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2.4 A história da formação do professor universitário no Brasil

2.4.1 A instauração do ensino superior no Brasil

Conforme já exposto, os jesuítas foram fundamentais para o desenvolvimento inicial do Brasil nos aspectos educacionais. Pelo fato de serem engajados no ensino, eles almejavam, ainda no século XVI, ampliar seus ensinamentos para o nível superior na Colônia, uma vez que os alunos graduados nos colégios dos jesuítas procuravam as universidades europeias, principalmente a Universidade de Coimbra, para terminarem seus estudos.

A tentativa de fundar uma universidade, porém, foi frustrada. A postura colonizadora de Portugal imperava e, por conseguinte, qualquer tentativa de desenvolvimento e autonomia no Brasil era barrada. Assim foi no século XVI, quando a Coroa Portuguesa rejeitou a ideia de criação de uma instituição de ensino superior na Colônia.

De acordo com Fávero (1977), o ensino jesuítico era um ensino médio de tipo clássico e oferecia, em praticamente todos os colégios, os cursos de Letras e Artes. Havia também alguns colégios tais como o da Bahia e o do Rio de Janeiro, que eram considerados cursos intermediários entre os estudos de humanidades e os cursos superiores. Todavia, seguir o caminho de Portugal para estudar Direito ou o da França para estudar Medicina era a única alternativa que restava àqueles que não quisessem seguir a carreira eclesiástica, cujo ensino havia na Bahia. A esse respeito, Fávero (1977, p. 18) acrescenta: “ao término do curso de letras e artes (filosofia e ciências), o ensino se bifurcava, a fim de atender os que se preparavam para a carreira eclesiástica e os que se dirigiam para o estudo das leis, medicina, etc.”

Assim, tendo em vista que o Colégio da Bahia concedia títulos acadêmicos, a exemplo, o grau de mestre em Artes, fortaleceu-se o posicionamento contra esse tipo de concessão. Os argumentos de então se baseavam na ideia segundo a qual o colégio deveria elevar-se ao grau de universidade. Entretanto, a luta dos jesuítas para a concessão dos títulos acadêmicos alcançou resultados positivos, uma vez que Roma os autorizou a criarem uma universidade, em 1597; porém, a sua proposta de implantação permaneceu sem evoluir.

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Após essas primeiras tentativas de criação de uma universidade no Brasil, muitas outras se seguiram sem resultados, principalmente em decorrência da influência de Portugal por meio da Universidade de Coimbra:

(...) não seria exagero afirmar que Portugal, através da Universidade de Coimbra, exerceu até o fim do Primeiro Reinado, uma grande influência na formação de nossas elites culturais e políticas. Todos os esforços de criação de Universidades ou mesmo de escolas superiores no período colonial e monárquico (...) foram malogrados, o que denota uma política de

controle a toda iniciativa que possibilitasse uma independência cultural da Colônia. Em matéria de ensino, todas as diretrizes emanadas da sede da Corte eram feitas como se visasse estabelecer a rotina, paralisar as iniciativas, em vez de estimulá-las. Havia uma intervenção, mesmo à distância (FÁVERO, 1977, p. 20, grifo nosso)

Notamos, então, que a formação intelectual e política da elite brasileira sofreu significativo atraso, uma vez que a Coroa dedicava seus esforços em manter o Brasil como colônia. Por essa razão, o desenvolvimento dos cursos superiores no país ocorreu somente depois da transferência da Corte Portuguesa para o Brasil, em 1808, quando um novo panorama se instaurou, mormente em razão da interrupção de comunicação com a Europa.

Assim, diante desse novo cenário, foram criadas algumas escolas superiores, as quais, de acordo com Fávero (1977), possuíam caráter profissionalizante. Tais escolas eram mantidas e controladas pelo Governo com o intento de preparar profissionais para o desempenho de diferentes funções da Corte. Por essa razão, diz-se que elas “nasceram e se estruturaram com um caráter nitidamente prático e imediatista” (FÁVERO, 1977, p. 20).

Ao final do Império, havia, no Brasil, seis escolas de ensino superior: a Faculdade de Direito de São Paulo, que se originou do curso de Ciências Jurídicas e Sociais, criado em 1827; a Faculdade de Direito do Recife, oriunda do curso de Ciências Jurídicas e Sociais de Olinda, criado em 1820; a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, criada em 1808; a Faculdade de Medicina da Bahia, criada pela Carta Régia, em 1808, com o nome de Escola de Cirurgia; a Escola Politécnica do Rio de Janeiro, surgida em 1810 como Academia Militar e a Escola de Minas de Ouro Preto. No entanto, não havia nenhuma universidade no país.

É importante pontuarmos que as escolas que existiam eram autônomas, não articuladas no âmbito de universidade, as quais demonstraram a clara iniciativa de

formar “profissionais necessários ao aparelho do Estado e às necessidades da elite local, como advogados, engenheiros e médicos” (DURHAN, 2003, p. 4).

Esse fora, então, o ensino superior até o final do Império, e que teve por característica ser público, na medida em que as escolas eram mantidas pela Coroa e independentes da Igreja. A partir da Proclamação da República, foi permitido que novas instituições fossem criadas não só pelas instâncias do poder público, estaduais e municipais, mas também pela iniciativa privada confessional.

Destacamos que muitas discussões foram engendradas com o objetivo de instituir uma universidade no Brasil, todavia, o modelo de escolas autônomas vigorou por praticamente toda a Primeira República (1889-1930). Foi somente a partir do Decreto nº 11.530, de 18 de março de 1915, que, legalmente, resolveu-se a problemática da criação de uma instituição universitária. De acordo com este decreto, caberia ao:

Governo Federal, quando achasse oportuno, reunir em universidades as Escolas Politécnicas e de Medicina do Rio de Janeiro, incorporando a elas uma das Faculdades livres de Direito, dispensando-a de taxa de fiscalização e dando-lhe gratuitamente edifício para funcionar (BRASIL, 1915 apud FÁVERO, 2006, p. 28).

Assim, em 1920, foi criada a Universidade do Rio de Janeiro, por meio do Decreto nº 14.343 (BRASIL, 1920). Essa foi, portanto, a primeira instituição universitária criada pelo Governo Central, no governo do Presidente Epitácio Pessoa. Salientamos que essa universidade foi criada a partir da união de três escolas tradicionais: a Faculdade de Medicina, a Escola Politécnica e a Faculdade de Direito, sem, contudo, haver muita integração entre elas, posto que conservaram suas características próprias (FÁVERO, 2006). Por essa razão, muitas críticas surgiram acerca da estrutura física e acadêmica, por ser muito simplória diante da expectativa que se tinha sobre o papel dessa instituição na sociedade brasileira. Dessa forma, sendo a Universidade do Rio de Janeiro a primeira legalmente criada no país, foi ela a responsável por intensificar o debate sobre essas instituições de ensino no país.

A discussão acerca das Universidades intensifica-se sobretudo dada a busca pela definição do papel das universidades e de quais demandas ela deveria atender. Na pauta estava a relevância da pesquisa e das atividades de extensão, de modo que fosse possível atender ao social e difundir o conhecimento. Tal discussão serviu

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como base para a institucionalização da pesquisa científica, característica marcante das universidades.

Daquele tempo até hoje, muitas outras instituições de ensino superior, tanto públicas como privadas, foram criadas no país. Assim, a partir da retomada sobre o surgimento das IES, interessa-nos, neste momento, entender como se desenvolveram as IES privadas, a fim de que possamos traçar um perfil desta, que é o contexto do nosso estudo.