• Nenhum resultado encontrado

Conforme Souza (2014), toda intervenção estatal no domínio econômico deve observar as circunstâncias que determinam sua ocorrência, bem como devem seguir os ditames legais, em especial a previsão constitucional.

Nesse sentido, de acordo com Torres (2014), o intervencionismo “[...] jamais pode pretender dominar ou extinguir o mercado, mas acomodá-lo aos valores constitucionais, dentro dos seus limites e bases normativas”.

Para Torres (2014), a CRFB/1988 em sua parte econômica, garantiu tanto ao Estado, como aos particulares, um regramento no sentido de proteger e controlar a economia em consonância com o Estado Democrático de Direito:

A Constituição Econômica, ao conferir a instrumentalidade aos particulares para agirem na economia segundo as regras preestabelecidas, assim como ao Estado, tem à disposição todo o aparato da Constituição Tributária e da Constituição Financeira para realização da Constituição dirigente, na direção do processo econômico geral. (TORRES, 2014).

Souza (2014) ainda ressalta que cabe indenização quando a intervenção na atividade econômica por parte do Estado causar prejuízos adicionais aos riscos inerentes da própria atividade. Portanto, “[...] em toda intervenção, o Estado deve sopesar não só os custos diretos da atividade, mas também os reflexos a que estará sujeito”. (SOUZA, 2014).

Considerando pressuposto da propriedade privada mencionado por Torres (2014), onde a estrutura econômica da sociedade capitalista não pode funcionar sem a intervenção estatal, a economia de mercado “[...] reclama segurança jurídica para seus agentes, mas esta pode ser ineficaz se o Estado não

assegura a permanente ‘proteção’ e controle do ‘mercado nacional’, inclusive com aplicação de regras de acordos internacionais.” (TORRES, 2014).

Dessa forma, a presença do Estado através uma atividade financeira, que carrega as funções de planejamento e regulação são fundamentais para consolidação do Estado Democrático de Direito.

Torres (2014) cita o exemplo da Lei 12.546/2011, que concedeu a redução da alíquota do IPI (imposto sobre produtos industrializados) aos veículos importados:

Decisão política muito criticada na oportunidade do seu lançamento, mas cujo êxito, após oportunos ajustes, é inegável nos dias atuais, pela atração efetiva de montadoras de veículos, melhoria da concorrência e expansão de postos de trabalho, foi a tributação diferenciada do IPI para carros importados por montadoras que não possuíssem unidade fabril no país, com o objetivo de estimular a competitividade, a agregação de conteúdo nacional, o investimento, a inovação tecnológica e a produção local. (TORRES, 2014).

Esta lei vinculou a qualificação da pessoa jurídica à redução ou aumento do tributo, ou seja, para o industrial com planta no país, poderia ser concedido a redução de IPI para seus veículos importados observados alguns requisitos, como níveis de investimento, inovação tecnológica e, principalmente quantificação de conteúdo nacional em cada veículo produzido.

Outro exemplo da intervenção estatal é o caso do setor elétrico, onde Souza (2014) explica que ao manter o preço da energia elétrica consumida em níveis muito baixos, as distribuidoras e concessionárias do serviço elétrico tiveram perdas econômicas consideráveis:

Também afetadas pela persistente escassez de geração hidrelétrica, elas são obrigadas a adquirir, no mercado de curto prazo, energia mais cara, de geração termoelétrica, sem o necessário repasse de custo ao consumidor. Em razão dos prejuízos, o governo anunciou compensação direta ao setor por meio de um pacote de medidas que somam, aproximadamente, R$ 12 bilhões, decorrentes de aportes diretos realizados pelo Tesouro Nacional e financiamentos bancários à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. (SOUZA, 2014).

No exemplo, se as perdas ultrapassarem a compensação do Estado, tanto as distribuidoras, como as concessionárias, podem pleitear indenizações.

Fica evidenciado que as intervenções estatais devem ser feitas apenas em circunstâncias excepcionais, quando interesses públicos primários o exigirem, devendo os custos ser rigorosamente calculados. Além de causarem disfunções no mercado, criam ônus presentes e futuros.

No último exemplo resta claro que no Estado Democrático de Direito, o sistema tributário deve colaborar para realização dos objetivos constitucionais e, neste caso, o autor menciona a exigência de proteção ao interesse público primário.

Entretanto, conforme Amatto (2015), tais compensações tiveram composição de cobertura diferente em 2014 e 2015.

