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Educação Bilingue – experiências

Capítulo 3 – Educação

3.6. Educação Bilingue – experiências

A educação bilingue desenvolveu-se nos Estados Unidos17 pela presença marcante de imigrantes na sua população desde o princípio da sua colonização (Naiditch, 2007:135).

Devido à influência de uma diversidade linguística e, consequentemente, de uma heterogeneidade de competência linguística na sala de aulas, atualmente, a educação bilingue tem sido estudado por vários investigadores.

Hamers & Blanc (2000:189) definem a educação bilingue “as a school education system of simultaneous or consecutive, the statement is planned and taken in at least two languages”.

Cummings & Swain (1986) postulam que há alguns fatores que contribuem para resultados positivos e negativos no âmbito da educação bilingue e concluem que o valor e o prestígio da língua materna (L1) e da língua segunda (L2), em casa e na comunidade são importantes. Os autores acrescentam ainda que os resultados estão associados às situações em que a língua materna (L1) e a língua segunda (L2) têm valor social e económico, isto é, quanto maior for o status-económico das crianças, melhor é a sua performance.

Seguindo a perspetiva sociolinguística, Fishman e Lovas (1970:4), de acordo com o seu objetivo, a educação bilingue pode ser constituída por três tipos diferentes de programas. O primeiro deles é o Programa Compensatório18, no qual a criança é instruída primeiramente na Língua materna (L1), visando a sua melhor integração no contexto escolar. O segundo é o Programa Enriquecimento19, de acordo com Cox e Assis-Peterson (2001), no qual ambas as línguas são desenvolvidas desde a classe da alfabetização e utilizadas como meio de instrução de conteúdos.

O terceiro, o Programa de Manutenção20 assegura que a língua e a cultura das crianças pertencentes ao grupo minoritário são preservadas e aprimoradas.

Ainda segundo Hames & Blanc (2000), o fator mais importante na experiência bilingue é a valorização de ambas as línguas. Ao planear a educação bilingue deve ser

17

Faço aqui uma abordagem histórica com o bilinguismo nos Estados Unidos por este ser o país em maior número de publicações sobre a educação bilingue segundo nossas pesquisas.

18 Compensatery Program. 19 Enrichment Program.

levado em consideração a definição dos objetivos de acordo com os programas que serão seguidos e como estes serão alcançados.

No que diz respeito à realidade guineense, o ensino bilingue nas escolas tem sido objeto de discussão desde longa data. Dada a complexa situação linguística na Guiné, com a coexistência de etnias e línguas diferentes, as crianças têm o primeiro contato com o português na 1ª classe e são, ao mesmo tempo, alfabetizadas nesta língua. Nas salas de aula, a língua veicular entre professores e alunos (das classes preliminares) é o crioulo, apesar de ‘proibido’.

Luigi Scantamburlo, integrante da corrente de defensores do uso do crioulo em contexto escolar, no seu Dicionário Guineense-Português (2002), argumenta em relação à regulamentação ortográfica do crioulo, reforçando a ideia da utilização do mesmo como língua do ensino formal. Este argumento baseia-se no imaginário dos puristas e legisladores linguistas, que acreditam que dicionários é um dos dos sustentáculos linguísticos que apontam para a padronização e oficialização de uma língua, desconhecendo outros valores envolvidos nesta questão.

Porém, devemos considerar as condições económicas na oficialização e no ensino bilingue, uma vez que publicações, materiais e desenvolvimento de projetos custariam somas exorbitantes ao Ministério da Educação da Guiné; isto não quer dizer que não existam produções escritas.

Como primeiro passo da oficialização do crioulo destaca-se a vontade e empenho políticos para que se possam avaliar com seriedade as condições precárias do ensino do português como língua materna (L1) e como língua segunda (L2), numa nação multilingue e multiétnica. Ao mesmo tempo, há que ter em consideração o valor político do crioulo como língua nacional. O mais importante será assegurar-se que o ensino do português deve responder aos princípios de ensino de língua segunda, para a maioria da população, e, para se buscar um modelo igualitário do ponto de vista linguístico, a aquisição de língua escrita, na Guiné, deve ter no crioulo o seu objetivo principal.

Para superar as dificuldades, o modelo preconizado por Johannes Augel (1997), para a futura política linguística do país é o da transição, que implica que as crianças passem de uma visão da sua língua materna associada a um estatuto social baixo para uma língua de estatuto social alto, por meio de programas bilingues de ensino.

Nesse modelo, a língua materna é considerada apenas um veículo para desencadear o processo educacional, uma língua instrumental usada com a finalidade de melhor chegar a dominar a língua-alvo, que é a de status mais elevado.

No caso da Guiné-Bissau, foi realizado em 2001 um projeto de educação bilingue nas Ilhas dos Bijagós realizado por Luigi Scantamburlo no Projeto de Apoio ao Ensino Básico do Arquipélago dos Bijagós (PAEBAB), que apostou no ensino bilingue, com o apoio da União Europeia. O projeto abrangeu cinco escolas com cerca de 200 alunos e compreende as seguintes etapas de ensino:

- 1ªfase – 1ª e 2ª classe: devem iniciar com a oralidade em crioulo, passando depois a alfabetização em crioulo e a oralidade em português. Ao mesmo tempo são lecionadas outras disciplinas do ensino oficial (caligrafia, matemática etc.).

-2ª fase – 3ª e 4ª classe: quando são capazes de ler e escrever, inicia-se progressivamente a aprendizagem da leitura e da escrita do português. Nesta fase, o professor deve prestar atenção às semelhanças e diferenças entre as duas línguas de ensino para permitir que os alunos percebam os dois códigos linguísticos.

O objetivo desta fase é os alunos atingirem o nível do português exigidos pelos programas do ensino.

Há já algum tempo, o crioulo foi ensinado como língua de aprendizagem em alguns centros. Esta experiência teve sucesso nos dois primeiros anos, no entanto, no terceiro ano falhou por falta de uma adequada metodologia de transição do crioulo para o língua portuguesa. Apesar deste desfecho, esta experiênciadesenvolvida na Ilhas dos Bijagós pode ser vista como tendo tido resultados animadores e como um bom indicador para o futuro.