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Segundo os documentos ligados ao Ginásio Pernambucano, o último médico a ser admitido como docente na área de Ciências Naturais foi Bento José da Silva Magalhães, em 1951.130 A partir de 1958 foram contratados pelo governo estadual os

primeiros professores formados em História Natural131 pela Faculdade de Filosofia de

Pernambuco (FAFIPE),132 como Antônia Anita Lima Albuquerque,133 Maria Lindete de

Oliveira134 e Antônio Cícero da Silva,135

É importante ressaltar que nesse período foi possível observar que os professores médicos já contratados passaram a ensinar apenas a disciplina de Ciências Naturais para os dois últimos anos do Curso Ginasial (nível equivalente aos

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Amauri da Costa Pinto, que era filho de Ricardo José da Costa Pinto, foi Médico da Prefeitura do Recife, em 1955, e professor do Ginásio Pernambucano, a partir de 1950.

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Hoel Sette (1914 - 1963) se formou na Faculdade de Medicina do Recife em 1937. Fez concurso e assumiu o cargo de professor da Faculdade de Medicina do Recife a partir de 1948.

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O médico Bento José da Silva Magalhães formou-se na Faculdade de Medicina do Recife (UFPE), local onde também foi professor a partir de 1950. Tomou posse como professor catedrático de Ciências Naturais do Ginásio Pernambucano no último concurso realizado para essa cadeira, em 1951.

130

AGP - Livro de posse dos funcionários do Ginásio Pernambucano (1938-1957), p. 72.

131

AGP - Correspondência do Ginásio Pernambucano, 1958.

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A Faculdade de Filosofia de Pernambuco (FAFIPE) foi fundada em 1950 e estava ligada a Universidade do Recife (UR), agora Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Em 1950, seu prédio foi instalado na Rua Nunes Machado, n° 42, no Bairro da Boa Vista, com os seguintes cursos: Filosofia, Letras Neo-Latinas, Letras Anglo-Germânicas, Geografia e História e Pedagogia. Em 1952, vieram a funcionar os cursos de Ciências Sociais, História Natural e Didática. Em 1953, o de Matemática (ARQUIVO GERAL DA UFPE - Relatório da UFPE - 1951). Como o curso de História Natural foi instalado em 1952, os seus primeiros formandos concluíram o curso a partir de 1954, já que a sua duração era de três anos.

133

FUNDAJ - Convite de Formatura da FAFIPE dos concluintes de 1957.

134

Arquivo Geral da UFPE - Relatório da Faculdade de Filosofia de Pernambuco (FAFIPE), 1955.

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anos finais do ensino fundamental), e que os professores bacharéis assumiram a disciplina de História Natural/ Biologia do Curso Científico. Esse fato constituir um aspecto marcante do processo de profissionalização do magistério secundário para o ensino de Biologia em Pernambuco.

Certamente, essa modificação do perfil do corpo docente estava relacionada à criação do curso superior de História Natural em Recife na FAFIPE, em 1952, e na FAFIRE, em 1956.136 Os cursos de bacharelado tinham a duração de três anos, com as seguintes disciplinas: Biologia Geral, Zoologia, Botânica, Mineralogia, Petrografia, Geologia e Paleontologia.137 A licenciatura era oferecida a partir do Curso de Didática, com duração de um ano, com as disciplinas: Didática Geral, Didática Especial, Psicologia Educacional, Administração Escolar, Fundamentos Biológicos da Educação e Fundamentos Sociológicos da Educação. A partir de 1963 a disciplina de Desenho Aplicado as Ciências Naturais passou a ser oferecida na formação para a licenciatura.138

No final da década de 1950, especificamente no que se refere as disciplinas científicas, havia uma forte influência do Movimento Renovador do Ensino de Ciências, intensamente balizado pelos currículos estadunidenses, culminando com a aprovação do Congresso Nacional Americano de recursos milionários para projetos de inovação curricular, de acordo com a Lei da Educação de Defesa Nacional (National Defense Education Act - NDEA), em 1958 (FOOTLICK, 1968). Entre esses projetos, destacou-se o Biological Sciences Curriculum Study (BSCS), que influenciaria todo o currículo da disciplina escolar Biologia no início da década de 1960, sobretudo no Brasil, com traduções e adaptações de livros didáticos, guias de laboratórios e treinamento de professores.

