• Nenhum resultado encontrado

Os procedimentos para a recolha e análise de dados

No documento DissertaçãoRita gil final com júri(1) (páginas 87-91)

2. Da problemática aos objetivos

3.4. Os procedimentos para a recolha e análise de dados

Antes de proceder à entrevista foi necessário proceder à elaboração do Guião (Apêndice 1), porque se houver uma estrutura devidamente pensada e estruturada, um bom entrevistador sabe exatamente onde quer chegar e consegue explorar determinadas ideias com subtileza, testando respostas.

Na preparação da entrevista foi útil e necessário listar os aspetos essenciais, para que pudessem ser contemplados: (i) decidir o que quer saber e fazer uma lista para organizar ideias e não perder os objetivos de vista; (ii) examinar a lista e eliminar o que é supérfluo; (iii) utilizar linguagem acessível e clara; (iv) decidir o tipo de entrevista que pretende, mais ou menos estruturadas de maneira a deixar o seu entrevistado mais à vontade (v) delinear um esquema de perguntas; (vi) considerar a forma como as questões são colocadas (numa conversa as questões abertas ajudam a que a conversa flua); (vii) certificar-se que os canais oficiais estão desimpedidos: escolher o local e a certeza de que não será interrompida a gravação, solicitar autorização para o uso do espaço e informar do tempo previsto para a realização da entrevista; (viii) apresentar-se ao seu entrevistado, agradecendo a sua disponibilidade e o seu tempo. Nesse momento deverá ainda explicar-lhe o objetivo da sua

Rita Gil - Osteogénese Imperfeita: o desafio de gerir e gerar facilitadores. Estudo de caso

entrevista e como serão usados os dados que vai recolher. Não deve desiludir a pessoa que se está a entrevistar não cumprindo com o que foi previamente combinado (Bell, 1997).

Durante a realização das entrevistas à mãe, o sujeito do estudo esteve muitas vezes presente o que permitiu registo dos comportamentos e dos comentários dos sujeitos. À transcrição da entrevista foram acrescentados os registos efetuados desses momentos de observação, o que permitiu realizar algumas inferências. A entrevista foi cuidadosamente delineada e feita em momentos distintos. Cada bloco tinha muita informação que a progenitora fez questão de transmitir ao detalhe para que o estudo de caso fosse realizado da forma mais completa possível.

Foram realizadas ainda duas entrevistas a um dos primos e à irmã do Tiago (nome fictício) que possibilitaram a recolha de informação nomeadamente do perfil do sujeito em estudo assim como os seus passatempos, as suas vivências em família, as suas dificuldades face à doença, assim como as estratégias para fazer face a essas dificuldades, o seu ciclo de amigos e as suas expectativas face ao seu futuro pessoal e profissional.

Para a preparação das entrevistas quer à irmã quer ao primo foi necessário compreender o contexto e o tipo de relação que cada um dos membros da família têm com o Tiago. Estas sugestões de abordagem surgiram de conversas informais realizadas aos progenitores com recurso a episódios vivenciados entre o Tiago e cada um dos membros a ser entrevistados. Existem no entanto tópicos chave que se mantiveram e que seria fulcral validar junto de cada entrevistado, nomeadamente as rotinas do Tiago, a sua autonomia, as suas vivências sociais e as suas expetativas.

Qualquer das entrevistas teve três momentos: a elaboração do guião, a transcrição e a análise de conteúdo.

Numa fase posterior considerámos relevante implementar outras técnicas de recolha de dados, nomeadamente a observação.

Com a observação pudemos fazer uso dos sentidos para a apreensão de outros aspetos da realidade. Esta técnica permitiu ver, ouvir e examinar de perto os fenómenos que se pretendiam investigar. A técnica da observação obrigou a uma maior aproximação do investigador ao objeto em estudo. Falkembach (1987) descreve as notas de campo como um diário de bordo, onde se anotam tópicos dos eventos observados e a progressão da pesquisa. É o relato escrito do que o investigador vê e experiencia no decurso da recolha de dados (Bogdan & Biklen, 1994).

