4.2 O TRATAMENTO TRIBUTÁRIO DIFERENCIADO 54
4.2.1 A Lei do Pró-Emprego e a Resolução 13 do Senado Federal 54
Criado pela Medida Provisória 130 em 21 de novembro de 2006 e instituída pela Lei nº 13.992/2007, a Lei do Pró-Emprego foi regulamentada em 14 de março de 2007 pelo Decreto 105.
Art. 1º Fica instituído no âmbito da Secretaria de Estado da Fazenda o Programa Pró-Emprego, com o objetivo de promover o incremento da geração de emprego e renda no território catarinense, por meio de tratamento tributário diferenciado do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação – ICMS. (SANTA CATARINA, 2007)
Sob a justificativa de incentivar empreendimentos de relevante interesse socioeconômico, a Lei do Pró-Emprego definiu esse tipo de empreendimento no art. 2º, § 1º:
Entende-se por empreendimento de relevante interesse sócio-econômico aquele representado por projetos de implantação, expansão, reativação, modernização tecnológica, considerados prioritários ao desenvolvimento econômico, social e tecnológico do Estado e que resultem em geração ou manutenção de empregos, bem como os que consolidem, incrementem ou facilitem exportações e importações. (SANTA CATARINA, 2007).
Dessa forma, as empresas que realizassem importações com entrada nos portos catarinenses, desde que preenchessem os requisitos para inclusão no programa de incentivos, receberiam o TTD.
Inicialmente, até 2011, o art. 8º da Lei nº 13.992/2007 trazia o instituto do diferimento e, dado o escopo desse trabalho – análise do impacto do TTD aos importadores de aço destinado à construção civil – a verificação se dá nos aspectos que tenham alguma influência nesse sentido.
Assim, fica evidenciado que havia uma renúncia fiscal de ICMS, pois havia a previsão da redução de alíquota do ICMS devido na importação e posterior comercialização27, resultando em uma tributação de 3%:
Art. 8º Poderá ser diferido para a etapa seguinte de circulação à da entrada no estabelecimento importador, o ICMS devido por ocasião do desembaraço aduaneiro, na importação realizada por intermédio de portos, aeroportos ou pontos de fronteira alfandegados, situados neste Estado, de: III – mercadorias destinadas à comercialização por empresa importadora estabelecida neste Estado;
§ 5º Na hipótese do inciso III do caput:
I – o pagamento do imposto devido poderá ser diferido, total ou parcialmente, para o momento da saída interna subsequente à entrada da mercadoria importada, nos termos do regulamento;
II – poderá ser apropriado crédito em conta gráfica, por ocasião da saída subsequente à entrada da mercadoria importada, de modo a resultar em uma tributação equivalente a três por cento do valor da operação própria; e
III – terão o mesmo tratamento dado à comercialização, as saídas em transferência para outras unidades da Federação. (SANTA CATARINA, 2007, grifo nosso).
Por diferimento, entende-se que o tributo continua devido, mas há um adiamento do pagamento do ICMS cujo fato gerador já ocorreu e “ao mesmo tempo, a atribuição da responsabilidade pelo seu recolhimento ao sujeito que realiza a ata subsequente da cadeia.”. (JORGE, 2012, p.14).
O art. 8º da Lei nº 13.992/2007 foi revogado pela Lei nº 15.499/2011 devido a forte pressão do Conselho Nacional de Política Fazendária28 (CONFAZ) e
27 A alíquota normal, sem TTD, alcança 12% para os produtos objeto desse trabalho. 28 Compete ao Conselho, promover a celebração de convênios, para efeito de concessão ou
revogação de isenções, incentivos e benefícios fiscais do imposto de que trata o inciso II do art. 155 da Constituição, de acordo com o previsto no § 2º, inciso XII, alínea “g”, do mesmo artigo e na Lei Complementar nº 24, de 7 de janeiro de 1975, bem como:
a - promover a celebração de atos visando o exercício das prerrogativas previstas nos artigos 102 e 199 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 (Código Tributário Nacional), como também sobre outras matérias de interesse dos Estados e do Distrito Federal;
uma série de Ações Diretas de Inconstitucionalidade ajuizadas no Supremo Tribunal Federal (STF), entre elas as de nº 4493 e 4494 propostas pela Confederação Nacional de Trabalhadores Metalúrgicos (CNTM) em 2010.
Atualmente, essas ações aguardam julgamento no STF, cuja relatoria é do Ministro Marco Aurélio de Mello. Ressalta-se que após a edição da Lei nº 15.499/2011, o Estado de Santa Catarina solicitou a perda de objeto dessas ações.
Além disso, a Lei do Pró-Emprego possuía originalmente o art. 27 que deixava claro que o programa catarinense se mostrava integrante da guerra fiscal:
Art. 27. Fica o Chefe do Poder Executivo autorizado a conceder outros benefícios relacionados ao ICMS, como forma de compensar a concessão ou o compromisso de concessão, por outras unidades da Federação, de benefícios fiscais ou financeiros em desacordo com a lei complementar de que trata o art. 155, § 2º, XII, “g”, da Constituição Federal. (SANTA CATARINA, 2007)
Nesse sentido, tal determinação legal autorizava, se fosse necessária, a ampliação de instrumentos com o fim de combater possíveis retaliações de outros Estados da federação.
O art. 27 da Lei nº 13.992/2007 também foi revogado pela Lei nº 15.499/2011.
