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O propósito original perdido2.2.

Josef Frank entende que no seu tempo existe a necessidade de encontrar o propósito original perdido93, em oposição a uma arquitectura (moderna)

contemporânea decorada com todos os ênfases, intrusivos, na teoria, funcionalidade, construção e psicologia.94

Este propósito original, a tradição, não é entendido por ele dentro de uma tradição formal, uma compreensão inconsciente de uma determinada forma no sentido de uma maneira de pensar e a sua necessária e consequente aplicação.95 Pelo contrário, entende a tradição a partir do modo de pensar

da antiguidade, que sacrificaria imediatamente a forma pelo conhecimento, sempre consciente de que o homem está no centro de todas as coisas e que a partir dele novas formas são criadas.96 Nós reconhecemos que as formas da

antiguidade (formas no seu sentido mais lato) são as únicas e mais óbvias formas, cujos símbolos entendemos e cujo processo de pensamento, que levou à sua criação, é a nossa tradição.97

Como fundamentos essenciais toma as regras das proporções, que para qualquer novo organismo arquitectónico precisam ser novamente desenvolvidas.98 Josef Frank vê como finalidade da arquitectura colocar em

permanente concordância forma e conteúdo,99 numa tentativa de colocar todas

as partes de um todo em harmonia. A par das proporções do Homem, Frank também se apoia nas suas dimensões. Não é um reportório de formas que lhe interessa mas o desenvolvimento orgânico de uma forma com sentido e desenvolvimento natural que, mesmo podendo ser geometricamente

93 Josef Frank, Architektur als Symbol, in Josef Frank. Schriften - Band 2, Viena: Metroverlag, 2012,

p.158. 94 Ibidem. 95 Ibidem, p.176. 96 Ibidem, p.176/178. 97 Ibidem, p.172. 98 Ibidem. 99 Ibidem.

71 imperfeita, ao contrário da forma linear, geométrica e calculada, não

permanece constrangida e sem vida.100

Neste sentido, a tradição da antiguidade significa a procura do desenho orgânico do material inânime. Esta tradição dominará a nossa cultura enquanto o Homem for a escala para todas as coisas.101

Frank chegou a estas ideias a partir de um postulado conhecido desde a antiguidade. Vitrúvio, na descrição de um templo, apontou como o Homem serviu como principal exemplo no desenho das colunas. Na aplicação destes ensinamentos das proporções o Homem não está só como medida para todas as coisas; desde Vitrúvio que se compreende que as colunas não só têm as proporções humanas, como também o seu carácter, isto é, um sentido físico mas também espiritual. A referência das proporções e dimensões humanas e de uma natureza formal que se relaciona com o Homem, tendo por base o entendimento humanista do mundo, representa um elemento importante no desenho de Josef Frank.

Tradição significa um caminho com o qual se resolvem problemas de forma através do pensamento da antiguidade. Esta maneira de resolver os problemas através da tradição constitui a base do seu desenho.

O Homem, como referência, tem ainda outro significado. Para além das regras sobre o desenho tendo em conta as proporções e dimensões do Homem e a sua adequação, o entendimento sobre a vida quotidiana representa

a imprevisibilidade do comportamento humano. Outra característica da sua posição perante o desenho é aquilo que caracterizou como Lebendich, que poderá ser traduzido como vivo, vitalidade ou aquilo que torna a sua arquitectura viva. Com este termo, Frank refere-se, num sentido mais amplo, ao Homem e à irregularidade que decorre da vida:

Quem hoje quer criar algo vivo (Lebendich) tem que utilizar tudo aquilo que existe nos nossos dias. Todo o espírito da época, incluindo toda a sua sentimentalidade, os seus exageros e a falta de gosto, que pelo menos estão vivos (Lebendich).102

Estas coisas vivas, sobre as quais fala, significam os vestígios do habitante e do habitar, as quais, na maior parte do tempo, o arquitecto não controla. Ele não exige apenas que a arquitectura inclua estes vestígios como determina que devem fazer parte da genuinidade de uma casa.

Josef Frank define a tradição do classicismo antigo como um desenho 100 Josef Frank, Zum Formproblem, in Josef Frank. Schriften Band - 2, Viena:Metroverlag, 2012,

p.212.

101 Josef Frank, Architektur als Symbol, in Josef Frank. Schriften - Band 2, Viena: Metroverlag,

2012, p.34.