Rita Gil - Osteogénese Imperfeita: o desafio de gerir e gerar facilitadores. Estudo de caso

Segundo Bogdan e Biklen (1994) para que as anotações estejam de acordo com o objetivo da pesquisa é necessário um planejamento prévio do que deve ser anotado e observado mantendo o foco no objeto da investigação. O conteúdo das observações deve conter uma parte descritiva e uma reflexiva. A parte descritiva compreende um registro detalhado do que ocorre no campo.

A parte reflexiva das anotações inclui as observações pessoais do pesquisador, feitas durante a fase de coleta: suas especulações, sentimentos, problemas, ideias, impressões, dúvidas, incertezas, surpresas e decepções.

Os fatos devem ser registrados no Diário de Campo o quanto antes, se possível imediatamente depois de observados, Caso contrário, a memória vai introduzir elementos que se deram; e a interpretação reflexiva, não se separa de fato concreto, virá frequentemente a deturpá- lo. (Falkembach, 1987, p. 21)

Ludke e André (1986) referem que as anotações devem ser feitas o mais próximo do momento da observação, no entanto vai depender do papel do observador e das suas relações com o grupo a ser observado. Se o observador não revelar a sua condição ao grupo não poderá fazer suas anotações no local, e se for observador participante é inviável fazer anotações durante a observação, pois compromete a interação com o grupo. Assim o pesquisador deverá encontrar o mais breve possível, uma ocasião para que possa completar suas notas. Não deve ser descurado o registo do dia, a hora e o local da observação assim como o seu período de duração, como também deixar uma margem para codificação do material e observações gerais.

Combinar o diário de campo com outras técnicas de investigação não só contribuirá, mas se fará necessário para o aprofundamento da busca de informações desde que, obviamente, o conjunto de técnicas criadas guardem coerência com o corpo teórico conceitual e princípios metodológicos que dão fundamento as práticas sociais em questão. (Falkembach, 1987, p. 23)

Neste estudo foram realizadas várias observações, nomeadamente em encontros casuais com o Tiago e foram ainda registadas observações de atividades em que ele participou e que tivemos o privilégio de presenciar e registar dados. Para isso solicitámos autorização ao Tiago para que pudéssemos observar sem participar. Procurámos escolher as atividades que melhor pudessem mostrar o Tiago nas suas várias valências e seleccionámos três relacionadas com os seus passatempos na comunidade: a catequese e os escuteiros e uma outra relacionada com um negócio de família, o aluguer de casas da família/ Turismo rural.

Rita Gil - Osteogénese Imperfeita: o desafio de gerir e gerar facilitadores. Estudo de caso

Descobrimos que iria decorrer nos escuteiros por esses dias, uma corrida de carrinhos de rolamentos (Apêndice Q). Como é uma atividade que implica muitas deslocações e trabalho manual ficámos apreensivos de qual seria o desempenho do Tiago e como iria ele participar naquele evento.

Pelas entrevistas pudemos depreender igualmente que o Tiago estava com um grupo de catequese (Apêndice N) e não foi difícil pedir para assistir a uma sessão de catequese. Nesta observação também poderíamos depreender o desempenho do Tiago e observar de perto a sua forma de trabalhar com crianças.

Por último, numa conversa informal com a progenitora em que falávamos da crise, das dificuldades que vivenciamos atualmente no nosso pais, ela confidenciou-me que o seu irmão tinha desafiado o Tiago a gerir um negócio de família. Já que ele tinha tanto jeito com computadores e trabalhava a partir de casa pela internet, porque não fazer a gestão logística de arrendamento de casas, fazendo as reservas online e procedendo ao check in pessoalmente dos hóspedes estrangeiros?

E como a nossa vida é feita de desafios, propusemo-nos dar um olhinho (Apêndice U) nesse negócio e compreender o que de fato era feito pelo Tiago.

Rita Gil - Osteogénese Imperfeita: o desafio de gerir e gerar facilitadores. Estudo de caso

No documento DissertaçãoRita gil final com júri(1) (páginas 87-91)