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CAPÍTULO 2 – PARTICIPAÇÃO SOCIAL NOS PROCESSOS DE GESTÃO

2.1. A História dos Movimentos Sociais

Ao longo da história ocidental encontramos diversos exemplos de situações demonstrando que, mesmo de uma forma isolada e reduzida, as preocupações com o meio ambiente e a ocorrência da degradação ambiental são antigas. Há registros do mau gerenciamento dos recursos desde o século I, como por exemplo, os relatos de que em Roma, já nessa época, começaram a ocorrer as quebras de safras de culturas e erosão do solo (McCORMICK, 1992

apud in MMA, 2001, p. 25).

Em 1306, um exemplo de preocupação com o meio ambiente é a proclamação real sobre o uso de carvão em fornalhas abertas em Londres, feita pelo Rei Eduardo I. Nessa época, essas fornalhas eram muito comuns, pois auxiliavam na redução do frio em áreas públicas ao ar livre. A intenção do Rei era diminuir e controlar a poluição ambiental, estabelecendo critérios para essa prática e punindo com multa quem violasse. Essa proclamação real pode ser considerada a primeira ação legal registrada com objetivos claros de normatização e de atuação sobre o uso do meio ambiente (MMA, 2001, p. 25).

A revolução das ciências, nos séculos XVI e XVII, com Nicolau Copérnico (conceito heliocêntrico da Terra), com Galileu Galilei (descobertas astronômicas aliadas à experimentação científica com a matemática), com Renée Descartes (método de raciocínio dedutivo) e Francis Bacon (método experimental com a descrição matemática da natureza) influenciou o desenvolvimento das ciências, que adotaram uma concepção reducionista e mecanicista da natureza. Nesse período a noção de universo vivo e espiritual até então defendida, com forte influência religiosa, foi substituída pela idéia de máquina, propiciada pelas mudanças ocorridas na física e na astronomia (MMA, 2001, p. 26).

A Revolução Industrial tem início em 1750, com o avanço da Ciência aliado à técnica, trazendo formas de exploração dos recursos naturais e humanos, cujas conseqüências negativas de longo prazo são, hoje, visíveis nos problemas ambientais contemporâneos (MMA, 2001, p. 26).

Para CAPRA (1982) apud in MMA (2001, p. 27), o início do século XX foi marcado pela obra do físico Albert Einstein, que acreditava na harmonia inerente à natureza. Em 1905 publicou a Teoria da Relatividade e a Teoria dos Fenômenos Atômicos, dando origem à Teoria Quântica, revelando que o mundo não pode ser analisado a partir de elementos isolados e independentes, transcendendo a visão cartesiana.

A partir da primeira metade do século XX, no final da década de 1930, começou a ser desenvolvido mais intensamente o pensamento sistêmico, pelo biólogo austríaco Ludwig von Bertalanffy, que começou a formular uma nova teoria sobre sistemas abertos5; na década de 1940, Bertanlanffy apresenta a “Teoria Geral dos Sistemas”, influenciando o meio científico, dando origem a novas metodologias em várias áreas do conhecimento (CAPRA, 1996 apud in MMA, 2001, p. 27).

O pensamento ambientalista, no período pós-guerra (2ª guerra mundial), foi fortemente influenciado pela obra de Skiner “Uma sociedade para o futuro”, onde o autor propôs uma sociedade organizada sob os fundamentos de uma engenharia comportamental; era importante pensar em um novo modo de organizar a sociedade, de dar-lhes novos valores. (MMA, 2001, p. 27).

Ainda nesse período, foi realizada a Convenção Internacional para Regulamentação da Pesca da Baleia; em 1948, na Declaração Universal dos Direitos do Homem, no artigo 25, houve a preocupação de se fazer uma alusão à necessidade de um bom ambiente, ao considerar que:

5 Sistemas abertos consistem em “componentes interdependentes que interagem regularmente e formam um todo

“Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e à sua família a saúde e o bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis”.

Em 1949, Aldo Leopoldo – o Patrono do Movimento Ambientalista – escreveu “A Ética da Terra”, tida como a mais importante fonte sobre ética holística (MMA, 2001, p. 28).

Em 1954 foi realizada a Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição do Mar por Óleo, em Londres, onde foi assinado o primeiro tratado contra a poluição, em defesa do meio ambiente (NASCIMENTO e SILVA, 1995 apud in MMA, 2001, p. 28).

