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A influência da cultura doméstica inglesa e o desenvolvimento do

Raumplan

2.3.

No final de 1913, no mesmo ano que desenhou a Casa Scholl, Josef Frank desenhou uma casa de campo para o industrial Hugo Bunzl, o qual lhe havia pedido não só para desenhar a casa com também os seus interiores, incluindo o mobiliário.122

Situada numa clareira no topo de uma colina, a casa de dois pisos e com um telhado de quatro águas foi, excluindo as chaminés e as lareiras (construídas em tijolos), completamente construída em madeira. As paredes exteriores são compostas por toras quadrangulares de 13 centímetros de espessura, reforçadas no interior da fachada mais exposta às intempéries por uma camada de cortiça.123 À primeira vista, o telhado e a composição casual

sugerem a influência de estilos vernaculares. Contudo, num olhar mais atento torna-se aparente outra influência: a chaminé inclinada, o arranjo assimétrico e o telhado demonstram a influência das Arts & Crafts inglesas.

Apesar da influencia directa dos modelos ingleses, Josef Frank estava mais interessado em aprender e aplicar os princípios subjacentes desta arquitectura. Como referido no primeiro capítulo, estava especialmente interessado nas ideias de Mackay Baillie Scott e a Casa Bunzl pode ser lida como uma primeira tentativa de interpretar as ideias do seu livro Houses and Gardens. Neste livro, traduzido para alemão em 1912, Baillie Scott explica que a funcionalidade e o conforto se sobrepõem ao estilo e ao carácter

representacional como temas centrais no desenho de uma casa. Na década de 1890, Baillie Scott começou a experimentar as possibilidades de uma nova espacialidade abrindo os seus interiores de modo a proporcionar um espaço ininterrupto para as actividades diárias. A casa moderna, escreveu ele, é 122 Christopher Long, Josef Frank Life and Work, Chicago: University of Chicago Press, 2001, p.32. 123 Josef Frank, Das neuzeitliche Landhaus, in Josef Frank. Schriften - Band 1, Viena: Metroverlag,

81 meramente um cottage de espaços, que equilibra as opostas qualidades da

privacidade e abertura do espaço.124

Os compartimentos de uma casa não deviam ser apenas bem desenhados e organizados em relação com as suas funções, como também é importante que as zonas de circulação (...) sejam cuidadosamente estudadas e organizadas sem grande desperdício de espaço.125 A casa, escreveu Baillie Scott, não é um

contentor racional mas um amontoado de conveniências.126

Com a falta de pretensão e enfatizando o conforto, a Casa Bunzl cumpre a concepção de Baillie Scott de que a casa deve responder às necessidade sentimentais e fisiológicas dos seus habitantes. O mobiliário que Josef Frank utiliza é modesto, com o propósito de criar um atmosfera agradável e hospitaleira. O ritmo das vigas no tecto, tapetes orientais e mobiliário estofado criam uma atmosfera de leveza e conforto. Os espaços são abertos e arejados. Num artigo na revista Innen-Dekoration, de 1919, intitulado Das neuzeitliche Landhaus (A casa de campo moderna), no qual descreve a Casa Bunzl, Frank explica:

Era a minha intenção ligar os espaços sociais do rés-do-chão com o jardim através de grandes portas de vidro e de abrir os quartos de dormir, no piso superior, para todos os lados da casa através de varandas.127

124 Mackay Bailie Scott, Houses and Gardens, Londres:George Newnes Limited Southampton St.

Strand, 1906, p.7.

125 Ibidem, p.10. 126 Ibidem.

127 Josef Frank, Das neuzeitliche Landhaus, in Josef Frank. Schriften - Band 1, Viena: Metroverlag,

2012, p.146.

