemas antigos para diversas regiões, sobretudo as metropolitanas, observa-se, atualmente, que a incidência desses eventos está mais frequente, conforme será discutido no decorrer deste trabalho. A possível relação da ocorrência de enchentes e inundações com o aumento da precipitação devido às variabilidades naturais do clima ou mudanças climáticas

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causadas pelo efeito estufa tem gerado uma maior atenção e importância atribuídas a esses temas (JOTHITYANGKOON et al., 2013).

No Brasil, entre os municípios que apresentam problemas de inundação e enchentes, 25% atribuem o fato à degradação de áreas protegidas e ocupação irregular, e 30% ao desmatamento, havendo uma estreita relação entre o aumento da degradação ambiental, a intensidade dos desastres e o aumento do grau de vulnerabilidade (SANTOS, 2007).

As enchentes em áreas urbanas podem ser atribuídas a diversos fatores, dentre os quais se destacam: chuvas intensas de largo período de retorno; transbordamentos de cursos d‟água provocados por mudanças no equilíbrio do ciclo hidrológico em regiões a montante das áreas urbanas; o excessivo parcelamento do solo e a consequente impermeabilização das superfícies; a ocupação de Áreas de Preservação Permanente – APPs3 –, tais como várzeas, áreas de inundação frequente e zonas alagadiças; a obstrução de canalizações por detritos e por sedimentos; obras de drenagem inadequadas, ou ainda devido à própria urbanização, tendo em vista que provoca aumento das vazões devido à canalização e à impermeabilização e que, em relação à drenagem urbana, o escoamento em áreas urbanizadas pode se tornar um grande indutor de inundação e erosão se relacionado a áreas declivosas com ocupação humana (VARGAS; WERNECK; FERREIRA, 2008).

O solo, que juntamente com a vegetação deve facilitar o escoamento da água pela sua sucção, tem sua capacidade de infiltração prejudicada e até mesmo impossibilitada em áreas impermeabilizadas, o que favorece o escoamento superficial, interferindo na trajetória das águas, modificando o comportamento da área superficial e reduzindo a porcentagem de água infiltrada (AMARAL; RIBEIRO, 2012; TAVARES; SILVA, 2008; PINHEIRO, 2007; THOMAZIELLO; 2007).

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As APPs correspondem às margens de rios, cursos d‟água, lagos, lagoas e reservatórios, topos de morros e encostas com declividade elevada, cobertas ou não por vegetação nativa, que possuem a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e de proteger o solo. As APPs são áreas mais sensíveis e sofrem riscos de erosão do solo, enchentes e deslizamentos (BRASIL, 2012).

Referências

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