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A legislação relativa à inclusão, em Portugal

No documento DissertaçãoRita gil final com júri(1) (páginas 63-67)

1.4. A inclusão na educação

1.4.2. A legislação relativa à inclusão, em Portugal

A Lei de Bases do Sistema Educativo, Lei 46/86, de 14 de Outubro, nos artigos 2º n.º 2, 3º e 7º, apoia a inclusão da criança diferente atribuindo-lhe igualdade de oportunidades, valorização e respeito pelo próprio, bem como assegura as condições necessárias e adequadas ao desenvolvimento e aproveitamento das capacidades.

No Decreto-Lei 319/91, de 23 de Agosto, todas as necessidades educativas especiais eram alvo de meios especiais, desde que existissem motivos de preocupação face ao desenvolvimento cognitivo e social do aluno. Porém atualmente, alunos com perturbações menos graves ao nível do desenvolvimento motor, percetivo, linguístico ou socio-emocional, carecem de respostas educativas que lhes permitam ultrapassar estas dificuldades. Mesmo que estas estejam a interferir com a sua aprendizagem/desenvolvimento, neste momento podem não ter resposta na escola que frequentam.

Em 2003, Portugal permitiu o uso faseado da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), introduzindo uma posterior mudança, no que respeita a avaliação de alunos com NEE, passando de um modelo baseado em dados médicos para um modelo biopsicossocial, com especial relevância na interação pessoa-meio ambiente, classificação de fatores ambientais e uniformização de conceitos e terminologias.

De acordo com a classificação de Correia (1997) existem dois tipos de Necessidades Educativas Especiais, as permanentes e as temporárias, necessitando de meios especiais

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necessários para atuar sobre elas. Quanto às permanentes estas mantêm-se durante todo o percurso escolar e exigem adaptações generalizadas ao currículo, sendo este adaptado ao aluno. As temporárias, só se apresentam num determinado momento do desenvolvimento do aluno e exigem uma adaptação parcial do currículo às características do aluno. Assim, tal como foi referido anteriormente, o Decreto-Lei n.º3/2008 restringe de imediato a atuação nas Necessidades Educativas Especiais temporárias, dado que apenas disponibiliza meios e autoriza adequações aos currículos se essas necessidades educativas especiais forem permanentes. Esta restrição inibe o pressuposto inicial deste documento, onde defende a escola inclusiva com equidade educativa para todos os alunos.

O Decreto-Lei n.º3/2008, de 7 de Janeiro, decreta que apenas usufruem de um ensino baseado em meios especiais adequados às suas necessidades educativas permanentes alunos com NEE de carater permanente:

O presente decreto-lei define os apoios especializados a prestar na educação pré -escolar e nos ensinos básico e secundário dos sectores público, particular e cooperativo, visando a criação de condições para a adequação do processo educativo às necessidades educativas especiais dos alunos com limitações significativas ao nível da actividade e da participação num ou vários domínios de vida, decorrentes de alterações funcionais e estruturais, de carácter permanente, resultando em dificuldades continuadas ao nível da comunicação, da aprendizagem, da mobilidade, da autonomia, do relacionamento interpessoal e da participação social.(Decreto-Lei n.º3/2008, de 7 de Janeiro, art 1 cap.I,p.155)

Segundo o Decreto Lei nº3/2008 de 7 de janeiro são elegíveis para Educação Especial os alunos que:

 apresentem limitações significativas ao nível da actividade e participação num ou vários domínios da vida, decorrentes de alterações funcionais e estruturais, de carácter permanente, resultando em dificuldades continuadas ao nível da comunicação, aprendizagem, mobilidade, autonomia, relacionamento interpessoal e participação social;

 apresentem um problema de carácter permanente ao nível das funções do corpo em que a actividade e participação se apresentem gravemente comprometidas; apresentem um distanciamento acentuado em termos de desempenho entre a sua

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idade cronológica e a sua prestação efectiva, quando comparado com os seus pares;

 tenham uma condição (deficiência ao nível da função do corpo) que afecte de modo adverso o seu desempenho educacional pondo em causa o seu potencial biopsicosocial;

 apresentem um problema que limita/restrinja as tarefas académicas, afectando de forma significativa o desempenho educacional, com extensão tal que necessite de intervenção especializada;

 tenham beneficiado de outras medidas educativas, que não da educação especial, e estas não se tenham revelado eficazes; numa grande parte ou na totalidade do seu percurso educativo apresentam limitações acentuadas num ou mais domínios da vida, nomeadamente ao nível da aprendizagem e da participação social nos diferentes contextos.

O Artigo 5º do Decreto-lei n.º 3/2008 refere que é necessário que se proceda a uma referenciação que consiste na comunicação/formalização de situações que possam indiciar a existência de necessidades educativas especiais de carácter permanente.

Em termos gerais, a referenciação deve espelhar o conjunto de preocupações relativas à criança ou jovem referenciado. O Artigo 5º do decreto-lei n.º 3/2008 refere que a referenciação pode ser efectuada pelos pais ou encarregados de educação, pelos serviços de intervenção precoce, pelos docentes ou pelos serviços da comunidade, tais como: o Serviços de Saúde; o Serviços da Segurança Social ou os serviços da Educação.

