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A influência da cultura portuguesa nos adornos brasileiros

2.2 A joalharia no Brasil

2.2.1 A influência da cultura portuguesa nos adornos brasileiros

Com a descoberta da América em 1492 e posteriormente o descobrimento do Brasil por Portugal em 1500, ocorre no mundo uma expansão do comércio de esmeraldas, ouro e prata devido a grande quantidade de riquezas encontradas nas novas terras, e que trouxeram, consequentemente, muitas riquezas para Portugal naquela época. Ao chegar ao Brasil, os portugueses se depararam com tribos indígenas que se adornavam com penas de pássaros coloridas, sementes e ossos de animais (Pedrosa, 2005). Nos primeiros séculos após o seu descobrimento, ainda não existiam joias que marcassem um estilo legitimamente brasileiro, pois as joias existentes seguiam as tendências de moda que ocorriam em Portugal e nos demais países europeus.

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Com a descoberta das novas terras, a troca de mercadorias aumentou na América no século XVI. Os povos que vivam nessas terras aos poucos iniciaram a produção de joias com pedras e metais preciosos. Com o passar do tempo surgiram no Brasil técnicas de ourivesaria especializada. Inicialmente as técnicas foram apresentadas por ourives estrangeiros, principalmente os da corte portuguesa e, posteriormente, o ofício foi aprendido por trabalhadores livres que eram controlados pela coroa portuguesa, que fiscalizava a produção colonial de ouro e das gemas (Magtaz, 2008).

A região brasileira de Minas Gerais no século XVII possuía grande abundância de metais, especialmente de ouro. Nessa época, a joalharia adornava os senhores de engenho e as suas famílias, bem como a burguesia. A classe escravocrata utilizava pesadas joias de ouro em eventos sociais nas quais simbolizavam o seu poder de senhores.

No século XVIII, com as expedições realizadas ao interior do Brasil e a descoberta de minas de ouro e de pedras preciosas, Portugal utiliza as riquezas da nova colônia como moeda de negociação com os demais países, e calcula-se que entre 1700 e 1720 a mineração de ouro atingiu valores sempre crescentes, com 25.000 quilos anuais, tendo alcançado o auge da produção entre os anos de 1735-1736 (Andrade, 2008). Estes fatos influenciaram negativamente no desenvolvimento do Brasil colonial, visto que os produtos industrializados não eram produzidos localmente mas trazidos dos países europeus. Para acelerar a extração de ouro no Brasil foram trazidos escravos da África. A inserção da nova raça no território brasileiro provocou uma mistura racial que caracteriza a sociedade brasileira.

As incontáveis riquezas encontradas no Brasil despertaram muito interesse dos portugueses, que migraram para o Brasil em busca de uma vida melhor, já que ocorria uma fase de desenvolvimento das terras brasileiras, a partir da criação de gado e plantações de café e cana- de-açúcar. Com eles migraram também os primeiros ourives do Brasil, que se inspiravam ainda nas tendências de moda europeias.

Apesar das tendências europeias predominarem na criação dos adornos no Brasil, a quantidade de ouro e pedras preciosas tiveram grande influência no desenvolvimento das joias da época. Desta forma, a maior contribuição de Portugal na joalharia brasileira está relacionada à aplicação das pedras preciosas encontradas no Brasil durante o período colonial, diversificando suas cores bem como as formas de lapidação das pedras desde o período de seu descobrimento.

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Devido à tentativa da França de dominar a Europa no século XIX, em 1808 Portugal decide transferir a sede da monarquia portuguesa para o Rio de Janeiro, e traz toda corte, incluindo artistas e ourives. Conforme Filipe (2008, p. 25) as mulheres portuguesas, devido ao calor, às intempéries da viagem e à praga dos piolhos, tiveram de rapar os cabelos e colocar enormes turbantes. À chegada, ao vê-las, as mulheres brasileiras acharam lindo e quiseram também cortar os cabelos e colocar os turbantes nas cabeças. Nesta época surgem também no Brasil a presença de povos de outras nacionalidades europeias e a economia brasileira passa por importantes transformações sociais e tecnológicas.

