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4.1 O ORDENAMENTO JURÍDICO E TÉCNICO DE SCIE

4.1.1 A Hierarquia da Legislação

4.1.1.3 A lei nacional de SCIE no Brasil

j) classificação,

- as classificações das edificações são baseadas em suas características construtivas, de ocupação e grau de risco, imprescindíveis para relacionar o potencial de eclosão e desenvolvimento do incêndio, com a implantação de medidas proporcionais aos riscos mensurados.

Acertadamente, mais uma vez, em alinhamento à política praticada em todos os segmentos da segurança pública, o Ministério da Justiça, por meio da Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP –, criou um Grupo de Trabalho composto por oficiais bombeiros militares, advindos de indicações da Liga Nacional de Bombeiros do Brasil – LIGABOM –, em conjunto com os comandantes-gerais de todos os Estados da Federação, estipulando o critério de que os seus melhores e mais experientes especialistas doariam seu conhecimento para a criação de uma proposta de avanço para a segurança contra incêndio e pânico no País, onde a técnica teve seu protagonismo preservado, ou, em segunda análise, aumentado, visando ao maior

sucesso e progresso nesse campo.

O Grupo de Trabalho seguiu a estratégia mais inteligente e também contou com a participação de todos os segmentos da nossa sociedade, trazendo ao debate os civis que desempenham as funções operacionais congêneres aos dos Corpos de Bombeiros Militares, mestres em engenharia e em segurança contra incêndio e pânico das mais respeitadas universidades e institutos do País, muitos segmentos do mercado de equipamentos e dispositivos, e autarquias que têm a atividade de prevenção como meta.

O PLC nº 33/2014 não teve a participação direta destes segmentos para a redação do texto, como demonstrado no projeto anterior, mas existiram intervenções pontuais de alta relevância para que além das responsabilidades ficarem claras, fossem abordados aspectos técnicos afetos às edificações e sua normalização técnica de forma integrada. A não participação direta dos entes técnicos para a elaboração do texto ficou evidenciado em algumas passagens como citamos a seguir:

Art. 4º O processo de aprovação da construção, instalação, reforma, ocupação ou uso de estabelecimentos, edificações e áreas de reunião de público perante o poder público municipal, voltado à emissão de alvará de licença ou autorização, ou

documento equivalente, deverá observar: [...]

III - a prioridade para uso de materiais de construção com baixa inflamabilidade e de sistemas preventivos de aspersão automática de combate a incêndio;

Há de se referenciar que não é pertinente constar de forma muito específica em uma futura lei a ser aplicada em todo o território nacional, a prioridade de utilização de medidas sem considerar sua compatibilidade com as demais e os efeitos negativos que podem causar.

Como exemplo a inflamabilidade (ignitabilidade ou combustibilidade) é apenas uma característica dos materiais quanto a reação ao fogo, desconsiderando totalmente desta forma os quesitos de propagação superficial de chamas e de emissão de fumaça. No mesmo raciocínio, aspersores automáticos, ou instalações hidráulicas automáticas como é atualmente denominado o sistema, não pode desconsiderar sua interação com o sistema de controle de fumaça e a presença de riscos especiais não compatíveis. Desta forma, medidas específicas de

engenharia de incêndio não podem ser tratadas em um instrumento jurídico rígido, no caso uma lei federal, como já foi discutido anteriormente.

Contudo, o referido projeto de lei positivamente contempla a visão sistêmica da SCIE, fundamentando os três fatores condicionantes ao desenvolvimento técnico e científico da SCIE já explanados, e se aprovada, trará infindáveis benefícios para a excelência na área.

Em primeira abordagem, o PLC nº 33/2014 manifesta a possibilidade de existirem regulamentações técnicas nos Estados, o que pode ser realizado através de esforço conjunto dos Corpos de Bombeiros Militares e sociedade técnica. No texto consta:

Art. 2° O planejamento urbano a cargo dos Municípios deverá observar normas especiais de prevenção e combate a incêndio e a desastres para locais de grande concentração e circulação de pessoas, editadas pelo poder público municipal, respeitada a legislação estadual pertinente ao tema. [...]

Art. 3° Cabe ao Corpo de Bombeiros Militar planejar, analisar, avaliar, vistoriar, aprovar e fiscalizar as medidas de prevenção e combate a incêndio e a desastres em estabelecimentos, edificações e áreas de reunião de público, sem prejuízo das prerrogativas municipais no controle das edificações e do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano e das atribuições dos profissionais responsáveis pelos

respectivos projetos.[...]

