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Os melhoramentos tecnológicos pós-Revolução Industrial, em matéria de transportes foram decisivos para o proliferar de novos destinos turísticos e para o aumento do número de viagens. O melhoramento dos meios de transporte, o ganho em segurança e em tempo, assim como a diminuição de custo, explicam a difusão social mais massiva do turismo, onde o transporte marítimo assegura numa primeira fase as viagens intercontinentais, depois será substituído pelo avião. O caminho-de-ferro liga as principais cidades nos continentes e assegura os primeiros fluxos de turistas, fluxos que serão incrementados com o desenvolvimento do automóvel e da sua produção em série, o que permite uma drástica diminuição do seu custo.

Nas sociedades ocidentais, a prática do turismo está largamente inscrita na cultura actual. A interrupção do tempo de trabalho e a deslocação da área de residência para outras regiões, para outras nações, pelo menos uma vez por ano, tende a ser entendida como uma necessidade, um direito. O inverso, pelo contrário, conduz a uma certa forma de exclusão.

O desejo de partir, a capacidade física e material para o fazer constituem as condições para a prática de turismo.

A extensão da capacidade de praticar turismo só depois da segunda Grande Guerra é que se foi estendendo a cada vez mais população, sobretudo com a progressiva conquista de não só de dias de férias, mas de dias de férias pagos.

O turismo tem assumido um papel cada vez mais importante em termos de volume de turistas e de receitas ao longo dos tempos. De uma mera actividade redundante das classes mais abastadas acompanhou o processo de democratização da sociedade ocidental e alargou a sua base de incidência geográfica, estando agora presente nas mais remotas regiões graças às transformações tecnológicas sobretudo ao nível dos transportes.

Contudo, a Europa e os países mais desenvolvidos continuam a ser os maiores receptores e emissores de turistas evidenciando a estreita relação entre rendimento, qualidade de vida e turismo, o que exclui ainda da sua prática mais de 90% da população mundial (Cooper et al., 2005).

Pese embora os problemas com a sua definição, o turismo estende-se pelas várias áreas da sociedade e à medida que novos instrumentos surgem para medir a sua importância a nível económico, constata-se a sua importância económica, sabendo-se actualmente que contribui com 10% para o PIB Mundial.

O turismo em Portugal, depois de um comportamento irregular na última década, tem vindo a crescer em número de turistas e em receitas, embora tenha perdido posições no ranking mundial, estando assim a ser ultrapassado por outros destinos concorrentes. A sua contribuição para o PIB nacional é de cerca de 10%, o que expressa bem a importância do sector em termos económicos e ao nível do emprego.

O principal produto turístico é o Sol e Praia, estando a capacidade de alojamento em estabelecimentos hoteleiros, e consequente recepção de turistas, muito localizada nas regiões do Algarve e de Lisboa. Para além da forte concentração geográfica, também existe uma dependência assinalável de certos mercados emissores, sobretudo do Reino Unido, Espanha, Alemanha e Holanda, o que conduz a que sempre que um destes mercados se retrai, este facto faz-se sentir com especial incidência no turismo nacional e na economia ainda mais, porque ao contrário de outros países o turismo doméstico ainda não é suficiente para compensar tais perdas.

O turismo doméstico é ainda reduzido quando comparado com as médias comunitárias e mais distribuído no território onde a região algarvia ocupa o primeiro lugar nas preferências dos Portugueses, não muito destacada da região de Lisboa.

Ao contrário de outras actividades humanas, o turismo implica a deslocação a um local para desfrutar desse local, das suas qualidades, das suas características que fazem com que ele seja digno de visita.

Portanto, é no local que o turismo se faz sentir com as suas implicações para a comunidade de acolhimento para a qualidade da experiência dos visitantes (Swarbrooke, 2002; Seydoux, 2002) As modificações na indústria de turismo mais orientada, não tanto para o turismo de massas, mas para as necessidades individuais de cada turista com itinerários e serviços mais flexíveis, com um aumento dos nichos de mercado respondendo às modificações sociais, a gostos cada vez mais sofisticados, parecem ser uma das características do turismo para os próximos anos (Page, 2003). Page (2006) afirma que nos próximos anos uma série de factores vão ainda afectar o comportamento do turismo: segurança; catástrofes naturais, questões de saúde publica; educação qualidade da experiência impacto da economia no rendimento das famílias; questões ambientais e políticas e planeamento do turismo estratégico contam-se entre os factores mais importantes. A tudo isto cabe juntar as possíveis modificações nas principais sociedades emissores como seja o

envelhecimento da população, os novos tipos de família, mono parentais, divorciados, etc. a globalização crescente e rápida da informação e sua disponibilidade, o aumento da consciência ambiental e o aquecimento global, tal como a influência nos hábitos e na moda dos media num mundo global.