Nos anos 1960 e 1970 houve um crescimento da consciência ambiental, em âmbito mundial e nacional, motivado por uma sucessão de eventos relacionados com o meio ambiente, tais como: publicação do livro “Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson (1962); surgimento do “Clube de Roma”, estimulado pelo empresário industrial e economista Dr. Aurélio Peccei, em uma reunião na “Accademia dei Lincei” (1968); publicação do livro “Limites do Crescimento” pelo Clube de Roma (1972); ocorrência de diversas manifestações em defesa do meio ambiente, das mulheres, de jovens, de estudantes, do movimento hippie, das minorias étnicas e contra o racismo, em defesa de extinção de espécies, contra a corrida armamentista e o complexo industrial nuclear, poluição e uso indiscriminado de agrotóxicos, contra o desmatamento e pela situação dramática da Antártida, com o brutal enfraquecimento de 40% da camada de ozônio da região (VIOLA, 1987; GONÇALVES, 1990 apud in MMA, 2001, p. 29).

Segundo McCORMICK (1992) apud in MMA (2001, p. 30), ainda na década de 1970, um dos eventos que mais influenciou o movimento ambientalista foi a Conferência da Organização das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano (Conferência de Estocolmo), em 1972, reunido 113 países e tendo como resultado a Declaração sobre o Ambiente Humano. Considerando o movimento ambientalista, três resultados importantes foram obtidos a partir dessa conferência:

• O pensamento ambientalista evoluiu dos objetivos somente protecionistas da natureza e conservacionistas dos recursos naturais, para um entendimento da má gestão da biosfera pelos homens; • As prioridades e necessidades ambientais, antes determinadas só

pelos países desenvolvidos, foram estendidas para os países em desenvolvimento, tornando-se um fator preponderante na determinação das políticas ambientais internacionais; e

• Foi criado o Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (PNUMA).

Na realidade latino-americana, conforme estudos realizados por GOHN (1997, p. 214), duas teorias – a teoria da dependência6 (elaborada por Cardoso e Falleto em 1970) e a da marginalidade estrutural7 (Kowarick, 1975) – abriram caminho para que se focalizassem processos singulares de movimentos sociais, e surgiram num momento histórico importante: de crescimento econômico, controle social pelos regimes militares, arrocho salarial dos trabalhadores, supressão das liberdades individuais, crescimento das demandas de consumo das camadas médias, expansão do ensino superior e da tecnocracia estatal.

Neste cenário de repressão das lutas sociais, surgiram inicialmente movimentos de resistência à dilapidação da força de trabalho e depois de clamores pela redemocratização do país. Uma nova via de estudos se ampliou nas ciências sociais, a dos movimentos sociais. Nesta mesma época os ecos de movimentos sociais ocorridos nos anos 60 na Europa e nos Estados Unidos ainda se faziam presentes na América Latina, mas neste continente foram os movimentos populares que ganharam centralidade (GOHN, 1997, p. 214).

Segundo GOHN (1997, p. 215), no Brasil, os estudos acadêmicos estavam naquele momento num grande processo de renovação, com dezenas de novos pesquisadores

6Teoria da Dependência, obra de Fernando Henrique Cardoso e Enzo Falleto, Dependência e

desenvolvimento na América Latina (1970). A Teoria da Dependência é uma matriz intelectual neomarxista

que surgiu na Ciência Social latino-americana em fins dos anos 60. Os teóricos da dependência viam desenvolvimento e subdesenvolvimento como posições funcionais dentro da economia mundial, em vez de estágios ao longo de uma escala de evolução. Fernando Henrique Cardoso desenvolveu essa teoria com uma linha estruturalista mais moderada, reformista, liderada por Furtado e o chileno Oswaldo Sunkel.

7 Teoria da Marginalidade Estrutural, obra de Lúcio Kowarick. Capitalismo e Marginalidade na América

Latina (1975). Conforme essa teoria, se as bases de aquisição e distribuição de bens são instáveis e escassas

para o grupo, a situação de classe, que tem significação predominante nos aspectos econômicos, gera uma situação de marginalização ampla ou multimarginalidade. Assim, a situação de exclusão social não é aleatória. Quando indivíduos ou grupos são excluídos de um benefício social tendem também a ser de outros, ou seja, o processo de marginalização tende a ser cumulativo. Ocorre quando o não acesso a recursos de uma esfera da sociedade leva também ao não acesso a muitos outros: as exclusões sociais adicionam-se (KOWARICK, 1975, p. 31).

participantes dos recém-estruturados ou inaugurados cursos de pós-graduação em ciências sociais, ávidos por entender os processos sociais que estavam ocorrendo e desejosos de participar de alguma forma da luta contra o regime militar, tendo em vista o controle social e a ausência de espaços para debate.