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que reflete uma visão humanista do mundo, como a criação de formas orgânicas em todas as situações. A arquitectura é definida por aquilo que já foi desenvolvido - a tradição - e por aquilo que não é controlável - a imprevisibilidade da vida. Para ele, isto é arquitectura moderna.

Moderna é a casa que acomoda tudo aquilo que existe no nosso tempo e que por isso continua como uma construção orgânica.103 A tarefa construtiva e a

sua solução existem lado a lado. O objectivo da arquitectura é incluir no seu pensamento aquilo que vive, é necessário e desejado.104

Tradição tem a ver com o pensamento e a sua compreensão. Nesse sentido, formas tradicionais de pensar podem ser utilizadas na resolução de

problemas, pois muitos deles não são novos, correspondendo a necessidades básicas do Homem desde há muito tempo. Uma e outra vez, devido às mudanças contextuais, estes problemas encontraram as suas soluções orgânicas com base nas experiências diárias das pessoas. O reconhecimento da forma de pensar e da forma de resolver problemas, que se desenvolveram ao longo do tempo, representa o acolher da tradição. Frank tem uma relação metafísica com a tradição, uma compreensão que transcende a natureza física da arquitectura e se relaciona com a forma de pensar.

Frank não reconhece a tradição deste modo por acaso.

No curso de arquitectura da Technische Hochschule de Viena, cujo programa se havia mantido desde as gerações passadas, as cadeiras de história tinham uma grande importância. O decano Carl König (nascido no mesmo ano que Otto Wagner, em 1841) era um importante representante da Stilarchitektur e lecionava a cadeira de arquitectura clássica e renascentista. König

tornou-se no professor que mais influência exerceu no pensamento arquitectónico de Josef Frank. Nas suas aulas, através de palestras e do desenho dos exemplos do passado, nos quais tentava aplicar os princípios de desenho da antiguidade em edifícios contemporâneos, sublinhava a importância do Classicismo grego e da Renascença italiana como as fundações da tradição ocidental. No espírito de Viollet-le-Duc e Gottfried Semper, os quais admirava, König argumentava que era essencial, para a produção de qualquer tipo de arquitectura contemporânea, o estudo, cuidadoso e cientificamente correcto, da história da arquitectura. Contudo, criticava a utilização sem critério das formas das culturas passadas como se estas fossem produtos de catálogo. Defendia uma arquitectura criada a partir da relação intensa e sincera com as construções históricas tendo em 103 Josef Frank, Architektur als Symbol, in Josef Frank. Schriften - Band 2, Viena: Metroverlag,

2012, p.134.

104 Josef Frank, Architektur als Symbol, in Josef Frank. Schriften - Band 2, Viena: Metroverlag,

73 consideração as necessidades da vida moderna. No entanto considerava as

tentativas dos arquitectos modernistas de criar uma linguagem arquitectónica completamente nova, absurdas e vazias, visto que o entendimento das formas arquitectónicas como produtos da fantasia significaria que estas formas não teriam nenhum conteúdo empírico. Para ele, a razão pela qual se deveria estudar os elementos da arquitectura histórica não era apenas para os copiar mas para descobrir e entender como a arquitectura se desenvolveu. Apenas com este conhecimento histórico, entendia ele (e Josef Frank mais tarde), é que o arquitecto moderno poderia aplicar as qualidades desta arquitectura num novo sentido. Durante os estudos de Josef Frank, König foi reitor da universidade, deixando muitas das tarefas e do acompanhamento diário com o seu assistente Max Fabiani.105

Fabiani nasceu em 1865 e era um arquitecto italiano. Considerava que o progresso era importante e sublinhava a importância e o significado da

simplicidade no desenho da arquitectura. Trabalhou alguns anos no escritório de Otto Wagner, produzindo sob a sua influência, produzindo alguns dos primeiros exemplos da estética funcionalista. Apesar de, a seguir ao início do novo século, regressar a uma linguagem neo-barroca, a continuidade estrutural e a clareza dos espaços interiores não deixaram de fazer parte do seu entendimento arquitectónico. Ensinava aos estudante os novos materiais e a sua aplicação nos edifícios modernos. Dava grande ênfase aos aspectos técnicos e funcionais na arquitectura, defendendo que a construção não deve ficar escondida atrás de símbolos decorativos. Estes pensamentos influenciaram muito Josef Frank. No entanto, aquilo que mais o marcou foi a convição que Fabiani tinha de que as necessidades das pessoas estavam em primeiro lugar na criação da arquitectura. Via as cidades e os edifícios como organismos vivos, os quais cresciam com os seus habitantes; sistemas rígidos ou ideias absolutas não conseguem reagir às exigências da vida, em constante mudança. Estas ideias ecoam em toda a concepção arquitectónica de Josef Frank, estando na origem de muitos dos seus pensamentos, como aqueles que escreveu no seu texto Akzidentismus (Acidentismo):