Com a demanda do CONFAZ e de uma extensa lista de entidades que se sentiam lesadas com a estratégia de alguns Estados na busca do crescimento de suas arrecadações, nos termos do art. 155, § 2º, inciso IV, da CRFB/198829, o Senado Federal aprovou em abril de 2012 a Resolução 13, que passou a vigorar em janeiro de 2013.
Essa resolução trouxe a uniformização da alíquota do ICMS para operações interestaduais com bens e mercadorias importados do exterior e a fixou em 4% após o desembaraço aduaneiro.
b - promover a gestão do Sistema Nacional Integrado de Informações Econômico-Fiscais - SINIEF, para a coleta, elaboração e distribuição de dados básicos essenciais à formulação de políticas econômico-fiscais e ao aperfeiçoamento permanente das administrações tributárias;
c - promover estudos com vistas ao aperfeiçoamento da Administração Tributária e do Sistema Tributário Nacional como mecanismo de desenvolvimento econômico e social, nos aspectos de inter- relação da tributação federal e da estadual. (fonte: https://www.confaz.fazenda.gov.br/menu-de- apoio/competencias)
29 Art. 155,§ 2º, inciso IV - resolução do Senado Federal, de iniciativa do Presidente da República ou
de um terço dos Senadores, aprovada pela maioria absoluta de seus membros, estabelecerá as alíquotas aplicáveis às operações e prestações, interestaduais e de exportação (BRASIL, 1988).
Alinhada com essa resolução o CONFAZ editou o ajuste 19/2012 que continha a mesma determinação, mas detalhava a dinâmica legal, explicando o que poderia ser considerada mercadoria importada, levando em consideração a quantidade importada incorporada em determinado produto que sofresse alguma transformação industrial.
A partir da Resolução 13 do Senado Federal, e em cumprimento ao ajuste 19/2012 do CONFAZ, o governo de Santa Catarina introduziu o Decreto nº 1.285 em dezembro de 2012.
Este decreto estabelecia que as comerciais importadoras (Trading) que tivessem o benefício do programa Pró-Emprego, deveriam migrar para um novo sistema, denominado TTD.
Esse novo TTD teve início em janeiro de 2013 e a sua aplicação trata das novas alíquotas do ICMS no âmbito interno e interestadual.
Em síntese, quando a se trata de operação interestadual com mercadoria importada, a alíquota do ICMS passou a vigorar com 4% e, no caso de operações dentro do Estado, a alíquota de ICMS instituída ficou em 10%.
Assim, para comercial importadora houve continuidade do benefício concedido, ou seja, prosseguiu o recolhimento de 4% de ICMS sobre a base cálculo integral naquelas operações de saída de mercadorias30 dentro do Estado, pois a cobrança de 10% ICMS era somente no documento fiscal, à base para cobrança aplica-se uma redução que ao final resultará nos 4% que realmente são pagos.
E, nas operações interestaduais, o destaque da nota fiscal ficou em 4% e o pagamento ficou em 1,4%.
Quanto ao crédito presumido, também conhecido como crédito outorgado, que é aquele que se refere a um crédito não necessariamente correspondente ao valor real em apuração tradicional31, o programa Pró-Emprego é silencioso quanto a essa possibilidade no novo TTD.
Em regra, o valor do crédito presumido é calculado pela aplicação de um percentual sobre determinada alíquota que deu origem ao valor da operação e, neste caso, o contribuinte tem a opção de ser creditar de um valor presumido em substituição a quaisquer outros créditos.
30 Mas o destaque do ICMS para o recolhimento foi dividido em duas guias para pagamento: uma de
3,6% para a Secretaria da Fazenda de SC e outra parte, de 0,4%, para os fundos sociais previstos no novo TTD.
Por fim, o ar prazo para pagamento d 4.3 OS REFLEXOS D LEI DO PRÓ-EMPREGO
O esforço do por parte do ICMS, bem criação do programa Pr importações introduzidas Tabela 1 – Balança Com
Fonte: BRASIL.Ministério do D
Nota-se, port econômico exportador, s 2009, mas já com sinais
32Art. 13 Na hipótese de impl
industrial e de centros de dist incremento do ICMS apurado localização regional do empre do período subseqüente ao d
rt. 1332 da Lei nº 13.992/2007 estabele o ICMS que pode chegar a 24 meses. DA CONCESSÃO DE BENEFÍCIOS FISC
O.
governo de Santa Catarina em aument m como dinamizar sua estrutura portuár
ró-Emprego, se manifestou pelo aumen s pelos portos catarinenses:
mercial SC – 2004 a 2014 – (mil US$ FOB
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,
tanto, uma inversão na tradição cata se traduzindo em um déficit na balança c
dessa inversão no ano anterior:
antação, expansão ou reativação de atividades d ribuição que atendam os Estados das Regiões S o em cada período poderá ser pago, levando-se e eendimento, com dilação de prazo em até vinte e a ocorrência do fato gerador. (SANTA CATARINA
ece uma dilação de
CAIS ADVINDOS DA
tar sua arrecadação ia, evidenciada pela nto considerável das
B).
2015
arinense como polo comercial a partir de
de estabelecimento Sul e Sudeste, o valor do
em consideração a e quatro meses, a contar
Gráfico 1 – Santa Catarina – Balança Comercial – 2004 a 2014 – (mil US$ FOB).
Fonte: BRASIL.Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, 2015.
Ressalta-se que tal crescimento das importações não significa efetivamente que o consumo ou beneficiamento das mercadorias importadas tenham se realizado em Santa Catarina. Ao contrário, o aumento das importações como resultado da criação do programa Pró-Emprego, trouxe impactos imediatos no pacto federativo em razão da migração de possíveis importações por portos de outros Estados para os terminais portuários catarinenses.