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Guaçuí é um município que se localiza ao sul do estado do Espírito Santo, na conhecida microrregião do Caparaó/ES e possui 756,860 km². Limita-se com os seguintes municípios: ao norte com Divino de São Lourenço e Ibitirama; a leste, com Alegre; ao sul e sudeste, São José do Calçado; a sudoeste, com Bom Jesus do Itabapoana e Varre-Sai; a noroeste, Dores do Rio Preto; a oeste, com Porciúncula e Varre-Sai, conforme Figura 1.

Figura 1 – Espírito Santo: divisão regional por microrregiões

Fonte: Espírito Santo (2020).

A história da colonização da região começou quando o alferes João do Monte da Fonseca, enviado pelo príncipe D. João, com o objetivo de executar os índios botocudos, temidos pelos desbravadores, encontrou os índios puris – “tupis”7. Sua primeira expedição ocorreu no ano de 1810, abrindo uma estrada que passava pelos atuais municípios de Iúna, Irupi, Ibatiba e Muniz Freire até Castelo e seguia em direção à Vila de Vitória. Em 1815, sua missão foi abrir uma estrada que ligasse essa região sul da capitania ao Rio de Janeiro. Nessa região, que pertencia à Capitania de Minas Gerais, João do Monte encontrou um rio que chamou em seu diário de Rio do Veado (SANTANA; MOULIN; MORAES, acesso em 18 maio 2020).

Mais tarde, em 1820, o governo de Minas Gerais deu ao Sargento-Mor Manoel José Esteves de Lima, o direito de explorar a região. Ele veio com cerca de 72 homens, em sua maioria escravizados e índios, fez um reconhecimento da área e, sete anos depois, sentou-se com o alferes João do Monte para delimitar os limites com a província do Espírito Santo (SANTANA; MOULIN; MORAES, acesso em 2020).

De acordo com documentos de 1838, já se mencionava um povoado chamado São Bom Jesus do Livramento, atual município de Guaçuí, fundado por Justino José Maria das Dores. Em 1866, foi criado o distrito de São Miguel do Veado, por meio do Decreto Provincial n.º 09, pertencente ao município de São Pedro de Cachoeiro de Itapemirim (IBGE, acesso em 18 maio 2020).

Posteriormente, pela Lei Provincial n.º 18, de 1884 e por Decreto Estadual n.º 53, de 1890, o distrito de São Miguel do Veado, agora chamado Veado, foi transferido da Vila de São Pedro de Cachoeiro de Itapemirim, para integrar o município Nossa Senhora da Conceição de Alegre (atual município de Alegre), também emancipado da Vila de São Pedro de Cachoeiro de Itapemirim.

7 Conforme Moreira (2010), a província do Espírito Santo abrigava muitas comunidades indígenas de botocudos (tapuias ou aimorés) e puris, na primeira metade do século XIX. Os Botocudos pertenciam

“ao tronco linguístico Macro-Jê, são caçadores e coletores seminômades, com uma organização social que se caracteriza pelo constante fracionamento do grupo, pela divisão natural do trabalho e por um sistema religioso centrado na figura dos espíritos encantados dos mortos” (DADALTO, 2014, p.15).

Desse modo, os portugueses consideravam os botocudos um entrave aos seus anseios civilizatórios e de dominação.

Segundo consta na página da Câmara Municipal de Guaçuí, nesse período, a região começou a despontar cultural, econômica e socialmente. Em 1913, passou na região o primeiro trem de passageiros da companhia britânica The Leopoldina Railway (Fotografia 1).

Fotografia 1 – Estação da Estrada Férrea Leopoldina em 1957

Fonte: IBGE (acesso em 18 maio 2020).

Em 1924, foi fundado o Colégio São Geraldo, um dos primeiros da região (Fotografia 2). Após a independência política do município de Guaçuí, foi inaugurada a Igreja Matriz de São Miguel Arcanjo (Fotografia 3). Ambas as construções, somadas ao Monumento ao Cristo Redentor (Fotografia 4), construído em 1956, pelo escultor Antônio Francisco Moreira e inaugurado em 1957, ajudam a compor os pontos históricos e turísticos da região. Sendo este último, é o monumento mais visitado devido à bela vista que oferece ao público.