A sala de estar na qual podemos viver e pensar livremente não é nem bonita, nem harmónica, nem fotogénica. É o produto de coincidências, nunca está acabada e consegue acomodar tudo aquilo que preenche as necessidades em mudança dos seus habitantes.

Dada a formação de Josef Frank na Technische Hochschule, a crença de Adolf Loos na tradição histórica e na importância de criar a arquitectura do novo tempo a partir do passado também deve ter tido um impacto importante nele. 105 Christopher Long, Josef Frank Life and Work, Chicago: University of Chicago Press, 2001, p.10.

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Muitos dos ensinamento adquiridos durante o seu curso de arquitectura foram mais tarde validados e confirmados pelo discurso de Adolf Loos.

O entendimento arquitectónico de Frank também é influenciado pelo humanismo renascentista de Leon Battista Alberti, para quem, além das considerações funcionais de um projecto, não se deve negligenciar a necessidade de conforto e prazer do Homem, sendo que os edifícios foram instituídos para benefício da humanidade.106 Alberti explica que os

homens começaram a construir a fim de se proteger das intempéries. Depois continuaram a querer o que é necessário à conservação da vida, mas também o que pudesse contribuir para assegurar todas as comodidades acessíveis e que em parte nenhuma esses objectivos fossem negligenciados. Seguidamente, encorajados e seduzidos pelas vantagens conseguidas, acabaram por conceber e pôr em prática, cada vez mais, o que se pudesse relacionar com a satisfação dos seus prazeres.107 Harmonia, habitabilidade, comodidade e prazer, são

termos que também pertencem ao entendimento que Frank tem da vida. Estes ensinamentos da tradição clássica revelam-se importantes na forma como entendia a arquitectura moderna. Foi talvez graças aos ensinamento de Alberti que nunca olhou para a casa como uma máquina de habitar. Nesse sentido, Frank contrariava Le Corbusier, explicando:

No escritório e na fábrica, uma série de objectos padronizados industrialmente, tais como máquinas de escrever e lâmpadas, têm demonstrado a sua utilidade. Não deveríamos também usá-los em nossas casas? Não, não devemos.

Escritórios e fábricas são lugares para os quais somos forçados a ir, onde não gastamos o nosso tempo com prazer e que deixamos o mais rapidamente possível. Os objectos encontrados nesses espaços têm todos o mesmo carácter. A casa deve dar a sensação oposta. A pessoa que trabalha com máquinas e quer continuar essa actividade em casa pertence ao reino das fábulas. Na realidade, quando ela está em casa, não quer de modo algum ser lembrada do local de trabalho. (...) Nas casas e apartamentos que são decorados como locais de trabalho, como se fossem desenhadas para estadias breves, os moradores não têm a sensação de calma que precisam. (...) Durante 8 horas por dia elas precisam de trabalhar, suando da sua testa, mas 16 horas são dedicadas à calma e ao entretenimento. Um ser humano não é nem uma máquina, nem um investimento que tem de compensar; pelo contrário, ele trabalha apenas o tempo necessário, de maneira a que possa ser uma pessoa durante o resto do tempo. (...) A pessoa normal não vive de acordo com teorias, faz o que é 106 Leon Battista Alberti, Da arte edificatoria - Livro Quarto, trad. do latim Arnaldo Monteiro do

Espírito Santo; introd. Mário Júlio Teixeira Krüger, Lisboa: FCG, 2011, p.279.

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confortável para ela e não tem nada a ver com essa racionalização da casa.108

O entendimento humanista de Josef Frank, influenciado por Alberti, surge ainda antes de concluir o curso de arquitectura.

