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A internacionalização de dentro para fora

2. Os ciclos de Internacionalização do capitalismo e os fatores chave de sucesso

4.2 A internacionalização de dentro para fora

“o novo é possível, o tempo é real e a história é aberta.” Carlos Sávio G. Teixeira in: Encontros/Roberto Mangabeira Unger. Org. C. S. G.

Teixeira.

Este capítulo procura analisar o fenômeno da internacionalização de dentro para fora, ou seja, o movimento de saída das empresas locais para o mercado estrangeiro tornando-se, portanto, empresas multinacionais. Avalia-se, também, os efeitos gerados por este processo. Ele está dividido em quatro partes: a primeira analisa de forma crítica a literatura teórica concernente a internacionalização de dentro para fora, ou seja, contrapondo a literatura criada no mainstream com uma nova literatura menos ortodoxa e evidências empírico-históricas. Na segunda, resumimos as evidências deste tipo de internacionalização sobre a economia, os setores e as empresas.

Destaca-se a importância do Estado, de diversas formas na internacionalização das empresas, desde o direcionamento dos setores, na busca de tecnologia e na escolha de setores e de empresas com potencial de sucesso. Na terceira parte discute-se o ambiente político público e das instituições necessárias ao apoio a internacionalização das empresas nacionais. E, por fim, na quarta parte, avalia-se quais as exigências e salvaguardas que deveriam ser feitas pelo Estado para dar apoio técnico, político e financeiro às empresas nacionais. Além, de discutirmos a escolha dos setores a serem apoiados.

4.2.1. A literatura da internacionalização de dentro para fora

O processo de internacionalização de empresas é muito antigo, porém, nas últimas décadas tem ganho contornos em intensidade, transformando quantidade em qualidade, ou seja, transformando substantivamente, e não só qualitativamente, a economia mundial.

A mundialização, como prefere Chesnais, é um fenômeno contemporâneo, que teve como fatores determinantes preponderantes: a

revolução tecnológica, principalmente em TI, a onda de liberalização financeira, a necessidade de expansão dos mercados consumidores, oriunda de uma estagnação inclusive demográfica de alguns mercados centrais, pressões sociais por melhoria de vida na periferia, exigindo dos governos posturas mais arrojadas e determinadas no sentido de resolver os problemas econômico-sociais.

Dois aspectos na literatura da internacionalização, com sua visão centro-periferia, nos chamam a atenção no contexto atual: A pouca relevância dada ao papel do Estado neste processo e da tecnologia, entendida de forma ampla, condicionando o processo de internacionalização.

A literatura existente no mainstream sobre a internacionalização de empresas tem focado muito nos objetivos das empresas e nas suas estratégias específicas de internacionalização. Porém, pouco tem se dito sobre o papel do Estado como propulsor e direcionador da internacionalização das empresas. Como direcionador cabe já relacionar que esta tarefa deve estar vinculada aos ganhos tecnológicos obtidos com a internacionalização via aquisição e joint ventures. Ou seja, o Estado deve incentivar a aquisição de empresas com tecnologias embarcadas e portanto, grande potencial tecnológico a ser importado para toda a cadeia setorial.

Como relata Actis (2015, p.122):

[…]ao contrário de outras abordagens que tratam do fenômeno da internacionalização produtiva das vantagens intrínsecas das empresas…tenta entender a dinâmica de longo prazo que teve a expansão internacional das empresas brasileiras com as mutações em diversas articulações entre o Estado e o Mercado.

5 A integração entre as internacionalizações 5.1. O exemplo americano

A história norteamericana após a Guerra de secessão nos dá um exemplo completo da prticipação do Estado como gestor do processo de desenvolvimento econômico e social de um país transformando-o em um país desenvolvido. Entre 1870 e 1913 os EUA de Abrham Lincoln em grande medida agrário se transforma na potencia industrial de Theodore Roosvelt (HUGHES; CAIN, 2003 p.327). Esta transformação se deve a uma conjunção de fatores, dentre eles destacam-se a excepcional dotação de recursos naturais, mão de obra em abundância (inclusive imigrantes dispostos a tudo), um centro financeiro e de negócios eficiente e afeito ao risco (TAVARES; BELLUZZO, 2004 p.119). Destaque-se ainda os capitães de indústria, robber barons, que dominaram o Estado através de práticas pouco convencionais. E, por fim, mas não menos importante, a existência de

[...]um sistema de livre iniciativa, segundo os admiradores do modelo americano, deixa as pessoas competirem sem limites e recompensa os vencedores sem restrições impostas pelo governo ou por uma cultura igualitária equivocada. Por conseguinte, o sistema cria incentivos excepcionalmente fortes para o empreendedorismo e a inovação (CHAG, 2013 p.151).