51 Josef Frank, Casa Bunzl, Pernitz, 1913. Fachada Sul.

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Josef Frank continua este texto salientando a sensação de leveza que

consegue proporcionar pintando a maior parte das paredes interiores e tectos de branco e utilizando mobiliário sem qualquer decoração. O mobiliário foi colocado independentemente no espaço; para evitar qualquer sensação pesada, são construídos de diversos materiais. A madeira não é nem polida nem pintada, para que nenhuma frescura e caráter natural se percam. De modo semelhante, as cortinas nas janelas e os abajures são brancos para que a luz possa entrar no espaço com a sua cor natural. (…) Os tecidos e tapetes apresentam várias cores, como o jardim para lá das janelas, mas no geral o vermelho e o amarelo prevalecem, proporcionando, assim, um contraste confortável com a vasta extensão do céu e da floresta em todos os lados da casa.128

A atmosfera de informalidade e conforto é igualmente evidente em toda a organização da casa. Os espaços são amplos e na maior parte das vezes irregulares. A sua organização, apesar de clara e bem formulada, parece ser casual. Frank apoia-se nos seus precedentes Ingleses e Americanos, especificamente no desenho livre e informal que os arquitectos

experimentaram nas suas casas da segunda metade do séc. x1x, nas quais tentaram caracterizar os movimentos pela casa de tal modo que se fossem feitos como que de passeio, relacionando cada um dos espaços com os outros. Frank reforçou este aspecto espacial relacionando os espaços igualmente com terraços e varandas, fomentando uma sensação de continuidade espacial, 128 Josef Frank, Das neuzeitliche Landhaus, in Josef Frank. Schriften - Band 1, Viena: Metroverlag,

2012, p.148. 52 Josef Frank, Casa

Bunzl, Pernitz, 1913. Sala de estar.

83 tanto dentro da casa como entre o interior e o exterior. Esta foi uma ideia à

qual voltou repetidamente em todo o seu trabalho e tornou-se num dos seus princípios fundamentais da organização do espaço nas suas casas posteriores. Na escolha das sua preferências Josef Frank, mais uma vez, se orientava por Adolf Loos. É por essa razão que se podem encontrar as mesmas referências no trabalho de ambos os arquitectos.

Entre 1893 e 1896, Loos viajou pelos Estados Unidos da América onde procurou conhecer o estilo de vida americano.129 Mais tarde também visitou a

Inglaterra,130 interessando-se intensamente pelas casas inglesas progressivas,

tais como aquelas que Hermann Muthesius descreve no seu livro Das Englische Haus (A casa Inglesa), muito apreciado por Josef Frank.131 O seu

interesse nestas casas focava-se principalmente nas diferenças de níveis e pés-direitos entre os compartimentos, a relação e abertura dos espaços, tanto no sentido horizontal como vertical, as grandes escadas, com patamares espaçosos que se abrem para os espaços, as galerias nos corredores, as janelas de sacada e os nichos para repouso nas zonas de lareira das salas de estar. As particularidades desta arquitectura foram apropriadas por Adolf Loos no desenho dos seus interiores, desenvolvendo a partir delas aquilo a que mais tarde o seu discípulo Heinrich Kulka, definiria como Raumplan. Através de Loos nasceu uma significativa nova ideia de espaço - o pensamento livre de compartimentos que se encontram em diferentes níveis, dentro de uma composição harmoniosa de espaços. Estes espaços não têm apenas diferentes tamanhos como também diferentes alturas, segundo as suas funções e significados. Através deste sistema, Loos consegue criar mais área habitável, isto é, dentro de uma forma cúbica ele consegue integrar mais espaços, utilizando ao máximo o volume construído. Porém, para além dos factores funcionais e económicos, uma das principais razões pelas quais utiliza este sistema é pelas extraordinárias qualidades espaciais que a partir dele consegue criar - o dimensionamento cuidado da luz e da sua utilização e os movimentos e percursos organizados entre os espaços em diferentes níveis e com diferentes relações.

Como pudemos ver no primeiro capítulo, a Casa Beer, com os seus múltiplos níveis e espaços que se unem uns aos outros, é reminescente das casas de Adolf Loos do mesmo período, desenhadas segundo o Raumplan. De facto, muitos dos elementos dos projectos arquitectónicos de Loos, desenhados entre os anos 20 e 30, também se encontram em muitos dos projectos de Josef 129 Stefan Neubig, Das Wohnen als Ziel des architektonischen Entwerfens (texto policopiado),

Dresden: [s.n.], 2008. Tese de doutoramento, p.112.

130 Ibidem.

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Frank do mesmo período: alturas e dimensões diferenciadas entre os espaços que se desenvolvem em diferentes patamares e escadas que fazem parte fundamental do desenho destes espaços.

