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2.3 METODOLOGIA DE PESQUISA

2.3.2 A INTERVENÇÃO EDUCACIONAL

A intervenção educacional foi elaborada para ser aplicada em formato de oficina, tendo como público-alvo estudantes do Ensino Médio que não tenham estudado os conteúdos envolvidos no fenômeno de flutuação dos corpos: nosso tema-chave. Ela adota como pressuposto metodológico abordagens de ensino multimodais com foco em potenciais atividades lúdicas.

Aqui, a palavra “potenciais” exprime possibilidade, isto é, capacidade de vir a ser. Isso porque entendemos ludicidade22 como uma “experiência interna de inteireza e plenitude por parte do sujeito” (LUCKESI, 2014, p. 13). Isto significa que a experiência lúdica (sinônimo de ludicidade) é concebida como um estado interno que só pode ser vivenciado e descrito unicamente pelo sujeito. Em outras palavras, a depender dos sentimentos que se façam presentes numa determinada situação (didática ou não), o que é lúdico para um indivíduo pode não ser para outro.

Diferentemente do conceito de ludicidade, as atividades lúdicas compreendem atos sociais (LEAL; D’ÁVILA, 2013) realizados por um ou mais sujeitos. Elas envolvem brincadeiras, jogos ou qualquer outra ação em que se instaure esse estado de inteireza e plenitude. Como esse estado sofre influência de fatores endógenos e externos ao indivíduo, a compreensão do lúdico aceita nesta pesquisa pode encontrar eco em abordagens neopiagetianas, visto que esta considera que o atributo a ser analisado depende tanto de aspectos centrados no sujeito como no contexto (FISCHER, 1980; KNIGHT; SUTTON, 2004; PARZIALE; FISCHER, 2009). Isto, de certo modo, entrelaça a perspectiva teórica a qual esta

22 Ludicidade é um conceito polissêmico que, não raramente, é confundido com “atividade lúdica”

investigação está ancorada à concepção do fenômeno lúdico, permitindo articular características que respaldaram a proposição da intervenção educacional, veículo para atingir os objetivos de pesquisa já apresentados.

Tais características devem indicar o:

(i) desenvolvimento do entendimento em uma série hierárquica, o que fundamenta a abordagem dos conteúdos disciplinares em níveis crescentes de complexidade (PARZIALE; FISCHER, 2009; FISCHER, 2006);

(ii) estímulo à iniciativa, autonomia, criatividade e interatividade, dentre outras habilidades cognitivas, sociais e produtivas, permitindo o indivíduo ser protagonista no processo de ensino-aprendizagem e coordenar conhecimentos, sejam estes disciplinares ou não (CASTRO et al., 2001; BRASIL, 2002; CUNHA, 2012; D’ÁVILA, 2014; BAHIA, 2015).

Estes aspectos balizaram tanto a elaboração da intervenção em si, quanto a construção dos recursos didáticos aplicados durante a oficina, visando garantir que estes (intervenção educacional e materiais didáticos) estivessem em um nível adequado a qualquer estudante do Ensino Médio independentemente da série e da instituição de ensino a que este pertencesse. Deste modo, os conteúdos foram apresentados conforme abordagem geral, acessível aos educandos do 1º ano, porém, sem que estes estivessem em nível de complexidade aquém aos estudantes das séries finais.

Como já foi mencionado, neste trabalho tomamos como conteúdo científico norteador conceitos envolvidos no fenômeno de flutuação dos corpos. São eles: densidade, pressão e empuxo.

Tal conteúdo foi elencado tendo em vista (i) a omissão dos conteúdos relativos à Física de Fluidos nas escolas públicas da rede estadual de ensino, conforme pode ser observado nos conteúdos referenciais de Física listados em documentos distribuídos nas Jornadas Pedagógicas dos anos letivos de 2013 a 201523 (ANEXO A.1, A.2 e A.3); (ii) a aplicabilidade destes conceitos no cotidiano e (iii) a indicação presente nos PCN+ Ensino Médio, que determina como uma das metas educacionais para o ensino de Física, “estabelecer as condições necessárias para a manutenção do equilíbrio de objetos, incluindo situações no ar ou na água”

23 Não se encontram disponíveis, no site da Secretaria de Educação do Estado da Bahia

(www.educacao.ba.gov.br), informações sobre os conteúdos referenciais para os anos letivos de 2016 e 2017.

(BRASIL, 2002, p. 73). Neste caso, sugere-se a inserção do conteúdo sobre hidrostática como um dos temas estruturadores para organizar o ensino deste componente curricular24.

Para tratar os conceitos elencados no contexto escolar, foi executada uma oficina constituída de 5 encontros, cada um com duração de 50 min, 125 min ou 150 min, dependo das atividades programadas, perfazendo, aproximadamente, 10h de contato com o conteúdo. A organização das atividades e o intervalo de duração de cada encontro levaram em consideração dois critérios: (a) abordagens multimodais de aprendizagem; (b) resultados da validação das ferramentas didáticas que compõem a intervenção: jogo didático e estudo dirigido25. Por exemplo, de acordo com os sujeitos que compuseram essa etapa da pesquisa, em geral, o tempo médio para interagir com cada ferramenta didática deveria serde 100 min (2 aulas).

A seguir, expomos uma breve descrição26 sobre as atividades realizadas em cada um desses 5 encontros. A amostra foi distibuída em dois grupos amostrais: amostra 1 (grupo experimental - GE), amostra 2 (grupo controle – GC). Dessa forma, quando nos referimos a “toda a amostra”, estamos considerando a amostra 1 e a amostra 2. Talvez isso fique melhor compreendido quando abordarmos aspectos relativos aos procedimentos de coleta e análise de dados. Essa divisão se devve a existência de dois modelos de intervenção preparados com a finalidade de atender as questões, objetivos e o pressuposto teórico que orienta esta investigação.

A Figura 2 sintetiza esses dois modelos, bem como apresenta as cinco ondas de medida. A intervenção pedagógica foi realizada entre os meses de setembro de 2017 e fevereiro de 201827.

24 Vale destacar que não pretendemos iniciar neste trabalho uma discussão de natureza curricular,

embora entendamos esta temática de fundamental importância, assim como tantas outras questões que permeiam a pesquisa e prática educacional.

25 Vale destacar que, do estudo dirigido, apenas o caderno de atividades foi coletado para fins de

pesquisa. Isto significa que os textos bases permaneceram com os estudantes ao final da intervenção.

26 Uma descrição mais detalhada da intervenção encontra-se no APÊNDICE A

27 O atraso na aplicação da intervenção educacional está pautado, basicamente, nas seguintes

razões: a mudança, em meados de 2015, de um dos produtos pedagógicos, sendo necessário desenhar uma nova ferramenta, e o esforço para validação dos recursos de ensino e dos instrumentos de pesquisa.