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CAPÍTULO 1 CARACTERIZAÇÃO DO UNIVERSO

1.2. Águas Claras e o meio ambiente

1.2.1. O “Parque Ecológico de Águas Claras” no Contexto Histórico da Cidade de Águas

O Parque Ecológico de Águas Claras foi criado por Lei Complementar nº. 287 em 15 de abril de 2000, com uma extensão de 619.050,00 m², situado atrás da Residência Oficial do Governador, entre as quadras 301, 104, 105 e 106 da cidade de Águas Claras (Ver figura 29).

Figura 29: Área do Parque Ecológico de Águas Claras, localizado à margem da Avenida

Parque Águas Claras, na cidade de Águas Claras, Distrito Federal. Escala: 1:5.000.

O Parque Ecológico de Águas Claras foi criado, conforme a Lei Complementar nº. 287/2000, visando os seguintes objetivos:

I - proteger o acervo genético representativo da flora e da fauna nativas naquela área do Distrito Federal;

II - proteger áreas de nascentes e de recarga de aqüíferos;

III - proporcionar a realização de atividades voltadas para a educação ambiental;

IV - propiciar o desenvolvimento de programas e projetos de observação ecológica e pesquisa sobre os ecossistemas locais;

V - proporcionar condições para a realização de atividades culturais, de recreação, lazer e esporte, em contato harmônico com a natureza.

O Parque Ecológico de Águas Claras foi criado em uma área bastante alterada, onde existiam chácaras com agricultura de subsistência e onde, durante a construção da cidade, se explorava terra e cascalho.

Essa construção ainda continua, com prédios sendo erguidos junto aos limites do Parque, que visivelmente, não possui zona de amortecimento; construções em áreas de recarga de aqüífero, com presença de nascentes e onde o lençol freático é bastante superficial; para viabilizar tais edificações, bombas de sucção são utilizadas para drenagem de toda essa água que é escoada em vias públicas, conforme informações obtidas junto aos administradores e supervisores de parques da COMPARQUES.

A cidade ainda não possui sistema de captação de águas pluviais, o que, principalmente, no período de chuvas, torna-se um fator complicador para os moradores e para o Parque (Ver figura 30).

Figura 30: Escoamento de águas pluviais, em uma das trilhas do Parque Ecológico de Águas

Claras, na Cidade de Águas Claras, Distrito Federal.

Fonte: Secretaria de Administração de Parques e Unidades de Conservação – COMPARQUES; 2005.

Parte da mata ciliar do Córrego Águas Claras ainda existe, porém o que predomina é a vegetação campestre, eucaliptos, árvores frutíferas (dos antigos pomares) e inúmeras espécies exóticas, evidenciando a antiga destinação da área. Com a criação do Parque foram criados dois lagos artificiais a partir da canalização do Córrego Águas Claras (2002) e introdução de espécies da fauna, como 29 patos, doados pelo Parque de Uso Múltiplo Dona Sarah Kubitschek. Destacam-se a presença de espécies animais, como: micos, tucanos, sabiás-

laranjeira, bem-te-vis, anus brancos e anus pretos (dados do Diagnóstico Ambiental para elaboração do Plano de Manejo do Parque Ecológico de Águas Claras).

Para a comunidade residente em Águas Claras, o Parque mistura lazer e esporte com natureza, espaços para corrida, ciclismo, caminhada, patinação, atividades nos circuitos inteligentes, skate, patins e basquete.

Segundo a Administração do Parque de Águas Claras (Ver anexo VI), a média de freqüentadores está em torno de 600 pessoas por dia, com perfil sócio-econômico de classe média, sendo que durante os finais de semana há um aumento desse fluxo, recebendo inclusive usuários moradores de outras Regiões Administrativas. Há relatos de freqüentadores que deixaram de freqüentar o Parque da Cidade Dona Sara Kubistchek (o Parque mais freqüentado e conhecido) para freqüentar o Parque de Águas Claras.

Ainda segundo a Administração do Parque, os freqüentadores estão satisfeitos com a unidade que é hoje referência na cidade, inclusive para as empresas imobiliárias que utilizam a sua imagem nas propagandas de imóveis. A Administração do Parque acredita que os moradores da cidade estão conscientes dos problemas do parque, porém acreditam que a UC está melhorando e que a tendência é melhorar cada vez mais, visto que a cidade de Águas Claras ainda não está concluída, sendo um verdadeiro canteiro de obras. Conforme relatos da Administração do Parque a visão da comunidade é de que com o crescimento e desenvolvimento da cidade, com a conclusão das obras de infra-estrutura e urbanização, a perspectiva futura do parque é a melhor possível; o Parque representa a garantia de área verde em meio à urbanização.

