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4. CAPÍTULO III NARRANDO O PROCESSO METODOLÓGICO DA

4.4 A HISTÓRIA ORAL COMO O MÉTODO DA INVESTIGAÇÃO

Quando se pensa na metodologia mais adequada para a pesquisa, é preciso ter em mente que a mais favorável será sempre aquela que, ao possibilitar uma construção propícia aos dados, auxilie o pesquisador a refletir a respeito da dinâmica da teoria. Por conseguinte, o método escolhido deve ser tanto apropriado ao objeto da investigação e oferecer elementos teóricos para a análise, quanto ser operacionalmente executável.

É partindo desse pressuposto, que acreditamos ser a história oral a metodologia mais adequada para nossa investigação, uma vez que é possível analisar qualquer tema, desde que seja contemporâneo – isto é, desde que ainda vivam aqueles que têm algo a dizer sobre ele –, a luz desta metodologia. (ALBERTI, 2013). Seu uso implica um trabalho com as histórias dos sujeitos que se voltam a recuperar suas memórias vividas.

Ela pode ser usada de muitas maneiras e “adota uma variedade de práticas analíticas”. Inicia-se com as experiências expressas nas histórias vividas e contadas pelos sujeitos e/ou grupos sociais. E consiste em reunir informações por meio da coleta das suas histórias, relatar suas experiências e ordenar cronologicamente o significado das mesmas. (CRESWELL, 2014, p. 68).

No livro Manual de história oral23, Verena Alberti (2013, p. 28-32), aponta as principais especificidades e vantagens no seu uso para dar voz e visibilidade às memórias subterrâneas de sujeitos e/ou grupos sociais. São elas:

23

Este livro foi publicado pela primeira vez em 1990. É resultado das práticas da equipe do Programa de História Oral (PHO) do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (Cpdoc), fundado em 1975. Ele se vale da constante troca de experiências e conhecimentos nos encontros da Associação Brasileira de História Oral (ABHO) e da Associação Internacional de História Oral (IOHA). A segunda edição foi publicada em 2004 e a terceira em 2013. (ALBERTI, 2013, p. 11-12).

o Constituir, desde o princípio, uma produção intencional de documentos históricos. Ao invés de se organizar um arquivo de documentos já existentes, conferindo-lhes, após criteriosa avaliação, o caráter de fontes em potencial para futuras pesquisas, na história oral se produz deliberadamente, por meio de várias etapas, o documento que se torna fonte.

o A participação direta do pesquisador na elaboração do documento de história oral permite uma constante avaliação deste documento ainda durante sua constituição.

o A entrevista de história oral possibilita recuperar aquilo que não encontramos em documentos de outra natureza: acontecimentos poucos esclarecidos ou nunca evocados, experiências pessoais, impressões particulares, dentre outros.

o Toda uma postura com relação à história e às configurações socioculturais, que privilegia a recuperação do vivido conforme concebido por quem viveu.

o Por fim, o fato de seu registro constituir-se um documento oral. Pois, mesmo que seja transcrita, a entrevista de história oral deve ser considerada em função das condições de sua produção: trata-se de um diálogo entre entrevistado e entrevistador, de uma construção e interpretação do passado atualizada através da linguagem falada. Nesse sentido, é sua característica se desenvolver em meio a recuos e evocações paralelas, repetições, desvios e interrupções, que lhe conferem um potencial de análise em grande parte diverso daquele de um documento escrito: a análise da entrevista tal como efetivamente transcorreu permite que se apreendam os significados não direta ou intencionalmente expressos; permite que o pesquisador se pergunte por que a questão x evocou y ao entrevistado; por que, ao falar de z, recuou para a; por que não desenvolveu a questão c assim como fez em b e sucessivamente.

Kenski (1994), refletindo a respeito dos estudos e pesquisas sobre a memória, aponta que estes, em sua maioria, estão associados a temas ligados à História, área onde a memória é um objeto de estudo permanente. Entretanto, há outros campos do conhecimento que se dedicam à pesquisa sobre o mesmo tema, a exemplo da Educação, na qual a memória é analisada com os mais distintos objetivos e praticamente em todos os segmentos desta área. Estes estudos são desenvolvidos, frequentemente, “a partir dos pressupostos da pesquisa historiográfica e tornam-se fontes relevantes de dados para os estudiosos da História, e, sobretudo, da Educação”. (KENSKI, 1994, p. 102).

Biografias, histórias de vida, entrevistas de história oral, documentos pessoais e outros, indicam o que é potencialmente possível em determinada sociedade ou grupo, sem esgotar, obviamente, todas as possibilidades sociais. Mas, o que leva um pesquisador a procurar um sujeito que tenha sido ator ou testemunha de determinado acontecimento ou conjuntura para fazer dele um entrevistado? Certamente, a necessidade de alguma informação ou conhecimento que este dispõe, e que o próprio pesquisador – ainda que muito bem informado e preparado – não dispõe. Do contrário, é

óbvio que não existiria a necessidade de se empregar tempo na realização de uma entrevista. (ALBERTI, 2004, p. 23).

As pesquisas concernentes aos efeitos da memória em situações de aprendizagem têm como um dos objetivos fundamentais a reflexão individual ou coletiva a respeito das influências deixadas por vivências marcantes do passado sobre a relação pedagógica entre educador e educando. É por meio dessas lembranças que os sujeitos buscam refletir “Como se sentiam na época em que viviam essas experiências? O que essas experiências significaram em suas vidas? Que influências esses momentos tiveram em suas escolhas pessoais e profissionais?”. (KENSKI, 1994, p. 103).

Isto se faz muito importante para nós, na medida em que tivemos a pretensão de entender como o nosso colaborador apreendeu sua participação no Curso de Formação de Educadores Holísticos, desenvolvido pelo NEIMFA e como este curso o afetou e reverberou em sua formação enquanto sujeito.