Durante o período de 1972 a 1997, os movimentos sociais populares urbanos de maior destaque no Brasil como um todo – inclusive Brasília - foram o “movimento nacional contra os altos preços dos alimentos”; “movimento pelos transportes públicos”; “movimento pela saúde”; “movimento de luta por creches”; “movimento dos professores de escolas públicas de 1º e 2º graus”; “movimento de associações de moradores”; “comunidades eclesiais de base da Igreja Católica”; “movimento pela moradia”; “movimento dos desempregados”; “movimento estudantil”; “movimentos sindicais”; “movimentos populares rurais”; “movimento nacional pró-constituinte”; “movimentos sobre temas específicos (etnias, mulheres, meninos e meninas de rua, reforma da educação, homossexuais e ecológico)”.

Para Scherer-Warren (1996) a década de 1970 e início da década de 1980 representam um período histórico, nunca antes observado, de constituição de novas identidades coletivas, que foram construídas em torno de significados múltiplos: carências comuns, defesa comunitária ou cultural (religiosa, de gênero, étnica, ambiental, de direitos humanos etc.).

Ainda segundo Scherer-Warren (1996), no Brasil, as noções de movimento popular ou social passaram a ser comumente utilizadas para denominar as ações coletivas desenvolvidas por organizações populares localizadas e específicas, com alcance limitado de sua ação política (por exemplo, associações de bairro, movimento de mulheres, organizações de defesa ambiental etc.).

Scherer-Warren (1996) destaca ainda que essas organizações que proliferaram da década de 70 aos meados da década de 80 tiveram sua relevância política durante o regime autoritário, pois constituíam o espaço de expressão política possível para novos atores sociais.

Havia também um grande entusiasmo por parte dos pesquisadores da temática na época pelo caráter inovador daquelas ações, de forma que este entusiasmo confundiu por vezes a questão do novo com a da novidade que os movimentos traziam à tona. Isto fez com que alguns pesquisadores exaltassem as novas práticas em termos de ações pioneiras, como se nunca dantes houvessem ocorrido. A categoria teórica básica enfatizada era a da autonomia. Na realidade tratava-se mais de uma estratégia política embutida no olhar sobre os movimentos populares, pois reinvindicava-se um duplo distanciamento. De um lado em relação ao estado autoritário. De outro lado em relação às práticas populistas e clientelistas presentes nas associações de moradores, nos sindicatos e nas relações políticas em geral (o corporativismo era também negado como prática não-democrática e impeditivo para a manifestação das novas forças sociais que estavam sufocadas no cenário de um regime militar autoritário) (GOHN, 1997).

O movimento ecológico - em especial e como já mencionado -, tem início, em nível global, na década de 1960, tomando força a partir da Conferência de Estocolmo, em 1972, que chamou a atenção do mundo para a gravidade da questão ambiental. A partir daí, várias ações e outros encontros internacionais e nacionais são realizados, buscando uma mudança na postura da população mundial, nacional e local em relação ao cuidado com as questões pertinentes ao meio ambiente. Destaca-se, em 1977, a realização da Conferência Intergovernamental de Tbilisi, que estabelece os princípios orientadores da educação ambiental e enfatiza seu caráter interdisciplinar, crítico, ético e transformador e que estimula o desenvolvimento de uma educação voltada para a formação de um cidadão pró-ativo.

Segundo Scherer-Warren (1996), o movimento ecológico, assim como o feminista, originou-se nos países ocidentais desenvolvidos e disseminou-se por outras regiões do mundo, inclusive na América Latina. A Teologia da Libertação desenvolveu-se primeiramente na América Latina e, mais tarde, sua rede de comunidades – as Comunidades Eclesiais de Base – difundiu-se em outras partes do mundo, principalmente nos países africanos, asiáticos e entre as comunidades de língua espanhola nos Estados Unidos.

No final dos anos 70, no Brasil, quando se falava em novos movimentos sociais, em encontros, seminários e colóquios acadêmicos, tinha-se bem

claro de que fenômeno se estava tratando. Era sobre os movimentos populares urbanos, particularmente aqueles que se vinculavam às práticas da Igreja Católica, na ala articulada à Teologia da Libertação. A denominação buscava contrapor os novos movimentos sociais aos ditos já velhos, expressos no modelo clássico das sociedades amigos de bairros ou associações de moradores. O que estava no cerne da diferenciação eram as práticas sociais e um estilo de organizar a comunidade local de maneira totalmente distinta (GOHN, 1997).

