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EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOMBOLA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

A Lei nº 10.639/03, ao alterar a LDB/96, inclui no “[...] currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática ‘História e Cultura Afro-Brasileira’” (BRASIL, 2003), constituindo-se como política afirmativa desenvolvida pelo Estado brasileiro, voltada para o reconhecimento e a valorização da contribuição do povo negro para a história econômica, social e política do país. Cabe destacar que essa lei foi resultado da luta

do movimento negro ao longo do século XX, que indicou a necessidade de formulação de políticas e práticas articulada com a Erer.

Nessa direção, no ano seguinte à sanção da Lei nº 10.639/003, foram aprovadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, que se constituem em condutoras dos conteúdos que serão ministrados dentro das disciplinas a fim de reconhecer e valorizar a história e cultura dos afro-brasileiros, bem como discorrer sobre a diversidade que compõe a sociedade brasileira, ofertando a todos uma educação que busque refletir sobre as formas de preconceito e capaz de combater qualquer tipo de discriminação (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2004).

No ano de 2012, foram definidas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica, com o objetivo de orientar os sistemas de ensino e organizar a oferta da Educação Escolar Quilombola (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2012b). Entre os princípios da Educação Escolar Quilombola, estão o reconhecimento à história e cultura afro-brasileira bem como a história e cultura dos povos quilombolas, além do respeito a elas (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2012b).

Para garantir tais princípios, é importante o conhecimento sobre a história, a cultura e os direitos da população negra por parte dos profissionais que atuam nessa modalidade de ensino.

É necessário pontuar que tais políticas procuram atender a uma demanda do povo negro que há séculos luta para ter reconhecida, valorizada e respeitada a sua história na construção da nação brasileira. Por esse motivo, as DNCERER também apontam políticas de reparação e reconhecimento, a fim de corrigir um passado de desigualdade e marginalização que se perpetua no presente, como discutimos na seção 3 sobre a situação de exclusão e falta de acesso da população negra a bens e serviços, bem como a situação de preconceito e discriminação presentes em nossa sociedade.

A escola tem esse importante papel de garantir acesso aos conhecimentos historicamente construídos, desmistificar e orientar para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Desse modo, combater atitudes de preconceito, lutar por democracia e vencer o racismo não é só uma tarefa do negro e sim de toda

a população, pois “[...] a luta pela superação do racismo e da discriminação racial é, pois, tarefa de todo e qualquer educador, independentemente do seu pertencimento étnico-racial, crença religiosa ou posição política (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2004, p. 16).

Na tentativa de analisar o processo de materialização da Lei nº 10.639/03 na escola, buscarmos identificar se os profissionais tinham conhecimento de sua existência e obrigatoriedade no currículo. Assim, quando questionados acerca da Educação das Relações Étnico-Raciais, as respostas obtidas foram vagas. A maioria revelou não se recordar sobre as temáticas:

Não estudei nas Ciências Biológicas sobre a Erer, já na Pedagogia sim. Por alto, mas estudei.

Nada sobre Educação Escolar Quilombola. (MATEUS)

Na formação inicial sobre relações étnicos raciais sim estudei [...] e na formação continuada no seminário de geografia e história do Caparaó, repensando as dimensões acadêmica e escolar nas práticas cotidianas em sala de aula. (GABRIEL)

Não me recordo. (PAULA)

Não. Eu me formei há muitos anos, então não fazia parte da grade que eu me lembre.

(HEDYLADY)

Estudamos. Só que não foi uma coisa aprofundada, pois logo depois que chegou essa Lei 10.639 e eu estudei antes dessa Lei. Foi uma coisa comentada. Só depois que chegou essa lei que obrigava. (JUSSARA)

Poucos professores afirmaram conhecer a Lei nº 10.639/03, pois não tiveram essa temática contemplada no seu curso de formação inicial. Cabe destacar que o ano da formação inicial de quatro dos seis professores entrevistados era anterior ao ano de sanção dessa lei. Onofre (2017) nos ajuda a pensar sobre a necessidade de formação dos professores e, nesse sentido, o autor afirma que “[...] a formação é o caminho ideal para isso ocorrer” (ONOFRE, 2017, p. 246), na tentativa de garantir a apropriação de conhecimentos sobre a “[...] História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil” (BRASIL, 2003) e a incorporação da lei nas práticas educativas da escola.

