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Apêndice I Entrevista à Dr.ª Susana Coroado

CAPÍTULO 3 Uma investigação no campo do lóbi em portugal

3.4. A implementação da profissão através de registo e código de conduta

O modelo regulamentório instituído pela União Europeia é para os lobistas, a melhor opção para Portugal reconhecer o lóbi. Lampreia64 defende, por isso, a implementação de o “código de ética e uma regulamentação que define os parâmetros

em que um profissional pode atuar…” mas, além disso, salienta: “o que nós precisamos ter é o que já se faz na União Europeia, a ‘pegada legislativa’, ou seja, esta lei que foi votada pelos partidos X Y e Z teve a influência e a informação de quem?(...) isso é importante para mais tarde, não haver dúvidas sobre a transparência.”

Pelo mesmo disposto alinha Burnay65, embora este, admita que a implementação da ‘pegada legislativa’ seja de difícil de concretizar, mas “um Registo de

Transparência, com um registo público das agendas dos decisores” é para Burnay

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Ver Entrevista Dr. Luís Marques Mendes – Apêndice S.

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Ver Entrevista Dr.ª Susana Coroado – Apêndice I.

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Ver Entrevista Dr.ª Assunção Cristas – Apêndice T.

62 Ver Entrevista Dr. Luís Montenegro – Apêndice R. 63

Ver Entrevista Dr. Pedro Filipe Soares – Apêndice F.

64 Ver Entrevista Dr. J. Martins Lampreia – Apêndice O. 65 Ver Entrevista Dr. Henrique Burnay – Apêndice H.

outro aspeto fundamental para aumentar a transparência.“Há 3 coisas que se se tiver, eu

acho, que funcionava lindamente: Registo de Transparência e entidades que digam:«Eu só reúno com representação de interesses com quem esteja no Registo de Transparência», portanto, se quer falar comigo, inscreve-se no Registo de Transparência.” E, para finalizar, tornar as “Agendas públicas dos decisores, naquilo que é relevante” observa o lobista.

Paulo Marcos66 é um dos vários entrevistados favoráveis à implementação da profissão, mas contra o registo público dos honorários. Este, defende que “deve haver

algum tipo de registo num órgão regulador, uma tabela recomendada de honorários com alguma liberdade de amplitude, os principais atos a praticar e o nível de serionidade de quem o faz. Quem não atuasse segundo estas regras seria criminalizado.” Em suma, Paulo Marcos67 é favorável à “autorregulação musculada” e

por outro lado, “com uma maior profissionalização e com abertura da profissão ficaríamos muito mais bem servidos e assim, teríamos uma opinião pública muito mais formada. Os lóbis lutariam de forma mais transparente e o processo legislativo seria muito mais competitivo, o que ganharíamos todos”.

Menos optimista revela-se o presidente da Comissão Eventual para o Reforço da Transparência no Exercício de Funções Públicas (CERTEFP) Fernando Negrão68 que nota, subsistirem na sociedade portuguesa “muitos preconceitos relativamente à questão

do lóbi e dos lobistas. (…) A própria palavra criou na sociedade portuguesa um sentido pejorativo. Quem faz lóbi é lobista, é porque é vigarista, não é?! Esta é a conotação que a palavra tem hoje, na sociedade portuguesa. Não se percebendo que muitas vezes, nós ouvimos determinadas associações ou determinadas pessoas ligadas a determinados a sectores, porque queremos fazer a legislação mais adequada possível a um problema, que temos entre mãos.” Quanto aos honorários, Fernando Negrão

defende que estes “devem ser públicos”.

José Miguel Júdice69 é defensor da implementação da profissão e insiste “acho

mal que não se regulamente a profissão.” Luís Marques Mendes70

não partilha a mesma convicção e afirma: “Não sei. Tenho dificuldade em me pronunciar”, mas defende a clarificação, “tem é de ser muito bem debatido, porque é uma matéria pouco

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Ver Entrevista Dr. Paulo Marcos - USI – Apêndice J.

67 Ver Entrevista Dr. Paulo Marcos - USI – Apêndice J. 68

Ver Entrevista Dr. Fernando Negrão – Apêndice P.

69 Ver Entrevista Dr. José Miguel Júdice – Apêndice E. 70 Ver Entrevista Dr. Luís Marques Mendes – Apêndice S.

CAPÍTULO 3 - Uma investigação no campo do lóbi em Portugal

debatida em Portugal (…) sobretudo, porque a forma como isto se faz, é muito importante, e insisto, porque estamos na fronteira com o chamado crime de tráfico de influências, sobretudo para bem lícito.”