Scherer-Warren (1996) considera que o Movimento Ecológico foi a herança mais genuína da Nova Esquerda. Muitos dos líderes e adeptos do Movimento Ecológico estavam envolvidos nos movimentos de juventude europeus dos anos 1960 e princípio dos anos 1970, e muitos ativistas dos direitos civis e antiguerra.

A utopia deste novo movimento foi constituída com base na crítica à natureza destrutiva das sociedades industriais, procurando melhor relacionamento entre o homem e seu ambiente natural ou construído. Muitas tendências políticas apareceram dentro do movimento, mas de forma geral poderíamos dizer que ele apresenta ambas as tendências: conservadora e progressista (Scherer-Warren, 1996).

Scherer-Warren (1996) explica que a tendência conservadora pode ser representada pelos utopistas comunitários, constituídos por pequenos grupos de jovens bem-educados, pessoas da classe média, buscando “a boa vida” em harmonia com a natureza. Já a tendência progressista não só dirige um criticismo mais profundo ao sistema, como também almeja mudá-lo. Movimenta-se entre o protesto e a resistência, através da prática da ação não violenta e da desobediência civil, segundo os pensamentos de Thoreau, Gandhi e Martin Luther King Jr.

Em relação à temática ambiental, o movimento ambientalista brasileiro desenvolveu-se na década de 1970, em um contexto de ditadura militar. Nessa época, o Brasil apresentava uma das piores distribuições de renda do mundo e uma das mais drásticas destruições sócio- ambiental (VIOLA, 1987; GONÇALVES, 1990 apud in MMA, 2001, p. 39), contexto este, vale frisar, que continua até hoje.

Um marco histórico dentro do movimento ambientalista brasileiro foi a criação, em 1971, da “Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural” (AGAPAN), por vários militantes

ambientalistas coordenados pelo agrônomo José Lutzemberg, em Porto Alegre. Essa foi a primeira associação ambientalista não-governamental surgida no Brasil e na América Latina (VIOLA, 1987 apud in MMA, 2001, p. 39).

É na década de 1970 que começaram a surgir, de forma embrionária, novas formas de organizações populares em nível local, quais sejam os movimentos reivindicatórios com relação à habitação, saúde, transporte coletivo, assim como os movimentos de contestação contra o desenvolvimento predatório vigente, que se manifestavam contra a poluição urbana, pela preservação dos recursos naturais e defesa dos direitos humanos (PORTO GONÇALVES, 1990 apud in MMA, 2001, p. 40).

Segundo o MMA (2001, p. 40), o movimento ambientalista brasileiro estruturou-se como um movimento constituído por associações ambientalistas não-governamentais e agências governamentais estatais de meio ambiente, muitas delas criadas para gerenciar os problemas ambientais (MENEZES, 1996 apud in MMA, 2001, p. 40).

Segundo VIOLA apud in MMA (2001, p. 40) em 1978 começou a ser publicado, pelo Movimento Arte e Pensamento Ecológico, a primeira revista brasileira a tratar das questões ambientais, intitulada “Pensamento Ecológico”.

A partir de 1979, com o retorno de lideranças políticas exiladas pela ditadura militar de 1964, que assimilaram as idéias ambientalistas dos partidos verdes e dos movimentos sociais do Primeiro Mundo, a vida cultural brasileira foi oxigenada pela introdução de valores pós-materialistas e por uma discussão mais ampla sobre as questões sócio-ambientais. Ampliou-se o movimento de defesa da Amazônia contra a sua depredação, que conquistou a simpatia da opinião pública e que teve no Profº. Aziz Nacib Ab’Saber, geógrafo da USP, um ardente defensor (VIOLA, 1987; REIGOTA, 1998 apud in MMA, 2001, p. 40).

O final dos anos 1970 e a década de 1980 foram marcados por campanhas ambientalistas para salvar Sete - Quedas, no Rio Paraná, quando da construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, promovidas pelos movimentos contra as barragens; campanhas contra o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, devido a forma de produção energética, que teve a adesão da Sociedade Brasileira de Física e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.