Por volta de 1920 o trabalho de Josef Frank começou a desenvolver---

-se com algumas mudanças notáveis. Rejeitando a corrente radical do movimento moderno, os seus projectos e edifícios mostram uma procura pela simplicidade e pureza. Mais importante que isso, também mostram o seu interesse crescente em demonstrar as possibilidades de uma nova e complexa visão espacial; uma investigação que culminou com um dos mais interessantes projectos residenciais daquele tempo, a Casa Beer, e a noção de “casa como percurso e lugar”.

Entre 1925 e 1928, Frank desenvolveu mais de uma dúzia de projectos residenciais. Nenhum deles foi construído e pouco se sabe sobre as

circunstâncias em que foram feitos. É mesmo incerto se Frank teria clientes para muitos deles, ou se os desenhos são meras experiências conceptuais. Para quase metade destes projectos já não existem plantas, pelo que as organizações espaciais dos seus interiores não podem ser completamente percebidas. Mais que isso, apenas alguns deles estão datados com exactidão, tornando impossível estabelecer uma sequência cronológica entre eles.132

Entre estes projectos encontra-se uma casa e escola de dança em Tel Aviv, que foi publicada pela primeira vez na revista Moderne Bauformen, em 1927. O desenho da fachada apresenta uma elegante variação entre massa e vazio e um padrão elaborado na colocação dos vãos. Em planta, este projecto é mais 132 Chritopher Long, Josef Frank Life and Work, Chicago: University of Chicago Press, 2001, p.130. 53 Josef Frank, Casa

Ornstein, Tel Aviv, 1927.

Plantas, corte e alçados do projecto.

54 Adolf Loos, Casa Tristan Tzara, Paris, 1923.

Plantas, corte e alçados do projecto.

85 ambicioso que qualquer outro que Frank havia desenvolvido anteriormente.

Organizou os espaços numa série de diferente níveis, estabelecendo ligações entre eles através de diferentes escadas com comprimentos variados. O rés-do-chão da casa divide-se em duas zonas: do lado esquerdo do hall exterior e no fundo encontram-se os espaços que se destinam à escola de dança, do lado direito está a entrada para os espaços da casa que se encontram no último piso. A partir da rua, o percurso principal passa pelo terraço de entrada e o hall exterior, pela grande sala de dança de pé-direito duplo, que se estende entre as paredes laterais do edifício, até ao jardim nas traseiras. Um segundo percurso estende-se do hall exterior para a entrada da casa, onde a partir de uma escada em caracol se sobe para a cozinha, a sala de jantar e para os quartos. Entre o rés-do-chão e o piso da casa está um piso intermédio, o qual se liga com o escritório do rés-do-chão por uma estreita escada em caracol. Este piso intermédio, que contém um segundo escritório, não só serve como ponto de observação através de uma varanda que se eleva sob a sala de dança, como também divide o volume da casa, possibilitando espaços com variados pés-direitos no piso de entrada.

Ao analisar cuidadosamente esta casa, que viria a ser conhecida pelo nome do cliente que a encomendou, Ornstein, podemos encontrar semelhanças com a Casa Tristan Tzara de Adolf Loos, em Paris, concluída em 1923. De facto a volumetria da Casa Ornstein partilha grandes semelhanças com esta casa de Loos, nomeadamente com a sua base em pedra, que recebe os três primeiros pisos. Efectivamente, também esta casa está, em ambos os lados, ladeada por edifícios e a entrada para dentro da casa também se inicia por um hall exterior; do lado esquerdo estão os espaços mais funcionais, a garagem, e

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do lado direito encontra-se a entrada a partir da qual também se sobe por uma escada que, depois de passar por dois pisos que não se destinam à família, nos leva aos espaços da casa. No corte estas semelhanças tornam-se evidentes. Tanto Frank como Loos desdobram a volumetria em terraços e em ambas as casas uma escada em caracol serpenteia deste a entrada até aos espaços da casa. No desenho das plantas encontram-se igualmente algumas relações entre estes dois projecto. Frank também divide, esquematicamente, a planta em três partes e tal como Loos, desenha uma grande sala no fundo do edifício que se relaciona com o exterior e com os espaços num nível acima; no caso da Casa Tristan Tzara esta sala partilha uma relação franca com a sala de jantar; na Casa Ornstein esta sala relaciona-se discretamente com o piso intermédio a partir da varanda. No entanto, ao contrário daquilo que acontece na casa de Paris, esta sala não se destina à família e a sua altura engloba dois pisos. O desenho de Josef Frank parece interpretar os elementos da casa de Paris, adaptando-os e criando um desenho que, mais uma vez, parece mais simples e aberto que o de Adolf Loos.

