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4.3 O GRAU DE MATURIDADE

4.3.1 A idade e o seu significado para a autonomia

A idade tem grande importância no entendimento da doutrina do “menor maduro”. Tanto nas relações entre médicos e pacientes, quanto nas legislações, a idade serve como parâmetro para a tomada de decisões ou mesmo permitir ou proibir, ou ainda limitar certas ações e atos dos menores.

Disto se revela que, a partir da determinação de uma idade, do ponto de vista jurídico, por exemplo, uma pessoa pode realizar determinados atos da vida civil ou mesmo ser proibida ou ainda lhe serem exigidos uma assistência, um responsável. Para outros fins sociais, a idade pode estabelecer a partir de quando uma criança deve iniciar o aprendizado em escolas, ou mesmo estabelecer a partir de que idade é mais saudável realizar determinado tipo de exercício físico.

Portanto, a idade pode ser vista com algum tipo de significado, pois, “ainda falar de uma determinada idade em concreto não é apropriado, tendo em conta que a maturidade da criança e do adulto é um contínuo sem limites, é obrigado a assinalar certas idades com determinado significado, sobretudo legal.511”

o menor de dezesseis anos ou mais velho, compreende o procedimento médico em questão, e o procedimento não é grave. A aplicação da doutrina, em outras circunstâncias, é mais questionável. Fora dos direitos reprodutivos, a Suprema Corte americana nunca se pronunciou sobre a sua aplicabilidade a procedimentos médicos.”

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NOTA: Texto original: “Aunque hablar de una determinada edad en concreto no es apropiado, teniendo en cuenta que la maduración del niño y del adulto es un continuun sin límites, es obligado señalar ciertas edades con determinado significado, sobre todo legal:

Neste sentido, M. Sánchez Jacob leciona ainda que aos sete , tradicionalmente, era a idade em que a criança alcançava a idade da razão; aos doze anos, a criança tem direito a ser ouvida; aos treze anos, tem a capacidade de consentimento para relações sexuais sem que estas sejam um delito; já aos quatorze anos é possível contrair matrimônio com permissão judicial; quando atinge os dezesseis, alcança a maioridade para a saúde, ou seja, se emancipa para tanto e, aos dezoito anos, passa à maioridade legal e penal.

No Brasil, aos seis anos, a criança já pode entrar no Ensino Fundamental; aos doze, já se torna adolescente, aos quatorze tem a capacidade de trabalhar como aprendiz; quando atinge os dezesseis, pode tornar-se capaz para os atos da vida civil, pode votar conforme a lei, mas não se emancipa para questões da saúde; e aos dezoito anos, passa à maioridade civil e penal.

A discussão sobre o grau de maturidade passa pela psicologia. Frequentemente, os autores que cuidam do tema fazem referências à psicologia evolutiva de Piaget e no sistema de evolução da consciência moral das crianças, elaborado por Kohlberg. Com base nessas teorias é que fundamentam algumas justificativas para a aplicação da doutrina do “menor maduro”, pois não se mostra fácil a tarefa de determinar quando uma pessoa é moralmente madura.512

Com a psicologia evolucionista, Piaget contribui para esse entendimento sobre o “menor maduro” quando assinala que, entre os oito a onze anos de idade, a criança inicia um processo de distanciamento das demandas • 7 años: tradicionalmente y sobre todo la Iglesia católica,y así consta en el catecismo, era la edad en que el niño alcanzaba el “uso de razón”.

• 12 años: legalmente el niño tiene derecho a ser oído.

• 13 años: capacidad para consentir relaciones sexuales sin que éstas sean delito. • 14 años: contraer matrimonio con permiso judicial.

• 16 años: mayoría de edad sanitaria. Emancipación.

• 18 años: mayoría de edad legal y penal.” (JACOB, op. cit., p.158).

Tradução livre: “Ainda falar de uma determinada idade em concreto não é apropriado, tendo em conta que a maturidade da criança e do adulto é um contínuo sem limites, é obrigado a assinalar certas idades com determinado significado, sobretudo legal:

• 7 anos: tradicionalmente e, especialmente, a Igreja Católica e assim consta no catecismo, era a idade em que a criança alcançava a "idade da razão".

• 12 anos: a criança tem direito a ser ouvida.

• 13 anos: a capacidade de consentimento para relações sexuais sem que estas sejam delito. • 14 anos: contrai matrimônio com permissão judicial.

• 16 anos: maioridade para a saúde. Emancipação. • 18 anos: maioridade legal e penal”.

