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A interação universidade-empresa e o processo de transferência de conhecimento

6 ENTREVISTAS SEMI-ESTRUTURADAS

6.3 RESULTADOS E DISCUSSÕES 1 Perfil dos entrevistados

6.3.4 A interação universidade-empresa e o processo de transferência de conhecimento

O terceiro grupo de questões levanta dados sobre a interação U-E e os mecanismos de interação mais utilizados pela incubadora/universidade no processo de transferência de conhecimento para a capacitação tecnológica das empresas incubadas. Além de apontar as principais barreiras e/ou facilitadores na interação U-E.

6.3.4.1 Interação entre universidade e empresas incubadas – IA

No caso da incubadora do IA, os empresários disseram que, com exceção dos professores que prestam consultorias e alguns poucos estagiários, a interação entre a universidade e as empresas incubadas é baixa. Os principais motivos apontados por eles são: a falta de interesse dos professores em realizar pesquisas de cunho mercadológico; a baixa divulgação do programa; a falta de eficiência e interesse da administração universitária para efetivar essa aproximação.

O gestor também relata essa baixa integração entre o programa e a academia. Mas ressalta que este cenário vem mudando ao longo dos anos, a incubadora tem investido nessa aproximação, por meio da realização de projetos de interesse comum, promoção de eventos, estágios e divulgação do programa de incubação. Segundo o gestor, as áreas que mais se integram com a incubadora são: Engenharias; Biotecnologia; Farmácia; Química; Comunicação e Design. Diz, ainda, que as empresas tecnológicas recebem apoio de cursos que tem relação direta com os projetos desenvolvidos. Mas, que no caso específico das empresas de cunho social, incubadas recentemente, existem várias áreas interessadas em dar apoio, especialmente a Sociologia e Psicologia. Segundo ele, “o apelo dessas empresas (social) é diferente daquelas que visam lucro e, por isso, os professores demonstram maior interesse em participar como parceiros”.

Os professores da universidade pública, que prestam assessoria às empresas incubadas, disseram que a interação é maior entre ex-alunos e professores que tenham iniciado projetos na graduação ou pós-graduação. Argumentaram que falta aos professores visão e estímulo para conhecer e apoiar uma empresa incubada e/ou o programa de incubação.

6.3.4.2 Interação entre universidade e empresas incubadas - IB

Na opinião dos empresários, a interação com a universidade é facilitada pelo programa, mas ainda esbarram em alguns problemas, como: burocracia; poucas pessoas da universidade fazendo parte da gestão da incubadora; a demora no atendimento das solicitações dos empresários e a falta de disponibilidade dos professores.

“E1: [...]Nossa relação com a universidade é, de certa forma, tranqüila, pois o programa é bem conhecido pelos professores, alunos e funcionários.. Enfrentamos um pouco de burocracia, nem sempre os professores estão disponíveis, mas a incubadora, mesmo com a demora, envia todas as nossas solicitações. [...]Na medida do possível, temos sido atendidos.”

“E2: Apesar da divulgação, não vejo tanta interação entre a universidade e a nossa empresa. Acredito que a universidade é importante no sentido de usarmos seu nome como parceira, e isso nos ajuda no posicionamento da empresa no mercado.”

“E3: O que acontece na realidade é que realizamos uma troca de conhecimento, a universidade nos apóia nos aspectos gerenciais e nós trazemos para o ambiente acadêmico uma empresa real, com possibilidade de ensino prático, mas ainda falta mais envolvimento, de ambas as partes.”

O gestor do programa diz que a incubadora trabalha para que ocorra essa interação, mas que o programa e as empresas incubadas têm mais interação e apoio do SEBRAE do que da própria universidade. Ela diz que as áreas que mais se integram com a incubadora são: Direito, Arquitetura, Comunicação e Computação.

Os professores que prestam serviço de assessoria não souberam responder sobre a efetividade dessa interação, apenas afirmam que atendem quando são solicitados pela incubadora. Assim, percebe-se que a interação precisa ser provocada pela incubadora, não existe a iniciativa desses professores para estabelecer a aproximação.

6.3.4.3 Mecanismos de interação U-E: 6.3.4.3.1 Contratação de professores

Foi observado que nos dois programas, um dos mecanismos de interação universidade-empresa utilizados com freqüência é a contratação de professores (paga ou gratuita) como consultores eventuais. As incubadoras contratam os professores para assessorar as empresas nas atividades para as quais não dispõem de pessoal técnico qualificado ou quando necessitam de um parecer e orientação externos.