De uma forma geral, o ensino de Ciências Naturais estava saindo de uma proposta meramente demonstrativa para uma mais experimental, com a produção de novos materiais didáticos que, segundo Barra e Lorenz (1986), incorporavam modernos conceitos científicos, mas também selecionavam e organizavam conteúdos que se tornariam relevantes para a maioria das escolas brasileiras.

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O curso de História Natural na Faculdade de Filosofia do Recife (FAFIRE) só começou a funcionar em 1956 (UR/ FAFIRE, 1956).

137

Arquivo Geral da UFPE - UNIVERSIDADE DO RECIFE/ FAFIPE. Relatório Anual - 1961. Recife: FAFIPE/ UR, 1962.

138

Arquivo Geral da UFPE - UNIVERSIDADE DO RECIFE/ FAFIRE. Anuário - 1957. Recife: FAFIRE, 1957.

No início da década de 1960 a Biologia como disciplina escolar se modernizou apoiada por um discurso relacionado aos avanços tecnológicos, a matematização ligada aos adventos da Genética e a presença de uma retórica evolucionista (ROQUETTE, 2011). Assim, nesse momento, houve a necessidade de apresentar os conteúdos dessa disciplina escolar a partir de atividades experimentais e dos temas unificadores.139 Entretanto, em Pernambuco, a aproximação dos professores formados em História Natural com essa Biologia modernizada não aconteceu nas Faculdades de Filosofia, mas a partir da criação do Centro de Ciências do Nordeste (CECINE), em 1965.

Em um contexto político no qual, além da falta de docentes qualificados para assumir esse novo ensino científico, havia uma decadência econômica da região Nordeste e uma indução na transição de uma política agrária para uma estrutura industrializada (TEIXEIRA; LIMA; NARDI, 2017), foi criado o CECINE para realizar treinamentos de professores de Biologia a partir do projeto estadunidense BSCS (BORGES, 2012), aproximando essa disciplina escolar da ciência de referência modernizada.

Assim, a partir dessa ampla revisão histórica, foi possível afirmar que o desenvolvimento do ensino de Historia Natural/ Biologia no ensino secundário em Pernambuco, entre os anos de 1800 à 1960, esteve associado ao ideal pedagógico que os docentes padres, naturalistas, médicos e bacharéis desenvolveram em seus períodos de atuação. Os padres com o sacerdócio naturalístico utilitário, os naturalistas com a organização de coleções científicas, os médicos com a ideia positivista de progresso por meio das Ciências Naturais e os bacharéis com o discurso modernizador da Biologia vivenciados por meio de atividades experimentais.

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Para o BSCS, os temas unificadores constituíam a base do pensamento biológico moderno e deveriam permear todo o ensino de Biologia (FROTA-PESSOA, 1972, p. 79, In: SANTOS, 1972). Esses temas foram determinados a partir do exame do conteúdo e estrutura da biologia moderna, assim como dos conhecimentos, atitudes e aptidões mais importantes que poderiam contribuir para a vida do aluno como pessoa (KLINCKMANN, 1970). Em 1963, durante a reforma do ensino nos Estados Unidos, entre as características mais importantes do BSCS estava a apresentação dos conteúdos de Biologia a partir desses temas unificadores: 1) Evolução dos seres vivos através do tempo; 2) Diversidade de tipos e unidades de padrões nos seres vivos; 3) Continuidade genética da vida; 4) Complementação entre organismos e ambiente; 5) Raízes biológicas do comportamento; 6) Complementação entre estrutura e função; 7) Regulação e homeostase; 8) A ciência como indagação; 9) A história dos conceitos Biológicos (FROTA-PESSOA, 1964).

Como o objetivo dessa pesquisa foi verificar a constituição da disciplina escolar História Natural entre 1930 e 1960, ou seja, na perspectiva dos médicos professores, o próximo capítulo vai apresentar a biografia de Valdemar de Oliveira, médico, professor e escritor de livros didáticos para o ensino secundário.

3 A TRAJETÓRIA DO PROFESSOR VALDEMAR DE OLIVEIRA E A SUA ESTRUTURA DE SOCIABILIDADE