Nesse caminhar, Gomes (2008a) aponta que se constitui em desafio transformar a Lei nº 10.639/03 em práticas pedagógicas e introduzi-la nos currículos de formação inicial e continuada dos professores. Além disso, a autora afirma que é um dever das escolas

públicas e privadas a materialização dessa lei (GOMES, 2008a, p. 104). Cabe destacar a incumbência do Estado brasileiro e, especialmente nesse caso, do poder público municipal em desenvolver políticas de formação continuada voltada aos profissionais de ensino para a materialização da Lei nº 10.639/03 na escola do município de Guaçuí.

Os professores que participaram da formação continuada na escola relataram que conheceram a lei a partir do processo formativo oferecido pela Ufes, porém ainda responderam parcialmente do que o dispositivo legal tratava.

Estudamos bastante a Lei 10.639 no curso de formação, mas, em meio a tantas leis, eu precisaria estar revendo-a. Também estudamos a EEQ [Educação Escolar Quilombola] na formação e foi lá que eu ouvi falar. (PAULA)

Só conheci essa lei a partir de vocês e a conheço parcialmente. Sobre a educação quilombola não sei informar. Meu trabalho é para tentar resolver esses conflitos. Sempre foi. (HEDYLADY) Eu não conhecia a lei. Só passei a conhecer depois da formação que tivemos com vocês da Ufes, mas minhas aulas não mudaram porque há muito tempo já falo de diversidade com os meus alunos. (CRISTINA)

Percebemos, por meio das entrevistas e a partir de nossa presença na escola, que os professores e os demais profissionais pouco sabiam sobre a Lei nº 10.639/2003 e desconheciam suas diretrizes. Para a maioria deles, trabalhar com a Cultura e História Africana e Afro-brasileira se restringia ao Projeto “Semana da Consciência Negra”, que será discutido mais adiante. Portanto, se restringia a um trabalho pontual, focalizado em datas específicas do ano letivo.

Destacamos a fala do Professor de Ciências, que revelou alterações na sua prática pedagógica após o conhecimento do conteúdo da Lei nº 10.639/2003:

Por alto, eu conheci a Lei 10.639 no curso de formação da Ufes, mas não sei falar exatamente do que se trata. O meu trabalho iniciou após a lei mesmo, mas a gente vê muito trabalhar nesse sentido é no dia 20 de novembro, mas no dia a dia a gente não tem nenhuma cobrança nesse sentido. Em lugar nenhum que eu trabalhei tem. Depois do curso de formação eu já vi que meu olhar mudou, porque muita coisa passava despercebida porque temos que dar conta do conteúdo e deixamos essas coisas de lado. Acho que meu olhar no ano que vem melhora porque agora não dá mais tempo. (MATEUS)

O professor de Ciências relatou ainda que conheceu a Lei nº 10.639/2003 durante o curso de formação continuada na escola e pontuou que suas ações eram voltadas para a “Semana da Consciência Negra”, mesmo sem possuir uma orientação e/ou

“cobrança” por parte da gestão escolar para o trabalho como essa temática.

O professor apontou a importância da formação continuada no contexto da escola para a mudança do seu olhar e das suas ações voltadas as práticas da Erer. De acordo com as DCNEEQ, a formação dos professores que atuam na Educação Escolar Quilombola é de grande relevância e deve estar articulada às características da comunidade local. O Parecer CNE/CEB nº: 16/2012 ressalta:

A formação de professores para atuação na Educação Escolar Quilombola tem um sentido de urgência. A necessidade de garantir o direito desses docentes à sua formação, bem como de consolidar a Educação Escolar Quilombola como modalidade de Educação Básica, impele a realização de políticas afirmativas que corrijam as desigualdades educacionais que historicamente incidem sobre essa parcela da população (BRASIL, 2012a, p.

52).

Além do sentido de urgência, o parecer também atribui a responsabilidade da oferta dos cursos de formação continuada aos sistemas de ensino, para que ocorra uma educação de qualidade, contemplando as especificidades das comunidades tradicionais quilombolas, haja vista a importância destacada pelo professor. Assim, nota-se a importância das políticas públicas, entendendo-as como o Estado em ação (HÖFLING, 2001), para o desenvolvimento de ações voltadas à formação continuada de professores, na perspectiva da Educação das Relações Étnico-Raciais, no município de Guaçuí.

