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CAPÍTULO III – A UNILA ENTRE OS MODELOS TRADICIONAIS E AS

3.2 OS DOCUMENTOS ESTRUTURANTES DA UNILA

3.2.4 A interdisciplinaridade como desafio da Unila

A diversidade das múltiplas culturas está inserida no contexto da Unila e oposta aos clássicos modelos de ensino superior. Na proposta de criação da Universidade, na organização de um novo modelo de ensino superior, propuseram novos horizontes de integração de rupturas às tradições disciplinares.

Sobre as questões interdisciplinares, podemos contemplar todas as abordagens de ensino numa universidade voltada para a integração. A concepção de um ensino interdisciplinar é um princípio institucional enquanto um dos pilares que constituem a Unila, porém sua aplicabilidade se depara com a resistência, pois depende de uma escolha individual e epistemológica das ações dos protagonistas envolvidos.

O processo interdisciplinar necessita de mudanças na produção de conhecimento, necessita de transformações que agreguem conhecimentos para o desenvolvimento de competências que superem os limites estabelecidos pelas práticas disciplinares.

A interdisciplinaridade, enquanto proposta acadêmica, faz-se presente no universo dessa pesquisa, porém essa discussão exige mais avanços, na medida em que pretende a conciliação da proposta interdisciplinar com as formações especializadas e científicas, que não deixam de ser disciplinares. No entanto, é grande o desafio do exercício docente para a atual conjuntura brasileira, que pretende a integração latino-americana pela via acadêmica. (STEIL, 2011).

Esse fator é interessante, porque da interdisciplinaridade deriva uma amplitude de outros termos como a pluridiversidade, transdiciplinaridade e multidisciplinaridade, que são traçados pela ordem disciplinar, implicadas num modismo. Em choque com a palavra integração, são outros conceitos que ampliam e até banalizam a interdisciplinaridade, pela resistência apresentada por suas ambiguidades nos distintos conceitos em que são utilizadas. Desse modo, não se pode substituir o termo da interdisciplinaridade com outros conceitos que apresentam concorrência. (STEIL, 2011).

Apesar da interdisciplinaridade não ser plena na Unila, ela decorre dos centros alocados por quatro institutos: o Instituto de Línguas, Artes e História, o Instituto Latino-Americano, o Instituto de Economia, Política e Sociedade e o Instituto Latino-Americano de Tecnologia, Infraestrutura e Território, que dialogam entre si.

Conforme o Projeto Pedagógico Institucional (PPI) da Unila, identificamos na construção curricular a presença de alguns elementos epistemológicos da contra-hegemonia, que pretendem explorar ações pedagógicas para criação de conexões das disciplinas com a realidade latino-americana e caribenha. O documento expressa os seguintes objetivos:

Para que as temáticas latino-americanas sejam exploradas com consistência, nas diversas carreiras, a UNILA desenvolverá o ciclo comum de estudos – Línguas Adicionais, Fundamentos de América Latina e Metodologia e Epistemologia das Ciências – por meio do qual instrumentalizará o discente para a construção autônoma do conhecimento. Nesse processo, a reflexão sobre a história da América Latina e Caribe, sobre as culturas e as ciências representará um dos diferenciais da UNILA em relação às demais universidades da região. Neste contexto, o bilinguismo deverá primar pela interação e respeito entre as diversas nacionalidades que compõem a comunidade universitária da UNILA. (UNILA, 2012, p. 9)

As perspectivas apresentadas resultaram, no entanto, na construção de um ciclo comum de estudos criados pelos centros interdisciplinares da referida universidade com o propósito de nivelamento de conhecimento entre os estudantes originários de diversas culturas. O ciclo comum é estruturado por três eixos que perpassam todas as áreas da graduação, sendo eles:

a) fundamentos da América Latina, um estudo de perspectiva interdisciplinar, para erudição do quadro cultural e político dos países da América Latina e Caribe, com debates críticos das múltiplas características continentais e dos problemas que assombram as distintas realidades, no objetivo de buscar soluções que respondam os diferentes problemas que, historicamente, afetam as populações;

b) a metodologia (que engloba a filosofia e a epistemologia), permitindo a construção de novas bases para que os estudantes desenvolvam uma postura investigativa, trabalhando os métodos científicos necessários aos diversos campos de pesquisa e as diversas áreas de atuação profissional, sem deixar de lado os desafios postos pela interdisciplinaridade;

c) estudo de línguas, tanto portuguesa quanto espanhola; para uma universidade multicultural e multilíngue se faz necessário os estudos da língua portuguesa para os estudantes hispano hablantes e o estudo de espanhol para os estudantes brasileiros, preparando-os à pesquisa de ordem internacional.

O ciclo comum de estudos, proposto pela Unila, apresenta-se enquanto missão institucional, de forte influência das ciências humanas, demonstrando um esforço de garantir a interdisciplinaridade. Porém esse esforço apresenta uma dificuldade quando requer um aumento

considerável de horas-aulas aos estudantes. Na prática pedagógica, o reitor aponta que a questão da interdisciplinaridade é um grande desafio. O professor destaca que o ciclo comum são:

[...] alguns aportes para a interdisciplinaridade, isso não constitui por si só a interdisciplinaridade, o professor que chega aqui e ele é aprovado para o curso de medicina, ele nunca vai necessariamente o que se passou em FAL (Fundamentos de América Latina) e ele vai poder continuar em sua matéria para sempre, sem se mover, sem dialogar, então acho que precisa de muita coisa, e precisa sim cuidar desse processo por 50 anos muito bem, com muitos detalhes e muita atenção para isso dar certo; é a longo prazo.

Essas considerações nos remetem a pensar sobre a necessidade epistêmica de aprofundamento da interdisciplinaridade na Unila, enquanto compromisso e abrangência referidos no diálogo entre os saberes no funcionamento do exercício da formação de nível superior.

Apesar de apresentar uma proposta inovadora, que pretende o avanço da educação superior, que atenda às necessidades específicas da região latino-americana, a comunidade acadêmica da Unila tem resistido a uma série de ameaças que pretendem o desmonte do seu projeto originário, para uma transformação em Universidade Federal do Oeste do Paraná, com o objetivo da formação de mão de obra para o agronegócio.

Com as mudanças políticas ocorridas no Brasil a partir de 2016, as universidades públicas brasileiras sofrem um projeto de precarização que pretende a privatização do ensino superior, assim como demais serviços públicos.

É perceptível que a atual administração pública, no âmbito da educação, no caso brasileiro, ou é ingênua ou age de má-fé, quando apresenta propostas de retrocesso dos avanços do sistema educativo brasileiro, que segue o plano de ampliação global e neoliberal de democratização do ensino superior, contraditórios ao preconizar a privatização dos espaços públicos, diminuindo o processo de democratização cognitiva, retardando o avanço científico e tecnológico, suprimindo ainda mais a produção de conhecimentos que atendam Às especificidades singulares da região da América Latina.