Em 2014, ano de eleições, o orçamento do fundo de compensação fixado pela Agência Nacional de Energia Elétrica foi de R$ 18 bilhões, sendo que R$ 11,8 bilhões foram cobertos pelo governo e o restante, 34%, foi pago pelos contribuintes.

Em 2015, por razões técnicas e pagamento de juros, o valor do fundo de compensação passou para R$ 22 bilhões e, dessa vez, integralmente coberto pelos contribuintes via pagamento da conta de energia elétrica. “Os consumidores já contribuíram em outros anos com a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), mas em 2015, vão ter que bancar todas as despesas ligadas ao fundo, o que vai provocar uma alta ainda maior das contas de luz.” (AMATO, 2015).

Nos ensinamentos de Torres (2014), a exigência de tributos precisa observar três pontos fundamentais: os limites ao poder de tributar, a redistribuição (e neste caso, os princípios de bem estar, dignidade da pessoa humana e solidariedade) e os valores das ordens social e econômica.

Continua o autor que a aplicação da Constituição Financeira conforme os princípios e fins constitucionais do Estado,

[...] tem como função promover todos os meios necessários à plena e inarredável missão de desenvolvimento econômico e de bem-estar coletivo no âmbito nacional, segundo aqueles objetivos designados pela Constituição, numa perspectiva transformadora da realidade social e econômica em favor das gerações futuras, pelo compromisso intergeracional que se impõe a realizar. (TORRES, 2014)

Já o ativista liberal Stewart Jr. (1995, p. 27) é crítico à intervenção desde a definição da própria expressão: “Intervenção é uma norma ou uma medida de caráter restritivo, imposta pelo governo, que obriga as pessoas a empregarem os seus recursos de forma diferente da que fariam se não houvesse a intervenção.”

Para o autor, há uma presunção de que as pessoas em geral serão beneficiadas quando há intervenção estatal, assumindo-se a lógica que o uso livre dos recursos não serão utilizados da melhor maneira caso não ocorra a intervenção:

A intervenção é, portanto, um ato autoritário; implica em reconhecer que as pessoas não devem ser livres para escolher, que precisam da tutela de um chefe, do Estado, que sabe o que é melhor para o cidadão. O intervencionismo obriga a que haja a submissão do consumidor ao Estado. Esse é o seu equívoco básico. O liberalismo, ao contrário, defende a soberania do consumidor. (STEWART JR, 1995, p. 27).

Para o crítico, a intervenção beneficia alguns grupos ou algumas pessoas, ou talvez, um grande grupo de pessoas, mas no curto prazo, mas “invariavelmente produz consequências desagradáveis para a grande maioria das pessoas a longo prazo” (STEWART JR, 1995, p. 27).

Gomes (2002) é um crítico à intervenção estatal sem critérios e exemplifica o caso das cisões compulsórias, que têm o objetivo de minimizar a força dos agentes detentores do poder econômico. Menciona que este fato considerando que “a tutela incondicional da livre concorrência, como valor absoluto, seria mesmo capaz de provocar a eliminação da livre iniciativa.” (GOMES, 2002, p. 9).

Nesse sentido, há que se observar claramente os impactos da intervenção estatal, analisando criteriosamente os benefícios a coletividade, mas respeitando os princípio constitucionais estabelecidos.

4 A INTERVENÇÃO INDIRETA DE SANTA CATARINA NO DOMÍNIO ECONÔMICO ATRAVÉS DA CONCESSÃO DE BENEFÍCIOS FISCAIS

No presente capítulo será analisada a intervenção estatal, especialmente a intervenção do governo estadual de Santa Catarina no domínio econômico na forma da concessão de benefícios fiscais.

A abrangência da análise do presente capítulo está resumida à verificação da Lei 13.992/2007 (Lei do Pró-Emprego) em relação à quantidade importada aos produtos para construção civil, sobretudo os integrantes de Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) denominados pregos, telas soldadas e vergalhões.

Para tanto, são abordados, primeiramente, os conceitos do imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual, intermunicipal e de comunicação (ICMS) por meio da questão histórica desse tributo e da sua natureza jurídica.

E, depois, a abordagem dessa etapa trata de explicar o Tratamento Tributário Diferenciado (TTD) que o Estado de Santa Catarina concede aos importadores por intermédio da Lei do Pró-Emprego e suas implicações econômicas e jurídicas.

Por fim, a análise tratará de identificar possíveis reflexos acerca desse poder interventivo de Santa Catarina frente ao Princípio da Livre Concorrência, ambos com previsão constitucional no art. 174, caput e art. 170, IV, da CRFB/1988, respectivamente.