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A importância da instrução formal nas relações humanas

4 AS QUATRO FORÇAS

4.3 A FORÇA MENTAL

4.3.2 A importância da instrução formal nas relações humanas

O letramento é tão importante, na visão internacional e nacional, que indicadores sociais são aferidos com base nos estudos dos anos de acesso à escola dos seres humanos.173 Porém, somente ler e escrever é pouco para a formação da cidadania. Neste comenos, Paulo Freire (2001, p. 58) assevera:

[...] a alfabetização tem que ver com a identidade individual e de classe, que ela tem que ver com a formação da cidadania, tem. É preciso, porém, sabermos, primeiro, que ela não é alavanca de uma tal formação – ler e escrever não são suficientes para perfilar a plenitude da cidadania –, segundo, é necessário que a tomemos e a façamos como um ato político, jamais como um fazer neutro.

A sociedade do passado não tinha escrita e escola.174 Os fenícios são conhecidos nos livros escolares porque criaram o alfabeto, há milhares de anos. Segundo Cambi (1999, p. 68), “A descoberta mais significativa dessa cultura foi a do alfabeto, com 22 consoantes (sem as vogais), do qual derivam o alfabeto grego e depois os europeus, e que aconteceu pela necessidade de simplificar e acelerar a comunicação”. Ou seja, a criação do letramento foi efetuada no afã de instrumentalizar a comunicação humana. Tfouni (1994, p. 52-53) narra:

A lenda de Gilgamesh, anterior ao Velho Testamento, foi gravada na mais antiga forma de escrita conhecida pelo homem: a escrita cuneiforme, nascida

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“Os estudiosos da temática, recorrendo a pesquisas históricas, etnográficas e psicológicas mais rigorosas, passaram a chamar a atenção para o fato de que a aprendizagem ou a disseminação da linguagem escrita, por si sós, não promovem mudanças nas pessoas ou nas sociedades, que as implicações psicossociais da alfabetização e dos usos da leitura e da escrita dependem sempre dos contextos nos quais se realizam, dos objetivos práticos a que respondem, aos valores e significados ideológicos aí envolvidos” (RIBEIRO, 200-).

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“Desde que a Revolução Industrial fez do urbano o modo de vida dominante, disseminando pelo globo o ideal da escolarização elementar das massas, taxas de analfabetismo são tomadas como indicadores importantes da condição de desenvolvimento socioeconômico das nações” (RIBEIRO; VÓVIO; MOURA, 2002).

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Não se quer, com o presente discurso, diminuir em importância alguns conglomerados sociais atuais que não possuem escrita e escolas. Sabe-se que o conhecimento e a sabedoria no manejo do meio ambiente, nos princípios medicamentosos das plantas e no bom convívio com outros seres humanos não carece de

formalização. No entanto, se levando em conta a vida atual, em um mundo no qual o processo globalitário se impõe, a instrução formal toma corpo de fulcral na relação do indivíduo perante a sociedade e da sociedade perante o indivíduo.

na região da Mesopotâmia (‘entre os rios’ Tigre e Eufrates), onde viviam os sumérios e os acádios, mais ou menos três mil antes de cristo.

Historicamente, a escrita e leitura são muito importantes, tanto que, comumente, se divide a História com base no desenvolvimento humano em derredor do tema. Assim, a Pré- História, datada de quatro mil anos antes de Cristo, caracterizava-se pela ausência de escrita e das complexidades educativas atuais (SOUZA; SOUZA, 200-) (VALENTE, 2008).

Todavia, na contemporaneidade, a escrita e leitura são fulcrais para defesa de uma posição – existência – social. Por isso, no Brasil, desde tempos passados, a profissão docente não é valorizada.175 A alfabetização é o mínimo do mínimo de uma importante arma contra o massacre ideológico causado pelos donos do poder. Não há autonomia (FREIRE, 1996) sem saber consciencial, iniciando-se com o letramento. A chamada sociedade de risco também formaliza, através dos tipos penais, comportamentos dificilmente visualizados por uma pessoa de poucas luzes. As instâncias penais inferem dificuldades de entendimento e compreensão através de palavras rebuscadas e polissemias. Dessa forma, até a feitura de um simples tipo penal incorpora as múltiplas facetas da vida social.176 Baratta (2002, p. 171) aduz: “[o] sistema escolar é o primeiro segmento do aparato de seleção e de marginalização na sociedade”. Dessa maneira, desde o período da tenra infância, com o acesso à formalização do ensino, define-se, em âmbito social, quem mandará e quem obedecerá no período futuro; quem poderá se defender da violência estatal e quem arcará com o peso dos miasmas institucionalizados. Para o presente trabalho acadêmico, uma das maiores forças da contemporaneidade é a formalização da educação. Assim, a força mental será a formalização educacional dos cidadãos. Ou seja, argumenta-se que a socialização educacional formal, com títulos acadêmicos, diplomas e láureas, são capazes de gerar impedimentos à prisionalização das pessoas e, dessa forma, são fatores protetivos – de força – dos seres humanos perante a violência estatal.

