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Conta satélite do Turismo 27

O turismo, sendo cada vez mais importante para as economias dos diferentes países a nível mundial, não possuía até ao fim do século passado mecanismos capazes de proceder à recolha de informação estatística sobre a sua natureza, a sua evolução e os seus reflexos económicos e sociais na sociedade, de forma uniforme e passível de ser comparada entre si, em parte porque cada país possuía a sua interpretação da abrangência do sector, definindo-o de forma distinta: as suas especificidades, nomeadamente o facto de ser um sector transversal da economia, englobando não só industrias e empresas que fornecem directamente os turistas, mas possuir uma série de inter- relações com outros sectores da sociedade que não “trabalham” apenas para o turismo, como sejam todas as empresas ligadas à construção civil, aos transportes ao comércio a retalho, conduziam a interpretações distintas da sua constituição e abrangência.

Neste contexto, diversos países como a França e o Canadá e organismos internacionais, como as Nações Unidas, a Organização Mundial do Turismo ou a Comissão das Comunidades Europeias

procuraram encontrar um padrão para medir esses efeitos. Assim, após várias conferências e depois de vários países terem criado as suas Contas Satélite de Turismo, (Noruega, República Dominicana, Noruega, Singapura, Estados unidos, entre outros), em 1999, na Conferência Mundial sobre a Avaliação do Impacte Económico do Turismo realizada em Nice, foi apresentado o quadro conceptual da Conta-Satélite do Turismo (CST), ficando em 2001 estabelecido que a CST seria o padrão internacional para medir os efeitos directos do turismo na economia e no emprego dos países. Pretendeu-se assim obter resultados que possibilitem uma melhor compreensão da verdadeira dimensão e do valor da indústria turística, com base em números reais, comparáveis a nível internacional e de elevada fiabilidade, uma vez que na sua base estarão os dados e o seu

tratamento recolhidos e produzidos pelos organismos nacionais de estatística de cada país15.

A Comissão Europeia tem apoiado a elaboração das Contas Satélites de Turismo dos diferentes países membros e no Manual Europeu de Implementação da Conta-Satélite do Turismo (MEI-- CST), tem apontado principais objectivos e benefícios da elaboração destes instrumentos, de onde cabe destacar: gerar de informação fiável e credível proporcione uma visão informada sobre a “indústria do turismo” e sobre as actividades que a compõem, permitindo uma decisão mais informada a quem possuir responsabilidades no sector, quer sejam entidades públicas ou privadas; a possibilidade ainda da informação elaborada pelos organismos oficiais e às suas expensas ficar disponível para agentes que de outra forma não teriam capacidade para a produzirem e assim a introduzirem nas suas operações comerciais como é o caso das pequenas e médias empresas maioritárias no sector e que não dispõem de meios de recolha e de análise de dados tão complexos; o fornecer uma maior credibilidade às estatísticas do turismo e, em particular, aos indicadores que analisam a dimensão e significado do turismo como actividade económica, dando ao turismo um novo reconhecimento e confiança comprovada, como um dos sectores mais importantes da economia dos diferentes países.

Tabela 2.4 – Actividades e produto característicos inseridos na Conta Satélite de Turismo (INE, 2005). EIXO Descrição do Produto

1 Serviços de Alojamento

Hotéis e estabelecimentos similares

Residências Secundárias por conta própria ou gratuitas 2 Serviços de Restauração e Bebidas

3 Transporte de Passageiros

Transporte ferroviário interurbano

Transporte rodoviário

Transporte marítimo

Transporte aéreo

Serviços auxiliares aos transportes Aluguer de equipamentos de transporte

Serviços de manutenção e reparação de equipamentos de transporte

4 Agencias de Viagem, Operadores Turísticos e Guias Turísticos Agências de viagem

Operadores turísticos

Informação turística e guias turísticos

5 Serviços Culturais

Actividades artísticas e de espectáculo Museus e outros serviços culturais 6 Recreio e Lazer

Serviços desportivos e recreativos Outros serviços de recreio e lazer 7 Outros Serviços de Turismo

Serviços financeiros

Serviços de aluguer de outros bens de uso turístico Outros serviços de turismo

Segundo esta metodologia a oferta e a procura são desagregados em produtos e actividades especificas e não específicas do turismo sendo que:

- Produtos Específicos classificam-se em “característicos” e “conexos”: os produtos “característicos” são produtos típicos do Turismo e constituem o cerne da actividade turística (ver tabela 2.4); os produtos “conexos” são produtos que, apesar de não serem típicos do turismo num contexto internacional, podem sê-lo num âmbito mais restrito como é o território de cada país. - Os Produtos Não Específicos correspondem a todos os outros produtos e serviços produzidos na economia e que não estando directamente relacionados com o Turismo, podem ser alvo de consumo por parte dos visitantes.

No caso das actividades, as Actividades Características são as cuja produção principal foi identificada como sendo característica do Turismo, verificando-se uma relação directa do fornecedor com o visitante (consumidor). Neste grupo, incluem-se: o alojamento como hotéis e similares, residências secundárias utilizadas para fins turísticos por conta própria ou gratuitas; a restauração; os transportes de passageiros; os serviços auxiliares aos transportes de passageiros; o aluguer de equipamento de transporte de passageiros; as agências de viagens; os operadores turísticos e guias turísticos e os serviços culturais, de desporto e de recreação e lazer16.

De acordo com as estimativas recentemente apresentadas pelo INE da CST, a contribuição do Turismo para o Produto Interno Bruto (PIB) a preços de mercado foi de, aproximadamente, 4,8% entre os anos de 2000 e 2002. Neste período, este contributo apresentou uma variação global, de cerca de 10%, contribuindo para aproximadamente 8% do total de emprego a nível nacional. De referir ainda que o emprego, nas actividades características é composto maioritariamente por trabalhadores por conta de outrem (mais de 80%), do sexo feminino (maioritário nos sectores de alojamento, restauração, agências de viagens e demais serviços de informação, enquanto o masculino é maioritário nas actividades relacionadas com o transporte), e de baixos índices de escolaridade (2/3 possuem a escolaridade primária, sendo os indivíduos ligados às actividades culturais e às agencias de viagem, operadores turísticos e outros serviços de informação os que apresentam a maior percentagem de nível de escolaridade superior; cerca de 21 e 19% respectivamente).

A CST trará, pois, um importante contributo para a avaliação e clarificação do peso do turismo na economia nacional e permitirá, consequentemente, que as decisões políticas e empresariais sejam tomadas com base em mais e melhor informação.