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Medicina Oculta dos Vedas

No documento Tradição Bon Po (páginas 51-57)

Segundo o Atharva Veda a maioria das doenças pode ser curada com encantamentos.

Encantos contra dores:

A dor no pescoço (ou qualquer que seja a dor) desaparecerá. São estas as 55 dores e as 77 dores e as 99 dores: todas elas desaparecerão! Enquanto continua a repetição - que deve ser feita 70 vezes - 55 folhas da planta parasu são acesas com alguns pedaços de madeira em brasa. A seiva que sai das folhas é então coletada, na medida do possível, em uma vasilha e aplicada às dores.

Mas talvez mais atraente ao público em geral que gosta de encantamentos seja o seguinte, destinado a combater todos os males, a banir todas as doenças de qualquer origem:

Encanto contra todos os males:

“Livre-me, força má; por favor, 'livre-me, vítima infeliz de sua malícia! Deixe-me escapar dessa coisa má e ser feliz outra vez! Se não me libertar, então a abandonarei no próximo cruzamento, e você seguirá e tomará um outro! Vá, siga outro: tome o homem que é meu inimigo, ataque-o!

A manufatura desse encanto é complicada pelo ritual que suplementa as recitações. Elas são repetidas à noite, enquanto milho seco é peneirado e depois desprezado. No dia seguinte o invocador atira três oferendas de comida em água corrente, como sacrifício ao espírito dos mil olhos. Numa encruzilhada ele então espalha três porções de arroz cozido como isca para que entre o mal, antes de ir morar no corpo do inimigo a quem se destina.

Venenos, diz o Veda, podem ser combatidos por meio deste ritual. Primeiro é recitado o encanto, em voz baixa, reverenciando um ídolo que representa o deus-serpente Takshaka. Enquanto isso, o paciente toma uma pequena quantidade de água, enquanto água é também borrifada sobre ele. Essa água deve ter sido especialmente preparada mergulhando-se nela um pedaço da árvore krimuka. Em seguida, uma peça de roupa velha é aquecida e mergulhada em outro recipiente com água que o paciente tem de beber também. Alguns misturam as duas bebidas com manteiga clarificada e mexem a poção com lâminas de flechas envenenadas. Talvez não surpreenda o fato de se esperar que o paciente fique doente depois dessas cerimônias. Este é o encantamento a ser recitado:

“Brahmana, bebida do sagrado Soma, o de dez cabeças e dez bocas, deixava os venenos sem efeito. Eu anunciei, por toda a amplidão dos céus e da Terra, por todo o espaço, a força deste encanto. Garutamant, a águia, bebeu o veneno: mas não teve efeitos contra ela. Da mesma forma eu desviei a força do veneno, come uma flecha é desviada. Ó flecha, tua ponta e teu veneno não têm poder: igualmente, todos aqueles envolvidos na fabricação e uso deste veneno, eu deixei também impotentes. Mesmo os penhascos onde crescem as plantas do veneno tornaram-se sem poder diante de mim. Tudo deste veneno é negativo. Veneno, teu poder se foi!”

Encantos contra doença e demônios

O mago do Atharva tem de proteger contra doenças e demônios: as primeiras em função de seus clientes - muitas vezes reis antigos e suas famílias - os últimos porque podem afetar adversamente sua magia. O seguinte encantamento é tido como eficaz contra ambos os tipos de ameaça e também contra doenças causadas por espíritos malignos. Primeiro é feito um amuleto de madeira da árvore gângida e sobre ele é entoado o encantamento:

“Os videntes, falando em nome de Indra, deram Gângida aos homens. Ela foi feita remédio pelos deuses, desde o princípio, e destruidora de Vishkandha. Protegei-nos, Gângida, pois cuidamos de vossos tesouros; na verdade os deuses e os brâmanes fizeram-na proteção que anula as forças do mal! Eu me aproximei do mau-olhado do inimigo; Ó Mil Olhos, destruí todos eles! Gângida, sois nosso refúgio. Gângida me protegerá dos céus, da Terra, das plantas, do ar, do passado e do futuro. Devo ser protegido em todas as direções! Possa a todo- poderosa, protetora Gângida, deixar toda a magia dos deuses e dos homens fraca e impotente!

Essa citação, além de seu interesse como típico encanto de proteção hindu, revela que tal é o poder da árvore gângida que mesmo encantos lançados pelos deuses não têm efeito contra ela. Notamos aqui a magia surgindo com um poder quase próprio, força que parece existir à parte dás meramente "emprestadas" de deuses e homens. Esse é um ponto, penso eu, que tem sido insuficientemente notado por muitos cronistas da prática mágica. Já se disse que o feiticeiro típico primeiro apela para os deuses, depois repudia-os ou os ameaça se o encantamento não funciona. Isso ocorre também em conjurações dos judeus. Será isso certamente uma extensão da idéia de que o deus ou ser a que se dirige não é o mais alto poder invocado? Em códices mais recentes em que as fórmulas cristãs foram submetidas às mais primitivas, isso é muito claro. Igualmente, também, se poderia sustentar que ás

meramente como intermediários ou agentes do poder por cujo mandato a magia é exercida. Qual é esse poder maior? Pode ou não se referir ao desejo unitário subconsciente do homem? Isso levanta questões teológicas, mas pode resultar um campo de estudos fértil, se pelo menos os ocultistas ou mesmo os antropólogos se aventurassem além das trilhas conhecidas; isto é, se eles parassem de se contentar com meramente catalogar as observações de outros.