O analfabetismo é doloroso porque limita o cidadão a uma vida de incompreensões e

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Carlos Martins (2009, p. 37) indica que “Desde os seus primeiros passos, a profissão docente no Brasil foi, propositadamente, desvalorizada, nomeadamente, a responsável pelo ensino fundamental, na medida em que foi utilizada como instrumento de projeto político, para prejudicar a formação do titular do poder constituinte num Estado Democrático”.

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Concordando com a complexidade dos tipos penais, Maria Auxiliadora Minahim (1997, p. 83), quando declara que, “A própria definição das figuras delitivas, quando se trata de crimes que se referem à classe trabalhadora desorganizada (desempregados crônicos e sub-empregados, biscateiros) é mais precisa, mais apertada, enquanto a grande criminalidade dos colarinho branco, como lembra (Maria Lúcia Karam, 1993) é tipificada de forma a dar interpretações mais amplas e acrescentaria, mais imprecisas e fugidias.”

dificuldades.177 O “Zé Ninguém” reichiano (REICH, 2001) talvez tenha surgido no “Sr. Ninguém” schopenhauriano (SCHOPENHAUER, 2008) ou no “chamo-me Ninguém” de Ulisses, quando inquirido por Polifemo na rapsódia IX, da Odisséia (HOMERO, 1993, p. 87). O analfabeto, em uma sociedade marcada pelas letras, sofre uma limitação atroz. Carrega o epíteto de “ser-ninguém”, sentir-se ninguém, repetir-se ninguém. Por isso Paulo Freire (1980) diz ser a alfabetização libertária:

Sob esta perspectiva, o analfabeto não é então uma pessoa que vive à margem da sociedade, um homem marginal, mas apenas um representante dos extratos dominados da sociedade, em oposição consciente ou inconsciente àqueles que, no interior da estrutura, tratam-no como uma coisa. Assim, quando se ensina os homens a ler e escrever, não se trata de um assunto instranscendente de ba, be, bi, bo, bu, da memorização de uma palavra alienada, mas de uma difícil aprendizagem para “nomear o mundo” (FREIRE, 1980, p. 75).

Nessa visão, o analfabeto absoluto está preso a si mesmo, em um cárcere sem cadeados e porteiros, já que desnecessários. O analfabeto absoluto viverá e morrerá imbricado a uma estrutura de poder que o usará – como a um objeto – em benefício dos mandatários. O ser humano sem o mínimo do coeficiente educacional, em uma sociedade complexa, letrada e da informação, funciona como uma máquina simples com programas antigos; na primeira quebra, há o mero descarte.

Por óbvio, há sabedoria, mesmo em pessoas desletradas. Não se quer impor uma forma de sociedade letrada somente por conta de antigos etnocentrismos de controle. No entanto, segundo Ribeiro, V. M. (200-):

O estudo científico pode – e deve – demonstrar os mitos associados ao letramento como fator de desenvolvimento econômico, social ou psíquico, mas é improvável que consiga a curto prazo mitigar a força da leitura e da escrita como símbolos – metáforas das possibilidades humanas de entendimento e transcendência.

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Carlos Martins (2009, p. 92): “Se o cidadão não tem acesso à educação, nomeadamente, o acesso ao ensino mínimo, além dele não estar preparado para o exercício da cidadania, ao seu plano de desenvolvimento e para sua qualificação para o trabalho (art. 205 da CF/88), ele não está nem mesmo apto a reconhecer os instrumentos necessários para garantir o seu próprio direito à educação. Os direitos fundamentais em sentido material dependem necessariamente de que o cidadão tenha conhecimentos através do acesso ao ensino fundamental dos seus direitos no sentido formal. Em outras palavras, sem acesso ao ensino fundamental de qualidade não há como garantir o próprio direito de acesso ao ensino fundamental de qualidade.”