A expansão da rede ferroviária e com ela o telégrafo possibilitou incorporar vastas áreas antes virgens e inaproveitadas ao mercado local e internacional. A concessão de terras pelo Estado e a ação dos bancos de investimento a mobilidade da força de trabalho criaram um impacto dinâmico que se retroalimentaram. A ferrovia trouxe em seu bojo a evolução das indústrias metal-mecânica, mineral(carvão) e da contrução civil. Este momento histórico “inaugurou novas modalidades de gestão empresarial, impôs a mobilização de somas gigantescas de capital e construiu as bases para o nascimento do moderno capitalismo” (MAZZUCCHELLI, 2009 p.180).

Os recursos financeiros para a empreitada da expansão da rede ferroviária veio também e principalmente da venda de participações nos

mercados externos. A Casa Morgan tornou-se rica e poderosa com a venda de papéis no exterior.

As transformações da estrutura econômica americana não se reduziu à ferrovia. A expansão da economia americana se deu em todos os setores da economia de forma vigorosa. A jornada para o Oeste incorporou muitas terras cultiváveis, que permitiu desenvolver uma cultura exportadora de baixo custo por desaguar a produção pelas ferrovias. Em 1910 a indústria de máquinas já era o principal ramo industrial em termos de valor adicionado, ultrapassando em muito os setores tradicionais de bens de consumo.

Destaca-se o que já foi descrito anteriormente, ao longo desse período as mudanças tecnológicas foram notáveis (MAZZUCCHELLI, 2009) e (CHANG, 2004) e se irradiaram pela agricultura e indústria gerando um aumento significativo de produtividade. Destaque-se a indústria de petróleo e a crescente indústria da eletricidade.

Os EUA ao contrário de sua ex-metrópole visou o mercado interno antes de se preocupar com o mercado externo.

A expansão da rede ferroviária exerceu um grande impacto sobre diversas industrias nascentes: siderúrgia, mecânica, mineração e da construção civil. Ainda impactou positivamente, através da ampliação da fronteira agrícola, a produção de alimentos, o desenvolvimento da produção de máquinas-ferramenta e a indústria extrativa de mineração e petróleo. A economia capitalista com dimensões continentais.(Mazzucchelli,2009).

Como era de se esperar este desenvolvimento levou as exportações americanas a superar as Inglesas.

A expansão das exportações norte-americanas modificaram o balanço de pagamentos do país.

Tabela 8: Balanço de pagamentos dos EUA: períodos selecionados.

* Sinal negativo variação positiva no estoque de ouro

A tabela 8. resume o efeito do desenvolvimento dos EUA durante o período analisado. E faz compreender como um processo bem orquestrado com uma boa liderança do Estado pode desenvolver uma superpotência econômica em menos de meio século.

Este processo é que se quer chamar a atenção.

Os recursos necessários ao desenvolvimento dos EUA vieram:

a) de um projeto de desenvolvimento do país com ênfase primordial no mercado interno;

b) de recursos naturais abundantes que propiciaram insumos baratos;

c) distribuição de terras de qualidade pelo Estado aos cidadãos e imigrantes que permitiu uma condição de vida adequada;

d) de mão de obra abundante e de qualidade vinda do além mar para se manter na América. Só de italianos as estatísticas apontam para mais de 3,5 milhões;

e) desenvolvimento de um sistema financeiro ágil, moderno e disposto a correr riscos. Wall Street;

f) da busca de recursos financeiros no além mar. O desenvolvimento industrial americano não se deu através da acumulação originária na agricultura;

g) do desenvolvimento e a difusão de tecnologias tiveram um ambiente muito favorável (vide tabelas 3 e 4 e anexo 1);

h) de novas tecnologias de gestão: “A administração científica”.

Linhas de montagem e Processos produtivos;

i) de um Estado a serviço das empresas com forte presença na educação e na proteção dos interesses americanos (vide tabelas 1 e 4); e

j) de uma cultura empreendedora fortemente estimulada.

De 1850 a 1873 podemos perceber que os EUA dependiam de bens e serviços vindos do exterior assim bem como eram financiados por outros países, tendo que pagar juros e dividendos. Para contrabalançar as contas dependiam de capitais oriundos de fora do país.