Frank desenvolve estas ideias espaciais numa outra casa no décimo terceiro distrito de Viena. A primeira impressão da Casa para Viena x111, a partir de uma perspectiva desenhada por Frank, é a de uma estrutura com três pisos, com a parte da frente da casa elevada em estreitos pilares. Contudo, a partir das plantas e cortes da casa entendemos que, na verdade, os espaços se desenrolam em seis níveis diferentes. Algumas destas variações de nível surgem pela tentativa de acomodar a casa ao desnível do terreno. Desse modo, Josef Frank divide a casa em duas secções separadas, com um pátio elevado no centro. Os espaços destas duas zonas diferenciam-se em pé---

55 Josef Frank, Casa Viena x111, Viena. Perspectiva da fachada principal.

56 Josef Frank, Casa Viena x111, Viena. Plantas, corte e alçado do projecto.

87 -direito; o hall no centro da casa, por exemplo, estende-se por piso e meio.

Os diversos níveis correspondem às divisões funcionais dentro da casa. Por baixo do escritório, num piso intermédio entre o piso de entrada e a cave que contém a lavandaria e outros espaços de serviço, encontra-se a cozinha; na parte traseira do piso de entrada, os principais espaços de estar. Nos pisos superiores encontram-se os quartos.

Tal como na Casa Ornstein as variações de nível são ligadas por uma série de escadas, que proporcionam variadas possibilidades de circulação para e dentro da casa. Desse modo a escada do terraço de entrada sobe pelo pátio suspenso, até ao terraço no piso dos quartos; a partir da entrada principal no terraço de entrada, entra-se no hall; aqui, pode-se subir a escada que se desenvolve, passando pelo escritório e uma sala de estar num nível acima, até ao piso dos quartos no qual o terraço do 1º piso se abre para a paisagem. Frank, indubitavelmente, conhecia as casas de Loos, contudo é incerto até que ponto foi influenciado por elas. Apesar de ter começado a desenvolver este sistema, realizando experiências para libertar a planta livremente no espaço (Das lösen eines Grundrisses em Raum133) ainda antes da Primeira

Guerra Mundial, Loos apenas desenvolveu esta ideia por completo relativamente tarde na sua vida. Como aponta Long, aliás, é importante salientar que o impulso no desenvolvimento destas ideias não surgiu inicialmente de Loos, mas sim do seu colega de faculdade Oskar Strnad. Estes três arquitectos influenciaram-se nos precedentes ingleses do final 133 Adolf Loos, Josef Veillich, in Adolf Loos. Escritos 2, 1910/1932, Madrid: Biblioteca de

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do séc. x1x. Salões que se desenvolvem em diferentes pisos, mezzanines e escadas sinuosas, não só se encontram nos seus trabalhos habitacionais, como também partiam das características do desenho, casual e assimétrico, do período inglês do estilo livre inglês (English free style), um movimento dentro das Arts & Crafts (Artes e ofícios), no qual se inseriam arquitectos como Mackay Baillie Scott, cujo desenho se caracterizava pela notável informalidade dos espaços, pela organização funcional e agregadora dos espaços interiores e pela procura da adaptação do edifício às condições locais.

As experiências iniciais do desenho segundo o Raumplan, de Adolf Loos, como a Casa Rufer, de 1922 e Moissi, de 1923, poderão certamente, contudo, ter tido influência no trabalho de Josef Frank. Algumas características da Casa Rufer, como o seu perfil cúbico e a introdução de diferentes patamares, também aparecem nos projectos de Frank, por exemplo na Casa Scholl, apresentada anteriormente. No entanto, Long acredita que os projectos de Frank, parecem mesmo antecipar, em alguns momentos, as casas de Loos. A Casa Ornstein e o projecto para a Casa Viena x111, de Josef Frank, nas quais, como indica Long, as ideias de Raumplan já estão mais desenvolvidas que nas Casas Rufer e Moissi, de Adolf Loos, foram desenhadas, provavelmente, no final do ano 1926 ou início de 1927, no momento em que a Casa Moller ainda estava a ser desenvolvida.