Dessarte, nos dias atuais, muito por conta da sociedade complexa e letrada em que se vive, o letramento, o alfabetismo é uma arma preciosa nas defesas perante a sociedade. O indivíduo desletrado – analfabeto – tem menores probabilidades de defender-se do processo de criminalização imposto pela forma de viver atual. Por isso, Ribeiro, V. M. (200-) atesta:

É indiscutível o fato de que a alfabetização é uma necessidade para todos os indivíduos que integram sociedades modernas, provendo-lhes meios de desempenhar várias atividades associadas ao trabalho ou ao âmbito doméstico, meios de melhorar o exercício efetivo de direitos e responsabilidades de cidadania. O valor do acesso à leitura e à escrita reside também no fato de serem meios para se aprender outras habilidades, ampliando a autonomia das pessoas com relação ao auto-aprendizado e à educação continuada. Requerimentos sociais dessa magnitude invalidam a restrição da alfabetização aos rudimentos da leitura e da escrita. Não se podem conceber competências básicas como necessariamente simples ou rudimentares; o básico está relacionado ao fato de se tratar de competências que todas as pessoas, em princípio, deveriam dominar, sejam elas simples ou complexas.

Não sem raridade, a mídia, nos rádios e jornais televisivos, insiste em um possível caráter pedagógico do aprisionamento. Ao fundo, toda pena de prisão, quando analisada, equivocadamente, com um conteúdo pedagógico, tenta ensinar algo ao violador do bem jurídico-penal, como se o processo de criminalização não alcançasse o ser humano, independentemente de sua vontade e força. Por isso a ressalva de Zaffaroni e Pierangeli (2007, p. 217-218):

Conseqüência necessária do pensamento intelectualista é o de que aquele que delinqüe o faz porque ‘não sabe’, sendo tarefa do direito penal ensinar- lhe, corrigi-lo, fazendo-o ver a verdade. Essa teoria será defendida, logo após a morte de Sócrates, por seu discípulo Platão, e no campo penal, será desenvolvido, no século XIX, pelo correcionalismo de Röder.

Assim sendo, nos dias atuais, por força da sociedade letrada, o analfabetismo é uma pecha de difícil extirpação. Não se pode, assim, impor a culpa do ser-analfabeto – do estado de estar-no-mundo analfabeto – sem saber escrever e ler o próprio nome – como uma falta pessoal. Há obrigações estatais diante da alfabetização dos seres humanos merecedoras de atenção e destaque.

O Estado é responsável pela educação mínima178 – erradicação do analfabetismo – dos cidadãos. Este é o empenho da Constituição Federal do Brasil quando, no artigo 214, I, ventila a necessidade imperiosa de dar “olhos de ver” aos analfabetos absolutos. As pessoas analfabetas não têm o mínimo do coeficiente educacional com capacidade de defender-se diante da complexidade social. O grau mínimo de instrução formal – o coeficiente educacional – seria, na visão de Carlos Martins (2003), o chamado minimo minimorum de obrigação do Estado perante o cidadão:

[...] o mínimo existencial educacional corresponderia ao grau de instrução mínimo que deve ser oferecido ao cidadão em caráter obrigatório e gratuito, inclusive para aqueles que não tiveram acesso na idade própria para o seu pleno desenvolvimento enquanto pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (MARTINS, 2003, p.25).

Para este trabalho acadêmico, o grau mínimo de instrução para impedir o Estado de utilizar as instâncias penais, perante o cidadão, é o analfabetismo absoluto. Portanto, o extremófilo mental, para este trabalho, será o analfabeto absoluto. Quando o indivíduo não souber ler e escrever um bilhete simples, caso não haja possibilidade de expurgo completo da prisão, deve haver uma mitigação da violência estatal no sentido de impedir uma prisionalização por conta da solidariedade com a fraqueza extrema da pessoa; como acontece quando a pessoa tem uma doença grave ou mesmo quando tem a emoção abalada – sofrimento atroz – e tem a pena perdoada em alguns crimes culposos.

A educação, quando utilizada prolificamente, pode gerar autonomia e liberdade.179 Os seres humanos, além de expandir as potencialidades, conseguem civilidade através dos saberes educativos. No entanto, nos dias atuais, a educação também funciona com uma forma de defesa perante a violência estatal. A sociedade, altamente complexa, exige maior grau de