A partir de 1822, com a sua emancipação, o Brasil começa a adquirir um estilo próprio na criação das suas joias, em que os artistas trabalhavam temas como a fauna, flora e temas de origem indígena e os símbolos do novo Império de D. Pedro I. A presença da corte portuguesa no Rio de Janeiro alterou o cotidiano da cidade, uma vez que foi responsável pela expansão do traçado urbano, a introdução de novos estilos arquitetónicos e, sobretudo, a apresentação à sociedade local de uma maneira cosmopolita de viver (Tostes, 2008).

Durante a revolução industrial, observou-se um período de transformações econômicas, assim como a descobertas de minas de diamantes na África do Sul tornando o país o principal produtor de diamantes do mundo, retirando ao Brasil a primeira posição. Porém o país ainda possuía imensa variedade de outras gemas.

“Os motivos decorativos principais eram as flores, borboletas, pássaros e a serpente. Ramalhetes compostos por diferentes flores e ramagens eram utilizados como broches para adornar vestidos e cabelos, com um efeito deslumbrante. Também os camafeus enfeitam colares, broches e pulseiras e, por causa da influência da rainha inglesa Vitória - que cedo se tornou viúva, a joalharia de luto tornou-se moda aqui também: broches com mechas de cabelo ou pendentes decorados com motivos fúnebres são usados por quem perdia um ente querido.” (Pedrosa, 2005)

Com a coroação de D. Pedro II, consagra-se a habilidade dos ourives brasileiros, que produziam uma série de objetos para a monarquia brasileira, adornados com diamantes e pérolas. A partir desta fase o Brasil alcança maturidade nos campos da política e da cultura, orientando-se para a união do país e para o fim da escravidão. Assim, surgiu nova imigração de europeus de diferentes nacionalidades, que afetaram diretamente as características culturais do país. Após a

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proclamação da República, os novos símbolos do país foram aplicados nos adornos com o intuito de enaltecer o espírito nacionalista.

No início do século XX nem os conflitos ocorridos na Europa nem os movimentos artísticos interferiam no design das joias brasileiras. Será a partir da Semana de Arte moderna, em fevereiro de 1922, em São Paulo, que vai transformar-se o campo da arte, através da tomada de consciência da realidade brasileira, rompendo com as estruturas do passado (Pedrosa, 2005). A indústria da joalharia no Brasil surgiu no final da 2ª Guerra Mundial quando empresas se uniram aos ourives fabricantes das peças artesanais. Devido a nova situação industrial e econômica no mundo surge a popularização dos bens de consumo, que consequentemente vem a alterar a função social da joia. Neste momento, o papel do designer de joias brasileiro é reconhecido mundialmente, pois as exposições de joias são inseridas no circuito de exposições de arte, inclusive com participação na Bienal de São Paulo, a partir de 1950 (Magtaz, 2008). De acordo com Codina (2000), entre os anos de 1980 e 1990 a joalharia convencional já não possui significado de ostentação e riqueza, em que se percebe o gosto pelas joias de ouro e pedras preciosas de desenho simples e elegante. No Brasil, até o fim dos anos 90 a joalharia seguia as tendências ditadas pelos mercados internacionais, sem apresentar inovações em termos de técnicas e criatividade.

Nos dias de hoje, o Brasil é um dos maiores produtores de ouro do planeta e é considerado um dos principais produtores mundiais de gemas – seja pela variedade, seja pela quantidade em que são encontradas em vários pontos do território (Andrade, 2008). A joia brasileira se apresenta como um elemento da cultura, enquanto obra de arte e também como objeto de consumo. Não apenas por causa do ouro e dos diamantes encontrados no Brasil, o país se destaca na produção de pedras, visto que são encontradas reservas de ametistas, topázios, água-marinha entre outras pedras em seu território.