Quando questionados os eurodeputados sobre qual era a melhor solução e opção para o registo do lóbi, ou seja, se este deveria ser voluntário ou obrigatório, estes discordam entre si. Para Marisa Matias (BE), 71 o registo deveria ser obrigatório, visto que com este tipo de registo “nós podemos controlar melhor … Os registos são todos

públicos, as fontes de financiamento são todas públicas e eu acho que é muito mais democrático, desse ponto de vista, é mais transparente”. No entanto, Carlos Zorrinho

(PS), 72 tendo em conta a sua experiência no Parlamento Europeu, onde o registo é voluntário, deduzimos que seja favorável a uma opção voluntária, ao “dizer que sim.

Que é uma boa experiência”.

Se em Portugal não há ainda uma regulamentação do lóbi, em Bruxelas são já milhares, as organizações que estão acreditadas como lobistas no registo de transparência da União Europeia, o que leva Bruxelas a ser denominada como a “capital europeia do lóbi”, apenas ultrapassada por Washington. Marisa Matias, do Bloco de Esquerda, e Carlos Zorrinho, do Partido Socialista, são eurodeputados no Parlamento Europeu, onde contactam diariamente com lobistas profissionais. Ambos, tendo em conta as suas experiências na União Europeia, consideram que deveria haver, de facto, uma profissionalização do lóbi em Portugal, uma vez, que esta é uma atividade, que é praticada e que deve ser controlada. De acordo com Marisa Matias (BE), 73 a “profissão

existe e está bem enraizada. Tem outro nome, tem outras formas e desse ponto de vista, eu acho que é sempre melhor o registo.” E, uma vez que “a profissão existe e está bem enraizada”, os eurodeputados são da opinião de que estão reunidas as condições

necessárias para a implementação da profissão em Portugal. Para Carlos Zorrinho (PS),74 “deve-se regulamentar o lóbi, sendo que no fundo, o lóbi é o departamento de

relações institucionais. É bom, que as empresas, os sindicatos e as Organizações Não Governamentais tenham departamentos institucionais e que a sociedade cívil também se relacione institucionalmente”.

71 Ver Entrevista Dr.ª Marisa Matias – Apêndice N. 72

Ver Entrevista Dr. Carlos Zorrinho – Apêndice M.

73 Ver Entrevista Dr.ª Marisa Matias – Apêndice N. 74 Ver Entrevista Dr. Carlos Zorrinho – Apêndice M.

A investigadora Susana Coroado75 está pouco confiante e confidencia: “tenho

algum receio que a lei que venha a ser regulamentada, se fique pelo registo…”

O debate em torno da regulamentação do lóbi em Portugal é já longa, uma vez que são várias as forças políticas, económicas e sociais que se encontram em lados opostos. Se umas apoiam a sua regulamentação, outras não concordam com a existência da atividade e da profissão. Para Assunção Cristas76 (CDS/PP), se encararmos “a

atividade de lóbi como processo de informação, de argumentação, mas no fundo, de prestação de pontos de vista, que depois têm de ser ponderados pelos decisores políticos”, podemos afirmar que deve haver a regulamentação do lóbi, pois “é positivo que possa haver mais transparência, mais qualidade de informação prestada e que todo o processo esteja organizado de maneira absolutamente legal e natural”. Igualmente

para Nuno Magalhães77 (CDS/PP) é necessário proceder à implementação e profissionalização do lóbi “à semelhança do que acontece com os titulares de cargos

públicos, com a necessária entrega de registo no Tribunal Constitucional. Uma declaração de rendimentos, com uma declaração de interesses, com registo de interesses, como por exemplo os deputados. (…) não vejo mal nenhum em que quem utilize e quem faça essa profissão, (…) para [o lóbi] ser público, para ser transparente!”. No entanto, completamente do lado oposto Pedro Soares78

(BE) é incisivo e afirma: “Não devia existir lóbi, ponto”.

No que toca à forma de registo do lóbi, tanto Assunção Cristas (CDS/PP)79 como Nuno Magalhães (CDS/PP)80, ambos os deputados do CDS, consideram que este se deve proceder de modo “obrigatório” em Portugal. Já Luís Montenegro81 (PSD) considera que o foco, não está tanto no registo obrigatório ou voluntário, mas sim na“transparência”.

75

Ver Entrevista Dr.ª Susana Coroado – Apêndice I.

76

Ver Entrevista Dr.ª Assunção Cristas – Apêndice T.

77

Ver Entrevista Dr. Nuno Magalhães – Apêndice G.

78 Ver Entrevista Dr. Pedro Filipe Soares – Apêndice F. 79

Ver Entrevista Dr.ª Assunção Cristas – Apêndice T.

80 Ver Entrevista Dr. Nuno Magalhães – Apêndice G. 81 Ver Entrevista Dr. Luís Montenegro – Apêndice R.

CAPÍTULO 3 - Uma investigação no campo do lóbi em Portugal

3.5. A exclusividade dos deputados na Assembleia da República e os possíveis