Destas modificações na sociedade e nos sistemas económicos resulta o reposicionar dos territórios e as necessidades de, para competirem entre si, integrarem de forma planeada o turismo nas suas preocupações.

Aliás as grandes mudanças na sociedade que conduziram ao aparecimento das cidades pós- modernas colocam a descoberto que o turismo tem um papel importante nestas cidades, onde todo um conjunto de produtos existe ligado ao consumo e às indústrias de lazer, do qual o turismo estabelece uma relação de benefício mútuo; serve como forma de rentabilizar ou justificar muitas das intervenções ao mesmo tempo que se nutre com todas as mais valias criadas.

Assim, desde os anos noventa que o planeamento do turismo urbano tem assumido cada vez mais importância como forma de desenvolver de forma equilibrada dos destinos sem comprometer a sua sustentabilidade a longo prazo.

A nível nacional, e depois da sua inclusão nos Planos de Urbanização da época de Duarte Pacheco, não se sabe como é que tem sido integrado no sistema de planeamento local, sabendo-se que aparentemente nos PDM’s Algarvios não foram feitas grandes referências ao sector.

Contudo, um conjunto de instrumentos no âmbito da aplicação de fundos comunitários, foi utilizado na regeneração de espaços urbanos onde a vocação turística está presente.

As modificações internacionais, a crescente competição, a consciência do impacto do turismo não planeado no território, e as modificações no perfil do turista que vista Portugal levam, contudo, ao reforço de que é necessário que o turismo seja integrado no planeamento a nível local, por forma a fazer face aos desafios que se avizinham, nomeadamente com a crescente competição entre territórios e com a consciência que uma actividade que consome tanto o território deve estabelecer com este uma relação em que ambos beneficiem, e que vise a sua sustentabilidade.

Na história de intervenção do poder local no turismo, é possível verificar que esta remonta aos anos vinte com a criação de organismos locais que visavam a intervenção), directa na área do turismo (Comissões de Iniciativa). Urge, pois, que os municípios integrem novamente o turismo nas suas prioridades, integrado num planeamento sustentado e inovador do seu território.

O planeamento do turismo é visto em termos globais como estando integrado no planeamento urbano, do qual bebe conceitos e métodos, estando assim imbuído de princípios como a flexibilidade, a sustentabilidade, a participação pública.

Contudo, vários autores alertam para a necessidade de um planeamento exercido desde o início da actividade de turismo, para que esta não fique submetida apenas aos interesses privados, cujo objectivo é a obtenção de lucro a curto prazo, o que acarretou em muitos locais a delapidação dos recursos existentes.

Contudo, são apontados alguns problemas para que o planeamento do turismo a nível local não produza os resultados esperados, nomeadamente a ausência de conhecimentos na área do turismo por parte dos técnicos e políticos e o aplicar de soluções sem fundamentação técnica, sem estudos que as avalizem.

De realçar que presentemente existe uma concepção de que deve ser o que torna cada cidade única que deve ser objecto de atenção por parte do planeamento do turismo, que deve buscar a diferença e não aquilo que as demais cidades possuem, procurando através da diferença ganhar vantagens comparativas e até fidelizar certa clientela que dependendo das soluções encontradas pode deslocar- se com uma certa regularidade para usufruir de determinado tipo de atracção, de acontecimento, de produto.

Daí a importância da fase de estudo, da fase de determinação do que pode ser um recurso convertível numa proposta para o sector. Quer a Nova Zelândia (NZ, 2004), quer o Reino Unido (UK, 2006), apresentam guias de inventários muito completos que podem ser utilizados no planeamento urbano do turismo.

Mais ainda: tem-se procurado encontrar formas expeditas de avaliar os planos em relação à inclusão da sustentabilidade como critério de elaboração. O método de Simpson (2001) é um deles onde se pretende avaliar de forma qualitativa os planos onde o turismo esteja integrado, através da avaliação de um conjunto de itens que depois são agregados após uma ponderação que valoriza mais os itens que dizem respeito à estratégia dos planos e à participação das populações na elaboração dos planos. Considera-se que ao ter metas para um determinado horizonte, para o qual se procura antever comportamentos e o envolver a população nas escolhas e na tomada de decisão, assegura que esta adira às opções do planos e que os recursos sejam geridos de acordo sem que esteja comprometida a continuidade da sua utilização.

Será pois uma forma expedita de avaliar se os planos tiveram na sua génese princípios de sustentabilidade.

A nível nacional muito pouco é conhecido sobre a introdução do turismo no planeamento local, apesar do turismo ter consideráveis vantagens para as cidades sempre que devidamente enquadrado por políticas e instrumentos, que como qualquer outra área da vida humana, a balizem e regulem, de forma sustentada.

Capitulo III

3 Metodologia