• Nenhum resultado encontrado

Seus Ritos

No documento Tradição Bon Po (páginas 57-61)

“Dedico-me a obter o poder e o conhecimento neste mundo e a promoção no outro mundo...” - Rito da Invocação da Árvore Asuvata.

Apesar da pouca pesquisa comparativa sobre os fundamentos da tradição oculta oriental e ocidental que tem sido feita por estudiosos imparciais, certos princípios importantes a esse estudo já foram estabelecidos. Talvez o mais surpreendente deles seja a estranha similaridade entre a escola grega antiga, os ritos dos cabalistas judeus e os discípulos arcanos do veda na Índia e os Códices Tibetanos.

Resultantes de uma abordagem mística às maravilhas conseguidas por meio da magia, todas essas escolas abarcaram em comum os ritos de purificação, vestimentas cerimoniais, encantamentos e ascetismo. A santidade do nome divino, cuja simples enunciação era reservada para ocasiões especiais, e três graus de iniciação constituem outra pedra de toque de sua prática oculta.

Que são as escolas mágickas orientais e como atingem seus objetivos? Em primeiro lugar, a Índia, China, Tibet, como qualquer outro país, está cheia de charlatães cujo principal objetivo na vida é meramente sobreviver através de prestidigitação ou truques, alguns dos quais extremamente engenhosos. Mas grande parte da população se dá à crença, senão à própria prática, da magia. Aqueles cuja única ocupação é

o estudo e a tentativa de utilizar a ciência oculta - como os sadhus e os faquires - se preparam com uma das mais rígidas e austeras disciplinas da história humana.

Ao mesmo tempo, seus "milagres" - que eu mesmo presenciei e tentei testar como cientificamente possíveis - parecem superar em âmbito, todo o resto.

Em resumo, a ciência oculta hindu repousa na crença de que o poder sobre toda e qualquer coisa da Terra pode ser obtido por meio de espíritos benignos. Assim como com os chineses, tais seres podem ser as almas dos falecidos ou simplesmente entidades sem corpo sob cuja supervisão estão as leis da natureza. Se, por exemplo, se deseja interferir com a lei da gravidade, o espírito que guarda essa lei deve ser invocado e pedida a sua ajuda. Esse tipo de experiência é considerado dos mais elementares; tão surpreendentes são os resultados obtidos por esses sadhus que sou quase levado à conclusão de que deve haver alguma lei natural ainda não descoberta no Ocidente, a qual permite que aparentes milagres sejam realizados por aqueles que sintonizam suas mentes nesta faixa.

Eis um caso interessante: nosso instrutor, um mago, iria demonstrar alguns truques a um grupo de pessoas do nosso círculo de estudos. Vestindo um traje comum, camiseta e jeans e trazendo apenas um bastão com sete anéis - o emblema ou varinha mágica dos ocultistas. Foram feitos vários testes. Primeiro foi pedido que fizesse uma cadeira levitar e flutuar no espaço. Franzindo as sobrancelhas em profunda concentração, ele fechou os olhos e estendeu ambas as mãos na direção da maior cadeira da varanda. Em dez segundos - marcados num cronômetro - a cadeira pareceu subir e, oscilando ligeiramente, flutuar realmente no espaço, a uma altura de cinco pés. Pessoas se aproximaram e a puxaram pelas pernas. Ela desceu para o chão; mas assim que soltaram subiu de novo. Perguntei se ele podia fazer-me flutuar com a cadeira. Ele assentiu com a cabeça. Puxando-a para baixo de novo - e a coisa agora parecia ter vida própria - sentei-me na cadeira e flutuei no ar.

