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Bön theg-pa-rim-dgu

No documento Tradição Bon Po (páginas 61-67)

A primeira parte desse tratado secreto das ciências ocultas tibetanas trata dos ritos que devem ser observados pelos pais de uma criança, desde o nascimento, até que tenha idade suficiente para receber o grau inicial de noviciado. O treinamento nos poderes mágicos não se inicia, porém, antes da terceira parte do trabalho, cujo estudo começa na idade de cerca de 20 anos, quando o jovem tibetano abandona seu guru (mestre) e se lança ao que poderia ser chamado de estudo individual.

Portando agora o titulo de bongrihasta, o jovem mágico começa uma austera vida de rituais e tabus, de invocações e jejum, de orações, e sacrifícios. Para sua tranqüilidade, todos os detalhes de sua vida futura são meticulosamente planejados pelo livro, e qualquer omissão da menor observância que seja é punida co m o atraso de seu desenvolvimento espiritual.

Dormindo no chão, sobre uma simples esteira, ele tem de se levantar antes do amanhecer. Assim que está de pé deve falar o nome de Dorje Naljorma – o deus da sabedoria, invocando aquela divindade para ajuda e bênção. Segue-se então a fórmula suprema, em voz baixa:

“Dorje Naljorma, vós, e o Espírito dos espíritos das sete esferas: Invoco a todos pedindo que o dia nasça. A isso se segue a invocação a Bön: “Bön, vem a mim, entra em mim, é Bön, a tranqüilidade e as bênçãos estejam comigo... Tsho-gyalma (deus da felicidade) está comigo, estou calmo.

Srid-pa-chags-po-lha-dgu

Conjuração de Dorje Naljorma:

Isto é dito imediatamente depois da prece a Srid-pa-chags-po-lha-dgu – Criador dos nove deuses:

“Senhor, maior de todos, base de tudo e poder além de tudo, Senhor do universo, iniciador de toda a vida: vós me instruístes, vós me comandastes, para que me levante e tome meu rumo nisto, minha vida cotidiana.”

Segue-se então um período de contemplação, Uma hora devotada exclusivamente a pensar o bem; e ao planejamento da amabilidade e de atos piedosos que devem ser feitos durante o dia. Depois que a mente está assim assentada e calma, "diga então o nome de Dorje Naljorma, mil vezes".

Isso leva o mago às suas abluções rituais, que são feitas num recipiente de cobre ou bronze, com a mente concentrada em Dorje Naljorma,

Terminado o banho, ele gira lentamente, nove vezes, repetindo os nomes: Dorje Naljorma, depois mais nove vezes e depois três vezes.

A parte seguinte do ritual é a invocação ao Sol:

“Sois o Sol! Sois o olho de Srid-pa-chags-po-lha-dgu, o olho de Dorje Naljorma: de manhã, ao meio-dia e à noite. Mais precioso que tudo, sois a jóia das jóias, vigilante sem preço sobre todas as coisas, suspenso no céu'. Esse é vosso poder: fertilizador da vida, vara do próprio tempo - de dias, noites, semanas, anos, estações - todo o tempo. Dos planetas sois o líder, o mais alto. Destruidor das trevas, poder que se estende por incontáveis milhões de milhas, carro dourado do universo, aceitai minha oração!

Rito da árvore

Os ritos continuam com uma invocação diária à árvore – uma figueira. O mago se senta à sua sombra, repetindo as seguintes palavras:

“Ó vós, yar-lha-sham-po (deus do espaço infinito), rei das selvas, representação dos espíritos! Em vossas raízes vejo luz, em vosso tronco, energia, vossos ramos são dedicados a força. Isso significa que sois em

Dedico-me a conseguir o poder e o conhecimento neste mundo e a promoção no outro mundo. Todos os que honram a vós, circulando em torno de vós, conseguirão esses objetivos!

Começando com o número sagrado, sete, o mago gira então em torno da figueira sagrada com voltas somando sempre um múltiplo de sete. Deve fazer isso pelo menos 84 vezes.

Isso conclui a cerimônia da árvore e é seguido do vestir de roupas limpas, mais um período de meditação e dedicação ao sacrifício que o operador realizará então.

Ritos de sacrifício do mago

O quarto que foi especialmente separado para o rito, ou especialmente limpo em preparação, é então escurecido. Um vaso de água e uma pequena tigela contendo arroz cozido são colocados na mesa, que serve de altar. Acima disso, uma lâmpada pendurada queima incenso e um pouco de pigmento amarelo, geralmente açafrão ou sândalo.

O operador então bate palmas ou estala os dedos diante das portas e janelas, "selando-as" contra maus espíritos. Um círculo imaginário é também desenhado diante da porta.

Duas pequenas imagens - uma do mágico, outra para abrigar os espíritos do sacrifício em sua aparição - são então feitas de lama e água, e colocadas um pouco diante de uma chama. Elas compreendem assim os elementos fogo, terra, água e ar.