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Conforme Lima (2003, p. 133), “O Estado tem como função precípua realizar os direitos fundamentais, já que a ele se impôs o dever de assegurar o cumprimento do contrato social, proporcionando aos cidadãos as

facilidades legais para o exercício dos direitos fundamentais”. 179

A Revolta dos Malês, ocorrida na Bahia, em 1835, segundo Ricardo Salles e Mariza Soares (2005, p. 85), não foi um levante qualquer, pois: “[...] não se tratou de mais uma rebelião ou explosão de revolta, mas de uma conspiração cuidadosamente arquitetada que visava a tomada do poder.” Mais a frente, explica o porquê da argumentação da seguinte forma, “Por sua vez, a sofisticação do levante era demonstrada por seus planos detalhados e, principalmente, pela apreensão de material escrito, em árabe, com os revoltosos. Este último fato causou forte impacto numa sociedade com altas taxas de analfabetismo entre a população livre.” e Regina Muniz (2002, p. 359), “O homem educado torna-se ponderado, equilibrado, com um poder maior de crítica,

distinguindo mais facilmente o certo do errado. No momento em que passa a evidenciar os valores morais, dando-lhes a devida importância, os efeitos incomensuráveis logo se fazem surgir na família, na sociedade e no Estado.”

formação intelectual a cada dia. Neste sentido, Ribeiro, V. M. (200-) assevera:

Na sua acepção mais ampla, que remete às habilidades de compreensão e produção de textos e aos usos sociais da linguagem escrita, o letramento pode ser tomado como importante eixo articulador de todo o currículo da educação básica. Grande parte dos conteúdos culturais que a escola se propõe a disseminar depende da escrita para a sua elaboração e transmissão; grande parte das atividades escolares está, por conseguinte, baseada no uso intenso de suportes de escrita – quadros-negros, cadernos, livros e, mais recentemente, os computadores –, fazendo com que o sucesso da trajetória escolar dos indivíduos dependa crucialmente de suas capacidades de leitura e escrita.

Percebe-se, com Durkheim (1995), tratando a respeito do império de Carlos Magno, mas claramente havendo correspondência nos dias atuais, que a complexidade da sociedade iniciou-se há muito, pois

Acrescente-se a isso que uma grande sociedade organizada precisa de mais consciência, de mais reflexão, portanto de mais instrução e saber: pois, sendo mais complexo o mecanismo que a constitui, ele não pode funcionar com um simples automatismo (DURKHEIM, 1995, p. 46).

Repetindo o que já foi dito no início dos escritos, a respeito do total de encarcerados no Brasil, levando-se em conta os dados do mês de junho de 2008, de 381112 (trezentos e oitenta e um mil, cento e doze) presos, nota-se que apenas 77 (setenta e sete) têm nível de escolaridade formal acima do superior.180 Assim, 0,02020403451 % de encarcerados com o nível de escolaridade acima do superior estão encarcerados – pós-graduação lato sensu e stricto sensu.

Por óbvio, em um país pobre e de baixa escolaridade como o Brasil, pessoas com alta escolaridade são exceções e, portanto, tendem a não participar do aprisionamento, argumenta- se. No entanto, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) indica ter havido, no Brasil, um aumento importante das matrículas no ensino superior.181 Desse modo, apesar de pertencerem a uma “minoria”, os matriculados ou egressos

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MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Disponível em: <http://www.mj.gov.br>. Acesso em: 24 dez. 2008. 181

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA (INEP). Disponível em: <http://www.inep.gov.br/imprensa/noticias/censo/superior/news09_01.htm>. Acesso em: 12 fev. 2009, dá a entender o crescimento das matrículas no ensino superior no Brasil, “Os resultados do Censo da Educação Superior de 2007 – cuja Sinopse Estatística o Inep publica amanhã, dia 3 de fevereiro, - mostram a existência de 2.281 instituições de educação superior, 23.488 cursos e 4.880.381 estudantes – sendo que, desses,

de instituições de ensino superior não mantêm contatos regulares com as instâncias violentas de controle social.

Portanto, a imagem dos números é enganosa. Pessoas de todos os níveis de escolaridade cometem delitos. As pessoas de maior escolaridade não são acessadas pelo processo de criminalização. Não há inferência de ausência de delitos por parte dos mais estudados da nação. Mas as pessoas com maior instrução formal findam por não ter acesso aos piores e mais dolorosos reflexos sociais, sendo o aprisionamento o zênite da violência.

Segundo a Síntese dos Indicadores Sociais de 2007, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1996,182 o Brasil possuía 14,8% da população como analfabetos. Os números vão decrescendo e, em 2006, dez anos depois, o Brasil possuía 10,4% da população como analfabetos (IANNARELLI, 200-, p. 32-33).

