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A influência Bon-Po na Magia dos Faquires

No documento Tradição Bon Po (páginas 30-35)

O homem perfeito ganha seu poder através do desenvolvimento da força mística inerente a seu corpo. Isso se centraliza nos cinco órgãos secretos: o Lataif. São eles: o centro do coração, o centro do espírito, o centro secreto, o centro oculto, o centro mais misterioso... - Xeque Ahmed El-Abbassi: Segredos do Poder Sufi, desenvolvimento do livro do Shah Muhammad Gwath, Segredos do Caminho Místico (Asrar-ut-Tariqat, da Ordem Naqshbandíyya).

O Ocidente, que se orgulha com alguma razão de ter salvo do esquecimento muitos aspectos da cultura e do conhecimento orientais, foi profundamente influenciado pelo Tasawwuf a doutrina dos faquires. No entanto, quantas pessoas além de um punhado de orientalistas são capazes de dizer o que é isso? Ioga, Shinto, budismo, taoísmo e confucionismo, todos têm seus devotos na Europa e na América. O sufismo, no entanto - última das sanções místicas dos árabes, persas, turcos e do resto do mundo muçulmano - permanece como o último livro fechado do Oriente misterioso.

É o sufismo uma religião? Um culto oculto? Um modo de vida? É, em parte, todas essas coisas e em parte nenhuma delas. Dentre os 400 milhões de seguidores do islamismo, o tasawwuf detém um poder que nenhum credo político, social ou econômico conhece ali ou em qualquer outra parte. Suas origens ancestrais e similaridades a Religião Bön são mais do que evidentes. Os transes nas danças circulares Dervixes são idênticos às danças circulares dos monges Bon-po. Muito do seu conteúdo filosófico se assemelha com a doutrina sufi.

Organizada de maneira semimonástica e semimilitar essa incrível filosofia era partilhada por elementos tão distintos quanto os antigos alquimistas árabes - os irmãos da pureza - os guerreiros Mahdist do Sudão e os grandes poetas clássicos da Pérsia. Sob o nome de faquir (literalmente: humilde) os dervixes do Império Turco assolaram Viena. Estimulados pela poesia mística sufi (e, diz-se, por seu poder sobrenatural), os afegãos conquistaram a Índia.

E, no reverso da moeda, a literatura e cultura sufis foram responsáveis por parte da notável arquitetura e arte da Ásia.

Quais são as origens desse estranho culto que mesmo os pesquisadores modernos reconhecem ser a maior força individual do Oriente Médio atualmente? A despeito do fato de existir considerável quantidade de obras em línguas orientais, se sabe com absoluta certeza que os primeiros passos do culto surgiram por influência dos Bon-Po.

Historiadores sufis atribuem sua fundação ao próprio Maomé, mas já se disse que esse culto esotérico data das primeiras tentativas do homem para liberar seu ego das coisas materiais. Esse é, de fato, o objetivo principal do movimento. O sufismo é um modo de vida distinto e muito completo, tendo como alvo a realização do suposto papel do homem (e da mulher) na vida.

O homem, dizem os santos sufis, é parte do todo eterno, do qual derivam todas as coisas e ao qual retornaremos. Sua missão é preparar- se para esse retorno. Isso só pode ser obtido através da purificação. Quando a alma humana é corretamente ligada ao corpo e obtém completo controle sobre ele, então o homem parece em sua forma perfeita: o homem perfeito emerge, de fato, muito semelhante ao super-homem, possuindo poderes notáveis, que figuram tanto nas aspirações do ocultismo oriental quanto nas do ocidental.

São estes os passos pelos quais um devoto progride em direção a seu fim. Organizado em ordens que lembram as ordens monásticas da Idade Média (que segundo alguns foram moldadas no sufismo), a primeira condição para aceitação do aspirante é que ele esteja "no mundo, mas não seja do mundo". Esse é o primeiro aspecto importante em que o culto difere de quase todas as outras filosofias místicas. Pois é fundamental que cada sufi devote sua vida a alguma ocupação útil. Sendo seu objetivo tornar-se um membro ideal da sociedade, conclui-se naturalmente que ele não pode isolar-se do mundo. Na palavra de uma autoridade:

“O Homem se destina a viver uma vida social. Seu papel é estar com outros homens. Ao servir ao sufismo ele está servindo ao infinito, servindo a si mesmo e servindo à sociedade. Não pode se desligar de nenhuma dessas obrigações e continuar ou vir a ser um sufi. A única disciplina que vale a pena é aquela que é obtida em meio à tentação. Um homem que, como a anacoreta, abandona o mundo e se afasta das tentações e distrações não pode chegar ao poder. Pois o poder é aquilo que é extraído do meio da fraqueza e da incerteza. O asceta vivendo uma vida monástica está se iludindo!

