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CAPÍTULO 2 – PARTICIPAÇÃO SOCIAL NOS PROCESSOS DE GESTÃO

2.2. A História da Criação de Unidades de Conservação

Segundo Milaré (2004, p. 46), os tempos históricos começaram a ser contados a partir da identificação e da presença da espécie humana nos ecossistemas naturais. São milhões de anos decorridos, e ainda hoje os cientistas procuram registros convincentes sobre nossa idade neste Planeta e sobre as inúmeras transformações que produzimos ao longo da evolução. Esses tempos históricos atestam a presença e as atividades do homem, assim como a ocupação do espaço; testemunham as alterações por ele impostas ao ecossistema planetário.

Para Milaré (2004, p. 46), num prazo muito curto – e que se torna sempre mais curto – são dilapidados os patrimônios formados lentamente no decorrer dos tempos geológicos e biológicos, cujos processos não voltarão mais. Os recursos consumidos e esgotados não se recriarão. O desequilíbrio ecológico acentua-se a cada dia que passa.

Assim chegamos ao estado atual, em que nossas ações chocam-se contra nossos deveres e direitos, comprometendo nosso próprio destino. (...) As raízes da questão ambiental ficam expostas e interpelam a responsabilidade dos seres humanos, inequívoca e intransferível.

Todo o saber científico, contido nas Geociências, nas Biociências e nas Ciências Humanas, fala da fragilidade do mundo natural e da agressividade dominante (MILARÉ, 2004, p. 46).

Para SILVA, L. (2003, p. 43) a ciência, desenvolvida no âmbito da revolução industrial, junto ao pensamento judaico-cristão, cria as fundamentações para o processo de dominação. No século XVII, Francis Bacon afirma que a harmonia perdida na saída do Jardim do Éden deveria ser recolocada por meio da dominação, e a pesquisa científica teria um papel primordial. A indústria e o desenvolvimento científico se reforçam mutuamente, uma vez que o processo de produção utiliza os materiais naturais, transformando-os em produto, e a ciência desenvolve as artes mecânicas para gerar matéria-prima por meio da transformação dos elementos da natureza.

Essas perspectivas científica, tecnológica e teológica estabelecem os mecanismos que originam a evolução da sociedade ocidental, capitalista e industrial, e cria a concepção de natureza como algo externo, reino dos objetos e dos processos que existem fora da sociedade; primitiva, pois é criada por Deus; e matéria-prima, que muitas vezes é uma fronteira na qual o capitalismo frequentemente tem que recuar (WHITE, 1967; SMITH, 1998 apud SILVA, L. 2003, p. 43).

A sociedade industrial gera então, cidades insalubres, solos desgastados e desertificados pela agricultura e a mecanização das indústrias aumenta a exploração dos recursos naturais para obtenção da matéria-prima.

Dessa forma, com o desenvolvimento das cidades, a degradação dos espaços naturais, sua exploração e sua modificação surge a crescente necessidade de se preservar o meio ambiente natural, para própria sobrevivência do ambiente urbano e de suas comunidades.

Para GRANZ, 1993, p. 19 apud SILVA, L. (2003, p.45) a cidade era o berço da poluição, do ar e sonora, e dos maus costumes, e o campo passou a ser um local desejado, uma vez que possuía ar fresco e tranqüilidade. Por isso, há o surgimento da valorização do campo e das

áreas verdes no urbano que podem ser divididas em parques infantis, espaços intra-urbanos nos quais a cobertura vegetal deve ser mantida e os parques urbanos, que são “espaços públicos com dimensões significativas e predominância de elementos naturais, principalmente cobertura vegetal, destinados à recreação”.

Já o conceito moderno de unidade de conservação (UC) surgiu com a criação do Parque Nacional de Yellowstone, nos E.U.A, em 1872. Os objetivos que levaram à criação desse Parque foram: a preservação de atributos cênicos, a significação histórica e o potencial para atividades de lazer. A partir da criação do Parque Nacional de Yellowstone houve uma racionalização no processo de colonização do oeste americano, quando, inclusive, ocorreu a criação de diversas outras unidades de conservação (WWF, 1997 apud Biblioteca Virtual do Amazonas).

Segundo o WWF (1997) apud Biblioteca Virtual do Amazonas, atualmente, cerca de 5% da superfície sólida do planeta é coberta por reservas, parques nacionais, paisagens protegidas e santuários de fauna e flora, criados para proteger a diversidade de vida animal e vegetal sobre a Terra.