Evocação do espírito

O mago se senta no chão diante do altar em que colocou as figuras. Cruza as pernas e passa alguns minutos em reflexão. Com o polegar direito ele tapa a narina direita. A palavra mágicka “yoom” (inhóm) é então pronunciada em voz alta 16 vezes. A cada repetição da palavra, o invocador deve se concentrar no espírito que se quer invocar. Deve inalar profundamente pela narina esquerda, imaginando também que seu corpo está desintegrando e que ele está se tornando tão puro e incorpóreo como um espírito. Quando 16 ou mais repetições da palavra se completaram ele fecha ambas as narinas com o polegar e indicador da mão direita. Segurando a respiração tanto quanto possível ele entoa a sílaba mágica “room” seis vezes. Teoricamente ele deverá ter atingido o estágio em que não lhe é necessário respirar. Na verdade, "o espírito aparece mesmo que se respire".

O próximo passo é a pronúncia da palavra todo poderosa “loom” 32 vezes. "Sua alma deixará então o corpo. Ela se fundirá ao espírito lunar e depois retornará ao corpo. Ao recobrar sua consciência, você descobrirá que o espírito invocado apareceu e se localizou em sua morada temporária na figura de barro preparada para ele."

Cuidando de não fazer nenhum erro no ritual sai o mágicko do transe, repetindo três vezes “oom” e nove vezes “yoom”. Olhando a fumaça do incenso o estudante invoca o espírito:

“Ó poderoso espírito de Darmapala! Grande e nobre! Eu vos invoquei e vós aparecestes! Eu providenciei um corpo para vós - um corpo feito de meu próprio corpo. Estais aí? Vinde, manifestai-vos nessa fumaça; partilhai daquilo que ofereci como sacrifício por vós!

O livro prossegue contando como aparecerá a forma do espírito na fumaça e tomará um pouco da oferenda de arroz. Ele trará então qualquer espírito que se queira, inclusive o de antepassados. Darão conselhos e responderá qualquer pergunta que lhes seja feita.

Quando "respostas devidas sobre assuntos naturais e sobrenaturais" já foram recebidas, o mago apaga a lâmpada. Os espíritos, continua o livro, ficarão ainda um pouco, conversando entre si, e muita sabedoria se pode aprender de sua conversação. Depois de partirem, o operador pode reacender a lâmpada e levantar-se.

Ele então removerá as cobertas das portas e janelas e informará os maus espíritos (que foram obrigados a permanecer nos círculos mágicos) que estão livres de novo. Só depois disso ele pode comer.

Depois de terminar sua refeição o sábio lava as mãos, gargareja 12 ou mais vezes e come nove folhas de hortelã. Depois disso é preciso praticar uma ação piedosa. E isso assume geralmente a forma de ser caridoso com os pobres.

O mestre, entre os monges Bon-Po tibetanos é tido como possuidor - por meio de observâncias como essas - de poderes supremos e surpreendentes.

Para ele não existem deuses: pois todos os deuses e espíritos estão abaixo dele. Ele recebe seu poder do Ser Supremo. Ele pode, usando apenas sua voz, mudar o curso de rios, transformar cordilheiras de montanhas em desfiladeiros, produzir granizo, fogo, chuva e tempestades. Seu poder está em seu bastão: o bastão com sete anéis (ou nós). Ele comanda todos os espíritos do mal do mundo para dentro do círculo mágico, por meio de seu bastão. Até as estrelas estão sob seu comando.

O círculo mágicko do mestre - que pode ser desenhado na areia ou simplesmente descrito no ar com seu bastão - é um duplo círculo. Entre os dois há uma sucessão de triângulos entrelaçados.

A estranha e desconhecida doutrina hindu do akasa (espírito da vida ou espírito do poder) está na base de todos os fenômenos ocultos descritos ou tentados pela escola tibetana.

Em resumo - se é possível resumir-se tal assunto - akasa significa a força de que todos os espíritos fazem parte. É também fonte de todo poder. Existe, segundo afirmam os iogues, apenas uma substância da qual derivam todas as coisas. Leis naturais, tais como a gravidade ou o processo vital do homem ou vegetal, obedecem a certais leis. Essas leis não 'são fenômenos distintos ou diferentes: são apenas fases do akasa. Um mago oriental sustentaria que matéria e energia são a mesma coisa: apenas aspectos diferentes de akasa, que é o princípio de que são ambas compostas. Pesquisas recentes confirmaram essa convicção. Akasa num estado origina a vida animal. Em outro determina o movimento dos planetas. Uma forma ou estado dele pode ser transformado em outro. Assim para anular a força da gravidade basta carrega-lo com uma forma mais leve de akasa. Se você quer levantar uma carga de dez toneladas é necessário mudar o tipo de akasa presente na carga. Se as dez toneladas são de aço, você terá de transformar "akasa aço" em alguma outra coisa.

A ciência moderna admite com a teoria atômica que toda matéria é composta da mesma matéria-prima - eletricidade. Onde esta teoria oriental difere da ciência ocidental é no ponto em que os orientais afirmam que essa matéria-prima - akasa - pode ser mudada por meio da mente e não por métodos mecânicos. Incidentalmente, muito semelhante é o argumento filosófico árabe sobre a transformação dos metais. Sustentavam os alquimistas árabes que o ouro só podia ser feito pela concentração de um intelecto místico maduro e apropriado. Podia ser feito de qualquer coisa, mas transformar um metal em outro era mais fácil do que, digamos, tirar ouro da madeira.

No documento Tradição Bon Po (páginas 61-67)