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5 OS PRINCIPAIS ATORES DE PROTEÇÃO E PROMOÇÃO DOS DIREITOS DOS

5.2 A importância do Ministério Público na concretização dos direitos

Dentre as diversas competências designadas aos membros do Parquet, vale destacar a participação dos membros do MP em prol da defesa dos interesses dos idosos, conforme prevê o artigo 73 ao 77, o artigo 78 ao 92, que tratam da proteção judicial dos interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis ou homogênios, todos do Estatuto do Idoso.

Com isso, conforme já adiantado no sub-tópico 4.2.4 quando foram abordadas as medidas protetivas para com o idoso, visa este tópico esclarecer algumas outras funções do Ministério Público na proteção dos direitos dos longevos, mais precisamente com relação legitimação para a ação civil pública, fiscalização das entidades e a celebração da transação de alimentos. 255

resguardo de direitos dos beneficiários e rechaçando qualquer conduta oportunista, inclusive como forma de prevenir que este tipo de demanda vá ao Poder Judiciário.

254 Art. 16. Ao idoso internado ou em observação é assegurado o direito a acompanhante, devendo o órgão de saúde proporcionar as condições adequadas para a sua permanência em tempo integral, segundo o critério médico. Parágrafo único. Caberá ao profissional de saúde responsável pelo tratamento conceder autorização para o acompanhamento do idoso ou, no caso de impossibilidade, justificá-la por escrito. Art. 17. Ao idoso que esteja no domínio de suas faculdades mentais é assegurado o direito de optar pelo tratamento de saúde que lhe for reputado mais favorável. Parágrafo único. Não estando o idoso em condições de proceder à opção, esta será feita: I – pelo curador, quando o idoso for interditado; II – pelos familiares, quando o idoso não tiver curador ou este não puder ser contactado em tempo hábil; III – pelo médico, quando ocorrer iminente risco de vida e não houver tempo hábil para consulta a curador ou familiar; IV – pelo próprio médico, quando não houver curador ou familiar conhecido, caso em que deverá comunicar o fato ao Ministério Público.

255 Vejamos as principais atuações do Ministério Público junto ao Estatuto do Idoso: Art. 74. Compete ao Ministério Público: I – instaurar o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção dos direitos

Portanto, antes de adentramos nas principais conquistas obtidas pelo

Parquet na promoção e proteção desses direitos, é imperioso saber diferenciar os

direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos para melhor compreender o papel do MP.

Para tanto, recorremos aos ensinamentos de Leonardo Medeiros Garcia ao abordar estas distinções. Vejamos o quadro abaixo256:

MODALIDADE DIVISIBILIDADE DO BEM JURÍDICO DETERMINAÇÕES DOS TITULARES EXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA EXEMPLOS257

D. Difusos Indivisível Indeterminados Não- ligados por circunstâncias de fato Implantação de equipamentos urbanos comunitários voltados ao idoso D. Coletivo Indivisível Determináveis Sim- ligados por

uma relação jurídica base Adequação de uma entidade de atendimento ao idoso às normas de vigilância sanitária

e interesses difusos ou coletivos, individuais indisponíveis e individuais homogêneos do idoso; II –

promover e acompanhar as ações de alimentos, de interdição total ou parcial, de designação de

curador especial, em circunstâncias que justifiquem a medida e oficiar em todos os feitos em que se discutam os direitos de idosos em condições de risco; III – atuar como substituto processual do

idoso em situação de risco, conforme o disposto no art. 43 desta Lei; IV – promover a revogação de instrumento procuratório do idoso, nas hipóteses previstas no art. 43 desta Lei, quando necessário ou o interesse público justificar; V – instaurar procedimento administrativo e, para instruí-lo: a) expedir notificações, colher depoimentos ou esclarecimentos e, em caso de não comparecimento injustificado da pessoa notificada, requisitar condução coercitiva, inclusive pela Polícia Civil ou Militar; b) requisitar informações, exames, perícias e documentos de autoridades municipais, estaduais e federais, da administração direta e indireta, bem como promover inspeções e diligências investigatórias; c) requisitar informações e documentos particulares de instituições privadas; VI – instaurar sindicâncias, requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, para a apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção ao idoso; VII – zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais assegurados ao idoso, promovendo as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis; VIII – inspecionar as entidades públicas e particulares de atendimento e os programas de que trata esta Lei, adotando de pronto as medidas administrativas ou judiciais necessárias à remoção de irregularidades porventura verificadas; IX – requisitar força policial, bem como a colaboração dos serviços de saúde, educacionais e de assistência social, públicos, para o desempenho de suas atribuições; X – referendar transações envolvendo interesses e direitos dos idosos previstos nesta Lei. ( Grifei-os)

256 GARCIA, Leonardo Medeiros. Direito do Consumidor. Código Comentado e Jurisprudência. 8ª edição, revista, ampliada e atualizada pelas leis n.12.414/11 e 12.529/11. Niterói- RJ. Impetus. 2012. p. 463.