Já na Europa, desenvolveu-se um outro conceito de área natural protegida. Após milênios de colonização humana, muito pouco restou dos ambientes originais nesse continente. No entanto, a paisagem modificada ainda apresentava importantes atributos de beleza cênica, e estava sendo ameaçada pelo crescimento urbano e pela agricultura de larga escala. Existiam poucas áreas de domínio público, e o preço da terra tornava inviável a desapropriação para a criação de unidades de conservação. A alternativa adotada foi a criação de mecanismos jurídicos e sociais para regular o uso das terras privadas. Um modelo que ficou conhecido na França como "Parques Naturais". Dentre esses mecanismos destacam-se: os acordos para preservar certas práticas do uso do solo, os contratos para a recuperação de atributos cênicos e

biológicos e os acordos entre proprietários e organizações civis para manter uma rede de trilhas para pedestres em áreas privadas (WWF, 1997 apud Biblioteca Virtual do Amazonas).

Em ambas as iniciativas pode-se perceber que a conservação da biodiversidade, como um objetivo per si, não aparecia como motivação para a criação dessas primeiras modalidades de área protegida. Apenas a partir de meados do século XX a conservação da biodiversidade se tornou um objetivo explícito das unidades de conservação (WWF, 1997 apud Biblioteca Virtual do Amazonas).

No Brasil, as iniciativas para a criação de unidades de conservação remontam a 1876, quando o Engenheiro André Rebouças propôs a criação de dois Parques Nacionais na Ilha do Bananal, e outro em Sete Quedas. No entanto, o primeiro Parque Nacional Brasileiro só foi criado em 1937 com o Parque Nacional de Itatiaia, no Rio de Janeiro, e em 1939, o Parque Nacional de Iguaçu, no Estado do Paraná (WWF, 1997 apud Biblioteca Virtual do Amazonas).

A criação de parques nacionais e demais áreas naturais protegidas tem sido um dos principais elementos de estratégia para conservação da natureza no mundo, em especial nos países do Terceiro Mundo. Os Parques Nacionais pertencem ao grupo de unidades de conservação de proteção integral, e destinam-se à preservação integral de áreas naturais com características de grande relevância sob os aspectos ecológico, beleza cênica, científico, cultural, educativo e recreativo, vedadas as modificações ambientais e a interferência humana direta. Excetuam-se as medidas de recuperação de seus sistemas alterados e as ações de manejo necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os processos naturais, conforme estabelecido em seu plano de manejo (WWF, 1997 apud Biblioteca Virtual do Amazonas).

Os Parques Nacionais (PARNA ou PN) e Estaduais (PAREST ou PE) comportam a visitação pública com fins recreativos e educacionais, regulamentada pelo plano de manejo da

unidade. As pesquisas científicas, quando autorizadas pelo órgão responsável pela sua administração, estão sujeitas às condições e restrições determinadas por este, bem como ao que for definido em seu plano de manejo (WWF, 1997 apud Biblioteca Virtual do Amazonas).

O processo de seleção de Unidade de Conservação é um dos passos decisivos para que estas possam cumprir o seu papel na conservação. Embora grande parte dos estudos procure ser aplicável a qualquer situação e ambiente essa generalização não é possível, pois a importância de cada preceito e a validade dos métodos depende das características inerentes ao local onde se deseja implantar a área protegida. Ainda segundo o WWF o Brasil é um dos países com a menor porcentagem de áreas especialmente protegidas, apenas 1,99% e mesmo assim, possui uma rede mal distribuída entre seus biomas.

No Brasil, as Unidades de Conservação são criadas, implantadas e geridas conforme o que determina a Lei nº. 9.985, de 18 de julho de 2000, regulamentada pelo Decreto nº. 4.340, de 22 de agosto de 2002, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).

No Distrito Federal existe a Lei Complementar n°. 265, de 14 de dezembro de 1999, que dispõe sobre a criação de Parques Ecológicos e de Uso Múltiplo no Distrito Federal (Ver anexo II). O Sistema Distrital de Unidades de Conservação (SDUC) encontra-se em tramitação na Câmara Legislativa do Distrito Federal.

As considerações sobre o SNUC, sobre a Lei nº. 265 / 1999 e sobre o SDUC encontram-se na introdução dessa pesquisa.