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4 AS QUATRO FORÇAS

4.1 A FORÇA EMOCIONAL

4.1.1 Origem e definições da palavra emoção

A palavra emoção, segundo o dicionário Aurélio, origina-se do francês émotion, tendo, em um dos sentidos, a noção de “reação intensa e breve do organismo a um lance inesperado, a qual se acompanha dum estado afetivo de conotação penosa ou agradável” (FERREIRA, 1986, p. 635). Há, também, etimologicamente falando, sentidos de comoção e perturbação moral (LELLO POPULAR, 1952, p. 505). No sentido filosófico, mostrando a mesma palavra em latim como affectus, em alemão como affekt, em italiano como emozione, Abbagnano (2007, p. 363) conceitua a emoção, apesar de explicações inúmeras em sentidos diversos, da seguinte forma: “Em geral, entende-se por esse nome qualquer estado, movimento ou condição que provoque no animal ou no homem a percepção do valor (alcance ou importância) que determinada situação tem para sua vida, suas necessidades, seus interesses.”.

Segundo Piéron (1972, p. 140),

Esta palavra de uso corrente aplica-se, em psicologia, a uma reação afetiva de grande intensidade, dependente de centros diencefálicos e comportando, normalmente, manifestações de ordem vegetativa. As emoções fundamentais, com exclusão da emoção-choque, incluem a alegria, o desgosto (dor), o medo e a cólera, o amor e a repugnância.

Na visão de Altavilla (1981, p. 105),

As emoções apresentam-se sob duas formas: designa-se pelo nome de emoção, quer uma modificação rápida, quase subitânea, do estado

psicológico do indivíduo – a emoção-shock, quer um estado psicológico mais ou menos permanente – a emoção-sentimento. As emoções-sentimento são as paixões, que podem, por conseguinte, ser consideradas como emoções permanentes ou crônicas.

A psiquiatria entende que “A emoção pode ser funcionalmente considerada como uma disposição à ação que prepara o organismo para comportamentos relacionados à aproximação e esquiva” (VOLCHAN, 2003). Dessa forma, o corpo se prepara, através da emoção, para a ocorrência de algo. Ou seja, a emoção surge no ser humano quando houver uma expectativa.

No sentir de Accioly e Athayde (1996, p. 22), a emoção é uma “Reação organísmica total, coordenada pelo cérebro ante estímulos externos e/ou internos, promovendo condutas adequadas PARA preservação da Vida, ante ameaças e PARA sua manutenção e da espécie”.

A medicina também chama as emoções de afeto. Trabalhando um conceito de afetividade, tem-se que

A vida afetiva é a dimensão psíquica que confere o tom a todas as vivências humanas. A afetividade divide-se basicamente em humor e afeto. O humor corresponde ao tônus afetivo do indivíduo em um determinado momento, e o afeto é definido pela qualidade emocional que acompanha uma idéia ou representação mental (ENGEL, 2008, p. 12).

Segundo Luís Freire (200-), “Emoção tem suas raízes no latim emotionem, a qual é derivada de emotion, formada pelas palavras ex e motion. O significado de ex é ‘para fora’, ‘direcionado para fora’, enquanto motion significa movimento, ação”. Pantoja e Nelson- Goens (2000) indicam que “Emoções foram aqui definidas e examinadas enquanto padrões interativos emergentes a partir da vida social do indivíduo os quais, por sua vez, constituem as narrativas que compõem a história única de cada indivíduo.” Dessa forma, a emoção se identifica como uma totalização de reflexos corporais e de interação do ser humano com seu meio por conta de um estímulo aos sentidos – ou mesmo à imaginação. Uma tentativa mais simplista de definição de emoção foi efetuada por Masters (2006), quando diz que a emoção é “[...] um estado mental intenso criado subjetivamente (e não através de um esforço consciente)”, traduzido por Marcus A. S. Kutova. Masters (2006, grifo nosso), no original, em inglês, versando a respeito do medo, assume que: “[...] and emotion is psychosocially

constructed, dramatized feeling.”91 (grifo nosso).

Jesus (2003, p. 485) define: “Emoção é um estado de ânimo ou de consciência caracterizado por uma viva excitação do sentimento.” Mantovani apud Greco (2007, p. 402) diz, que a emoção

[...] é uma intensa perturbação afetiva, de breve duração e, em geral, de desencadeamento imprevisto, provocada como reação afetiva a determinados acontecimentos e que acaba por predominar sobre outras atividades psíquicas (ira, alegria, medo, espanto, aflição, surpresa, vergonha, prazer erótico, etc.).

Na visão de Prado (2002, p. 351), a emoção é um “sentimento intenso e passageiro que altera o estado psicológico do indivíduo, provocando ressonância fisiológica (ex. angústia, medo, vingança, tristeza)”. Bitencourt (2004, p. 371), por sua vez, afirma “Emoção é uma viva excitação do sentimento. É uma forte e transitória perturbação da afetividade a que estão ligadas certas variações somáticas ou modificações particulares das funções da vida orgânica”.

