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As diferentes línguas usadas na Guiné-Bissau

Capítulo 1 – Situação Linguística da Guiné-Bissau

1.9. As diferentes línguas usadas na Guiné-Bissau

Neste país, uma parte de habitantes é monolingue e fala a língua nacional correspondente ao seu grupo étnico (balanta, manjaco, fula, mandinga, papel entre outras). Outros são bilingues ou multilingues, falando uma ou várias destas línguas além do crioulo veicular.

A Guiné-Bissau é um país, como quase todos os países africanos, constituído por grupos populacionais de origem diversa. O seu mosaico étnico é muito variado, tendo sofrido no correr dos séculos bastantes alterações. As migrações, as guerras de conquista e a colonização desempenharam um papel importante na redistribuição e no entrecruzamento populacionais.

Apesar da pequena extensão do território, ali vivem dezenas de grupos e subgrupos étnicos muito heterogéneos, com suas culturas próprias, suas línguas, em grande parte muito diferentes uma das outras. Luigi Scantamburlo refere-se a vinte sete grupos étnicos, mas os autores não são unânimes nessa qualificação, e isso porque há grupos, subgrupos e os critérios variam bastante. Aos grupos étnicos corresponde igual

número das línguas faladas no território guineense e todas elas já ali estavam antes da chegada dos europeus (Scantamburlo, 1997: 8). O território que hoje corresponde geopoliticamente à Guiné-Bissau foi outrora o refúgio de numerosos povos que se deslocaram, pressionados por sucessivas movimentações de populações no território africano. Além disso, acrescentam-se as migrações internas e externas, a assimilação, a mestiçagem; está-se diante de um mosaico complexo e multifacetado, muitas vezes com algumas centenas de indivíduos. Estas línguas coabitam com o crioulo, língua veicular e de unidade nacional e com o português, língua oficial, ambas resultantes da colonização portuguesa.

“ se queremos levar para a frente o nosso povo, durante muito tempo ainda, para escrevermos, para avançarmos na ciência, a nossa língua tem que ser o português. (Cabral, 1974b:215-216)

A Guiné-Bissau tem como língua oficial o português, que, em razão disso, é ensinado nas escolas e torna-se a língua de documentos oficiais, da literatura é nele que está registado a história da país.

Segundo Couto (2009: 53-4), “não é a língua nativa de nenhum guineense de ascendência africana como língua primeira”, esse papel, cabe “às línguas étnicas africanas e ao crioulo”. Os guineenses nunca usam o português entre si, exceto quando falam com estrangeiros, sobretudo portugueses, só existe para os guineenses como língua segunda, e, ainda assim, para uma parcela muito pequena da população.

Do ponto de vista linguístico, na Guiné-Bissau prevalece a triglossia ou diglossia sobrepostas. Trata-se de uma situação linguística que engloba, por um lado, uma interação entre situações de diglossia do crioulo e as línguas africanas do país, por outro lado do português e o mesmo crioulo.

Sendo a língua H (high) a língua mais formal e associado ao maior prestigio a L (Low) a menos formal e de menor prestígio (Ferguson 1972; Fishman 1972) nas situações de diglossia citadas, no primeiro caso o crioulo corresponde a língua L e o Português corresponde à língua H.

Apesar da questão do espírito de grupo, de identidade e da consciência que os guineenses ganham cada vez mais sobre a importância da sua cultura, a realidade é que as línguas étnicas ocupam um lugar mais baixo, em termos de prestígio na pirâmide das línguas nacionais. Mas este fato, faz com que nos estabelecimentos de ensino formal

não se encoraja o uso (em qualquer situação) das línguas africanas. Não constitui grande problema, porque todas elas convivem harmoniosamente no território, as suas relações são geridas pelos seus falantes comuns ou pelas pessoas profundamente ligadas a essas línguas e bem qualificadas para estreitarem as relações entre os seus falantes.

A maior parte dos guineenses nasceu no seio de uma comunidade, ou em famílias, nas quais a língua materna é uma língua étnica e a sua aquisição faz-se por via informal, pela transmissão direta dos pais para filhos. Essas línguas são o elo de ligação entre os indivíduos da mesma comunidade étnica e são utilizadas no quotidiano das aldeias, na família, entre vizinhos e amigos, nas cerimónias tradicionais, tais como atos religiosos, reuniões, e também nos contatos entre os guineenses “urbanos” com as suas comunidades rurais. Entre todas as línguas étnicas faladas na Guiné-Bissau, nenhuma delas pode ser considerada como língua maioritária, porque segundo (Robinson 1993:55), “o grau da diversidade linguística não deve basear-se no número absoluto das línguas faladas ou falantes de uma língua, mas sim , na percentagem da população que a fala”. Há certas línguas, como são os caso de Balanta e Fula, que gozam de expressão numérica e cobertura territorial consideráveis, mas mesmo assim nenhuma delas constitui a língua maioritária.

Diferentemente, o crioulo, reconhecido, mas não oficial, é a língua veicular interétnica, franca, de mais de 70% da população da Guiné-Bissau. Segundo Callaert (1995:41), “o crioulo tem um certo prestigio como língua materna das camadas urbanas e como amplamente utilizado por outros grupos como língua de comunicação interétnica nos casos em que estes grupos não têm uma tradição local de multilinguismo interétnico”.

As principais línguas étnicas e sua respetiva percentagem são as seguintes: Fula (16%), Balanta (14%), Mandinga (7%), Manjaco (5%), Papel (3%), Felupe (1%), Beafada (0,7%), Bijagó (0,3%), Nalu (0,1%).

Gráfico – 1. Principais línguas étnicas da Guiné-Bissau

Fonte: Couto – O crioulo português da Guiné-Bissau

As sete línguas mencionadas não são as únicas que estão presentes na Guiné- Bissau. Com número pouco significativo de falantes, poderíamos acrescentar ainda o Baiote, o Banhum, o Badiara (Pajadinca), o Cobiana, o Nalu, o Cunante, o Casanga etc. Uma outra estatística, com base no recenseamento feito em 1991, apresenta o seguinte quadro: Fula (25%), Balantas (24%), Mandingas (9%), Papeis (9%), Brames (4%), Beafadas (3%), Outros (12%).

Gráfico - 2. línguas mais faladas na Guiné-Bissau

Fonte: O crioulo português da Guiné-Bissau