No caso da IA, os contratos (com ou sem remuneração) dependem da disponibilidade e interesse dos professores, pois se trata de uma atividade extra em sua carga horária. As demandas dos empresários são repassadas para a incubadora, apesar disso, o gestor coloca que existe um contato informal entre empresários (ex-alunos) e professores, mas que essa prática tem sido combatida pela incubadora, na tentativa de formalizar esse serviço e gerar oportunidades iguais tanto para empresários ex-alunos quanto para empresários que não passaram pela academia. Foi colocado, também, que há certas dificuldades em convencer esses profissionais a se envolverem com o programa, apontaram como causas a falta de tempo e interesse dos acadêmicos.

No caso da IB, esse serviço é parcialmente formalizado, ou seja, no contrato de trabalho de alguns professores está prevista a dedicação de parte do seu tempo à incubadora. Essas consultorias são intermediadas pela incubadora, ou seja, as empresas não têm autonomia para contratar o serviço, as solicitações e demandas são avaliadas pelo programa que, dependendo da necessidade, as encaminha para esses professores ou, ainda, para consultores externos à universidade, em sua maioria do SEBRAE.

6.3.4.3.2 Contratação de estagiários

Outro mecanismo bastante utilizado pelas empresas incubadas é a contratação de alunos da universidade como estagiários. Esse processo também tem o apoio das duas incubadoras, que auxiliam na divulgação e na formalização dos contratos. O processo de estágio, segundo os entrevistados acontecem tanto por interesse dos departamentos, que

procuraram o programa para manifestar o interesse na parceria, quanto das empresas incubadas.

A contratação de estagiários pelas empresas incubadas pela IA, segundo o gestor, também é uma prática bastante comum e as áreas que mais participam do programa são: Tecnologia da Informação, Engenharias, Física, Química, Designer, Sociologia e Psicologia.

No caso da IB, o gestor argumenta que o programa de estágio supervisionado (disciplina obrigatória do currículo da graduação) tem prioridade sobre o estágio remunerado e as áreas que mais tem participado são: Comunicação, Administração e Arquitetura.

6.3.4.3.3 Financiamento de programas de estudo pelas empresas incubadas

Foi perguntado aos empresários e gestores das duas incubadoras se financiam ou já financiaram algum programa de estudo, como por exemplo: bolsas de estudo; cursos “sandwiche”; financiamento de pesquisa nos programas de pós-graduação, e com exceção do gestor da IA, todos responderam negativamente. Ele argumenta não ser uma prática comum, mas que já aconteceu de uma empresa financiar curso de capacitação para um professor da academia, pois tinham um projeto em comum e o sucesso da pesquisa dependia dessa capacitação.

6.3.4.3.4 Intercâmbio de pessoal entre U-E.

Questionados se havia intercâmbio de pessoal entre a empresa e a universidade como, por exemplo, a participação de executivos em Conselhos acadêmicos ou de acadêmicos em Conselhos empresariais, os empresários incubados pela IA disseram desconhecer essa prática, pois a universidade ainda está bem distante dos anseios desse tipo de empreendimento, já o gestor do programa argumenta que existem projetos com essa finalidade, mas que a incubadora é dotada de autonomia para tomar decisões e que a incubadora deverá ter bem claro sua missão na instituição para não perder essa autonomia.

No caso da IB, disseram que formalmente não existe esse intercâmbio, o que acontece de fato são conversas informais.

6.3.4.3.5 Parcerias com outras instituições

Foi perguntado aos gestores das duas incubadoras se os programas de incubação mantinham parceria com outras instituições, ambos responderam positivamente. As principais parcerias citadas são: SEBRAE, FAP, CIEE, FINEP, CNPq, MCT, Rede Candanga de Incubadoras e outras universidades, inclusive universidades com programas de incubação. A maior parte dessas instituições parceiras, segundo eles, financia total ou parcialmente algumas ações da incubadora, cursos, eventos, além de auxiliar na comercialização dos produtos/serviços desenvolvidos pelas empresas incubadas. O SEBRAE foi destacado como um dos parceiros mais atuantes nos programas de incubação.

Os empresários foram questionados sobre os possíveis benefícios dessa parceria para sua empresa, eles disseram que essas parcerias são muito importantes, pois possibilitam maior credibilidade da marca do negócio e facilitam a inserção dos produtos ou serviços no mercado. Também destacaram a parceria efetiva do SEBRAE no processo de incubação.

6.3.4.3.6 Comunicação entre empresas e incubadoras

Foi perguntado aos entrevistados como se processava a comunicação interna entre empresas e incubadora, quais os canais utilizados e se encontravam problemas nessa comunicação. Ainda, se existia algum método utilizado pela administração para avaliar o desempenho das empresas incubadas e/ou para obter a avaliação dos incubados sobre os serviços e facilidades oferecidos pela incubadora.