Também houve influência dos ambientalistas em associações de moradores de classe média, a sua penetração no meio universitário, entre as populações extrativistas da Amazônia (influenciado pelo líder sindical e ativista nas questões ambientais, o seringueiro Chico Mendes) e nos movimentos dos “trabalhadores sem-terra” (VIOLA, 1987 apud in MMA, 2001, p. 41).

A década de 1980, no Brasil, notabilizou-se pela ampliação do espaço sobre a problemática ambiental na mídia, estimulando o aumento da conscientização sobre as questões ambientais. O crescimento do movimento ambientalista brasileiro, especialmente nessa década, foi influenciado pela intensidade da degradação sócio-ambiental, produzida de uma forma mais impactante a partir dos anos 1960, e também pelo processo de transição democrática, iniciado em 1974, que propiciou a formação de um novo contexto sócio-político, aberto ao debate de novas idéias e à organização de novos movimentos sociais (MMA, 2001, p. 41).

Para VIOLA (apud in MMA, 2001, p. 41) o movimento ambientalista brasileiro apresentou duas particularidades:

• Os movimentos de denúncia da deterioração do meio ambiente nas cidades e nos meios rurais;

• E os movimentos das populações urbanas e rurais na busca de uma melhor qualidade de vida.

No Distrito Federal, os movimentos sociais que surgem a partir do momento em que se inicia a construção da nova capital do Brasil – década de 1960 – tinham a conotação de esperança de uma vida melhor, garantia de emprego e moradia, e mais tarde, também, de luta contra o regime militar.

No artigo “Lutas sociais: populismo e democracia: 1960 /1964”, publicado no livro “A conquista da cidade: movimentos populares em Brasília” organizado por Aldo Paviani,

JACCOUD8 (1998, p.146) explica que, desde o início de suas obras até março de 1964, Brasília viveu um processo ascendente de participação e organização popular, seja através de mobilizações sindicais, de moradores ou do funcionalismo público instalado na nova capital. Esse processo que vai desde a apresentação de reivindicações específicas à participação política e social nos embates mais amplos do período, está intimamente relacionado ao fato de a cidade ter sido criada no bojo do populismo desenvolvimentista, do qual era símbolo, e de ter sido contraposta, em seus primeiros anos, aos impasses do modelo político e econômico que a sustentava.

De fato, Brasília revelava, naquele início de década, grandes contradições. Por um lado, a cidade que representava o progresso e o desenvolvimento nacional tinha aqui tais princípios confrontados cotidianamente. Era palco de péssimas condições de trabalho, precária e excludente estrutura urbana e do descaso governamental para com as condições básicas de vida da população operária. Por outro lado, ao menos quanto às classes médias e ao funcionalismo público, a pressuposição de que a cidade podia oferecer novas relações sociais e boa qualidade de vida teve de conviver com sérias tensões políticas e contradições sociais já amadurecidas no seio dessas categorias e no próprio sistema político (JACCOUD 1998, p.146).

Para JACCOUD (1998, p. 146), no período de maio de 1960 e março de 1964, as reivindicações e mobilizações populares em Brasília, apontam para quatro grandes temas que emergem como os catalisadores das lutas sociais do período: a questão da moradia, as reivindicações trabalhistas, a questão rural e as lutas sociopolíticas de caráter mais geral.

Com a implantação da nova capital e das cidades satélites, surgem movimentos sociais reivindicando habitação, escola, saúde e transporte, necessidades básicas para qualquer comunidade. Estes se caracterizam como sendo movimentos sociais urbanos, as grandes novidades no cenário latino-americano nas últimas décadas (GOHN, 1997).

Desses temas, o que mais se relaciona com a temática ambiental ora proposta, sem dúvida, é a questão da moradia.

Apesar de toda a relevância dada à questão ambiental, nos relatórios da Comissão Crulls e Relatório Belcher, principalmente quanto aos recursos hídricos, o que predominava àquela

8 Artigo “Lutas sociais: populismo e democracia: 1960 /1964”, obra de Luciana de Barros Jaccoud,

publicado no livro “A conquista da cidade: movimentos populares em Brasília”, organizado por Aldo Paviani (1998).

época era a preocupação com a implantação de Brasília e assentamento das famílias pioneiras; nessa época, praticamente não se falava em unidades de conservação ou áreas protegidas.

Segundo JACCOUD (1998, p. 147), no final de 1958, estando proibidas novas construções na então chamada Cidade Livre (atual Núcleo Bandeirante), proliferavam invasões e construções irregulares que, ao lado dos acampamentos de obras, se constituíam