A família deverá ser contactada para autorizar o início do processo de avaliação. A referenciação é feita aos órgãos de gestão das escolas ou agrupamentos de escolas da área da residência. A formalização da referenciação é feita através do preenchimento de um formulário no qual se regista: o motivo da referenciação; as informações sumárias sobre a criança ou jovem e anexa-se toda a documentação que se considere importante para o processo de avaliação (relatório médico/psicológico, relatório pedagógico. Posteriormente é elaborar o Relatório Técnico-Pedagógico e o Programa Educativo Individual.

O Artigo 8º do Decreto-lei n.º 3/2008 define o Programa Educativo Individual (PEI) como um documento desenhado para responder à especificidade das necessidades de cada

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aluno, o PEI é um instrumento fundamental no que se refere à operacionalização e eficácia da adequação do processo de ensino e de aprendizagem. Este procedimento facilita a progressão ao longo da escolaridade, permitindo aos alunos completar o ensino secundário com maiores níveis de sucesso.

O Artigo 14.º do Decreto-lei n.º 3/2008 define o Plano Individual de Transição (PIT) como um documento que complementa o PEI e destina-se a promover a transição para a vida pós –escolar e, sempre que possível, para o exercício de uma actividade profissional com adequada inserção social, familiar ou numa instituição de carácter ocupacional. O PIT deve corresponder às expectativas dos pais e aos desejos, interesses, aspirações e competências do jovem adolescente.

Os alunos com Currículos Específicos Individuais (CEI) não estão sujeitos ao regime de transição de ano escolar nem ao processo de avaliação característico do regime educativo comum. Conforme consta no despacho normativo n.º 6 /2010 (ponto 79):

a avaliação é idêntica à utilizada para os seus pares: - no 1º ciclo do ensino básico assume uma forma descritiva em todas as áreas currículares; - nos 2º e 3º ciclos assume uma forma quantitativa (classificação de 1 a 5) ou qualitativa (Não satisfaz, Satisfaz, Satisfaz bem) acompanhada de uma apreciação descritiva. A avaliação é quantitativa às disciplinas frequentadas na turma, em que o aluno é capaz de cumprir as competências definidas no currículo comum. A avaliação é qualitativa nas áreas curriculares não disciplinares e áreas curriculares que não façam parte da estrutura curricular comum, cujas competências são diferentes das do currículo comum, tendo sido individualmente definidas pelo professor, de acordo com as capacidades do aluno (Despacho normativo n.º 6 /2010 -ponto 79).

No entanto, outras medidas acompanham os alunos com Necessidades Educativas Especiais abrangidas pelo Decreto lei 3/2008 de 7 de janeiro.

O Decreto Lei 14016/2007 debruça-se na redução do número de alunos por turma sempre que se verifique a presença de alunos com necessidades educativas especiais referenciados pelo Decreto-Lei n.º 3/2008. (ponto 5.4 do Despacho n.º 14026/2007 de 3 de Julho)

O Despacho 11861/2013 com o intuito de prestar um maior suporte às famílias refere que concretamente:

no ano escolar de 2013/2014 os alunos com necessidades educativas especiais de caráter permanente com programa educativo individual organizado nos termos do Decreto-Lei n.º 3/2008, na redação que lhe foi dada pela Lei nº 21/2008, de 12 de maio, considerando o disposto no n.º 1 do artigo 32.º do Decreto-Lei 55/2009, têm também direito, no âmbito da ação social escolar, à comparticipação da totalidade

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do custo de transportes para as escolas de referência ou para as unidades de ensino estruturado e de apoio especializado que frequentam, conforme o disposto nas alíneas a) e b) dos n.os 2 e 3 do artigo 4.º do Decreto -Lei n.º 3/2008. (Despacho 11861/2013)

O Decreto Lei 3/2008 de 7 de janeiro prevê ainda que os serviços de Educação Especial funcionam como apoio direto a famílias e escolas, onde se encontrem inseridas crianças e jovens com NEE. A rede escolar pública dispõe de meios humanos e materiais para promover à inclusão de alunos com NEE, tais como: Unidades de Apoio Especializado para a Educação a Alunos com Multideficiência e Surdo cegueira Congénita; Unidades de Ensino Estruturado para a Educação de Alunos com Perturbações do Espectro do Autismo; Escolas de Referência para a Educação de Alunos Cegos e com Baixa Visão; Escolas de Referência para a Educação Bilingue de Alunos Surdos; Escolas de Referência para a Intervenção Precoce na Infância e Centros de Recursos TIC para a Educação Especial (CRTIC). Em paralelo a estes serviços existe ainda uma rede de instituições privadas de educação especial, reorientada para Centros de Recursos de apoio à inclusão: Centros de Recursos para a Inclusão. (CRI).

Quando se fala em inclusão refere-se ao conceito abrangente e ambicioso que propõe um único sistema educativo para todos os alunos com ou sem Necessidades Educativas Especiais (N.E.E.). Baseia-se em princípios de respeito pelas diferenças individuais como um atributo e não como um obstáculo, na valorização da diversidade humana pela sua importância para o enriquecimento de todas as pessoas, no direito de incluir e não de excluir e no igual valor das minorias em comparação com a maioria.

1.5. O estado da arte sobre investigação empírica em Osteogénese

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