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2.1 O adorno corporal da antiguidade à contemporaneidade

2.1.1 A joalharia no século XX

O século XX é um período marcado pela expansão da gama do que é considerada joalharia, em que são utilizados na sua confeção materiais que vão além do ouro e das pedras preciosas, a

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chamada Belle Èpoque, iniciada no século XIX. Joalheiros famosos como Fabergé7, Lalique8, Cartier9 e Bulgari10 utilizam materiais como cristal, aço escovado, couro, titânio, prata e cobre no desenvolvimento das suas peças, o que caracteriza a consolidação da joalharia contemporânea. A joalharia nesse período toma um novo direcionamento, em que são compostas por elementos da natureza, como por exemplo, por flores e animais esculpidos em platina em reação ao exagerado uso dos diamantes.

“Durante o século XX, a joia abandonou o privilégio do artesanal e o uso exclusivo de materiais nobres e luxuosos e se aproximou de “ligações perigosas” com consequências muito interessantes. A inserção de “materiais vulgares” na esfera simbólica do luxo confundiu e contaminou os limites entre o valorizado e o desvalorizado, o que resultou em uma mudança deliberada na consolidação das hierarquias do bom gosto e da preciosidade” (Annichiarico, et al., 2004, p. 7).

Ainda no início do século, surge o estilo Art Nouveau tendo como seu principal representante René Lalique que utilizava em suas criações o marfim e o chifre de animais dando às suas peças maior valor estético. Este período foi marcado pela junção das antigas e das novas ideias, em que os artistas inspiraram-se desde os temas religiosos a temas da natureza, que foi bastante aplicado na arquitetura e na decoração. As características principais desta forma de arte eram a assimetria, as curvas e contracurvas. Eram trabalhadas ainda algumas figuras inspiradas nos símbolos da mitologia (como os dragões e as serpentes), do estilo gótico (os vampiros e os morcegos) e do reino animal (os pavões e as borboletas) (Pullée, 1990).

Após o início da Primeira Guerra Mundial, o novo estilo desapareceu, pois as joias desse período eram peças de difícil utilização. Com a guerra, diversas transformações ocorreram nos campos das artes, moda e design. Neste período, o desenho industrial possibilita refinamento estético capaz de resistir à produção industrial em série e surge a joalharia estilo Art Decó associada ao

7 Peter Carl Fabergé - Joalheiro russo que desenvolvia peças com figuras humanas, animais e flores, responsável pela coleção apresentada na Grande Exposição Universal realizada em Paris no ano de 1900. Sua obra composta por 15 ovos de páscoa foi considerada uma obra de arte da ourivesaria que inspirou ouros joalheiros como Cartier. 8 René Lalique – Joalheiro e vidreiro francês. Famoso pelo design de objetos, relógios, frascos de perfume e joias. Contribuiu imensamente para o movimento Art Noveau na Europa e nos Estados Unidos.

9 Cartier - Joalheiro e relojoeiro francês que fundou a Maison Cartier em1847. Se inspirou nas peças de Fabergè e suas combinações audaciosas no design de anéis com gemas coloridas e audaciosas que o consagrou no período Art Decó.

10 Sotirio Bulgari – Joalheiro italiano que aparece no final do século XIX que produzia peças de luxo em metais nobres. Seus filhos decidiram seguir seu ofício e produziram peças com diamantes, safiras e rubis inspiradas na Art Decó que foram mostradas na exposição internacional de artes e joalharia de Paris em 1925. Hoje é a conhecida marca Bvlgari.

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Cubismo e ao Abstracionismo. Graças à inauguração da Bauhaus, escola alemã de arquitetura e design, concebeu-se o raciocínio da estética funcional dos objetos. Alguns materiais foram desenvolvidos e disponibilizados ao mercado para colaborar com os efeitos da guerra. Porém, o pensamento modernista discordava que “a capacidade de evocar ideias também faz parte de qualquer proposta de design: ou seja, as funções de um objeto não podem ser reduzidas apenas ao seu funcionamento” (Cardoso, 2004, p. 131). E assim, a produção dos artigos de moda e, consequentemente, a joalharia contemporânea, evoluíram simultaneamente com o design. A moda feminina neste momento torna-se mais esportiva e confortável devido a necessidade de as mulheres trabalharem por causa dos tempos de crise trazidos pela guerra. Desta forma, a moda mostrou-se mais futurista para a época através de formas geométricas. Já a joalharia sofreu influências do Egito, já que nesse período foi encontrada uma série de joias no túmulo de Tutankamon em 1922 e também pelo que era produzido nos filmes de Hollywood na época. Na América, juntavam-se a este estilo as inspirações pré-colombianas dos Maias, Astecas e Arte Índia, criando algo mais luxuoso e decorativo (Pullée, 1990). Um fator importante que surge nesse período é o aparecimento da joalharia de costumes, implementada por Gabrielle Bonheur Chanel, que consistia na produção de acessórios com materiais de baixos custos e menos duráveis, o que hoje é conhecida como bijuteria.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, houve um período de escassez de metais e pedras preciosas, acontecimento que dá origem ao design das peças que imitavam as joias produzidas com metais não preciosos, e assim surgem as bijuterias (Gola, 2008). Também nesta época, nota-se que o consumo de joalharia não era apenas para uso, mas também como investimento. A utilização do design no desenvolvimento das bijuterias recebeu forte influência de Chanel, que adotou a ornamentação do corpo com peças não preciosas com “um desenho novo que era sinônimo de atitude e de estilo da mulher moderna” (Pullée, 1990, p. 48). Naquele momento, a sociedade enfrentava um período de mudanças sociais e as tendências de moda estavam voltadas a um público mais jovem. É a partir desse período que começam a surgir peças em que o seu valor é atribuído ao design, e também aparecem na sua produção elementos como madeira, papel e polímeros. As joias de imitação, sem a utilização de metais nobres se tornam acessórios procurados pela alta sociedade que passa a substituir suas joias tradicionais por formas mais modernas e mais vistosas (Gola, 2008). Ainda no período pós-guerra, pode-se perceber que a presença de avanços tecnológicos bem como dos meios de comunicação, que desencadeou uma aceleração no consumo de bens.

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Nos anos 70 reaparecem as joias criadas para os homens e cada vez nota-se a maior diversidade no seu uso e nas suas formas de expressão e é possível perceber que as tendências da joalharia são inspiradas nas tendências de moda. Além disso, muitas joias do período foram inspiradas na arquitetura da época assim como em movimentos artísticos como o Dada e o Surrealismo, movimentos artísticos do início do século XX, em que o artista sempre tem como objetivo demonstrar o significado de cada peça sem levar em consideração o material. Para Gola (2008, p. 124) “a década de 1970 pode ser considerada o único período da história em que a ornamentação com joias genuínas esteve fora de moda”. O mais importante é demonstrar o significado da peça num período histórico visando a sua contextualização dentro de uma sociedade através de sua identidade.