As DCNEEQ (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2012b), no seu capítulo IV, orientam que os sistemas de ensino deverão estimular e realizar cursos de formação inicial e continuada para os professores que atuam na Educação Escolar Quilombola.

Conforme se lê no art. 53, Inciso I, essa formação deverá

Art. 53 [...]

I - ser assegurada pelos sistemas de ensino e suas instituições formadoras e compreendida como componente primordial da profissionalização docente e estratégia de continuidade do processo formativo, articulada à realidade das comunidades quilombolas e à formação inicial dos seus professores (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2012b, p. 17).

Em linha semelhante ao professor de Ciências, a professora de Matemática destacou que, durante o processo de formação continuada na escola, teve a oportunidade de conhecer o conteúdo da Lei nº 10.639/2003, porém afirmou que o foco do trabalho dessa lei era do professor da disciplina de História.

[...] Normalmente quando fala dessa obrigatoriedade tem sim um foco muito grande com o professor de História. É como se nós da matemática ficássemos com o financeiro, ciências com o organismo, tudo meio direcionado. Apesar da interdisciplinaridade e a lei dizer que seria obrigatório o trabalho, nós ficamos um pouco aquém. Mesmo sem conhecer a lei não fico sem trabalhar, porque ainda que aqui na nossa escola a gente não tenha presenciado ou vivenciado nada tão nítido com relação à discriminação racial, é impossível a gente não observar nada.

Acabamos trabalhando e conversando sobre as necessidades, a convivência social e o respeito que fazem parte do nosso cotidiano (PAULA).

No entanto, conforme estabelece a Lei nº 10.639/03, tais conteúdos devem ser ministrados em todo o currículo escolar (BRASIL, 2003), não sendo apenas uma tarefa do professor de História. Destacamos também o trecho da fala da professora, na qual afirma que já contemplava essa temática em sua prática, embora nunca tenha reconhecido práticas discriminatórias no cotidiano da escola. Diante dessa assertiva, problematizamos a não existência do racismo ou se a professora não conseguia identificá-lo nas relações entre os sujeitos da escola, conforme observado também por Cavalleiro (1998) na sua pesquisa. Nessa perspectiva, Munanga (2015) considera que o mito da democracia racial ressalta uma ideia de igualdade entre os grupos étnicos, invisibilizando os conflitos raciais existentes e o processo de exclusão social da população negra.

Questionada sobre a importância da temática da Erer na formação inicial ou continuada para o desenvolvimento do trabalho cotidiano na sala de aula, a professora de Matemática pondera:

Ah é fundamental tendo em vista que é um assunto que apesar da gente ver a abolição da escravatura há mais de cem anos, nós sabemos que o preconceito racial ele está em todos os segmentos, então eu vejo de forma fundamental para que a gente possa estar atuando bem e sabendo conduzir no decorrer do dia a dia as questões que forem surgindo dentro da sala de aula. Não só na sala de aula, mas em todo o âmbito escolar porque é esse preconceito racial não está só lá dentro da sala de aula, está na sala dos professores quando nos sentamos a mesa também. (PAULA)13

Desse modo, a professora considera que há o racismo impregnado em diversos segmentos da sociedade, inclusive dentro da escola, nas relações estabelecidas nesse cotidiano, contradizendo a sua afirmação anterior, em que afirmava a inexistência da discriminação racial no espaço escolar. O professor de História também pontuou como a discriminação e o preconceito estão presentes em nossa sociedade.

13 Todos os grifos nas informações dos professores entrevistados são nossos.

Sempre, devido à triste herança colonial escravocrata que vive nosso país, a discriminação, o preconceito e até mesmo a xenofobia, são muito claros em nossa sociedade. (GABRIEL)

Ele destacou a importância de refletir na escola a Lei nº 10.639/03 e temas que contemplem a Erer, considerando as consequências do processo escravocrata no Brasil. Nesse sentido, Gomes (2005) nos ajuda a compreender que, além do racismo ao qual são submetidos, os negros também carregam consigo as marcas da escravidão, que ainda hoje dificultam a sua inserção social. Munanga (1998) nos ajuda a pensar que essas marcas se reproduzem quando não conseguimos ver igualdade no número de pessoas brancas e negras ocupando locais de destaque na sociedade, como cargos de chefia.