1.2.2. Gestão Ambiental Compartilhada em um dos Maiores Canteiros de Obras do Mundo

O Parque Ecológico de Águas Claras foi idealizado no momento que foi elaborado o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto de Meio Ambiente (RIMA) para a criação do Bairro de Águas Claras, em maio de 1992, solicitado pela Companhia Imobiliária de Brasília (TERRACAP), em virtude do licenciamento ambiental.

O EIA/RIMA de Águas Claras propôs compatibilizar o empreendimento com a conservação do entorno, a proteção ambiental e a manutenção da qualidade de vida; criar e administrar áreas para a proteção de mananciais, de ecossistemas naturais, da fauna, da flora e da biodiversidade, estabelecendo e obedecendo as normas de uso e ocupação do solo; estimular a organização comunitária no sentido de criar, aperfeiçoar e intensificar os processos de fiscalização e de mobilização social, dentre outras recomendações como forma de compensar os impactos inevitáveis gerados pelo empreendimento.

O EIA/RIMA propôs quatro tipos de programas para a gestão ambiental da cidade: • Programas de Recuperação de Áreas Alteradas;

• Programas de Proteção Ambiental;

• Programas de Monitoramento e Fiscalização; • Programas de Educação Ambiental e Sanitária.

O estudo evidenciou a necessidade da criação de áreas verdes como praças, parques (urbano e metropolitano) e implantação definitiva de áreas de preservação previstas em lei (nascentes e mata de galeria) e recuperação de áreas alteradas. A área atual do Parque Ecológico de Águas Claras foi, até meados de 2000, utilizada para o depósito de entulho e exploração mineral de cascalho laterítico. Anteriormente, sua maior parte fora utilizada para produção agropecuária em virtude de sua alta capacidade de uso do solo e riqueza de recursos hídricos.

Na área hoje destinada ao parque havia constantes ocorrências criminais penais e ambientais, surgindo neste contexto, o Parque Ecológico de Águas Claras pela Lei Complementar nº. 287, de 12 de abril de 2000, com os seguintes objetivos:

• Proteger o acervo genético da flora e da fauna nativa;

• Proteger as nascentes e a qualidade dos recursos hídricos disponíveis e as áreas de recarga de aqüíferos;

• Proporcionar o desenvolvimento de projetos de educação ambiental;

• Promover pesquisas sobre os ecossistemas locais e estimular atividades culturais, recreativas e esportivas em harmonia com o ecossistema da região.

Cumprir tais objetivos, sendo que o Parque Ecológico Águas Claras não apresenta área de amortecimento, estando localizado no interior e contíguo ao centro urbano, praticamente em construção, torna-se um grande desafio a gestão ambiental a ser promovida pela COMPARQUES, tendo que solucionar problemas internos ao parque, cuja origem está nas obras da cidade. Um exemplo são os problemas ocorridos como conseqüência da falta de drenagem das águas pluviais da cidade (Ver figuras 31, 32 e 33).

Figura 31: Local de escoamento de águas pluviais e de água proveniente de bombeamento de

construtoras, que escorrem pela rua em direção ao Parque Ecológico de Águas Claras; cidade de Águas Claras (DF).

Fonte: Relatório da Supervisão de Parques da Secretaria de Estado de Administração de Parques e Unidades de Conservação, Março de 2005.

Figura 32: Cerca do Parque Ecológico de Águas Claras derrubada pela ação de enxurrada,

com lixo e entulho da cidade de Águas Claras (DF).

Fonte: Relatório da Supervisão de Parques da Secretaria de Estado de Administração de Parques e Unidades de Conservação, Março de 2005.

Figura 33: Erosão no interior do Parque Ecológico de Águas Claras, provocada pelo

escoamento das águas pluviais; cidade de Águas Claras (DF).

Fonte: Relatório da Supervisão de Parques da Secretaria de Administração de Parques e Unidades de Conservação – COMPARQUES; março de 2005.

O Parque Ecológico de Águas Claras herdou o nome do córrego cujas nascentes afloram em sua área, atualmente reduzidas a duas, que necessitam, urgentemente, de cuidados especiais nas suas áreas a montante, em virtude das ocupações que estão sendo realizadas e com conseqüente impermeabilização e rebaixamento dos lençóis freáticos que contribuem para a redução da vazão do seu afloramento.

A fim de recuperar, manter e preservar o Córrego Águas Claras é imperativo que se cumpram as recomendações do EIA/RIMA, citadas anteriormente, em uma cidade que é considerada um dos maiores canteiros de obras do país e do mundo.

