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4.3 TRAÇOS MORFOLÓGICOS E ESTILÍSTICOS DOS LIVROS DE HISTÓRIA

4.3.4 Exercícios

A Cultura Escolar propõe formas para que o conhecimento seja trabalhado (JULIA, 2001). Os exercícios são uma dessas formas. De maneira geral, na prática de ensino de História Natural proposta por Valdemar de Oliveira, os questionários, experimentações, problemas e questões abertas foram as formas que o autor estabeleceu para auxiliar na aprendizagem dos conteúdos. Em uma rápida verificação, os exercícios marcaram de forma evidente a estratégia de ensino de Valdemar de Oliveira para a década de 1930, com um número elevado de questionários, entre outros formatos. Houve pouco espaço para os exercícios nas décadas de 1940 e 1950, aparecendo eventualmente alguns experimentos, mas respondidos imediatamente, sem nenhuma chance para o aluno executar e elaborar suas próprias ideias acerca dos fenômenos. A década de 1960 sugeriu de forma muito discreta alguns problemas e questões abertas.

Na disciplina escolar História Natural desenvolvida no fim da década de 1930 parecia haver um lugar de destaque para os exercícios do tipo questionários (Figura 54 - Anexo A). Esse tipo de exercício foi concentrado nos dois primeiros volumes (OLIVEIRA, 1939 e OLIVEIRA, 1940), apresentando 51 questionários e totalizando 641 perguntas (ver Tabela 2, p. 158). Os questionários eram apresentados sempre no fim de cada subparte de um conteúdo, podendo existir vários dentro de um mesmo capítulo. Por exemplo, no Capítulo I do bloco de Botânica, em "História Natural para a terceira série ginasial" (OLIVEIRA, 1939, p. 27-73), o texto foi dividido em oito subpartes: Raiz, Caule, Folha, Flor, Fruto, Semente, Estudo Experimental da Germinação da Semente e Enxertos. Com exceção da última, todas apresentaram um questionário como exercício.

A previsibilidade dos exercícios no término de cada parte, segundo Takeuchi (2017), resulta em uma mudança de atitude do aluno, que deixa de seguir somente a leitura e passa a executar uma tarefa adicional. No contexto escolanovista, Valdemar de Oliveira elaborou uma coleção didática na qual os exercícios se

caracterizaram como o elemento facilitador da disciplina escolar na aquisição dos conteúdos e no desenvolvimento de determinadas habilidades.

No prefácio de "História Natural: para a terceira série ginasial" (1939), Valdemar de Oliveira reconheceu que cada professor tem o seu método de ensino, justificando que escreveu um livro de acordo com a sua orientação didática, adicionando sinopses e questionários no fim dos blocos de conteúdos, deixando explícita a sua estratégia para ensinar.

Ao fim da maioria dos capítulos, julguei de bom alvitre colocar sinopses da matéria explanada e organizar ligeiros questionários, que o professor utilizará se lhe convier. Tais questionários abordam questões cujas respostas nem sempre estão claras na exposição do ponto. Obriga, assim, o aluno a um esforço de raciocínio, fazendo apelo a conhecimentos outros que deve possuir e revisando, por vezes, a matéria de capítulos anteriores (OLIVEIRA, 1939, p. 5).

Como o autor enfatizou, esse tipo de exercício não apresentava apenas perguntas óbvias, muitas vezes propondo desafios mais elaborados, como identificar minerais e colecionar rochas (OLIVEIRA, 1940, p. 329). Dessa forma, o questionário parecia ter as finalidades de guiar a leitura e destacar informações relevantes, auxiliando na aprendizagem dos conteúdos, muitas vezes propondo que o aluno expressasse o seu pensamento ou executasse observações na natureza e realizasse anotações, como destacado nos exemplos a seguir:

Exemplo 1: "Feche este livro e responda: de que natureza são as fibras dos músculos que realizaram este movimento?" (OLIVEIRA, 1940, p. 179);

Exemplo 2: "Tome a flor do maracujá. Procure traçar o seu diagrama." (OLIVEIRA, 1940, p. 59).

Dessa forma, esses questionários não podem ser considerados como "exercício de cópia" (MOURA, 2013, p. 5), mas exercícios que também permitiam o aluno formular suas próprias respostas.

O movimento escolanovista tinha como característica, entre outras, a "ênfase na solução de problemas em situações reais ou simbólicas", segundo Soares (2004, p. 33). Essa característica talvez explique a opção de Valdemar de Oliveira em adicionar questionários ao fim de cada seção de conteúdos como uma forma de ensino e avaliação para a disciplina. Entretanto, essa proposta se manteve até o

"História Natural para a quarta série ginasial" (OLIVEIRA, 1940) e desapareceu no ano seguinte, já na primeira edição do "História Natural para a quinta série ginasial (OLIVEIRA, 1941) e em todos os outros livros didáticos do autor.

Outros formatos de exercícios foram identificados nas coleções seguintes, como as propostas de atividades experimentais, problemas e questões objetivas, ratificando o compromisso do autor com esse tipo de atividade pedagógica.

A questão experimental para o ensino se destacou a partir dos anos de 1930, "como um processo mais amplo de modernização do país e como uma forma de ensino ativo, nos moldes do escolanovismo" (MARANDINO; SELLES; FERREIRA, 2009, p. 98), contrapondo-se ao ensino tradicional.

Valdemar de Oliveira sugeriu o que ele denominou de atividades experimentais (como sinônimo de atividades práticas para o ensino de História Natural), mas que pareciam propostas de atividades exclusivamente intelectuais. Aparentemente, não havia a exigência da presença material dos objetos, sempre propondo a ação e descrevendo imediatamente os resultados (Figura 55 - Anexo A), ilustrando o conteúdo como uma estratégia didática para provar o fenômeno a partir do método científico em uma perspectiva indutivista.

Os exercícios do tipo "problema" e "questão objetiva" foram utilizados apenas no livro "Biologia" publicado em 1965 (Figura 56 - Anexo A), provavelmente para atender à demanda dos cursos pré-vestibular por exercícios desse tipo. Esses exercícios foram introduzidos na última parte do livro, exatamente no capítulo sobre Genética e Reprodução.

Isso indica que, possivelmente, o Professor Janduhy Leite tenha sido o responsável por essa inovação para a coleção da década de 1960, pois ficou responsável por redigir os capítulos sobre Genética e Reprodução. Os exercícios não foram muito explorados nessa coleção. O último livro publicado ("Zoologia") não apresentou nenhum tipo de exercício.

Para Chervel (1990), os exercícios podem ser considerados o contrapeso em relação aos conteúdos, constituindo um elemento fundamental para o diálogo entre professor e aluno no interior da escola. Para Valdemar de Oliveira, essa maneira de visualizar o exercício como uma forma de diálogo aconteceu apenas na ocasião da influência direta do movimento Escolanovista sobre os seus livros, perdendo esse

aspecto nos anos seguintes e nas subsequentes edições das coleções didáticas de História Natural.