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externas a favor dos princípios internos próprios da autonomia. Assim, estes critérios internos inicialmente se identificam com o princípio da justiça, quando, em momento posterior, passa o critério da equidade a aparecer, o que ocorre a partir dos onze a doze anos de idade513.

Por seu turno, posteriormente, Kohlberg veio a elaborar um sistema de evolução da consciência moral da criança. No desenvolvimento desse sistema, criou três níveis – o pré-convencional, o convencional e o pós-convencional ou de princípio – contendo em cada nível dois graus ou estados. No primeiro nível, o pré- convencional, seria próprio de 80% das crianças com idades entre os 10-12 anos; o nível convencional seria mais comum entre os adultos e a fase pós-convencional alcançaria número reduzido de pessoas e em idades bem mais tardia. Outros estudos, contudo, “demonstram que a maioria dos adolescentes atinge a maturidade moral entre 13 e 15 anos514”.

Atingir a maturidade pode significar a possibilidade do exercício da autonomia. Entretanto, podem ocorrer situações em que há o conflito entre princípios, em que sua incompatibilidade em uma situação concreta requererá a aplicação de uma ética prática, por exemplo. Neste sentido, Stepke e Drumond515 citam a situação da testemunha de Jeová que, na ocorrência de emergência, um

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NOTA: Texto original: “Es difícil dar una respuesta al tema de cuándo una persona es moralmente madura. La psicología evolutiva de Piaget(11) señala que, entre los 8 y 11 años, el niño se va distanciando de las demandas externas a favor de los principios internos (autonomía). Estos criterios internos vienen a identificarse inicialmente con el principio de justicia, siendo, posteriormente, el criterio de equidad el que aparece a partir de los 11-12 años” (JACOB, op. cit., p.159).

Tradução livre: “É difícil responder à questão de saber quando uma pessoa é moralmente madura. A psicologia Evolucionista Piaget (11) assinala que, entre os 8 e 11 anos, a criança vai se distanciando das demandas externas a favor dos princípios internos (autonomia). Estes critérios internos vêm a identificar-se inicialmente com o princípio da justiça, sendo, posteriormente, o critério da equidade o que aparece a partir dos 11 -12 anos”.

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NOTA: Texto original: “Posteriormente, Kohlberg(12) elabora un sistema de evolución de la conciencia moral del niño en tres niveles y seis grados (Tabla I). Siguiendo a este autor el nivel preconvencional es el propio del 80% de los niños hasta los 10-12 años, y el nivel convencional es el más frecuente entre los adultos. La fase postconvencional la alcanza un número reducido de personas y en edades más bien tardías. Otros estudios demuestran que, la mayor parte de los adolescentes alcanzan su madurez moral entre los 13 y 15 años (13).” (JACOB, op. cit., p.159). Tradução livre: “Posteriormente, Kohlberg (12) elabora um sistema de evolução da consciência moral da criança em três níveis e seis graus (Tabela I). Segundo este autor, o nível pré-convencional é próprio dos 80% das crianças até aos 10-12 anos, e o nível convencional é mais comum entre os adultos. A fase pós-convencional alcança um número reduzido de pessoas e em idades bem mais tardia. Outros estudos demonstram que a maioria dos adolescentes atinge a maturidade moral entre 13 e 15 anos (13).”

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médico encontra resistência em deixar praticar uma transfusão de sangue que deve decidir entre a beneficência e a autonomia.

Neste sentido, Beauchamp e Childress516 registram, sobre o consentimento e a recusa ao longo do tempo, que “as crenças, as escolhas e os consentimentos das pessoas surgem e se modificam com o tempo”. Para os autores, surgem problemas morais e interpretativos “quando as escolhas atuais de uma pessoa contradizem suas escolhas anteriores, que podem ter tido o propósito explícito de prevenir futuras mudanças de opinião”.

No caso de uma testemunha de Jeová, quando recusa uma transfusão de sangue, “é mais provável que as ações sejam substancialmente autônomas quando estão de acordo com o caráter da pessoa517, o que pode levar à interpretação de que o consentimento de uma pessoa tida como madura deverá ser respeitado.

Na busca da identificação da capacidade do menor para consentir um tratamento de saúde e, portanto, praticar ato autônomo, se deve ter critérios, ainda que subjetivos, mas que, de certa forma, tenham coerência com a prática médica e observem os interesses do menor.