A utilização eficiente dos recursos propiciou que entre 1874 a 1895 já houvesse superávit em bens e serviços, embora a conta de juros e dividendos tenha se tornado muito alta e a necessidade de capital externo continuasse elevada.

Entre 1896 a 1914 os EUA surgem como a grande nação do capitalismo moderno. A sua balança superavitária lhe permite com muita folga pagar os juros e os dividendos aos estrangeiros e se inicia uma nova era no sentido dos investimentos americanos no exterior.

Este processo de proteção da indústria nascente ao mesmo tempo em que se busca capitais – e eventualmente tecnologia – no exterior para o desenvolvimento local muito bem engendrado pelo Estado americano é em síntese o que se demonstra como um receituário para os países e/ou setores da economia com atraso em seu desenvolvimento. Claro que isto não será possível sem um espírito empreendedor.

Na segunda fase desse processo os EUA demonstram uma nova política, onde os investimentos em tecnologias e a sua punjança econômica permitem, como algo natural, ir a conquista de novos mercados.

5.2. A coordenação do Estado

Cabe lembrar que alguns Estados Asiáticos retardatários no seu processo de desenvolvimento como por exemplo Japão, Coreia e China,

cada um a seu tempo, conseguiram galgar uma posição de destaque seguindo passos razoavelmente parecidos com os EUA. Claro que existem diferenças de alcance e de estratégias. Mas no sentido geral os itens elencados de “a” até “j” estão presentes no momento do big bang do desenvolvimento desses países.

Países continentais, como a maioria dos BRICS, que já têm uma economia com algum grau de complexidade parecem sofrer mais para decidir o rumo a ser tomado para alcançar o seu desenvolvimento pleno.

Os Latino americanos também parecem não conseguir deslanchar de forma consistente em seu desenvolvimento.

A tabela 9 permite verificar a diferença entre os países asiáticos e os países latino americanos em termos de produtividade alcançada nas últimas décadas. Enquanto os países asiáticos iniciaram a década de oitenta com um PIB per capita bem abaixo dos Latino Americanos – exceção Hong Kong, em 2014 suas economias já se encontram em situação na média bem superior aos países latinos.

Tabela 9 :Valores correntes (US$) e crescimento (%) do PIB per capita anual em países selecionados da AL e Asia, 1980 - 2014

Países US$ 1980 setores privilegiar com uma política protecionista, auxiliando na promoção de

um desenvolvimento tecnológico autóctone e financiamento do processo como um todo? Quais setores a melhor estratégia é a abertura do mercado para empresas estrangeiras, embora procurando desenvolver um processo de catch-up? Normalmente setores onde a fronteira tecnológica está distante essa estratégia pode ser interessante gerando um aumento da produtividade. Quais setores e empresas estão preparadas para se estabelecerem em territórios estrangeiros? Quais regras estabelecer para os entrantes e para auxiliar as empresas que desejam investor no exterior?

Como organizar o setor gerador de tecnologia? Universidades e centros de pesquisa? Como integrar as empresas e os centros de pesquisa em investimentos de longo prazo? Qual a melhor forma de financiar o desenvolvimento tecnológico e a internacionalização de empresas nacionais?

A concertação, ou seja, o acordo entre os agentes econômicos e a sociedade precisa ser firmado para que a direção seja acertada e os sacrifícios não sejam questionados durante o processo de desenvolvimento.

Os Países Asiáticos parece ter respondido às questões de forma mais rápida que os latinos e se aproveitaram das últimas ondas de desenvolvimento do capitalismo.

5.3. O que esperar das internacionalizações de fora para dentro.

Os países hospedeiros deveriam esperar que asa empresas aportem no país com tecnologia que possa de alguma forma ser copiada, que a assimilação e o espraiamento da tecnologia embarcada nos produtos e processos possam ser feitos de forma rápida, agregando valor.

Ainda é objetivo permitir as empresas a atuarem em setores nos quais os recursos existentes não são suficientes e que demorariam muito tempo para alcança-los. Tornando-se uma corrida sem possibilidade de alcançar os primeiros postos.

5.4. O que esperar das internacionalizações de dentro para fora.

Que as empresas que se proponham a se internacionalizar com a ajuda do Estado procurem trazer tecnologias. E, a longo prazo, se tornem uma fonte de recursos para financiamento de novos projetos pela sua atuação direta ou através do financiamento do Estado através do pagamento de impostos.

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