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CAPÍTULO II – TRAJETÓRIAS DAS EPISTEMOLOGIAS CONTRA-HEGEMÔNICAS

2.2 AS ESPISTEMOLOGIAS CONTRA-HEGEMÔNICAS E A CRÍTICA À EDUCAÇÃO

2.2.4 A descolonização epistêmica

A libertação colonial da América Latina depende do desprendimento da hegemonia do campo epistêmico, constituinte das bases pseudosociais. As sociedades na América Latina são formadas pelo idealismo padronizado de desenvolvimento. As produções dos saberes, na ordem epistêmica hegemônica, conduzem as ciências ao dogmatismo, enquanto produzem conhecimentos fictícios que não atendem às necessidades características das sociedades nas regiões da América Latina.

O projeto intelectual de descolonização se destina a introduzir debates e ideias ausentados pelos interesses do mercado. O giro descolonial é proposto por Mignolo, Walsh e Linera (2014) enquanto pensamento descolonial de desconstrução da matriz colonial do poder. El pensamento descolonial, como el mapa que describimos em la tapa, se consitue pensándose em variadas formas semióticas, paralelas y complementarias a movimentos sociales que se mueven em los bordes y em los márgenes de las estruturas políticas (estado, partidos) y económicas (explotación, acumulación, opresión ) pénsandose em desprendimento de la imagen de una totalidad que, como el mundo de The Truman Show, nos hace crer que no hay, literalmente, salida. El desprendimento que promuve el pensamento descolonial conlleva la confianza em que otros mundos son

posibles ( no uno nuevo y único que creemos que puede ser el mejor, sino otros, diversos) y que están em proceso de construcción. (MIGNOLO; WALSH; LINERA, 2014, p. 9).

Mignolo aponta a incapacidade contemporânea do pensar epistemológico para além das categorias gregas apropriadas pela Modernidade. O rigor do pensar científico condena as categorias do pensamento que controlam os saberes que condicionam a excelência do conhecimento.

A apropriação epistemológica de produção humana pela Grécia antiga foi fortemente estruturada pelo controle imperial. O processo colonial possui a capacidade de adaptar-se nas mudanças temporais sem perder o seu domínio de caráter exploratório da marginalização que subalterniza a precarização da existência de quase a metade da população mundial.

A lógica da colonialidade epistêmica constitui as bases discursivas que legitimam seu domínio em toda esfera social, conduzindo fortemente as subjetividades dos povos subalternizados em defesa de seu controle. Os indivíduos são incapazes de compreender o caráter exploratório no qual se inserem socialmente, lutando pela defesa da manutenção de suas naturezas colonizadas, incapacitadas de alcançarem outros critérios de verdade, embebedadas pelo ópio dogmático das naturezas mágicas.

Retomamos brevemente o misticismo da Modernidade denunciado por Dussel, que nos remete à reflexão do bloqueio pelo obscurantismo do desenvolvimento real das racionalidades que observam o avanço somente em seus ganhos de poder de consumo. As preocupações humanas parecem inexistentes.

Talvez no futuro, o desenfreado acúmulo de apropriação das produções das riquezas mundiais, resultando a enorme diferença social geradora das mais precárias condições que violentam as existências humanas, envergonhem a humanidade tanto quanto as violências dos processos de escravidão nos envergonham na atualidade.

A colonialidade não se define em casos particulares. Mignolo, Walsh e Linera (2014, p. 10) destacam que o desprendimento não é dado somente por meio dos saberes mas opera em três níveis diferentes:

 colonialidad del poder (político y econômico)

 colonialidad del saber (epistémico, filosófico, científico y en la relación de las lenguas com el conocimiento ...)

 colonialidad del ser ( subjetividad, control de la sexualidade y de los roles atribuídos a los géneros, etc).

É necessário o desprendimento das três áreas do saber para atingir “o giro descolonial”. Mignolo apresenta as categorias que naturalizam o saber do ser, implicadas na manutenção da retórica da Modernidade.

As ideias apresentadas por Enrique Dussel sobre a práxis de libertação e construção de nova hegemonia analisam a empiria do sistema institucional político vigente, no exercício hegemônico do poder, legitimado por um consenso suficiente das subjetividades. O filósofo aponta a situação de crise em decorrência de os oprimidos não terem o atendimento necessário dos seus interesses, o que exige a consciência

[...] de su insatisfacción, sufrimiento, que al tornarse intolerables (y la intolerabilidad es relativa al conocimiento del grado de satisfacción, que alcanzan otros grupos sociales) produce la irrupción de una consciencia colectiva crítica que rompe el consenso y se presenta como dissenso social. La “hegemonia” de la classe dirigente – decía Gramsci- se torna “dominación”. Es la crisis de la hegemonia, de la legitimidad del sistema político. La práxis de liberación es crítica em cuanto rompe la hegemonia de la classe dirigente. (DUSSEL, 2012, p. 150).

A práxis da libertação, como ruptura da hegemonia exercida pelo poder político, decorre, no entanto, da conscientização da colonização do ser, que naturaliza seus processos por meio da condução das subjetividades, formando os consensos suficientes que legitimam seus domínios.

O controle do ser possui enorme abismo entre o ser e o saber. A esse despeito, destacamos a produção dos saberes nas universidades, esvaziados na práxis. Quanto cinismo e hipocrisia se fazem presentes na produção do conhecimento libertador, sistematizado pela mágica científica dos rigores hegemônicos para busca dos critérios de verdade. A trajetória hegemônica que conduz à produção dos conhecimentos pode gerar a incapacidade dessas produções se deslocarem dos limites discursivos às práticas dos indivíduos aprisionados pela regulação das subjetividades. Essas considerações nos levam a questionar o quanto nossas práticas vão de encontro com nossos discursos. Embora sistematizados e validados cientificamente, tornam-se meras ideologias sem impacto à realidade material.

CAPÍTULO III – A UNILA ENTRE OS MODELOS TRADICIONAIS E AS