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2. Os ciclos de Internacionalização do capitalismo e os fatores chave de sucesso

3.3. O ciclo completo e o papel do Estado

3.3. O ciclo completo e o papel do Estado.

Na introdução de seu livro Estrin (2010) descreve sua trajetória profissional, que surpreendeu a si própria e a sua família. Mas se estudarmos a história de muitos dos criadores das ponto.com e outras empresas de tecnologia dos anos 70 e 80 iremos encontrar relatos similares aos de Estrin (2010, p.65 ).

Quando me matriculei na UCLA, em 1971, as primeiras sementes do que mais tarde se tornaria a Internet estavam apenas começando a germinar nas universidades e nos laboratórios de pesquisa fundados pelo departamento de Defesa. Depois de testemunhar toda a agitação em torno dessas tentativas pioneiras de interligar computadores em diferentes partes do globo, quis fazer parte do plano, e me mudei para o norte do país para uma pós-graduação na Universidade de Stanford, bem no centro do que hoje chamamos de vale do Silício. Era a mais jovem e a única mulher em uma equipe de pesquisa liderada por Vint Cerf, pioneiro da Ciência da Computação que mais tarde seria chamado de pai da Internet. A equipe de estudantes de pós-graduação de Cerf estava desenvolvendo um novo tipo de software de rede – código que possibilita que os computadores troquem informações – denominado protocolo de controle de transmissão ou TCP. A sensação de que estávamos trabalhando em algo importante era unânime. Contudo, mal sabíamos que o software que desenvolvíamos naquele momento se tornaria o pilar da Internet e da Web.

Daí me ocorreu uma serendipidade, e eu estava preparada. Meu primeiro emprego foi em uma empresa de computação que havia acabado de ser criada, a Zilog, onde descobri a magia de trabalhar em uma equipe pequena e talentosa. Percebi também que minha verdadeira paixão e competência não era interagir com máquinas, mas trabalhar com pessoas para introduzir novas tecnologias no mercado. Surpreendendo toda a família, até a mim mesma, me tornei empresaria e empreendedora. Conheci meu ex-marido, Bill Carrico, na Zilog. Quando fundamos a Bridge Communications, em 1981, nem imaginávamos que acabaríamos criando sete empresas juntos.

O caminho trilhado entre a graduação e a fundação de diversas empresas parece consistente com a história e a época vivida por Estrin e uma série personagens conhecidos como Bill Gates e Steve Jobs entre

outros. Como esse pequeno trecho acima demonstra, há um investimento maciço do Estado, através do departamento de Defesa norteamericano, em pesquisa. É o departamento de Defesa o demandante da pesquisa, o fundador e/ou fomentador dos laboratórios de pesquisa e seu financiador. As Universidades estavam engajadas nas pesquisas de ponta e os jovens pesquisadores tinham um terreno fértil para o seu desenvolvimento. A passagem da academia para a vida privada fluía com uma certa naturalidade. Na medida em que várias empresas de tecnologia eram criadas e suas pesquisas eram demandadas e financiadas pelo Estado, através respectivamente das agencias ligadas a defesa e a corrida espacial e de suas agencias de fomento. Não era um problema largar o laboratório da universidade e criar uma empresa quando se sabia que os seus serviços seriam contratados pela mesma agencia que já patrocinava as pesquisas nas Universidades. Daí a levar o conhecimento adquirido em anos de pesquisa dentro dos laboratórios universitários para empresas recém criadas que viabilizassem o uso destas tecnologias em produtos consumíveis era apenas a parte final do processo. Onde o conhecimento científico se tornava em produtos e serviços de prateleira.

Mazzucato (2014) demonstra que o caminho do investimento em pesquisa até se tornar algo de uso comercial é longo e arriscado. As primeiras etapas do processo são as mais arriscadas e as mais longas. Por isso mesmo estas primeiras etapas acabam sendo demandadas e financiadas pelo Estado e suas agencias. A taxa de insucesso é muito alta no início das pesquisas mas se torna bem menor conforme vai se delineando os potenciais usos do conhecimento adquirido dentro dos centros de pesquisa. O capital de risco privado só inicia o seu processo aventureiro de investimento quando os riscos dos projetos já atingiram um grau apenas moderado.

Ghosh e Nanda (2010) descrevem estágios de investimento do capital de risco e os associa ao processo de pesquisa e lançamento de produtos conforme figura 1.

Figura 1: Capital de risco e o processo da pesquisa pura ao desenvolvimento de produtos

Esta figura apresentada pelos autores não demonstra a verdadeira participação do capital público em termos de risco. Primeiro por que a primeira fase da pesquisa básica e aplicada é a mais demorada, a mais cara e a que tem a maior taxa de insucesso. Segundo, que as demais etapas contam também com recursos do Estado em percentual relevante (AUERSWALD; BRANSCOM, 2003 p. 232).

Estrin (2010, p.71) descreve que:

“Ao avaliar as estratégias de inovação sustentável que funcionaram no passado, precisamos igualmente adapta-las às novas realidades econômicas e sociais do mundo contemporâneo. Vários grupos precisam ser envolvidos para solucionar esse problema, dentre os quais empresas, organizações governamentais, instituições financeiras, empresas sem fins lucrativos, acadêmicos, educadores e pais. Para avançarmos efetivamente, esse conjunto diverso de protagonistas terá de contar com uma estrutura e linguagem

Ao concordar que uma orquestra necessita de vários instrumentistas diferentes também denota-se a importância de se destacar o papel do maestro. O Estado tem que assumir essa função.

Carlos Arruda (2015), coordenador do núcleo de inovação da Fundação Dom Cabral, afirma que “nossas escolas de negócios ensinam o empresário a ser conservador, a olhar resultados de curto prazo. Com a inovação é o oposto, é preciso arriscar e planejar para o futuro.” Estrin (2010), também lamentava-se alertando que a prioridade do entusiasmo de resolver problemas tinha dado espaço para prioridade dos retornos financeiros imediatos, prevalecendo sobre a missão de construir empresas de fato duradouras.

4 A internacionalização do Estado sob a ótica dos países receptores e dos países promotores.

“O que nos tem faltado , além da qualificação do nosso povo e da ampliação de oportunidades, é uma disposição de jogar o formulário fora. Há duas lições que podemos tirar do que ocorreu no plano internacional nas últimas décadas. Primeiro: vai para a frente quem se abre para o mercado e para o mundo. Segundo: só vai para a frente quem, ao se abrir para o mercado e para o mundo, joga fora o formulário.” Unger (2012, p. 46)

Antes de se avaliar as perspectivas existentes para os países quanto ao seu posicionamento frente a internacionalização, cabe discriminar o processo de internacionalização sob a ótica do papel do Estado receptor dos investimentos e do papel do Estado de origem destes investimentos. Há uma Internacionalização de fora para dentro, ou seja, o fenômeno que é percebido pelo país que hospedará investimentos estrangeiros e que comporá sua matriz de produção com uma maior participação de empresas estrangeiras. E, há outra percepção de internacionalização de dentro para fora, isto é, a identificação de um movimento das empresas locais em procurarem expandir suas fronteiras para fora de seu país sede. Há uma assimetria, de forma geral, entre o país receptor de investimentos diretos e o país que patrocina suas empresas a investirem no exterior. De qualquer forma as experiencias dos setores da economia que tiveram êxito contaram com uma grande participação do Estado. Como expõem Deos y Oliveira (2011, p.67) “Las experiencias exitosas en materia internacionalización de los sectores productivos se debió a políticas públicas concretas en el marco de estrategias estatales alejadas de la idea de laissez faire.”

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