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A indústria cultural e a revolução da ilustração

2 ESSA TAL DA ILUSTRAÇÃO

2.3 PENSANDO A ILUSTRAÇÃO

2.3.1 A indústria cultural e a revolução da ilustração

Como já foi dito, a industrialização mundial propiciou uma consolidação da imagem em termos tecnológicos, pois o jornal impresso atinge distintas parcelas da sociedade e por isso assume e se beneficia dessa “industrialização” que trouxe a mudança não apenas do destino do homem, mas a também da realidade em que este vivia.

Klawa e Cohen (1972, p. 103) afirmam:

a Revolução Industrial é uma referência e um exemplo de transformação histórica rápida e radical. As origens próximas e estruturais da moderna sociedade de consumo estão lá localizadas, e não resta dúvida que as importantes mudanças que se processaram no curso da História, no esqueleto e na carne do corpo social são amplamente conhecidas.

Com o advento da industrialização, houve um amadurecimento do homem em relação aos fatos que aconteciam no mundo pela ampliação do acesso às informações. Tal qual a prensa de Johannes Gutenberg (1390–1468) que possibilitou uma transformação na divulgação das palavras, as novas tecnologias permitiram um avanço considerável na divulgação dos acontecimentos sociais através da publicação de imagens e da reprodução em série dos produtos nos meios de comunicação.

O desenvolvimento tecnológico e a ascensão industrial fizeram com que se afirmasse um processo que poderíamos chamar de dependência das notícias para o crescimento

econômico, como relatam Briggs e Burker (2006, p. 109): “os mercadores precederam os empreendedores industriais, pois olhavam além dos oceanos em busca de oportunidades econômicas. Ao abrirem novos mercados, eles ficavam cada vez mais dependentes da comunicação de informações”.

A informação como mercadoria nessa nova comunicação é permitida por um mundo globalizado pelas novas tecnologias. Pensar o jornalismo impresso, neste aspecto, é considerar toda uma questão industrial que passa pela tecnologia representada pelos trens a vapor, as máquinas e o próprio cinema, que, como instrumento de capturar imagens, delineava uma nova maneira do homem se ver no mundo e do mundo ser visto pelo homem.

A “era das imagens” está inserida em uma sociedade que vendia informações como negócio. Assim, o conhecimento é tratado como um produto à venda, melhor dizendo, um produto cultural à venda inserido na lógica da indústria cultural, como dizem Klawa e Cohen (1972, p. 104): “o conhecimento, ou pelo menos parcela dele, é também transformado em mercadoria; no entanto, ainda que precariamente atendesse às indagações motivadas pela ânsia de compreensão do mundo”. O cinema, o rádio e o jornal impresso buscavam um espaço de identidade que possibilitasse a compreensão de si, do outro e da realidade que se delineava no “novo” mundo, agora globalizado.

Ao desenvolvimento tecnológico e cultural alia-se o jornalismo, que passa a usar não apenas palavras, mas também imagens e ilustrações para atingir a população que consumia informação impressa.

Discorrer sobre a utilização da palavra nesse período do jornalismo, enfatizando a função que a mesma tinha antes do advento da imagem como forma também de vender produtos, é o que fazem Klawa e Cohen (1972, p. 103):

na simples observação de uma manchete de jornal percebe-se uma orientada seleção, uma escolha (muitas vezes intuitiva) apoiada na procura de uma comunicação rápida, eficiente e essencialmente vendável. Uma palavra é cognominada “chave” quando ela excita o consumidor à compra, quando desperta sua curiosidade. Uma mesma notícia pode ser transmitida de diferentes maneiras; a melhor será aquela que vender mais. A palavra é, além de um transmissor de idéias, uma mercadoria, um ente fetichizado.

A relação entre texto e imagem tem seu fortalecimento com o surgimento das novas tecnologias e a imagem fixa-se como uma forma de expressar e emitir opinião, assumindo a condição de interpretação da palavra. O texto e a imagem complementam-se, mas também podem ser independentes por possuírem cada um o seu significado.

Assim, “a ilustração, a caricatura, o cartum, e mesmo a fotografia, compõem um conjunto em que a imagem assume funções diferentes, mas mantém a mesma relação com o texto: são complementares e independentes entre si” (KLAWA e COHEN, 1972, p. 108). Isso se torna verdade quando se mescla duas linguagens diferentes num mesmo espaço e obtém maior visibilidade e venda com isso.

Na relação entre texto e imagem no meio impresso, os jornais e maquinários que propiciavam essa transformação estavam preparados para uma atualização na maneira como o jornalismo passava a ser encarado no mundo através da técnica da imagem. A utilização de imagens e ilustrações foi um processo lento e gradual que aos poucos foi se firmando no meio impresso.

Diz Pinto (2002, p 27) sobre a utilização da imagem, ou melhor, litografia na imprensa:

importante também foi a introdução da litrografia – e consequentemente – da gravura – na imprensa a partir de 1844, mas a intensidade de sua utilização se fará na segunda metade do século. Algumas gravuras eram de nível artístico quando saídas das mãos de um Ângelo Agostini, por exemplo; outras, grosseiras e de mau gosto e péssimo humor. Este foi um dos fatos marcantes do periodismo brasileiro [...].

A essa revolução proporcionada pelo surgimento da imagem no meio impresso, somou-se a possibilidade de se vender mais por parte dos produtores e o aumento do consumo de informações de maneira diferenciada por parte dos leitores. Mas tudo isso acontecia lentamente, como destaca Romualdo (2000, p. 10):

aos poucos a ilustração foi ganhando lugar nos jornais, junto com a notícia escrita. Presos às práticas antigas de publicação, os proprietários dos jornais tinham certa resistência a publicar gravuras. Os jornais que adotavam tal prática, só o faziam escassamente, podendo passar muitos meses entre a publicação de uma ilustração e a seguinte.

Ao perceber que a sociedade buscava também diferentes maneiras de ler uma informação, os donos dos jornais acabaram aderindo a essa nova técnica presente no jornalismo, de modo a colocar figuras e imagens nos jornais como um jeito de atender à demanda da sociedade e lucrar com o aumento da venda dos jornais.

Ao surgir no jornalismo, a imagem informa o leitor e complementa a afinidade com o verbal ao representar a relação do homem com o mundo pelo traço. Cohen-Séat e Fougeyrollas (1971, p. 358) consideram que: “a informação visual, em virtude da potência propriamente técnica que emana da precisão das imagens concretas que produz, impõe-se aos indivíduos com uma força que jamais possuíram as formas de expressão do passado”.

O poder da palavra no meio impresso não deve ser colocado de lado em relação à importância da ilustração. A palavra se complementa em relação à imagem, pois também interpreta a mesma de maneira diferente através da subjetividade do leitor/autor de um determinado texto não verbal.

Assim, há várias interpretações e significados presentes em uma imagem, o que contextualiza e caracteriza que o leitor atento ao processo que se instaura entre texto e imagem pode compreender de diversas maneiras a subjetividade presente nessa relação.

Para enfatizar melhor a relação entre o jornalismo e a ilustração, devemos analisar como as novidades tecnológicas utilizam o meio impresso para mostrar seus avanços e produzir sentido. Vamos refletir, portanto, como acontece a relação entre a ilustração e a crônica no meio impresso e como ambas produzem sentido no cotidiano.