Fotografia 2 – Escola Normal e Ginásio São Geraldo (19--)

Fonte: IBGE (acesso em 18 maio 2020).

Fotografia 3 – Igreja Matriz São Miguel Arcanjo (19--)

Fonte: IBGE (acesso em 18 maio 2020).

Fotografia 4 – Monumento ao Cristo Redentor

Fonte: IBGE (acesso em 18 maio 2020).

A emancipação do município ocorreu na data de 25 de dezembro de 1928, quando foi desmembrado do município de Alegre (IBGE, 2020), por meio da Lei Estadual n.º 1.688, recebendo o nome de Veado. Entre 1931 e 1943, o município foi denominado Siqueira Campos. Só a partir daí, recebeu o nome atual, Guaçuí. Há uma história a respeito do nome do município. Segundo a população, essa região, ao longo dos rios, era habitada por veados. No entanto, não há comprovação histórica do fato.

O atual povoamento da região, segundo guaçuienses, tem ligação com as grandes fazendas produtoras de café (sendo essa atividade econômica importante no município até os dias atuais, juntamente com a criação de gado), que utilizavam inicialmente mão de obra de escravizados e depois mão de obra de imigrantes, especialmente vindos da Itália. Há quem afirme que o clima frio, devido à altitude da região, também colaborou para a escolha desses imigrantes em permanecer no local (DIÁRIO DE CAMPO/ PROFESSOR DE HISTÓRIA/GEOGRAFIA, 05/12/2019).

No site da Prefeitura Municipal de Guaçuí, existem poucos dados sobre a história e povoamento do município. No entanto, uma curiosidade foi a afirmação feita pelo presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Guaçuí, o ex-prefeito e historiador, Luiz Moulin, que o município teria libertado seus escravizados antes da Lei Áurea (que aboliu a escravidão no Brasil em 13 de maio de 1888), pois, segundo ele, alguns fazendeiros possuíam esses ideais de libertação e apoiavam a causa. Assim, no mês

de abril de 1888, dois dos maiores fazendeiros do município, que possuíam mais de 400 escravizados, reuniram outros fazendeiros e declararam livres aqueles que trabalhavam como cativos na região. Por este ato, ambos receberam títulos de comendadores (IBGE, acesso em 18 maio 2020).

O município de Guaçuí ainda permanece com a divisão disponibilizada pelo IBGE (2020), possuindo três distritos além da sede: São Miguel de Caparaó, São Pedro de Rates e São Tiago, conforme se observa na Figura 2 (IBGE, acesso em 18 maio 2020).

Figura 2 – Divisão do município de Guaçuí por distritos

Fonte: IBGE (acesso em 18 maio 2020).

Segundo o censo realizado em 20108, a população de Guaçuí possuía 27.851 pessoas com número estimado de 30.867 pessoas para o ano de 2019 (IBGE, 2020), distribuída em um território de 468,185 km².

Mais de 50% da população professava a fé católica, cerca de 24%, religiões evangélicas, enquanto as religiões espíritas não chegaram a 1%, de acordo com o censo 2010 do IBGE. Também no ano de 2010, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Guaçuí ocupou a 28ª posição do estado do Espírito Santo, com o valor de 0,703. De acordo com Prearo, Maraccini e Romeiro (2015, p. 134),

[...] o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) considera fatores como uma vida longa, acesso ao conhecimento e o padrão de vida de uma população, medindo assim o progresso de uma nação a partir de três dimensões: renda, saúde e educação.

Para os autores, a renda per capita leva em consideração o poder de compra dos habitantes da região; a saúde é medida pela expectativa de vida da população, considerando a longevidade e o acesso à saúde, e a educação, pela escolarização dos adultos e ainda a faixa etária das crianças que ingressam nos estudos (PREARO;

MARACCINI; ROMEIRO, 2015, p. 135).

Em 2018, o salário médio mensal da população que exercia trabalho formal era de 1.8 salários-mínimos (IBGE, 2020), entretanto apenas 5.357 pessoas, ou seja, 17,5%

exerciam emprego formal.