Depois de realizar um estágio no escritório de Bruno Möhring, em Berlim, em 1909,109 Josef Frank dedicou-se à sua dissertação final. Como ele, também

os seus colegas de faculdade, Oskar Strand e Oskar Wlach, abordaram nas suas dissertações temas da arquitectura italiana.110 O interesse que

os alunos demonstravam por esta arquitectura não foi apenas cultivado nas aulas mas também nas diversas viagens de estudo a Itália que fizeram com Max Fabiani; tiveram a oportunidade de visitar e estudar as cidades e os edifícios de Florença, Rimini e Roma.111 Inspirado pelas aulas e pelas

viagens, Frank escreveu a sua dissertação Über die ursprüngliche Gestalt der kirchlichen Bauten des Leon Battista Alberti (Sobre a forma original dos edifícios eclesiásticos de Leon Battista Alberti). Carl König, o seu orientador, também deve ter assumido um papel importante na escolha deste tema pois admirava muito a arquitectura de Alberti, sublinhando a sua importância na recuperação e expansão da tradição clássica.112

Na sua dissertação, Josef Frank parece interessado na sensibilidade e na linguagem quase puritana de Alberti. Em 1909, realizou uma viagem a Itália que duraria sete meses.113 Escreveu a sua dissertação rodeado pelas

igrejas de Alberti em Florença, Rimini e Mântua, realizando vinte desenhos em aguarela que incluiria no seu trabalho científico; estes desenhos eram reconstituição propostas por Frank sobre a forma original dos edifícios de Alberti, os quais, como escreve, chegaram aos nossos dias apenas em estado inacabado ou desfigurado.114

Três anos após concluir o curso de arquitectura, em 1913, Josef Frank construiu uma das suas primeiras casas: a Casa Scholl, na Wildbrandgasse 3, em Viena. Apesar desta casa expressar a sua procura por uma linguagem que não estivesse corrompida pelas décadas de imitações estilísticas, na procura de um novo ponto de partida para uma nova arquitectura, no seu 108 Josef Frank, Drei Behauptungen und ihre Folgen, in Josef Frank. Schriften - Band 1, Viena:

Metroverlag, 2012, p.310.

109 Hedvig Hedqvist, Rechteckige Sitze - totalitäre Gedanken, in Josef Frank - Eine Moderne der

Unordnung, Viena: Pustet Anton. 2008, p.13.

110 Marlene Ott, Josef Frank (1885-1967) - Möbel und Raumgestaltung (texto policopiado), Viena:

[s.n.], 2009. Tese de doutoramento, p.16.

111 Christopher Long, Josef Frank Life and Work, Chicago: University of Chicago Press, 2001, p.16. 112 Ibidem.

113 Ibidem.

114 Josef Frank, Über die ursprüngliche Gestalt der kirchlichen Bauten des Leon Battista Alberti, in

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desenho Frank não se conseguiu libertar (consciente ou inconscientemente) do reportório formal de Alberti, parecendo inspirar-se particularmente na igreja de San Sebastiano de Mântua. Na sua dissertação Frank suspeita que toda a arquitectura desta igreja foi composta a partir dos restos de um ou mais edifícios.115 Nesse sentido, tentou criar o mesmo efeito nesta casa da

Wildbrandgasse. A massa construída, com a sua textura em tijolo aparente, faz, desde logo, lembrar as fachadas laterais desta igreja de Alberti. Pela utilização de formas arquitectónicas contemporâneas misturando-as com o reportório formal renascentista, Frank consegue criar o mesmo efeito que observou na igreja de San Sebastiano de Mântua. Os vãos escuros, que nas fotografias foram deixados abertos, contribuem, certamente, em grande medida para esse efeito. Desse modo o volume, fechado e com cobertura plana, apresenta uma fachada tripartida, que sugere uma composição clássica, na qual os vãos, aparente simétricos, se colocam com ligeiros desfasamentos e assimetrias. Os pisos superiores realçam-se como piano nobil pelo carácter de base que o piso de entrada recebe com a utilização de pilastras dóricas nos cantos da casa. Estes elementos clássicos, que também surgem na igreja de San Sebastiano de Mântua, repetem-se por todos os cantos do piso de entrada. É igualmente neste contexto que podemos entender a fachada lateral pela qual se entra na casa. Nesta igreja de Mântua, Alberti utiliza uma cornija que se desenvolve em arco; este elemento, mesmo de forma abstratizada e simplificada, é igualmente utilizado por Frank sobre 115 Josef Frank, Über die ursprüngliche Gestalt der kirchlichen Bauten des Leon Battista Alberti, in

Josef Frank. Schriften - Band 1, Viena: Metroverlag, 2012, p.80.

