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A teoria é utilizada como guia para ajudar a explicar e entender os objectivos da pesquisa e indica o tipo de conceitos, eventos, ocorrências, sob os quais a pesquisa é levada a cabo (Kerlinguer e Lee, 2002). Para Dann et al., (1988), a teoria é um corpo lógico de proposições interligadas que fornecem uma base interpretativa para que os fenómenos sejam compreendidos, tendo por finalidade explicar, elucidar, interpretar ou unificar um dado domínio do conhecimento (Popper, 1959). É o ponto de partida para a investigação, de já que é da reflexão teórica que surge a interrogação de onde os problemas de investigação vão surgir (Almeida e Pinto, 1995).

A pesquisa, por seu lado, a busca sistemática de conhecimento (Weaver e Lawton, 2006), pode assumir várias formas, sendo que a cada uma se associa um conjunto de procedimentos e de métodos utilizados para levar a cabo a pesquisa. Teoria e pesquisa relacionam-se intimamente visto que a pesquisa necessita da teoria como base de interpretação e a teoria não poderia evoluir sem a pesquisa já que necessita desta ultima para se aperfeiçoar e evoluir. A pesquisa estabelece assim a ligação entre a teoria e a evidência empírica” (Finn et al., 2000).

Ao longo da história da ciência, várias correntes de pensamento foram surgindo as quais originaram diferentes caminhos na busca do conhecimento cabendo destacar as duas, que desde a segunda metade do século XX têm sido dominantes; a investigação quantitativa e a qualitativa (Horton e Hunt, 1985; Coser e Rosemberg, 1995; Sampieri, 2006).

A investigação dita quantitativa tem sido preponderante nos trabalhos científicos (Oliveira, 2000) e

tem as suas raízes no século XVIII com o positivismo de Auguste Conte44 e posteriormente de

Émile DurKeim, como forma objectiva de explicação da realidade que é capaz de ser interpretada pelo investigador; cada fenómeno deverá ter uma só interpretação científica (objectiva) conseguida através da execução do “método científico” (método por excelência das ciências naturais), onde os comportamentos das variáveis em causa são explicados a partir de uma causa e do seu efeito, supondo que todos os fenómenos podem ser medidos (Finn et al., 2000).

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Tal como é percebido pelos positivistas, o método Cientifico surge com o “Discurso sobre o Método”, René Descartes (séc. XVII), defendia o método dedutivo – a aplicação de princípios gerais a casos particulares, sendo a descoberta alcançada através da razão. Para que tal acontecesse três requisitos teriam que ser cumpridos: uma separação entre o sujeito produtor de conhecimento e seu objecto de estudo para que a investigação seja neutra e objectiva; a valorização do que só pode se conhecido através da observação e da experiência (facto) e o assumir de que a compreensão da todo é feita através da compreensão das partes que a compõem (Fernandes, 1991; Oliveira, 2000). No século XX, Karl Popper aprofunda o método e chama-lhe hipotético – dedutivo (Popper, 1959). O método parte do questionar dos conhecimentos existentes. Quando não se consegue uma explicação para um determinado fenómeno, surge um problema; para o tentar explicar são formuladas hipóteses que devem ser testadas através de métodos que confirmem ou refutem a sua validade, pois só assim é que o conhecimento produzido pela ciência será credível (Popper, 1959; Pizzam, 1994). Toda a investigação é baseada na teoria; a pesquisa é elaborada tendo como base a aceitação ou rejeição de pressupostos, de hipóteses criadas a partir da teoria (Oliveira, 2000). Do que atrás foi referido existe uma ligação entre dedução e indução; as teorias são geradas através de indução e depois aplicadas por dedução (Weaver e Lawton, 2006).