Em última análise deve-se notar que encantos e fórmulas sozinhos nem sempre são suficientes para efetuar uma cura. Isso explica por que vários encantamentos para o mesmo fim são prescritos nos registros mágickos. Se, portanto, um encanto não funciona, outro é experimentado e assim por diante até que se encontre a cura? Fizemos essa pergunta a um sacerdote brâmane sobre códigos mágickos do hinduísmo. Ele respondeu que esse era um método ocidental, empírico, de colocar o carro na frente dos bois. Segundo posições estabelecidas a cura não só é possível, mas certa. Pode ser, entretanto, que certas influências planetárias sejam apropriadas a um tipo de encantamento e não a outro. Ou pode ser que um tipo de demônio cause uma doença e outro tipo, outra. Esses fatos deveriam ser conhecidos de todos os praticantes da medicina oculta.

Daí a variedade de encantos e amuletos empregados em várias circunstâncias. Esse praticante citou então a seguinte alternativa de exorcismo para a doença:

Exorcismo da árvore varana

Esta doença deve ser cortada pela divina força da árvore Varana; assim também os deuses terminarão esta doença! Estou curando esta doença a comando de Indra, a comando de Mitra, e por Varuna e todos os deuses. Assim como Vritra suspendeu o fluxo destas torrentes eteinas, assim encerro esta doença nesta pessoa, com o poder de Agni Vaisvanara.

Certas plantas, assim como a água e a cevada, são adjuntos importantes ao poder dos encantamentos e amuletos. A fim de expor o poder latente desses objetos, eles têm de ser consagrados e "sensibilizados".

O próprio fato de o mago ter em sua casa esses elementos mágicos atrairá o poder oculto, que aumentará de intensidade dia a dia. Esta é a oração geral feita diante de água fresca e cevada:

“Esta cevada foi arada com força e foi usada em ramos de oito e de seis. Doenças serão curadas com ela. Assim como os ventos sopram para baixo, o Sol brilha para baixo, para baixo sai o leite da vaca, que se vá assim à doença (que pode ser curada com isto)! A água cura; a água leva a doença; a água cura todos os males; estas águas farão uma cura para vós!

Hino às plantas:

Quando plantas mágicas são colhidas frescas com propósitos curativos este hino é entoado sobre elas:

“Invocamos as plantas marrons, brancas, pintadas, coloridas e pretas; elas devem proteger esta pessoa dos males mandados pelos deuses: seu pai é o céu, sua mãe, a Terra, raízes e oceano. Plantas celestiais expelem doenças pecaminosas. As plantas que se espalham, plantas que crescem em arbustos, algumas de uma só vagem, e aquelas que são trepadeiras; essas invoco. Chamo as plantas que têm brotos, plantas que têm caules, aquelas que dividem seus membros, as que foram feitas pelos deuses, as fortes, que dão vida ao homem. Com a força que é sua, ó poderosas, com o poder e a força que são seus, com isso, ó plantas, livrem este homem de sua má saúde! Agora estou fazendo um remédio. As plantas gívala, naghrisha, givanti e a planta arundhati, que curam (doenças), estão florindo e eu as chamo para ajudá-lo. As plantas sábias devem vir aqui, elas entendem o que estou dizendo e podemos nos juntar para em segurança levar este homem à boa saúde. São os

bens do fogo, as filhas da água, elas crescem e recrescem, fortes, curativas, plantas curadoras, com mil nomes, todas trazidas aqui. Plantas espinhosas, expulsem o mal. Plantas que agem contra a bruxaria deverão vir aqui, plantas que foram compradas, que protegem animais e homens, elas virão. Os topos, os fins, os meios de todas essas plantas são embebidos de mel e todas elas devem, mesmo aos milhares, ajudar contra a morte e o sofrimento. O talismã feito de plantas é como um tigre; protegerá contra a hostilidade, curará todas as doenças. Doenças correrão com os rios...

Essas invocações continuam por muitas linhas. Invocando todos os tipos de deuses e poderes, falando de exemplos clássicos da mitologia indiana, onde grandes batalhas foram vencidas e perdidas, a trovejante voz do mago prossegue implacavelmente em seu esforço de juntar todos os poderes que pode invocar. Ao oscilar levando os quadris para frente e para trás, o brâmane tem de marcar com a cabeça o ritmo da recitação e deve sentir o poder derivado das plantas crescerem perceptivelmente no interior de seu corpo. Isso me foi descrito como uma sensação física real.

No documento Tradição Bon Po (páginas 51-57)