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DIDÁTICO

5 CONIDERAÇÕES FINAIS

4.1 SÍNTESE DOS RESULTADOS

Os resultados obtidos da primeira fase da pesquisa, embora não estejam relacionados diretamente a qualquer questão de pesquisa levantada, dizem respeito a uma importante etapa da investigação: a validação de instrumentos e dos materiais didáticos. Sabe-se que este processo não aponta propriamente para a validade e confiabilidade dos instrumentos e materiais didáticos que foram aplicados durante a intervenção pedagógica, mas sim, para o significado dado às inferências tiradas a partir da análise do instrumento (WRIGHT; STONE, 1999; RAYMUNDO, 2009) e a uma análise sobre a adequação entre o conteúdo a ser tratado, abordagem de ensino e o público alvo participante da pesquisa. Desta forma, podemos ter ciência se estamos (a) alcançando os objetivos propostos a priori, assim como (b) acessando a variável latente representada nos itens que compõem o instrumento de pesquisa.

Neste sentido, da fase de validação dos instrumentos de pesquisa e dos materiais didáticos elaborados para a intervenção educacional, foi possível obter: (i) protótipo mais robusto do JD para ser aplicado na segunda fase da investigação; (ii) textos que compõem o estudo dirigido reformulados a partir de sugestões e comentários dos juízes; (iii) proposição de um sistema categórico, fundamentado na Teoria de Habilidades Dinâmicas, para avaliar itens discursivos/politômicos que compõem o banco de itens; (iv) evidências que apontam para a unidimensionalidade dos itens que compõem os testes e indicações sobre exclusão ou reformulações dos itens inicialmente propostos, através da análise de um conjunto de índices de ajustes obtidos a partir da modelagem Rasch, Teoria Clássica de Testes e técnicas associadas a análise multivariada de dados.

Tendo em vista as limitações da pesquisa e sabendo-se que, a princípio, o processo de validação não se exaure (RAYMUNDO, 2009), consideramos que este

ciclo da investigação produziu instrumentos de pesquisa e recursos didáticos suficientemente válidos dentro do domínio do estudo, o que nos permitiu utilizá-los na intervenção pedagógica que integra a pesquisa educacional relatada neste trabalho.

A segunda etapa dessa investigação tem relação com os dos dados coletados no contexto dessa intervenção. Por meio desses dados, procuramos investigar a aprendizagem de estudantes do Ensino Médio sobre conceitos físicos envolvidos no fenômeno de flutuação dos corpos, a partir da interação com um jogo didático elaborado com base em uma teoria subjacente. Com isso, prentendíamos averiguar em que medida o jogo didático (JD) contribui para a aprendizagem de conteúdos científicos. Para tornar possível essa análise, comparamos os indicativos de aprendizagem de dois grupos amostrais distintos a partir da interação com esta ferramenta e outra de natureza tradicional e instrucional: o estudo dirigido (ED).

Apesar de terem sido coletados dados de fontes distintas (áudio, registro de atividades do ED, registro em diário de bordo), os dados que nos serviram como unidade de análise, dizem respeito às respostas dos 77 estudantes que compuseram a amostra final a ser analisada nesse trabalho, a cinco testes de conhecimento e um questionário estruturado. Este questionário nos forneceu condições de levantar um conjunto de fatores contextuais que poderiam interferir no processo de aprendizagem.

Os procedimentos metodológicos expostos no quarto artigo que compõe essa tese, não envolveram apenas comparações entre os dois grupos que compõem a amostra de 77 estudantes (grupo controle e experimental) em relação ao ganho (diferença no desempenho dos sujeitos) obtido nos testes de conhecimento T3 e T249, como também os distintos estados de articulação do entendimento dimensionados pelos desempenhos nos cinco testes.

Contatamos que:

(a) Houve aprendizagem para ambos os grupos, visto que o ganho no desempenho entre os testes é maior que zero;

49 Essa comparação nos permite avaliar o desempenho do grupo experimental e controle em relação

à primeira ferramenta de interação (JD ou ED), possibilitando invesitgar indícios de efeito de uma feramenta didática sobre a outra.

(b) o TDE g de Hedges é insignificante (g < 0,2) quando comparamos as diferenças entre o desempenho nos testes T3 e T2 para estudantes que compuseram os grupos controle e experimental;

(c) as diferenças entre o ganho do GE e GC no pareamento de T3 e T2 não foram estatisticamente diferentes;

Os resultados (a), (b) e (c) sugerem que o JD pode ser: (i) uma ferramenta pedagógica de caráter instrucional tanto quanto o estudo dirigido; e (ii) utilizada como material didático introdutório ou recurso de aplicação do conteúdo.

Ao analisarmos que possíveis fatores poderiam influenciar na aprendizagem do conteúdo tratado por meio dos recursos didáticos, obtivemos que Turma e a percepção dos estudantes sobre o aspecto cooperativo que esteve presente na intervenção pedagógica e no JD parecem exercer influência sobre a aprendizagem de conteúdos científicos. Esse achado, embora ainda modesto, de maneira que necessita de outros estudos que o sustente, nos permite levantar a hipótese de que fenômenos educacionais podem ser modelados a partir de interações multiplicativas entre as variáveis que interferem nesse fenômeno.

Em geral, os modelos utilizados para analisar os dados empíricos se remetem a relações lineares e, por isso, temos pouca variância explicada pelo modelo e muito resíduo, uma vez que esses modelos não conseguem dimensionar outros tipos de relações. Entretanto, os dados utilizados na pesquisa na área educacional são fortemente dependentes de fatores contextuais e individuais, assim como das relações intrínsecas entre eles.

Dessa forma, apesar de os resultados apontarem a necessidade de outros estudos, em que seja possível, inclusive, avaliar aspectos que não foram tratados neste artigo, tais como a análise sobre as habilidades desenvolvidas ao jogar, como essas habilidades estão correlacionadas à aprendizagem, quais características do jogo estão associadas à motivação e quais estão relacionadas à instrução, dentre outras, os indícios encontrados nos parecem suficientes para considerar o jogo didático como uma potencial ferramenta para o ensino de Hidrostática. Isto nos sugere que, sob o ponto de vista pedagógico, o JD é aplicável ao contexto escolar e promove um ambiente de cooperação que pode ser significativo para aprendizagem.