Por seu lado, a tradição qualitativa na investigação tem a sua génese no idealismo de Kant e dos seus sucessores e pretende ser uma resposta às limitações reveladas pelos métodos quantitativos, sobretudo quando na investigação intervém o homem, com os seus mecanismos de pensamento e

processos cognitivos. Marx Weber45 introduz o termo entendimento/compreensão, reconhecendo

que para além da descrição e da medição das variáveis sociais, deve conhecer-se e entender-se o contexto no qual o fenómeno ocorre. O objecto da investigação qualitativa é assim, a compreensão dos problemas de forma mais profunda, tentando ver o que se esconde por trás de certos comportamentos, não existindo tanta preocupação com os instrumentos de investigação porque neste caso é o investigador o “instrumento” de recolha de dados, dependendo a validade e fiabilidade da investigação do seu conhecimento, sensibilidade e ética (Fernandes, 1991).

Assim existem tantas interpretações da realidade quantos os seus investigadores, visto que a observação dos fenómenos é presencial não havendo a preocupação em manter a neutralidade, a independência do facto observado face ao observador – com a sua presença o investigador pode ter influencia no comportamento do que motivou a observação. O Método Científico neste caso, assemelha-se ao que Galileu e Francis Bacon já no renascimento, o método indutivo – um meio de produzir conhecimento descobrindo princípios gerais a partir de acontecimentos particulares (Horton e Hunt, 1985; Coser e Rosemberg, 1995).

Em síntese, a pesquisa quantitativa recolhe dados numéricos e testa teorias normalmente de modo muito estruturado, enquanto que na tradição qualitativa, explora-se o significado sendo desenvolvida de forma mais flexível, desenvolvendo a teoria. Isto contudo não deverá levar a pensar que a abordagem quantitativa é apenas pertença da tradição positivista: os métodos de recolha de dados não são exclusivos de nenhuma das tradições de pesquisa anteriormente mencionada: uma abordagem positivista pode utilizar uma abordagem quantitativa mas fazer a recolha de dados utilizando métodos qualitativos por exemplo as técnicas de entrevista, de registo audiovisual podem ser utilizadas numa investigação quantitativa (Fernandes, 1991).

O uso de vários métodos de recolha de forma racional pode “maximizar as forças ou minimizar as fraquezas de cada combinação de métodos” parecendo evidente que a investigação como processo rigoroso e sistémico de interpretar a realidade ou de a descrever fica enriquecida se forem utilizados dados e técnicas, quer de natureza qualitativa, quer de natureza quantitativa para uma melhor resolução de problemas (Finn et al., 2000:11).

Outra distinção é feita ainda por vários autores atendendo aos dados utilizados: a pesquisa pode ser primária ou secundária, dependendo da proveniência dos dados. Se os dados não existem e são recolhidos pelo investigador através de entrevistas (presenciais, telefónicas, por e-mail), ou por observação directa, está-se perante uma pesquisa primária; se os dados já existem recolhidos por outros investigadores em jornais, revistas académicas, livros, mapas, etc., está-se perante uma pesquisa secundária (Finn et al., 2000).

O modo como se processa a pesquisa, o caminho que percorre, é a metodologia utilizada. Etimologicamente a metodologia significa “estudo dos percursos, dos instrumentos” utilizados para se fazer pesquisa científica (Oliveira, 2000). É a explicação minuciosa, detalhada, rigorosa e exacta de toda acção desenvolvida no método (caminho) do trabalho de pesquisa (Fernandes, 1991; Weaver e Lawton, 2006)

Neste contexto, um método é uma estratégia integrada de pesquisa que organiza criticamente as práticas de investigação, incidindo nomeadamente sobre a selecção e articulação das técnicas de recolha e análise da informação, podendo ser reinventado em função dos objectivos da investigação (Costa, 1986; Pardal e Correia, 1995).

Pelo exposto, o trabalho científico, ao utilizar o corpo de conceitos, métodos e técnicas disponíveis num determinado momento, contribui para o evoluir da teoria (Weaver, 2006). Contudo, a ciência não oferece possibilidades de prova absoluta; o simples facto de um fenómeno ocorrer já o torna passível de ser questionado, onde a pesquisa é um processo de ajustes sucessivos em busca da verdade, verdade que muda à medida que se refina todo o processo de aperfeiçoamento do conhecimento (Oliveira, 2000).