No relato da diretora, a formação ofertada pela Ufes na escola foi a única voltada para a Educação das Relações Étnico-Raciais a que os professores tiveram acesso.

Só o Projeto da Ufes. Nem a rede municipal oferta isso pra nós. Algumas coisas, a pedagoga da Seme nos orienta, cursinhos federais, por exemplo. Eu nunca vi, tenho 31 anos de serviço e foi a primeira vez que tive contato com uma formação dessa temática. (MICHELE)

Contudo, alguns professores informaram o desenvolvimento de palestras pontuais acerca da Lei nº 10.639/2003 e suas diretrizes, ofertadas pela Seme, em dias de planejamento. A Seme do município de Guaçuí oferece planejamento por área de conhecimento para os professores do 6º ano 9º anos da rede de ensino municipal. No ano de 2019, foi oferecido semanalmente às terças-feiras no período noturno, no horário de 18 às 21 horas. Segundo a diretora, o planejamento dos professores das turmas do pré-escolar ao 5º ano era realizado na escola, em dia específico. Os professores também confirmaram o desenvolvimento do planejamento na Seme e na escola:

Sim, tenho planejamento. O nosso planejamento da rede é realizado na terça-feira à noite onde a Seme determina. Vai os professores que se reúnem por área e todos os pedagogos da rede ficam responsáveis e nós professores nos reunimos em salas separadas. (MATEUS)

Sim, faço dois planejamentos, um coletivo com todos os professores da rede municipal, que é realizado semanalmente às terças, ele é organizado pela Secretaria de Educação em sua sede ou na escola Deocleciano. Também faço planejamento individual na escola Jose Antônio de Carvalho juntamente com a pedagoga. (GABRIEL)

Tenho planejamento sim. Inclusive ele se realiza nas terças à noite e, como eu estudo à noite, eu realizo em horário diferenciado aqui na escola nas terças pela manhã. Não há quem participe aqui comigo devidoa o meu planejamento ser separado dos demais. (PAULA)

Dessa forma, o planejamento é realizado semanalmente, acompanhado e desenvolvido pela Seme/Guaçuí, em local específico proposto pela gestão do município. Consideramos importante esse movimento desenvolvido pela gestão pedagógica da Secretária de Educação, voltado para a formação continuada de professores, porém notamos que, devido a essa política, os planejamentos na escola e a autonomia dos professores para o desenvolvimento do trabalho ficam prejudicados, tendo em vista o controle e a exigência por parte da gestão sobre o currículo e as práticas, como veremos mais adiante.

A professora de AEE e a professora de Educação Física participavam tanto desse planejamento realizado na escola quanto do planejamento oferecido pela Seme nas terças-feiras, porque as duas atendiam a todos os segmentos de ensino ofertados pela escola.

Fazemos o planejamento em grupo. Na rede municipal somos cinco AEE. E nos reunimos para elaborar o que vamos trabalhar. Não tenho momento específico para fazer planejamento junto dos professores da escola. Então, trabalhamos juntos, quando necessário. Eu fico na escola o dia todo e aí estamos sempre em contato. Não planejo na presença de nenhum pedagogo.

(HEDYLADY)

O planejamento da prática pedagógica é de grande importância, pois ele norteia a prática do professor, é o “eixo de organização e definição” do trabalho docente (VASCONCELLOS, 2002, p. 75). Na fala da professora Hedylady, percebemos como ela possui a oportunidade de refletir sobre suas experiências com as outras profissionais da área da educação especial no município, a fim de enriquecer ainda mais suas ações, entretanto o seu planejamento não era acompanhado pela pedagoga escolar. Outra informação relevante que deve ser destacada é a presença do AEE junto aos professores da escola, em que a professora podia questionar e informar sobre os alunos com deficiência que atendia.

Em relação a temática da Erer, discutida nos encontros semanais de planejamento coletivo dos professores do município, a representante da Seme relatou:

Nós temos política de formação de professores ao longo do ano letivo e esse tema está dentro da pauta das formações, principalmente dos professores do segundo segmento do ensino fundamental para que os professores trabalhem com adolescentes onde os conflitos são mais presentes. Nós formamos todos os professores desde a creche, promovendo palestras, debates, apresentação de vídeos (ANA CLAUDIA).