1.2.3. Educação Ambiental e Mobilização da Comunidade Local

Promover uma educação ambiental e mobilização da comunidade de Águas Claras no sentido de proteger o Parque Ecológico de Águas Claras é algo extremamente necessário e, ao mesmo tempo uma tarefa difícil, visto que deverá confrontar com interesses diversos relacionados ao desenvolvimento da cidade, ao pregar princípios de sustentabilidade.

Apesar de a criação do Parque ter sido prevista no EIA/RIMA da cidade, sua criação efetiva e implantação ocorreram, segundo entrevista com o presidente da Associação de Moradores de Águas Claras (ASMAC), devido à mobilização de um grupo da comunidade local que elaborou e apresentou ao Deputado Chico Floresta, na Câmara Legislativa do DF, o projeto de lei de criação do parque.

Segundo o Presidente da ASMAC, se não fosse a pressão da comunidade local, representada pela Associação de Moradores, junto à Câmara Legislativa do DF e GDF, o Parque não teria sido implantado.

A Associação, que foi criada em função do Parque, entende que o cuidado com a UC é necessário para a manutenção da qualidade de vida em Águas Claras, cujas obras de expansão a fim de promover o adensamento populacional, a colocam em risco.

A Associação já se manifestou formalmente, junto a COMPARQUES, em relação a sua participação no Conselho Gestor do Parque, como também solicitou sua participação quando da elaboração do Plano de Manejo (concluído em 2005), o que, segundo o Presidente da ASMAC foi negado pelo órgão gestor; e acrescenta:

Nós, moradores de Águas Claras, não somos convidados para nada; nem para participar de Conselho Gestor, nem para a elaboração de Plano de Manejo.

Como o plano de manejo do parque está concluído, o mesmo deverá ser aprovado pelo Conselho Gestor do Parque, que ainda não existe.

Nesse caso, a deliberação sobre o plano de manejo poderá ser função da Comissão de Defesa do Meio Ambiente (COMDEMA), conforme expresso no Capítulo V, artigo 17, §6º, do Decreto nº. 4340, de 22/08/2002, que regulamenta o SNUC:

No caso de unidade de conservação municipal, o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente, ou órgão equivalente, cuja composição obedeça ao disposto neste artigo, e com competências que incluam aquelas especificadas no art. 20 deste Decreto, pode ser designado como conselho da unidade de conservação.

No entanto, Águas Claras, também não tem COMDEMA. Dessa forma, sem os espaços de participação pública – COMDEMA e Conselho Gestor de Parque – a comunidade não participa dos processos de gestão ambiental do Parque, nem tem como interferir nos planos de desenvolvimento da cidade propostos pelo GDF.

Apesar disso, a Associação de Moradores de Águas Claras tem promovido algumas ações no sentido de alertar a comunidade sobre os problemas locais e para a importância do Parque, como a realização de Fóruns de Discussão – o último com a participação do arquiteto Paulo Zimbres, idealizador do projeto urbanístico – e passeios ciclísticos.

Outra ação importante é a execução do projeto Biodiversidade e Educação Ambiental do Parque Ecológico de Águas Claras (BEAPAC), da Universidade Católica de Brasília (UCB), sob a coordenação da Professora Cássia Beatriz Rodrigues Munhoz, do Laboratório de Botânica do Curso de Ciências Biológicas, cujo objetivo é realizar o diagnóstico ambiental do Parque de Águas Claras, incluindo os ecossistemas terrestres, aquáticos e o meio físico; e engajar a comunidade acadêmica da UCB e a população do entorno do Parque em atividades de Educação Ambiental.

A presente pesquisa – levada a efeito no Programa de Pós-graduação stricto sensu em Planejamento e Gestão Ambiental da UCB – insere-se como subprojeto na atividade de pesquisa Biodiversidade e Educação Ambiental do Parque Ecológico de Águas Claras (BEAPAC).

O Parque de Águas Claras demanda urgentemente a implementação de instrumentos de gestão, a fim de que se possa estabelecer, pela via institucional e com a participação consciente da comunidade, o ordenamento dos usos da terra e dos recursos naturais existentes no DF. A execução deste projeto busca iniciar o processo para saciar tal necessidade, através do conhecimento dos recursos florísticos, faunísticos e hídricos do Parque (BEAPAC, 2004).

CAPÍTULO 2 - PARTICIPAÇÃO SOCIAL NOS PROCESSOS DE GESTÃO AMBIENTAL