D. Individual Homogênio Divisível Determinados ou Determináveis Irrelevante- o que importa é que sejam decorrentes de origem comum Fornecimento de medicamentos a um idoso

Destarte, é neste cenário que o Ministério Público deverá atuar na defesa dos interesses dos idosos. Vejamos alguns dos posicionamentos do Superior Tribunal de Justiça quando estabelece a competência do MP na defesa destes direitos.

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇAO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA DEFESA DE INTERESSES OU DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. ARTS. 127 E 129, III E IX, DA CF. VOCAÇAO CONSTITUCIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA DEFESA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS. DIREITO À SAÚDE. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. RELEVÂNCIA PÚBLICA. EXPRESSAO PARA A COLETIVIDADE. UTILIZAÇAO DOS INSTITUTOS E MECANISMOS DAS NORMAS QUE COMPÕEM O MICROSSISTEMA DE TUTELA COLETIVA. EFETIVA E ADEQUADA PROTEÇAO. RECURSO PROVIDO.

1. "O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do

regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis" (art. 127 da CF). 2. "São funções institucionais do

Ministério Público: III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de

outros interesses difusos e coletivos; IX - exercer outras funções que

lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo- lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas" (art. 129 da CF). 3. É imprescindível considerar a natureza indisponível do interesse ou direito individual homogêneo aqueles que contenham relevância pública, isto é, de expressão para a coletividade para estear a legitimação extraordinária do Ministério Público, tendo em vista a sua vocação constitucional para a defesa dos direitos

fundamentais. 4. O direito à saúde, como elemento essencial à

dignidade da pessoa humana, insere-se no rol daqueles direitos cuja tutela pelo Ministério Público interessa à sociedade, ainda que em favor de pessoa determinada. 5. Os arts. 21 da Lei da Ação Civil Pública e 90 do CDC, como normas de envio, possibilitaram o surgimento do denominado Microssistema ou Minissistema de proteção dos interesses ou direitos coletivos amplo senso, no qual se comunicam outras normas, como o Estatuto do Idoso e o da Criança e do Adolescente, a Lei da Ação Popular, a Lei de Improbidade Administrativa e outras que visam tutelar direitos dessa natureza, de forma que os instrumentos e institutos podem ser utilizados com o escopo de "propiciar sua adequada e efetiva tutela" (art. 83 do CDC). 6. Recurso especial provido para determinar o prosseguimento da ação civil pública. (STJ-RECURSO ESPECIAL Nº 695396 RS 2004/0146850-1, Relator: Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, Data de Julgamento: 12/04/2011, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 27/04/2011). (Grifei-os)

Nesta mesma esteira, vejamos:

PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MEDICAÇÃO NECESSÁRIA AO TRATAMENTO DE SAÚDE. IDOSO. LEI N. 10.741/2003. MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE ATIVA RECONHECIDA.10.7411. O STJ, recentemente, pacificou entendimento de que o Ministério Público detém legitimidade para propor ação civil pública em defesa de direito individual indisponível à saúde de idoso. 2. Recurso especial provido (STJ-878960 SP 2006/0187015-1, Relator: Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Data de Julgamento: 20/08/2007, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJ 13.09.2007 p. 188)

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO -AÇÃO CIVIL PÚBLICA - ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO -DIREITO INDIVIDUAL INDISPONÍVEL DE PESSOA IDOSA -FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO -LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO.1. A Jurisprudência mais recente das Turmas de Direito Público do STJ tem entendido que o Ministério Público tem legitimidade ativa ad causam para propor ação civil pública com o objetivo de proteger interesse individual de idoso, ante o disposto nos artigos 74, 15 e 79 do Estatuto do Idoso (Lei 10.741/03). Precedentes.741579Estatuto do Idoso2. Embargos de divergência não providos (695665 RS 2007/0034514-5, Relator: Ministra ELIANA CALMON, Data de Julgamento: 22/04/2008, S1 - PRIMEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJ 12.05.2008 p. 1)