Assim, a Erer é também discutida nos encontros semanais voltados à formação dos professores da rede de ensino municipal. Gomes (2003) afirma que os debates e as discussões entre professores nos cursos de formação podem privilegiar a relação entre cultura e educação voltadas para a formação da identidade negra.

Por sua vez, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica reforçam que a formação continuada deve ser assegurada pelos sistemas de ensino e suas instituições formadoras (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2012b). Na EMEF “José Antônio de Carvalho”, esses momentos deveriam contribuir para que os professores conhecessem a história da origem dos seus alunos, planejassem aulas de modo a contribuir com a formação desses estudantes, bem como reconhecessem e valorizassem a história e a cultura afro-brasileira, contribuindo assim para a constituição da identidade negra/quilombola. No entanto, quando questionados sobre como a escola tem contribuído com esse processo, os professores afirmaram:

A escola daqui não tem ajudado nisso não. Mas ela tem que ter essa função sim. A nossa escola é voltada para o branco, então os meninos e meninas quilombolas querem copiar eles, cabelos, modo de vestir. Então a escola deve entrar nesse sentido de mostrar o valor que eles têm. Mostrar o valor que eles têm, inclusive no aspecto religioso. (MATEUS)

Valorizando, e enfatizando o papel e a importância dos negros na construção da nação, buscando quebrar paradigmas e pré-conceitos, que a sociedade brasileira herdou de nosso longo passado colonial, mostrando que nossa origem humana e negra, que somos uma só raça, que todos temos valores, que discriminação e injúrias raciais são crimes e que todos devem estar conscientes de seus direitos e deveres diante das leis e da ética social. Pois só poderão lutar por aquilo que tiverem conhecimento, ao contrário ficarão à margem da ignorância e sujeitos às injustiças e preconceitos étnicos-sociais. (GABRIEL)

Em parte, a escola colabora com isso. Não de uma forma eficiente. Poderíamos ir além.

(PAULA)

Tendo respeito e mostrando o valor da cultura e das tradições deles. (HEDYLADY)

A escola valoriza, faz questão de levar os alunos para conhecer a história da Comunidade.

Essa escola faz isso. (JUSSARA)

Assim, percebemos que os professores reconhecem que a escola não tem atuado na direção apontada pela Lei nº 10.639/03, pelas DCNERER e DNEEQ, no sentido de reconhecer e valorizar a história e a cultura da população negra. Inclusive, destacamos a frase “nossa escola é voltada para o branco” do professor de Ciências, ou seja, ratificando que o currículo e as práticas desenvolvidas pela escola não colaboram com a construção da identidade dos alunos negros.

Consideramos, portanto, que a escola assume como referência os conhecimentos eurocentrado e colonizadores, desconsiderando as contribuições dos negros no desenvolvimento da sociedade. Gomes (2012) considera que a obrigatoriedade da introdução da Lei nº 10.639/2003 no currículo das escolas de educação básica

“[...]exige mudança de práticas e descolonização” (GOMES, 2012, p.100).

Mudanças de representação e de práticas. Exige questionamento dos lugares de poder. Indaga a relação entre direitos e privilégios arraigada em nossa cultura política e educacional, em nossas escolas e na própria universidade (GOMES, 2012, p. 100).

A autora aponta a necessidade de questionamento da história, da cultura, das práticas educacionais e políticas que tem uma trajetória marcada pela dominação europeia.

Corroborando esse pensamento, Silva (2017) pontua que o movimento negro, juntamente a outros movimentos sociais, desempenha papel fundamental nesse processo de mobilização e reivindicação de seus lugares na história.

Gomes (2012) aponta ainda que a descolonização dos currículos não é uma tarefa fácil, uma vez que os professores foram formados por currículos que silenciaram e negaram esses conhecimentos. Além disso, os currículos atuais já vêm prontos e são

Gomes (2012) aponta ainda que a descolonização dos currículos não é uma tarefa fácil, uma vez que os professores foram formados por currículos que silenciaram e negaram esses conhecimentos. Além disso, os currículos atuais já vêm prontos e são