No caso da IA, os entrevistados disseram que a comunicação ocorre por meio de reuniões mensais; conversas informais e comunicação via memorando e e-mail. A maioria disse não haver problemas relativos à comunicação interna. Em relação à avaliação, o gestor argumenta que é cobrado dos empresários um relatório mensal com dados referentes à comercialização dos produtos; gestão administrativa e financeira; parcerias estabelecidas etc. Esse monitoramento, segundo ele, visa o controle, avaliação e acompanhamento dos empreendimentos. Em relação à avaliação do programa pelos incubados, diz que estão

elaborando um formulário com indicadores pré-definidos nacionalmente para obter essa avaliação.

No caso da IB foram citados os mesmos meios de comunicação. Foi apontado pelos empresários entrevistados que havia falhas na comunicação, o principal problema apontado foi em relação à demora da gestão em atender as solicitações. Em relação à avaliação tanto do programa pelas empresas quanto das empresas pela incubadora, revelou-se que não existe um método formal para tal finalidade, que esse procedimento é realizado informalmente.

6.3.4.4 Acesso ao conhecimento produzido na universidade

Neste item foi perguntado aos gestores e empresários se o acesso ao conhecimento produzido na universidade era facilitado, quais as principais dificuldades de acesso e quais os canais mais utilizados para a transferência deste conhecimento.

6.3.4.4.1 Acesso ao conhecimento produzido na universidade, pelos empresários - IA

Os empresários da IA disseram que o acesso ao conhecimento produzido na universidade ocorre por meio de consultorias e cursos oferecidos pelo programa em parceria com a universidade. Apesar disso, reclamam da burocracia, da pouca visibilidade do programa na universidade, do pouco interesse dos acadêmicos em apoiar projetos com foco mercadológico. Colocam que a prioridade da academia são projetos e programas desenvolvidos pela universidade para fins apenas de pesquisa acadêmica. Dizem que os ex- alunos conseguem um contato mais facilitado, pois possuem relacionamento com ex- professores e funcionários desde o período da graduação e/ou pós-graduação.

“E1: Apesar dos esforços da incubadora em aproximar as empresas da universidade, ainda percebo muita resistência por parte de professores, eles têm pouca ou nenhuma disponibilidade para auxiliar no desenvolvimento de projetos da empresa. O apoio maior vem do SEBRAE, que está sempre presente.”

“E2: Para falar a verdade, nossos projetos dependem só de processamento (arquitetura de softaware), pois o restante dominamos totalmente. Mas tenho certeza de que quando chegar a fase de testes de laboratórios e protótipos devemos aproveitar mais o conhecimento da universidade. Acredito que teremos facilidade, pois nos formamos na universidade e ainda temos contato com antigos professores.”

“E3: O acesso ao conhecimento se dá através do acompanhamento dos professores que prestam consultorias às empresas, auxiliando nas atividades estratégicas da empresa. Vale frisar que, existe de fato esse envolvimento. Mas acredito que deveria haver maior esforço, de ambas as partes, para consolidar essa transferência de conhecimento. Acredito que todos tem a ganhar com isso [...].”

“E4: A partir do momento da seleção, onde é oferecido um curso para elaboração do plano de negócio e posteriormente um plano de negócios para prospecção de cenário e a possível colocação da empresa no mercado. Monitoramento do trabalho, da atuação da empresa. Através de consultorias e cursos para capacitação. A incubadora promove um encontro mensal (café) para aproximar as empresas incubadas para que elas troquem idéias, na ocasião é oferecida uma palestra promovida com o apoio de instituições parceiras e da universidade [...]. A empresa pode solicitar consultorias especializadas em marketing, administração entre outros.”

Já o gestor do programa coloca que o acesso ao conhecimento produzido na universidade se dá a partir do momento do processo de seleção quando lhes é oferecido um curso para elaboração do plano de negócios e por meio do processo de ensino-aprendizagem, proporcionado pelas atividades práticas (processo de gestão, as consultorias, assessorias; desenvolvimento de projetos, testes em laboratórios, melhorias de produtos/serviços).

Para o gestor o acesso ao conhecimento é mais facilitado para as empresas originadas de projetos desenvolvidos na universidade, onde empresários (ex-alunos) tem contato informal com seus ex-professores. Diz que a incubadora tem tentado combater essa prática informal, com o objetivo de desenvolver um sistema que gere oportunidades de acesso a esses professores por todos os incubados.

Coloca que as demandas mais freqüentes são para realização de análises laboratoriais, testes de qualidade e desenvolvimento de projetos. O segmento empresarial que solicita consultorias com maior freqüência são as empresas de base tecnológica, pelo fato de ser maioria no programa. As áreas mais procuradas por esses empresários são a Engenharia, especialmente a microeletrônica; Biotecnologia, Química. Diz ainda que a maioria desses