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3 REVISÃO DA LITERATURA

3.2 MECANISMOS DE INTERAÇÃO UNIVERSIDADE-EMPRESA

3.2.1 Relações pessoais informais

• Consultoria individual

Sem o envolvimento da universidade essa consultoria ocorre através da contratação, pelas empresas, de professores universitários. As empresas compram parte do tempo do professor, para assessorá-las nas atividades para as quais não dispõem de pessoal técnico qualificado ou quando necessitam de um parecer e orientação externos.

Ripper Filho (1992), diz que “em todo o mundo, o mecanismo mais eficiente de interação universidade-empresa é a contratação de docentes como consultores eventuais”. Ele justifica o argumento dizendo que ao se considerar a implantação de qualquer relacionamento, há a demanda de um esforço significativo e, como o esforço para estabelecer interação individual é muito menor do que aquele necessário para estabelecer o relacionamento entre instituições, ele torna-se mais eficiente pelo fato de que envolve basicamente indivíduos.

O autor acredita que nessa relação, as duas instituições são beneficiadas, a universidade que recebe informações de como funcionam as práticas mercadológicas, integrando esse conhecimento às praticas de ensino e a empresa que obtém um serviço de qualidade a um custo mais baixo.

Para Cruz (2000), entretanto, a consultoria individual:

[...] não tem sido muito intensa, tanto porque a cultura acadêmica muitas vezes impõe obstáculos porque a demanda pela empresa tem sido reduzida [...]. A atividade só faz sentido se a empresa tiver suas atividades de P&D e necessitar de complementação ou conhecimentos específicos – quando não existe P&D na empresa a consultoria tende a ser inefetiva. (CRUZ, 2000, apud MAIA, 2005, p. 114)

Pode-se considerar que a universidade é uma grande empresa de consultoria, pois, além de contar com profissionais altamente capacitados, dispõe deles em quantidade e em variadas áreas do conhecimento. Para fornecer um melhor atendimento às necessidades das empresas, muitas vezes a própria universidade mantém banco de dados de seus professores.

Apesar disso, é importante ressaltar que professores das universidades públicas tem uma barreira legal que dificulta a colaboração com o setor produtivo: a adoção do Regime de 40 horas/Dedicação Exclusiva. Sob o enfoque legal, ao professor em regime de Dedicação Exclusiva no âmbito das IFES, conforme o inciso I do art. 14 do Decreto nº 94.664, de 23 de julho de 1987, há a obrigação de prestar quarenta horas semanais de trabalho em dois turnos diários completos e impedimento do exercício de outra atividade remunerada, pública ou privada. A lei coloca que são permitidas somente as seguintes atividades:

a) participação em órgãos de deliberação coletiva relacionada com as funções de Magistério;

b) participação em comissões julgadoras ou verificadoras, relacionadas com o ensino ou a pesquisa;

c) percepção de direitos autorais ou correlatos;

d) colaboração esporádica, remunerada ou não, em assuntos de sua especialidade e devidamente autorizada pela instituição, de acordo com as normas aprovadas pelo conselho superior competente.

Sob outro enfoque, mas ainda atento à referida lei, Decreto nº 94.664/87, é de se verificar que, em face das peculiaridades de cada área, e, antevendo os atuais conceitos de autonomia universitária cuidou o legislador, na letra do § 2º do art. 14, de permitir, a exceção: “Excepcionalmente, a IFE, mediante aprovação de seu colegiado superior competente, poderá adotar o regime de quarenta horas semanais de trabalho para áreas com características específicas.”

Assim, com respaldo no § 2º do art. 14 do Decreto nº 94.664/87, é de se verificar a existência plena da possibilidade de adoção do regime de 40 horas semanais para áreas com característica específicas, mediante a aprovação prévia do colegiado superior da IFES. Pois bem, estes são os argumentos legais e técnicos que se submetem aos critérios de oportunidade e conveniência da Administração acadêmica. Os professores que exercerem atividades alheias às previstas pela lei podem ser processados e obrigados a ressarcir ao erário.

• Workshops informais

Os workshops informais constituem intercâmbio decorrente da interação universidade/empresa por meio de palestras e seminários. Oportuniza o encontro de professores e pesquisadores especializados, com diferentes visões, para discutir temas atuais da área de interesse e trocar experiências e informações.

• Spin offs

São empresas que não têm envolvimento direto da universidade; nascem de modo informal e espontâneo, principalmente quando a universidade tem um bom desempenho científico e tecnológico, através da iniciativa de professores, alunos ou profissionais pós- graduados. Consistem na transferência de conhecimentos gerados na universidade, como um produto ou serviço, para o mercado, sendo assim importantes para o desenvolvimento de organizações do setor produtivo.

No Brasil, existem alguns exemplos de spin offs: em São Paulo, na área de telecomunicações (Campinas e Santa Rita do Sapucaí), na área de materiais (São Carlos), em comunicação e aeronáutica (São José dos Campos); em Santa Catarina, na área de mecânica de previsão (Florionópolis), e no Rio de Janeiro, em prospecção e extração de petróleo.

Nos Estados Unidos, as spin offs foram responsáveis pelo aumento do potencial competitivo do país nos anos 1990. Além de contribuir intelectualmente, o líder dessa organização tem a responsabilidade de encontrar fundos, administrar pessoal e publicar os resultados das pesquisas.

Identificou-se na literatura três tipos de spin offs: criadas pelos professores ou pesquisadores da universidade, ou outros centros de pesquisa, que, tendo obtido bons resultados nas suas pesquisas, pretendem explorá-los comercialmente; criadas por ex-alunos (formados) das universidades que também se interessam em aplicar os resultados das pesquisas das quais participaram; criadas por pessoas de fora das universidades, como profissionais do setor privado, que, com o objetivo de abrir seu próprio negócio, pretendem explorar resultados de pesquisas desenvolvidas no meio acadêmico.

• Publicação dos resultados de pesquisas

De iniciativa dos próprios pesquisadores, mostra-se relevante, a depender da acuidade das empresas e de sua capacidade de interpretar as informações, podendo aplicá-las, se for o caso. Mesmo que haja uma relação de cooperação entre a universidade e a empresa, esta precisa estar sempre atenta e acompanhar os trabalhos desenvolvidos na universidade, pois a simples doação de recursos para o parceiro universitário não trará para a empresa uma tecnologia mais útil do que se ela aguardasse pela publicação dos resultados da pesquisa.