Apesar de a palavra faquir ter vindo a ser usada no Ocidente para indicar um acrobata ou mágico itinerante, seu sentido real é meramente "humilde". A humildade do que busca é o primeiro requisito. Ele deve renunciar à sua luta por objetivos meramente mundanos até que tenha sua razão de viver na perspectiva correta. Isso, na verdade, não é contraditório. Pois um homem pode legitimamente gozar as coisas do mundo, desde que tenha aprendido a humildade em sua aplicação.

O que deu aos sufis - em seus papéis de faquires e dervixes - esse elo de invulnerabilidade, infalibilidade e superioridade é a aplicação dessa doutrina. Não há dúvidas de que a concentração mental conseguida pelos sufis é responsável pelo que se poderia classificar como manifestações realmente sobrenaturais. Há exemplos, registrados com tanta precisão

histórica quanto seria de esperar-se do estranho poder de alguns desses homens. Abordando a questão de maneira tão científica quanto possível, são muitos os exemplos de mistificadores sufis que brincam com a ingenuidade das massas. Por outro lado, dezenas de milhares de pessoas não predispostas estão convencidas do fato de que o tasawwuf pode dar um grau inusitado de poder a alguns de seus seguidores.

É necessário apontar aqui, assim como em outras partes deste material de estudo, que tais manifestações podem ser verdadeiras, ser a mera aplicação de segredos da natureza que ainda são imperfeitamente compreendidos pela ciência ortodoxa.

Quais são os milagres e poderes atribuídos aos santos sufis? Se bem que quase não haja fenômenos taumatúrgicos que não tenham sido reivindicados por alguma autoridade como já realizados pelos dervixes, alguns milagres são mais característicos do culto que outros. O primeiro (conforme a crença de que o tempo não existe) é a anulação do tempo convencional. As histórias sobre esse fenômeno - algumas das quais narradas por autoridades históricas meticulosamente acuradas - são muitas e variadas.

Talvez a mais famosa seja o caso do xeque Shahab-el-Din. Diz-se que ele podia induzir a aparição de frutas, pessoas e objetos absolutamente segundo a sua vontade. Conta-se que uma vez ele pediu ao sultão do Egito que mergulhasse a cabeça num recipiente com água. Instantaneamente o sultão se viu transformado num marinheiro de um navio naufragado, jogado à praia de alguma terra inteiramente desconhecida.

Ele foi recolhido por lenhadores, levado à cidade mais próxima (jurando vingança contra o xeque, cuja magia o havia colocado nessa situação), e começou a trabalhar como escravo. Depois de alguns anos ganhou sua liberdade, começou um negócio, casou-se e se estabeleceu. Mais tarde veio a empobrecer outra vez e tornou-se carregador autônomo, na tentativa de sustentar sua esposa e sete filhos.

Um dia, acontecendo estar na praia de novo, mergulhou na água para banhar-se. Imediatamente encontrou-se de novo em seu palácio no Cairo, novamente rei, rodeado de cortesãos, com um xeque muito grave à sua frente. A experiência toda, que lhe pareceu ter durado anos, tinha levado apenas alguns segundos. Essa aplicação da doutrina de que "o tempo não é sentido para os sufis" é refletida no famoso exemplo da vida de Maomé. Conta-se que o profeta, quando se preparava para sua milagrosa "marcha noturna", foi levado ao céu, ao inferno e a Jerusalém pelo anjo Gabriel. Depois de quatro vintenas e dez conferências com Deus, retornou à terra: a tempo de agarrar um copo de água que tinha sido derrubado quando o anjo o levou.

Além da inexistência do tempo, o espaço quase não importa ao adepto sufi que quer viajar. O transporte metafísico de muitos dos mais famosos professores sufis é tido como fato corriqueiro. Sufis já foram vistos ao mesmo tempo em lugares separados por muitos milhares de quilômetros. O xeque Abdul-Qadir Gelani, um dos mais celebrados santos do sufismo, era capaz de viajar milhares de quilômetros num piscar de olhos, a fim de estar presente ao funeral de algum amigo adepto.

Caminhar sobre a superfície das águas e voar enormes distâncias à vista das pessoas no solo são outras que se diz serem regularmente feitas pelos iniciados.

Milagres, enquanto tais são tidos como possíveis apenas para profetas. Mas sustenta-se que as maravilhas (karâmát) são possíveis a grande número de sufis. As atividades dos mágicos - que são geralmente uma forma de engodo para a ingenuidade das pessoas - são classificadas como istidraai, que quer dizer meros truques e trabalhos furtivos. A magia propriamente dita, que significa taumaturgia através do auxílio de espíritos, é um ramo inteiramente diferente da ciência oculta.

No documento Tradição Bon Po (páginas 30-35)