Convencido de que havia alguma espécie de hipnose por trás disso, fiz com que ele elevasse toda a mobília do lugar. Depois lhe pedi que trouxesse flores de um jardim próximo - e elas apareceram. Não tínhamos uma câmara fotográfica, senão essa teria sido uma oportunidade de testar o assunto de uma vez por todas. Mas eu não podia acreditar que a hipnose, tal como nós a conhecemos, pudesse existir ali. Em primeiro lugar, a indução ao estado hipnótico teria sido incrivelmente rápida; em segundo lugar, mesmo enquanto os fenômenos estavam ocorrendo, eu não podia me fazer acreditar que eles fossem genuínos. Eu não parecia estar de forma alguma “en rapport” com o mago, pois podia facilmente voltar à minha lista prévia de fenômenos e pedir-lhe que me fizesse mais alguns. Mas o que finalmente dissipou minha suspeita de que a hipnose enquanto tal estivesse sendo usada foi o seguinte: pedi que me descrevesse o conteúdo das próximas duas cartas que eu recebesse e ele o fez corretamente. Em seguida, pedi-lhe que me trouxesse imediatamente um objeto pertencente a minha namorada, uma corrente com um símbolo egípcio do olho de Horus. E o objeto apareceu. Na manhã seguinte, enquanto eu tomava o café da manhã, ela me ligou me contando sobre sua perda, no que imediatamente eu disse que não se preocupasse porque estava comigo. Ela estava um pouco confusa. Disse ele ter sonhado comigo na noite anterior que me tinha emprestado a corrente. Que pensar? Meu instrutor veio, conforme disse, "para demonstrar os poderes que vêm a um homem que segue genuinamente o caminho da virtude". Hipnose, materialização e vidência.

Essa experiência é representativa de grande número de experimentos que eu e vários outros estudiosos da tradição oculta realizamos durante um período de quase 8 anos. Alguns traços gerais da minha prática mágicka surgiram desse estudo.

Em primeiro lugar, parece possível, se não provável, que certo número de magos pode induzir de fato fenômenos que seriam classificados como sobrenaturais. Qual a natureza de seu poder, qual a

à conclusão de que temos de conceber a existência de alguns princípios cujo controle se torna possível através das disciplinas dos sacerdotes magos orientais em geral. Pode ser oculto, desde que qualquer coisa não compreendida pode ser chamada de oculto: é muito mais provável que sejam forças, talvez afins ao magnetismo ou eletricidade, ou formas disso, cujas funções ainda não é compreendida pela ciência. Afinal sabemos muito pouco sobre a natureza da eletricidade ou do magnetismo, ainda hoje. Sabemos como usar essas forças e sabemos o que elas podem fazer. No entanto, foram conhecidas durante séculos antes de serem controladas. O que coloca essa "força oculta" numa posição ligeiramente diversa é o aparente fato de que seu uso é feito através de controle mental.

Notem que na minha narrativa existem três tipos de fenômenos mágickos em ação. É possível que houvesse uma espécie de hipnose de estalar os dedos e que isso pudesse ser induzido em questão de segundos ou minutos, à vontade do operador. Entre uma e outra (isto é, quando liberado pelo mago) se sente bastante normal, como eu. Em segundo lugar, a previsão quanto ao conteúdo das cartas. Isso é difícil de avaliar mas não é faculdade desconhecida - suspeito que apenas não reconhecida. Depois há o problema de "projeção da matéria": quando a corrente foi aparentemente trazido duma distância sob circunstâncias misteriosas e por meio de um poder desconhecido. É interessante também que minha namorada parecia estar sob a impressão de que eu o emprestara.

Por outro lado, pode muito bem ser que um dia se inventem máquinas capazes de controlar esse estranho poder ou força. De minhas observações pessoais dos estados de transe dos praticantes, concluo que a maior barreira para o estudo objetivo desse poder é a carência de cientistas dispostos a se submeter ao rigoroso treinamento necessário aos adeptos.

É verdade que os sadhus dizem que seu poder vem diretamente dos espíritos, que eles não possuem em seu íntimo nenhuma habilidade especial, exceto a de concentração. Ao mesmo tempo um homem pode acreditar que o fogo seja um espírito e mesmo assim ser capaz de usá-lo a seu bel-prazer. Isso parece indicar a possibilidade real de algum principio ou força, cuja natureza não é inteiramente compreendida, usado por parte dos magos hindus.

Seja qual for à verdade desses fenômenos, a seguinte dissertação dá detalhes da iniciação e disciplina do sacerdotado Bon-Po, segundo o seu tratado mágicko.

No documento Tradição Bon Po (páginas 57-61)