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A língua e desenvolvimento

Capítulo 2 O desenvolvimento

2.2. A língua e desenvolvimento

O Plano Marshall pode ser considerado como o primeiro projeto específico de cooperação entre um estado soberano e um conjunto de estados soberanos e independentes4.

O ano de 1948 marca a consagração e o reconhecimento oficial pelas instâncias internacionais de um desenvolvimento planeado e executado com ajuda externa. Para a concretização do Plano, os países beneficiários fundaram a Organização para a Cooperação Económica (OECE). Em 1961, foi reformulada e deu origem à atual Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).

Com o seu surgimento, a cooperação para o desenvolvimento assumiu uma preponderância central no desenvolvimento de uma grande parte dos países em vias de desenvolvimento. Foi com esse mesmo plano, que os EUA e a Europa conheceram novas políticas direcionadas para a cooperação. Essas políticas traduziram-se em fluxos de natureza monetária e foram implementadas por um amplo conjunto de organização,

4 Os motivos subjacentes ao Plano Marshall assentavam na segurança nacional (fortalecer os países

europeus na luta contra a expansão do comunismo) e em considerações comerciais (benefícios da reconstrução europeia para as empresas americanas).

que com o decorrer do tempo o processo de aplicação, vieram a assumir posições e funções determinadas no domínio da cooperação para o desenvolvimento.

Após a Revolução dos Cravos de 1974, a política de cooperação portuguesa assumiu uma tipologia descentralizada durante trinta e cinco anos. Apenas em 1985, quando se criou a Secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, foi possível observar o início do desenvolvimento de um programa de cooperação.

A cooperação portuguesa permanece muito alicerçada na relação com os Países da Língua Oficial Portuguesa (PALOP), nas mais diversas áreas e com tipologias divididas por instituições diferentes.

Em 1999, foi aprovada a resolução do Conselho de Ministros nº 43/99, intitulada A Cooperação Portuguesa no limiar do século XXI – documento de

orientação estratégica, cujo principal objetivo estratégico apontado, e até hoje

prevalecente, era o de: “(…) saber articular nos planos políticos, económicos e cultural, a dinâmica de constituição de uma comunidade, estruturada nas relações com os países e as comunidades de língua portuguesa no mundo, e de reaproximação a outros povos e regiões (…)”.

Em função desse objetivo, assistiu-se ao surgimento de novos instrumentos de apoio: os Programas Indicadores de Cooperação (PIC), os programas integrados de cooperação, as delegações técnicas de cooperação e a Agência Portuguesa de Apoio ao Desenvolvimento (APAD)5, que passou a ser a principal instituição financiadora da cooperação portuguesa.

A ideia da criação de uma comunidade de países de língua portuguesa, que tinha sido recuperada em Novembro de 1989, em S. Luís de Maranhão, por ocasião do encontro dos Chefes de Estado e de Governo dos países de Língua Portuguesa, era considerada como uma peça de grande importância no desejado reforço das relações de solidariedade entre os países que têm a língua portuguesa como idioma oficial, quer no plano político-diplomático, quer da cooperação em geral.

O dia 17 de Julho de 1996 ficou marcado pela criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), por ocasião da realização em Lisboa da cimeira de chefes de Estado e de Governo dos Países de Língua Portuguesa.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Portuguesa – que tutela as políticas da cooperação portuguesa internacional e da promoção da língua e da cultura de Portugal – anunciou, em Novembro de 2011, a fusão entre o Instituto Português de

Apoio ao Desenvolvimento (IPAD) e o Instituto Camões. Surgiu assim o atual Camões, Instituto da Cooperação e da Língua.

O Instituto Camões é responsável pela promoção da cultura portuguesa no estrangeiro e acompanha as atividades dos Centros Culturais Portugueses, em diferentes regiões do mundo e nos países da CPLP, em particular, quer na atribuição de bolsas de estudo para a frequência de cursos de língua e cultura portuguesas, promoção de cursos de formação a distância e na formação contínua de professores.

O IPAD tinha a responsabilidade da política de cooperação portuguesa e de coordenação das atividades de cooperação desenvolvidas pelas diversas entidades públicas, articulando a sua ação com inúmeras ONGs e ONGDs, que atuam um pouco por todo o mundo, e sendo determinante na prossecução de compromissos internacionais, como o da afetação de uma percentagem mínima do PIB à Ajuda Pública ao Desenvolvimento, além do cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio.

A cooperação e o desenvolvimento têm sido um suporte importante de visibilidade e de afirmação de Portugal no mundo. Desde 1991, altura em que Portugal se tornou doador no quadro da organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), foi-se trilhando um caminho, nem sempre fácil, de reforço dos objetivos e de melhoria da atuação da cooperação portuguesa, no plano bilateral e multilateral.

O esforço português nesta área tem sido reconhecido quer pelas instâncias internacionais – como atesta o exame da OCDE realizada em 2010 à cooperação portuguesa, quer pelos países parceiros desta cooperação, situada essencialmente situado na área geográfica da lusofonia.

No entanto, as dificuldades inerentes à crise económica atual ameaçam fazer reverter muito dos ganhos dos últimos anos, menorizando compromissos assumidos em nome de uma lógica economicista de cortes cegos e de poupança a todo o custo. Pode assim perguntar-se quais os motivos e interesses, subjacentes à cooperação e desenvolvimento, se Portugal tem de ajudar os pobres de outros países, quando tem pobres dentro do seu território?

Um primeiro motivo é o facto da cooperação para o desenvolvimento constituir um vetor fundamental da política externa de Portuguesa, sendo, nesse contexto, um pilar da consolidação do relacionamento com países, com os quais se pretende ter relações económicas e políticas privilegiadas.

Um segundo motivo consiste no facto da luta contra a pobreza se assumir como uma responsabilidade de cada um no quadro da cidadania global, ancorada em princípios de solidariedade e de responsabilidade partilhada. A política de ajuda ao desenvolvimento não deve ser encarada como um ato de caridade dos mais ricos para com os mais pobres, mas como uma necessidade humana e deve ser promovida como tal à escala mundial. Porém, alguns países parceiros da cooperação portuguesa têm vindo a registar altas taxas de crescimento, estas taxas partem de bases absolutas muito baixas e mascaram a persistência de desigualdades e necessidades enormes em termos de redução de pobreza.

Em terceiro lugar, se os argumentos de solidariedade não bastam, é fácil advogar a promoção do desenvolvimento global para o beneficio e interesse comum, já que a sua ausência gera fenómenos de insegurança e migração, entre outros, que facilmente se detetam num contexto europeu. A interdependência crescente demonstra-nos que os problemas económicos e de segurança são também problemas de desenvolvimento, exigindo um esforço de procura de soluções globais.

Os motivos para ajuda ao desenvolvimento variam ao longo do tempo e em função dos países e atores da cooperação, podendo ou não estar ligados a objetivos de desenvolvimento dos países receptores.

A cooperação portuguesa para o desenvolvimento é um vetor estratégico com valor próprio, que não pode, nem deve estar refém de interesses de promoção da economia nacional ou tornar-se instrumento de internacionalizações das empresas. (Fonte: http://dn.pt/info/termosdenso.aspx - consultado em: 15/5/2014).

Um dos principais objetivos da cooperação é fortalecer e melhorar as relações económicas dos países em desenvolvimento, alcançar as metas estabelecidas e estabelecer parâmetros para o desenvolvimento do nível de vida.