Mirabete e Fabbrini (2007b, p.218) definem a emoção como, “Emoção é um estado afetivo que, sob uma impressão atual, produz repentina e violenta perturbação do equilíbrio psíquico.” Cláudio Brandão (2008, p. 226) ensina que “A emoção é um estado de explosão afetiva, que não pode ser desvinculada da idéia de sentimento”. Maggiore apud Noronha (1997, p. 179), assume que “[...] a emoção é um estado afetivo que, sob uma impressão atual, produz repentina e violenta perturbação do equilíbrio psíquico”. Delmanto et al. (2002, p. 57) definem a emoção como “[...] um movimento psíquico de forte e repentina comoção ou excitação, que pode acometer uma pessoa, à vista de alguém ou pela percepção de algo bom ou ruim”. Conforme Capez (2006b), ventilando o fulcral da emoção como um estado transitório, “emoção é um sentimento abrupto, súbito, repentino, arrebatador, que toma de assalto a pessoa, tal e qual um vendaval. Ao mesmo tempo, é fugaz, efêmero, passageiro, esvaindo-se com a mesma rapidez” (CAPEZ, 2006b, p. 317). Teles (2004b, p. 293), aponta:

A emoção, dizem os doutrinadores, é um estado afetivo, que atinge e perturba o equilíbrio psicológico do indivíduo, alterando-lhe a maneira de pensar e, de conseqüência, de agir, não retirando, todavia, a capacidade de entendimento e de determinação. A ira, o medo, a alegria, a surpresa, a

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vergonha, dizem, são situações emocionais, que são intensas e de duração limitada no tempo.

Finalmente, Zaffaroni e Pierangeli (2007, p. 544), dando importância merecida à emoção, identificam graus nos quais haveria um devido afastamento do sistema penal:

Contudo, a emoção possui graus, que podem chegar até a uma grave alteração da consciência, ou seja, até uma enfermidade, cujo caráter transitório não a exclui do conceito de enfermidade, e, ainda mais, nem sempre é possível a afirmação de transitoriedade nos casos mais graves, mesmo que os seus resíduos não possam ser observados com uma análise superficial.

Diante do quanto compreendido, verifica-se que o conceito de emoção é amplamente discutido.92 Não há, dessa forma, um conceito seguro da palavra emoção. Há uma mistura do conceito de emoção com os conceitos de paixão e sentimento. A paixão seria da mesma natureza da emoção, apenas diferindo quanto à quantidade e durabilidade. Assim, a paixão seria crônica, intensa, durável, enquanto a emoção seria rápida, fugidia, sem duração.93 O sentimento seria, tão só, a percepção interna das emoções sentidas. O sentimento, assim, é algo sumamente subjetivo, pois dependerá da sensibilidade de cada ser humano na exploração das próprias emoções.

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“Come per i sentimenti, il termine emozione ha avuto ed ha i più diversi significati, comprendendovi alcuni um gran numero di fenomeni affettivi, inclusivi i sentimenti [...]”(FLORIAN; NICEFORO; PENDE, 1943, p. 281).

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Neste sentido, Capez (2006b, p. 317), quando indica, “A paixão, ao contrário, é um sentimento lento, que, se vai cristalizando paulatinamente na alma humana até alojar-se de forma definitiva.”, Teles (2004b, p. 293), assume que, “A paixão, ao contrário, é um estado crônico, duradouro e, por isso, estável, revelando crise psíquica profunda, substancial, que atinge de modo grave não só a psique, mas também o próprio estado físico do homem.”, já Damásio de Jesus (2003, p. 485), aponta que, “Paixão é a emoção em estado crônico, perdurando como um sentimento profundo e monopolizante (amor, ódio, vingança, fanatismo, despeito, avareza, ambição, ciúme).”, Prado (2002, p. 351), ensina que, “2. Paixão – chamada emoção-sentimento- é a idéia permanente ou crônica por algo (ex. cupidez, amor, ódio, ciúme).”, Bitencourt (2004, p. 371), leciona que, “A paixão é emoção em estado crônico, perdurando como um sentimento profundo e monopolizante (amor, ódio, vingança,

fanatismo, desrespeito, avareza, ambição, ciúme etc.).”, Mirabete e Fabbrini (2007b, p. 218), ponderam que, “A paixão é uma profunda e duradoura crise psicológica que ofende a integridade do espíritos e do corpo, o que pode arrastar muitas vezes o sujeito ao crime.”, em outro momento doutrinário, Mirabete e Fabbrini (2007a, p. 282), ventilam que, “A paixão é uma profunda e duradoura crise psicológica que ofende a integridade do espíritos e mesmo do corpo, causando também intensa perturbação dos sentidos.”, Brandão (2008, p. 226), pontua, sucintamente, que, “A paixão é o estado prolongado da emoção.”, Noronha (1997, p. 179), garante que, “A paixão é a emoção permanente e mais intensa (Kant, Ribot): traduz-se em profunda e duradoura crise psicológica que ofende a integridade do espírito e do corpo, arrastando muitas vezes ao crime; nesta categoria entram o amor, o ódio, a vingança, o fanatismo, a inveja, a avareza, a ambição, o ciúme etc..”, por último, Delmanto et al. (2002, p. 57), em paridade com os demais doutrinadores, legitima que, “Paixão: É um estado psíquico similar à emoção, porém mais duradouro, muitas vezes originário de uma emoção guardada e constantemente lembrada. Exemplos: amor, ciúme, ódio, ambição etc..”

Todos os autores pesquisados, no entanto, são unânimes em afirmar que a emoção é perturbadora da psique.94 Ou seja, origina-se um complexo sistema no qual o corpo reage, através de diversos reflexos, às emoções sentidas. Neste trabalho acadêmico não se compreenderá a diferença entre emoção, paixão ou sentimento. Todos arcarão com legitimidade para impedir a atuação do sistema penal quando efetuarem uma vulnerabilidade tal no ser humano, com capacidade paralisante – atordoante, enfraquecedora –, que determine a medida mais justa como a não-utilização da violência estatal em derredor do cidadão, seja para punir ou manter o encarceramento.