Vale ressaltar que em relação às ações cíveis fundadas em interesses difusos, coletivos, individuais indisponíveis ou homogênios, os membros do MP são legítimos a propor a Ação Civil Pública, conforme dito acima. Além do que, esta é uma modalidade de ação que pode ser proposta também pela a União Federal, os Estados-membros, os Municípios, as autarquias, as empresas públicas, as fundações, as sociedades de economia mista e, ainda, as associações que tenham sido constituídas há pelo menos um ano e que tenham entre seus objetivos institucionais a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, a livre concorrência, ao patrimônio histórico, ao patrimônio turístico, ao patrimônio artístico, ao patrimônio paisagístico e ao patrimônio estético.

Além disto, caso o Ministério Público não se faça presente, nos processos relativos aos direitos dos idosos, não intervier, seja como parte, seja como custo

legis, o processo será nulo, consoante reza o art. 77 da Lei nº 10.741/03, a saber: “A

falta de intervenção do Ministério Público acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofício pelo juiz ou a requerimento de qualquer interessado.”

Isto nada mais é do que uma consagração do que já previa a nossa Constituição Federal de 1988 quando deu uma nova dimensão ao Ministério Público, conceituando-o como uma instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, bem como incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime

democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, conforme

citado acima.

Por outro lado, podemos destacar algumas de suas funções institucionais, que se coadunam como objeto de nossa dissertação, vejamos: I- promover, privativamente a ação penal pública, na forma da lei; II- zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos

assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua

garantia; III- promover o inquérito civil e ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e

coletivos, conforme reza o artigo 129 da Carta Magna.

Feitas estas considerações, mais precisamente em relação à legitimidade ativa do MP em ajuizar ação civil pública com o intuito de promover e proteger os direitos dos longevos, impende adentrarmos ainda que sucintamente, na atuação do

Parquet frente a fiscalização de entidades voltadas ao idoso, bem como a

celebração de transação de alimentos.

Com relação à fiscalização de entidades o Estatuto do Idoso criou um capítulo específico quanto a Fiscalização das Entidades de Atendimento, determinando que as entidades governamentais e não-governamentais de atendimento às pessoas idosas serão fiscalizadas pelos Conselhos do Idoso, Ministério Público, Vigilância Sanitária e dentre outros, conforme prevê seu artigo 52. Assim, a entidade que causar infração, colocando em risco os direitos assegurados pelo Estatuto, será o fato comunicado ao Ministério Público para tomar as providências cabíveis, assim como este órgão poderá promover, sem a necessidade de processo judicial, a suspensão das atividades ou dissolução da entidade, com a proibição de atendimento aos idosos a bem do interesse público.

Pelo exposto, verifica-se que a fiscalização dos estabelecimentos que abrigam os idosos seja governamental ou não, em regime asilar, é uma das mais importantes atribuições do Ministério Público, em face da condição especial de vida dos idosos, os quais, além das mais variadas privações próprias da idade ainda encontram-se, geralmente, desamparados de seus familiares e impedidos de exercer plenamente os direitos referentes à sua cidadania.

Com relação a transação de alimentos em prol dos idosos, o MP poderá celebrar as transações relativas a alimentos, ocasião em que elaborará um termo de compromisso que será assinados por ele e pelas partes, e que passará a ter efeito

de título executivo extrajudicial.258 Os alimentos serão prestados ao idoso, na forma

dos artigos 1.694 a 1.710 do Código Civil e do artigo 1.121, IV do Código de Processo Civil.

Além disso, caso não tenha condições econômicas, o idoso ou seus familiares, de promover o seu sustento, será imposto ao Poder Público esse ônus, no âmbito da assistência social que será regulada pela legislação sobre o Benefício de Prestação Continuada (BPC)259, gerido pelo Ministério de Desenvolvimento e combate a fome, a teor do que dispõe o artigo 14 do Estatuto do Idoso.

Desse modo, é sob este enfoque constitucional, bem como infraconstitucional, mais precisamente no que tange ao papel do MP frente à legitimação para propositura da ação civil pública, da fiscalização das entidades e da celebração da transação de alimentos, que este tópico se desenvolveu.

5.3 O papel da Ordem dos Advogados do Brasil na efetivação dos direitos