Não se quer, no presente momento, pioração da situação perante a violência estatal dos mais instruídos como se pretende o projeto de lei do Deputado Federal Marcelo Zaturansky Nogueira Itagiba, quando indica uma mudança no artigo 68 do Código Penal no sentido de dar nova redação ao parágrafo primeiro, da seguinte forma: “O juiz considerará a escolaridade do agente sempre para aumentar a pena-base, presumindo a completa consciência da ilicitude do fato”.183 O Deputado Federal citado justifica a mudança na estruturação da pena base porque

De acordo com nossa Carta Magna (art. 205), a educação é promovida visando ao ‘pleno desenvolvimento da pessoa’, o que equivale dizer que, quem tem educação de nível superior é presumível tenha pleno desenvolvimento pessoal, devendo haver, por isso, em exame de proporcionalidade na individualização da pena, a devida consideração do grau de escolaridade do agente na fixação da sanção recriminatória de sua conduta, presumindo tanto maior a consciência da ilicitude dos fatos tipificados como crime quanto mais completa for a sua formação escolar e educacional.184

O parecer do Deputado Federal Regis Fernandes de Oliveira, concordando com o Projeto de Lei, diz que, “Em palavras menos técnicas, significa que o autor de crime, com 1.481.955 são ingressantes. A coleta de informações se deu em 2008 tendo como referência a situação observada em 2007.”

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Os dados dos anos de 1996 a 2003 excluem a população rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá.

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BRASIL. Projeto de lei de 1.519, de 05 de julho de 2007. Disponível em:

<http://www.camara.gov.br/sileg/MostrarIntegra.asp?CodTeor=479717>. Acesso em: 29 jan. 2009. 184

BRASIL. Parecer do projeto de lei de 1.519, de 05 de julho de 2007. Disponível em:

escolaridade, merece ser punido de maneira mais severa que as pessoas sem instrução, porque tem uma visão mais ampla e profunda da realidade”.185 Neste trabalho acadêmico, tão só se ventila a possibilidade de indicar que, apesar de ter-se um percentual pequenino de analfabetos, em contraste com o restante da população, segundo pesquisas do IBGE186, em termos percentuais, 64,06725581981% dos presos tem menos de oito anos de estudo. Partindo-se de um total de 381.112 (trezentos e oitenta e um mil, cento e doze), entre homens e mulheres, sendo 30.534 (trinta mil, quinhentos e trinta e quatro) de analfabetos, 46.449 (quarenta e seis mil, quatrocentos e quarenta e nove) alfabetizados e 167.185 (cento e sessenta e sete mil, cento e oitenta e cinco) com ensino fundamental incompleto, totalizando 244.168 (duzentos e quarenta e quatro mil, cento e sessenta e oito) indivíduos com parca instrução escolar nas instituições totais espalhadas pelo Brasil. Diante de situação atroz, com números tão aviltantes, compreende-se que a instrução formal tem, sim, influência cabal nas taxas de encarceramento.

Assim sendo, a educação formal funciona como um extirpador do processo de criminalização nos cidadãos. Quanto maior o grau de instrução, menor a probabilidade de aprisionamento. Dessarte, uma das forças mais importantes na sociedade hodierna é a força mental – o grau de instrução formal – visto que impede o ser humano de haurir a violência estatal da mesma maneira que o desletrado absorve.

Assim, o extremófilo – analfabeto absoluto – na força mental é aquele que é cego em seu próprio lar por não conseguir discernir os signos grafados em mensagens simples quando percorre o trajeto do trabalho para casa. Enfraquecido diante da azáfama de luta perante a sociedade, vive uma vida limitado aos afazeres de subtrabalhos e subcidadania. O processo de enlutamento reverbera nas entranhas do ser que, cotidianamente, vê o ônibus de volta ao lar passar, mas não sabe ler o nome do próprio bairro em que mora. Guia-se por estratégias de cor e números, quando os conhece.

Assim sendo, enfraquecido e vulnerável diante dos saberes da atualidade, os

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BRASIL. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/sileg/MostrarIntegra.asp?CodTeor=498551>. Acesso em: 29 jan. 2009 (grifo nosso).

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SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL (SENAI). Departamento Nacional

Retratos da educação no Brasil/ SENAI/DN. – Brasília: SENAI/DN, 2007. Disponível em:

<http://www.pr.senai.br/portaleducacional/uploadAddress/Retratos_Educacao_PDF%5B55739%5D.pdf>. Acesso em: 12 fev. 2009. Levando-se em consideração que, “A taxa de analfabetismo é medida pela razão entre o número de analfabetos na faixa etária considerada e o total do contingente populacional nessa faixa etária, multiplicada por cem (100).” Tem-se que, “A taxa de analfabetismo da população com quinze anos ou mais de idade passou de 15,5% em 1995 para 11,1% em 2005.” Fonte: IBGE/Pesquisa Nacional por Amostra de Domicíliosn - PNAD: 1995 e 2005. Segundo Leonor Paini et al. (2005), em termos mundiais, até o ano de 2000,