Uma prática é apresentada por M. Sánchez Jacob518, na qual se

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BEAUCHAMP; CHILDRESS, op. cit., p.148. 517

BEAUCHAMP; CHILDRESS, op. cit., p.149. 518

NOTA: Texto original: “Drane elaboró una escala móvil (o de tres niveles), para evaluar la competencia del paciente. Cada nivel viene definido por tres elementos:

a) Un tipo de decisión característico.

b) Aquellos requisitos de capacidad que se consideran necesarios para tomar estas decisiones. c) Algunos estados mentales o patologías que condicionan bien la incapacidad bien la capacidad para tomar decisiones de ese nivel. En cada nivel (I: tratamientos fáciles y eficaces; II: tratamientos menos seguros; y III: tratamientos peligrosos), las consecuencias de las decisiones del paciente son más graves y, por ello, los criterios de competencia para consentir o rechazar el tratamiento se hacen más exigentes(14,15). Según esta escala, y en función de la edad, y suponiendo que cumplan los requisitos de cada nivel, los estados que suponen competência son:

– En el nivel I: niños de 10 años o más.

– En el nivel II: adolescentes de 16 años o más. – En el nivel III: mayores de edad”.

(JACOB, op. cit., 2010).

Tradução livre: “Drane desenvolveu uma escala (ou três níveis), para avaliar a competência do paciente. Cada nível é definido por três elementos:

a) Um tipo de decisão característica.

b)Aqueles requisitos de capacidade necessários para tomar estas decisões. c) Alguns estados mentais ou patologias que condicionam bem a incapacidade ou capacidade de tomar decisões desse nível. Em cada nível (I: tratamentos mais fáceis e eficazes; II: tratamentos menos seguros; III: tratamentos perigosos), as consequências das decisões dos pacientes são mais

utiliza uma escala móvel para se avaliar a competência do paciente.

Esta escala móvel possui três níveis: o primeiro, dos tratamentos mais fáceis e eficazes; o segundo, dos tratamentos menos seguros e o terceiro, dos tratamentos perigosos. Cada um desses níveis vem definido por três elementos: a) um tipo de decisão característica; b) aqueles requisitos de capacidade necessários para tomar estas decisões e c) alguns estados mentais ou patologias que condicionam bem a incapacidade ou capacidade de tomar decisões desse nível. De acordo com esta escala e conforme a idade e partindo-se da ideia de que se cumpram os requisitos de cada nível, os estados que vão supor competência seriam os seguintes: no primeiro nível, crianças de dez anos ou mais; no segundo nível, adolescente de dezesseis anos ou mais e, no terceiro nível, os maiores de idade.

Entretanto, ainda que não existam métodos científicos capazes de orientar nessa direção, há certamente o espaço para a comunicação adequada entre os envolvidos, ou seja, entre o médico, o paciente e sua família. Pois, como esclarece M. Sánchez Jacob, são as habilidades de comunicação e a relação honesta com a criança e a família que possibilitam que se abram as portas para considerar os valores que são envolvidos nos conflitos das decisões médicas. Para essa autora, “neste tema não existem algoritmos, guias de tratamento, nem tampouco receitas. Somente a boa vontade e o grau de compromisso nos ajudarão a familiarizar com a doutrina do “menor maduro”519.

graves e, por isso, os critérios de competência para consentir ou recusar o tratamento se tornam mais exigentes (14,15). Segundo esta escala, e em função da idade, e supondo que cumpram os requisitos para cada nível, nos estados que supõem competência são:

- No Nível I: crianças de 10 anos ou mais. - No Nível II: Adolescentes com 16 anos ou mais. - No nível III: os adultos”.

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NOTA: Texto original: “Considero que en la consulta de pediatría se plantean muchos interrogantes ante situaciones concretas con el adolescente. Las habilidades de comunicación y la implicación honesta con el menor y la familia, nos abren las puertas para considerar los valores implicados en los conflictos de lãs decisiones médicas. En este tema no existen algoritmos, guias de tratamiento, ni tampoco recetas. Sólo la buena voluntad y el grado de compromiso nos ayudarán a familiarizarnos con la doctrina del ‘menor maduro’”.

(JACOB, op. cit., p.159).

Tradução livre: “Considero que, na consulta de pediatria, se expõem muitas dúvidas ante situações concretas. As habilidades de comunicação e a repercussão honesta com a criança e a família nos abrem as portas para considerar os valores envolvidos nos conflitos das decisões médicas. Neste tema não existem algoritmos, guias de tratamento, nem tampouco receitas. Somente a boa vontade e o grau de compromisso nos ajudarão a familiarizar com a doutrina do menor ‘maduro’”.