Art. 4º O processo de aprovação da construção, instalação, reforma, ocupação ou uso de estabelecimentos, edificações e áreas de reunião de público perante o poder público municipal, voltado à emissão de alvará de licença ou autorização, ou

documento equivalente, deverá observar:

I - o estabelecido na legislação estadual sobre prevenção e combate a incêndio e a desastres e nas normas especiais editadas na forma do art. 2° desta Lei; [...]

IV - os atos normativos expedidos pelos órgãos competentes e as normas técnicas registradas da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT ou de outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e

Qualidade Industrial - CONMETRO;

V - as exigências fixadas no laudo ou documento similar expedido pelo Corpo de Bombeiros Militar, por força do disposto no art. desta Lei.

Art. 6º Na prestação de serviços e no fornecimento de produtos, em consonância com a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, os engenheiros e arquitetos, o Corpo de Bombeiros Militar, o poder público municipal e os proprietários de estabelecimentos e edificações, bem como os promotores de eventos, observarão os atos normativos expedidos pelos órgãos competentes e, onde não houver regulamentação, observarão as normas técnicas registradas expedidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) ou por outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro). (grifo nosso)

Também, o projeto de lei enfatiza a importância do ensino e da qualificação dos profissionais que labutam nesta área, com as seguintes normativas:

Art. 8° Os cursos de graduação em Engenharia e Arquitetura em funcionamento no País, em universidades e organizações de ensino públicas e privadas, bem como os cursos de tecnologia e de ensino médio correlatos, incluirão nas disciplinas ministradas conteúdo relativo à prevenção e ao combate a incêndio e a desastres.

Parágrafo único. Os responsáveis pelos cursos referidos no caput deste artigo terão o prazo de 6 (seis) meses, contados da entrada em vigor desta Lei, para promover as complementações necessárias no conteúdo das disciplinas ministradas, visando a

atender o disposto no caput deste artigo.

Art. 9° Será obrigatório curso específico voltado para a prevenção e combate a incêndio para os oficiais e praças integrantes dos setores técnicos e de fiscalização dos Corpos de Bombeiros Militares, em conformidade com seus postos e graduações e os cargos a serem desempenhados.

O terceiro fator condicionante ao desenvolvimento da SCIE não foi citado nesta proposta. No entanto, acredita-se que ao desenvolver a educação formal no setor, a investigação e a estrutura laboratorial surgirão alavancados pelos futuros especialistas em segurança contra incêndio.

Outro fator importante ao contexto, citado pelo PLC nº 33/2014, foi a intenção de formar um banco de dados nacional para levantamento descritivo que auxilie na inferência e planejamento da segurança contra incêndio:

Art. 10. O poder público municipal e o Corpo de Bombeiros Militar manterão disponíveis, na rede mundial de computadores, informações completas sobre todos os alvarás de licença ou autorização, ou documento equivalente, laudos ou documento similar concedidos a estabelecimentos, edificações e áreas de reunião de público, com atividades permanentes ou temporárias.

§ 1° A obrigação estabelecida no caput deste artigo aplica-se também:

I - às informações referentes ao trâmite administrativo dos atos referidos no caput

deste artigo;

II - ao resultado das vistorias, perícias e outros atos administrativos relacionados à prevenção e ao combate a incêndio e a desastres.[...]

Art. 15. As informações sobre incêndios ocorridos no País em áreas urbanas serão reunidas em sistema unificado de informações, com a participação da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, integrado ao sistema de informações e monitoramento de desastres previsto pela Lei n° 12.608, de 10 de abril de 2012, nos termos do regulamento.

Obviamente, para se manter um controle a nível nacional, com bancos de dados unificados, ou que permitam uma inferência adequada e representativa para todo o território brasileiro, a compilação deverá ser padronizada, existindo então a necessidade de estudo, definição de padrões de coletas de informações, tanto dos dados operacionais dos atendimentos aos sinistros, quanto para os produtos finais relacionados à SCIE. E a consecução deste objetivo

demandará um grande esforço conjunto dos profissionais que trabalham na gestão direta e execução destas atividades.

Desta forma, provavelmente haverá a necessidade de um ente congregador e harmonizador de todas estas atividades criadas pela lei que se avizinha.