Se foi Frank que se inspirou em Loos, ou o contrário, certo é que existem muitos pontos de convergência nos projectos residenciais destes dois arquitectos. Talvez o mais notório seja a forma como desenvolveram os 57 Adolf Loos, Casa

Rufer, 1922, Viena. Alçados, corte e plantas. 58 Adolf Loos, Casa Moissi, 1923, Veneza. Alçados, corte e plantas.

89 seus compartimentos. Ao contrário de alguns projectos que se seguiriam

nas décadas posteriores, nos quais os espaços não são compartimentados, Frank e Loos, mesmo por vezes sem paredes mas com o recurso a escadas, continuaram a manter as divisões entre os compartimentos e os espaços, o que lhes permitiu criar organizações discretas e diversas. Deste modo os compartimentos não se fundem uns com os outros; eles apenas criam relações, mantendo as suas identidades. Nesse sentido, o desenho de Raumplan, implica não só a posição de um espaço em relação aos outros, como também a criação de ligações entre eles.

É a forma como materializam estas ideias, contudo, que mais distingue estes dois arquitectos. Os espaços nas casa de Frank são muito menos definidos que nas casas de Loos. Ao contrário de Loos, Frank não utiliza materiais para revestir as paredes, sendo que nos seus compartimentos a cor branca, que nem demarca nem obstrui a progressão espacial, é a escolha de eleição. Os dois arquitectos divergem igualmente nas razão pelas quais utilizam estas ideias espaciais. Para Frank, este esquema servia apenas para gerar espaços agradáveis e afectivos, para criar um pano de fundo adequado à vida e às necessidades dos seus habitantes; Loos, partilhava esta justificação, contudo acrescentava outra razão; para ele, o Raumplan servia para poupar espaço, ou seja, a posição e a altura dos espaços eram considerados também por razões económicas. Adolf Loos, argumentava que este dispositivo lhe permitia incluir espaços, que de outra forma seriam desperdiçados.134 Josef Frank, não

concordava com estes argumentos, considerando que as bases económicas do 134 Chritopher Long, Josef Frank Life and Work, Chicago: University of Chicago Press, 2001, p.134.

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Raumplan de Loos eram simplesmente um disparate, porque, na verdade, não permitiam dividendos reais de espaço.135

Contudo, o ponto de divergência mais significante entre estes dois arquitectos envolve a forma como criavam as ligações entre os espaços. Nas casas de Loos, apesar dos espaços estarem desfasados, as passagens de um espaço para o outro ocorrem directamente, quer através de uma soleira quer

através de uma escada. Frank, pelo seu lado, tipicamente separa os espaços individuais utilizando antecâmaras que se estendem. No lugar da progressão constante que sentimos nas casas de Loos, as sequências espaciais

nos projectos de Frank são, frequentemente, pontuadas com percursos prolongados. Deste modo, a planta é dividida numa rede de espaços e

corredores que estabelecem as ligações. Esta noção já está desenvolvida nos projectos dos anos 20 de Josef Frank, tornando-se ainda mais pronunciada na Casa Beer, de 1930.

O seu desenvolvimento da noção de Raumplan não foi motiva apenas pela tentativa de proporcionar maior liberdade como também pela sua convicção de que os espaços numa casa devem surgir e refletir a vida quotidiana dos habitantes, sempre em mudança. No seu texto Das Haus als Weg und Platz (A casa como percurso e lugar), escreve:

Toda a procura pelo apartamento moderno e a casa moderna tem no seu coração o objectivo de libertar as pessoas dos seus preconceitos burgueses, proporcionando-lhes com as possibilidades da vida boémia. A casa bonita e bem organizada, seja num estilo novo ou velho, deverá no futuro tornar-se num pesadelo.136

Ao invés de rejeitar o passado, Frank procurou formas antigas. A sua ideia de percurso e lugar, surgiu tanto da cidade pré-moderna como da organização

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