47 Josef Frank, Casa Scholl, Viena, 1913. Planta do rés-do-chão. 48 Josef Frank, Casa Scholl, Viena, 1913. Vista da fachada da rua. 49 Leon Battista

Alberti, Igreja de San Sebastiano de Mântua, 1460. Fachada principal. 50 Leon Battista Alberti, Templo Malatestiano, Rimini, 1450. Fachada principal.

77 a porta de entrada. Também a utilização dos pequenos vãos circulares, tanto

na fachada da rua como da entrada, parecem surgir de Alberti que nos seus edifícios recorrentemente utiliza estas formas, como, por exemplo, no Templo Malatestiano, em Rimini. Assim, o desenho da Casa Scholl poderá ser

entendido como uma homenagem abstratizada à arquitectura renascentista de Alberti. Nos seus edifícios posteriores, contudo, Frank deixou de recorrer directamente às formas clássicas.

Os edifícios estudados para a sua dissertação não são, aliás, o trabalho de Alberti que mais o influenciou, mas o seu tratado De Re Aedificatoria (Da Arte Edificatória), publicado em 1485. Frank deve ter lido este tratado com muita atenção, encontrando-se na sua obra e no seu pensamento muitas das ideias nele contidas.

Este tratado tornar-se-ia na base teórica da maioria dos arquitectos do Cinquecento; no entanto, não só se afirmou com influência imediata, como se transformou numa presença subjacente a todos os temas discutidos nas épocas futuras.

Para Alberti, o objectivo principal da arquitectura é a harmonia geral do edifício, que deve ser alcançada através do desenho unificador de todos os elementos, procurando a concinnitas da obra; Mario Krüger, na nota prévia da tradução deste tratado para português, diz não encontrar palavra na língua portuguesa corrente que traduza fielmente este termo determinante na tese albertiana, apontando-lhe vários caminhos. Concinidade, como acaba por ser traduzido, poder-se-á referir à harmonia, apuro e elegância das várias partes desenhadas segundo três princípios: o “numeras”, i.e. pelas qualidades e quantidades numéricas das sua partes, i.e. pelas suas proporções, o “finito”,

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ou seja, pelos limites ou delimitação do todo constituído por aquelas partes e, ainda, o “collocatio”, i.e. pelas relações recíprocas estabelecidas entre as partes ordenadas do edificado e destas com o todo.116

Mais tarde, Josef Frank traduziu estes pensamentos de Alberti na sua obra. No seu texto Das Haus als Weg und Platz (A casa como percurso e lugar) explica que os compartimentos da casa devem ser organizados sem ter em consideração a sua exequibilidade, de maneira a que a organização seja feita tendo em conta as dimensões e proporções dos compartimentos e a relação que partilham uns com os outros.117

Influenciado por Alberti, continua dizendo que isto dá a base eterna a partir da qual os pensadores, práticos e independentes, podem variar de acordo com os meios e as necessidades. Tudo aquilo que necessitamos, no qual incluímos a casa, é um compromisso entre utilidade, forma, qualidade, preço e outras variáveis.118

Deste modo, Frank, ao contrário de muitos dos seus contemporâneos, tinha uma relação com a história que estava fora da corrente principal da arquitectura do seu tempo. Na sua crítica à Bauhaus e aos funcionalistas também se apoia nestas ideias fundamentais, sendo que a maioria destes arquitectos procuravam produzir uma arquitectura completamente nova sem considerar o conhecimento das gerações passadas.

Num texto escrito em 1921, no qual expõe uma conversa sobre o novo estilo, em tom de entrevista, entre F, de Frank e A, possivelmente de Alberti uma vez que as respostas de A se relacionam frequentemente com a visão albertiana da antiguidade clássica, Josef Frank situava a origem da arquitectura moderna na renascença, no ano 1420.119 Contudo, esta data essencial

não encontra nenhuma relação directa com a obra de Alberti. Durante a sua dissertação Frank também aborda, por breves momentos, a obra de Brunelleschi, apontando-o como a maior influência do trabalho de Alberti; possivelmente a escolha desta data surge pela importância que reconhecia à obra deste arquitecto, sendo que, de facto, a data que Frank reconhece como início do período moderno corresponde ao ano no qual se deu início à construção da Cúpula da Catedral de Florença, que como Frank escreve, citando Alberti, é uma estrutura tão imensa, suficiente para cobrir com a sua

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