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A inserção da UNOCHAPECÓ na Comunidade Indígena do Oeste Catarinense

I O CONTEXTO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA E AS POSSIBILIDADES DE INTERLOCUÇÃO

1.2 A inserção da UNOCHAPECÓ na Comunidade Indígena do Oeste Catarinense

A Universidade Comunitária da Região de Chapecó – UNOCHAPECÓ, localizada no oeste catarinense, mantém uma estreita relação com a população indígena de sua região de abrangência, principalmente com os Kaingang. Através do Centro de Memória do Oeste de Santa Catarina – CEOM15 realiza ações para preservação da memória indígena, arquivando fontes históricas e registrando suas manifestações culturais.

No âmbito da pesquisa, a instituição possui diversos trabalhos sobre a temática indígena, desenvolvidos em cursos de graduação, de pós-graduação e grupos de pesquisa. Promove a divulgação dessas publicações através da editora institucional, a Argos.

Através de projetos de extensão, atende demandas que envolvem a população indígena. Possui diferentes ações relacionadas à cultura, preservação do meio ambiente, saúde e educação, desenvolvidas por docentes e estudantes da instituição.

A UNOCHAPECÓ acompanhou a situação que as populações indígenas enfrentaram com a construção da Usina Hidrelétrica Foz do Chapecó na região, pois, ao mesmo tempo em que a usina procura suprir uma demanda da população não indígena – gerar energia elétrica – proporciona uma série de modificações na vida da população que vive em seu entorno. A instituição desenvolveu, em parceria com Instituto

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Criado em 1986, o CEOM foi um dos primeiros programas de extensão da então Fundação Universitária do Desenvolvimento do Oeste - FUNDESTE, atual órgão mantenedor da Universidade Comunitária da Região de Chapecó – UNOCHAPECÓ. Desde a sua criação, mantêm-se como fundamentais características do CEOM a divulgação científica, o vínculo com os museus, a biblioteca setorial, a preocupação com os vestígios arqueológicos e o desenvolvimento da história a partir da oralidade. Permeando essas áreas e atividades, está a concepção crítica da história e da memória e o desejo de inclusão social, a partir da garantia de igualdade dos direitos e do respeito às diferenças culturais. Localiza-se em Chapecó SC. Informações disponíveis em www.unochapeco.edu.br

Goio-En, o Projeto Subprograma 22.2 – Monitoramento das Interferências sobre a População Indígena, parte do Programa 22 – Monitoramento da População, apresentado pela empresa Foz do Chapecó Energia S.A., para cumprir as orientações do documento denominado “Estudo de Impacto Ambiental”, realizado através da empresa em toda a região atingida.

O Projeto Subprograma 22.2, foi desenvolvido no período de Junho de 2008 a Maio de 2011, por uma equipe multidisciplinar composta por professores e técnicos. Um dos objetivos do Projeto era “monitorar os possíveis efeitos socioculturais ocasionados pela construção da Hidrelétrica Foz do Chapecó nas diferentes dimensões da vida social das comunidades indígenas com o objetivo de garantir suas formas de bem-estar cultural, coletivas e individuais.” (UNOCHAPECÓ, 2008, p.19).

Na educação, de forma específica, o projeto objetivou “possibilitar capacitações de resguardo à língua materna por meio de ensino bilíngue, bem como à construção de material didático.” (UNOCHAPECÓ, 2008, p.19). Cabe ressaltar que as diferentes ações desenvolvidas no Projeto Subprograma 22.2 abarcam possibilidades de ação nos processos de educação e de educação escolar indígenas, considerando que:

[...] a educação indígena refere-se aos processos próprios de transmissão e produção dos conhecimentos dos povos indígenas, enquanto a educação escolar indígena diz respeito aos processos de transmissão e produção dos conhecimentos não-indígenas e indígenas por meio da escola, que é uma instituição própria dos povos colonizadores. A educação escolar indígena refere-se à escola apropriada pelos povos indígenas para reforçar seus projetos socioculturais e abrir caminhos para o acesso a outros conhecimentos universais, necessários e desejáveis, a fim de contribuírem com a capacidade de responder às novas demandas geradas a partir do contato com a sociedade global. (LUCIANO, 2006, p.129).

No campo da educação escolar indígena, as ações da UNOCHAPECÓ estão ancoradas na concepção da escola indígena como um espaço privilegiado para uma educação que oportunize às pessoas e às coletividades reiterar a sua identidade.

No âmbito do ensino, mantém convênio com as comunidades indígenas e a FUNAI, garantindo 100% de bolsa de estudo para alunos indígenas, possui uma média de 30 (trinta) estudantes beneficiados/atendidos anualmente.

Em agosto de 2009, iniciou o Curso de Graduação em Licenciatura Específica para a Formação de Professores Indígenas Kaingang, em parceria com a Secretaria de Educação de Santa Catarina (SED). Trabalhei na realização do projeto pedagógico desse curso e, atualmente, atuo como docente na área de matemática. Este Curso de Graduação atende a demanda existente de comunidades Kaingang das Terras Indígenas: Xapecó, Chimbangue, Pinhal e Condá, localizadas no oeste de Santa Catarina, como pode ser observado no mapa a seguir.

Figura 01 - Localização das Terras Indígenas dos Kaingang Fonte: FUNAI, em maio de 2010.

Na TI Xapecó situa-se a maior comunidade educacional indígena da região, constituída por:

- Cinco escolas multisseriadas: EIEF Baixo Saburá, EIEF São José, EIEF São Pedro, EIEF Serro Doce, EIEF Limeira e EIEF Guarani.

- Duas escolas estaduais de Ensino Fundamental: EIEF Paiol de Barro e a EIEF Pinhalzinho.

- Um escola estadual de Educação Básica, a EIEB Cacique Vanhkrê, a primeira escola do Brasil a possibilitar a uma comunidade indígena a conclusão da Educação Básica de forma específica e diferenciada.

Essa condição mobilizou meu interesse para uma inserção maior nessa comunidade em busca de espaços para discussão sobre a educação escolar indígena, que pudesse privilegiar a formação do professor. A interlocução da UNOCHAPECÓ com a comunidade, construída em diferentes atividades que de forma breve descrevi, credenciou-me para fazer desse interesse uma proposta de trabalho de doutorado, na medida em que me permitiu o trânsito junto à comunidade. Com esse propósito, a primeira questão levantada foi: quem são os indígenas Kaingang da TI Xapecó? Descrevo no próximo capítulo o contexto construído a partir da reflexão sobre essa questão.

II - QUEM SÃO OS INDÍGENAS KAINGANG DA TERRA