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2 TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS e

2.6 Dignidade da Pessoa Humana e Cidadania

2.6.2 Cidadania

Conforme já dito nesse trabalho, em 2050, um quinto da população mundial será de idosos, refletindo em 2 bilhões de longevos, montante equivalente à população infantil de 0 a 14 anos de idade, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU)105. Além de que, vale frisar que 80% deles estarão vivendo

em países como o Brasil. Em 2008, eram mais de 20 milhões de pessoas maiores de 60 anos, aproximadamente 2 milhões a mais que em 2007.106

Diante desse cenário etário, que se é colocado para a sociedade brasileira, é imperioso se pensar como vamos trabalhar com essa questão, e quais os mecanismos necessários para garantir a esses idosos a efetivação de seus direitos, bem como sua cidadania.

Com isso, falar em cidadania implica em saber reconhecer de fato o que essa palavra representa para nossas vidas.

Atualmente fala-se muito em cidadania, mas age-se pouco. Nesse aspecto, devemos tomar cuidado para não banalizá-la, transformando-a em um mero objeto de uso irregular nos âmbitos públicos e privados, que na maioria das vezes não sabem implementar a sua real significância nos contextos sociais, políticos e econômicos.

A Constituição Federal em seu artigo 1ª, inciso II107 estabelece como fundamentos da República Federativa do Brasil a cidadania, que tem como consequência a democratização do acesso à justiça e a participação popular no processo decisório governamental.

Desse modo, reputamos importante citar Dalmo de Abreu Dallari, vejamos:

“A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da

105 Verificar no relatório da ONU. Em uma década, mundo terá mais de 1 bi de idosos. Diário do Nordeste. Fortaleza, 02 de outubro de 2012. Disponível em: <http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1187888#diariovirtual>. Acesso em 02 out 12.

106 FELIX, Renan Paes. op.cit., p.11.

107 Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: II - a cidadania da CF/88.

tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social”.108

Paulo Hamilton Siqueira Junior e Miguel Augusto Machado de Oliveira asseveram, in verbis: “O termo cidadania, então, indica o liame com o Estado. A cidadania é a posição política do indivíduo e a possibilidade do exercício desses direitos”.109

Já para José da Silva Pacheco: “ o status civitas ou estado de cidadania implica uma situação subjetiva, esparzindo os direitos e deveres de caráter público das pessoas que se vinculam ao Estado.Estabelece-se um círculo de capacidade conferido pelo Estado aos cidadãos”.110

José Afonso da Silva apud Paulo Hamilton Siqueira Junior e Miguel Augusto Machado de Oliveira assevera que cidadania é ter direitos. O autor aduz que cidadania seria a concretização da democracia e sua ocorrência plena surge com os direitos sociais, apesar de também defender que há um conceito de participação política nos destinos da nação.111

Para tanto cidadania seria essa integração entre o indivíduo e o Estado, dentro de um processo de “mão dupla”, ou seja, requer a participação do cidadão no processo político estatal, diante das mais diversas formas democráticas, bem ainda, como sujeito de direitos fundamentais, requer da providência Estatal no sentido de satisfação de todos os direitos fundamentais em igualdade de condições.

Nesse contexto, impende demonstrar as espécies de cidadania, defendidas pelo sociólogo inglês T.H Marshall apud Tânia Maria Náufel Cavalcante o qual descreve que os direitos de cidadania não nasceram todos juntos, de uma só vez, mas ao contrário, eles foram se formando em etapas distintas, uma conquista servindo de apoio para novas conquistas de direitos de outras naturezas. Destarte, dividindo-a em três momentos, a saber: o primeiro deles foi de afirmação dos direitos civis, ou de liberdade, o segundo reporta-se aos direitos políticos e o terceiro momento trata da conquista dos direitos sociais.112

108DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos Humanos e Cidadania. São Paulo: Moderna, 1998. p.14. 109 SIQUEIRA JR. Paulo Hamilton. OLIVEIRA. Miguel Augusto Machado de. op.cit., p. 240.

110 PACHECO.José da Silva. O mandado de segurança e outras ações constitucionais típicas. 4 edição. São Paulo; RT, 2002.p. 563.

111 SIQUEIRA JR. Paulo Hamilton. OLIVEIRA. Miguel Augusto Machado de. op.cit. p.247.

112CAVALCANTE,Tânia Maria Náufel. Cidadania e Acesso à Justiça. Disponível em:< http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/32195-38277-1-PB.pdf>. Acesso em: 22 mai 12.

Das afirmações supra, podemos deduzir que o conceito de cidadania se dá de duas formas o ativo e o passivo. O primeiro seria o exercício de fiscalização dos negócios do Estado, participando da dinâmica estatal, se valendo dos instrumentos hábeis, como por exemplo: impetrar ação popular, exercer a democracia participativa, que não somente através do voto, mas do plebiscito, referendo e iniciativa popular, bem ainda mediante tomadas de decisões acerca do interesse público, garantindo a legitimidade das ações governamentais. Essa primeira abarcaria as primeiras espécies defendidas por Marshal.

Já o segundo seria o direito do cidadão a ter direitos não de maneira ativa, mas passiva, como por exemplo: o direito à vida, à saúde, ao lazer, a assistência aos desamparados, à igualdade perante a lei, dentre outros de mesma natureza. Assim, poderíamos citar como exemplo de atuação Estatal em prol do cidadão o art. 6ª da CF/88.113

No Brasil aos poucos estamos gestando a nossa cidadania. Demos passos importantes na redemocratização, bem como com advento da Constituição Federal de 1988 em que os idosos passaram a ser lembrados e respeitados, isto é, começava-se a desenvolver políticas de natureza social, econômica e cultural, e uma delas, só para citar um exemplo, foi à introdução do conceito de Seguridade Social, fazendo com que a rede de proteção social alterasse o seu enfoque estritamente assistencialista, passando a ter uma conotação ampliada de cidadania.

Com efeito, o fundamento do Estado Democrático de Direito expressa-se no compromisso efetivo de incluir todos os cidadãos nas práticas econômicas, políticas e sociais do Estado. Portanto, o poder público não pode se esquivar de promover as medidas necessárias para essa inclusão, devendo prover a todos a igualdade de direitos.

Assim, verifica-se que nenhuma Constituição brasileira foi tão pródiga e minuciosa em reconhecimento dos direitos sociais, conferindo um grande realce aos direitos de cidadania. Consoante dito acima, a legislação brasileira passou a se preocupar mais com a questão do idoso e seu papel na sociedade, criando projetos

113 Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

de lei e normas para os direitos sociais dos idosos, a fim de garantir à terceira idade uma integração social.114

Para tanto, vale frisar que os direitos que temos não nos foram conferidos, mas conquistados a custa de muita luta. Apesar de muitas vezes compreendermos os direitos como uma concessão, um favor de quem está em cima para os que estão em baixo, vale destacar que a cidadania não nos é dada, ela é construída e conquistada a partir da nossa capacidade de organização, participação e intervenção social. Seria um alicerce da democracia, sendo a democracia um processo.115

Dentro desta linha de raciocínio, é que iremos no capítulo seguinte, abordar a relação dos direitos sociais como categoria dos direitos fundamentais dos idosos, ressaltando a importância desses direitos na garantia à uma velhice digna.

114 BONFIM, Benedito Calheiros. Estatuto do idoso. Revista jurídica consulex. Brasília, ano VII, n. 162,15-fev.2003, p.35.

3 OS DIREITOS SOCIAIS COMO CATEGORIA DE DIREITOS FUNDAMENTAIS