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A Relação da SCIE com a Atividade Econômica e a Importância de

3.1 A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO PÚBLICA EM SCIE

3.1.5 A Relação da SCIE com a Atividade Econômica e a Importância de

Com o advento das normativas que regem a análise e a aprovação dos projetos de segurança contra incêndio para o licenciamento das edificações, as regulamentações de SCIE passaram a ter uma importância vital para a ocupação e o funcionamento dos estabelecimentos, quer sejam residenciais, comerciais ou industriais. Como reflexo, o mercado da segurança contra incêndio foi motivado por uma crescente demanda, tanto por projetistas conhecedores da matéria, quanto por equipamentos e sistemas a serem instalados.

Concomitantemente, o Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H), com a aplicação da norma de desempenho da construção para melhoria dos empreendimentos habitacionais, NBR 15575 (ABNT, 2013), em seu capítulo 8 passou a determinar o cumprimento de exigências de segurança contra incêndio, fazendo com que todos os sistemas construtivos aplicados nas residências multifamiliares e unifamiliares, principalmente de interesse social, possuíssem padrões mínimos de segurança. Desta forma, desde aquela época, o mercado está em franco avanço na caracterização de materiais, equipamentos e sistemas construtivos que forneçam desde a sua concepção parâmetros mínimos de segurança à vida. Com isso, estimula as pesquisas de desenvolvimento nesta área,

o surgimento de laboratórios especializados, assim como insere a segurança contra incêndio como fator positivo de imagem institucional concernente principalmente à responsabilidade social.

Não obstante, com o advento do infortúnio da Boate Kiss em 2013, muitas legislações foram modificadas, vinculando as licenças de SCIE como requisito indispensável para os licenciamentos de ocupação dos imóveis ou de funcionamento dos estabelecimentos.

Noutro viés, a maior complexidade e a verticalização das edificações tornou imprescindível o ajuste dos equipamentos e técnicas de combate aos incêndios utilizados pelos bombeiros. Esta evolução é necessária e inevitável, com o proporcional aprimoramento da segurança, no entanto, o desenvolvimento tecnológico das construções não pode ser limitado para ficar compatível com a estrutura estatal de socorro, e sim devem ser concomitantes.

Em outras palavras, os últimos acontecimentos envolvendo a segurança contra incêndio em edificações proporcionaram uma relação direta dos agentes responsáveis pela regulamentação e fiscalização com a sociedade e com o mercado, criando um novo conjunto de valores e expectativas, bem como uma interdependência mais evidente. As exigências técnicas e as ações de fiscalização e licenciamento exercem influência na vida das pessoas e nos custos das obras. Nota-se que esta atividade passou a ser muito mais complexa, carecendo de base científica, surgindo então a necessidade de serem realizadas pesquisas regularmente para o acompanhamento do desenvolvimento tecnológico e social, pois já não há mais lugar para o empirismo na proteção da vida (ROQUE, 2006).

Ademais, o mais importante é a clareza dos objetivos e das funcionalidades técnicas das medidas de SCIE implantadas. O mercado e a sociedade se ajustarão se compreenderem a real importância dos seus investimentos, se entenderem claramente os objetivos da segurança contra incêndio na aplicação de cada medida. Não é compreensível que no mesmo país, uma edificação com a mesma ocupação (uso) e características construtivas, tenha em diferentes Estados exigências diferenciadas de resistência ao fogo dos elementos de compartimentação, ou do volume da reserva técnica de incêndio (reservatório de água), ou melhor explicando, que uma construtora tenha de elaborar projetos diferentes para uma mesma edificação apenas por ter cruzado a fronteira entre as Unidades Federativas do Brasil, pois as regulamentações técnicas não são as mesmas. Isto onera as obras, dificulta os licenciamentos, desacredita o

poder público, desestimula o investimento no país, e os custos são repassados aos consumidores finais.

Ajustes processuais administrativos e característicos da construção para adaptação ao terreno, ou em cumprimento aos Planos Diretores e Códigos de Obras Municipais são compreensíveis.

Contudo, como já vimos, os parâmetros finais de funcionalidade das medidas de SCIE encontram fundamentações técnicas e científicas na dinâmica de propagação do fogo em edificações e seus efeitos, nas condicionantes de extinção e ações de socorro decorrentes, no comportamento humano em situação de risco, entre outros, tudo em cumprimento aos objetivos da segurança contra incêndio e pânico, e não havendo portanto, motivação técnica clara para a existência de exigências discrepantes.

Traçando um paralelo sobre a contextualização de Fernandes (2009) e de Lazzarini (2003), tem-se que a regulamentação da segurança contra incêndio em edificações influencia diretamente na regulação social ligada à segurança e ao meio ambiente, entre outros interesses coletivos que ultrapassam a simples defesa do consumidor por conterem um alto risco agregado. E estes interesses sociais devem ser defendidos com profissionalismo através de um ente regulador qualificado, pois falhas neste caso podem custar vidas.

A administração contemporânea deve atentar para sua atual e crescente função reguladora e motivadora da atividade econômica, que deve zelar pelo desenvolvimento e amadurecimento de uma economia equilibrada, mas não podendo isto significar a omissão regulatória antijurídica (FREITAS, 2009).

E a regulamentação de SCIE como dito, afeta diretamente na regulação do mercado, pois requer produtos e serviços específicos. De acordo com o levantamento realizado em 2007 pelo Centro de Estudos aplicados da Universidade Católica Portuguesa, aquele país comercializou aproximadamente 500 milhões de euros em sistemas de proteção contra incêndio, sendo destes, 40% para segurança eletrônica, 30% para proteção passiva, 20% para proteção ativa e 10% para atividades de manutenção. Neste contexto, é de igual importância a participação do Estado com a clareza de seus princípios e objetivos, para evitar que o consumidor final fique à mercê de fornecedores de equipamentos com qualidade e funcionalidade questionáveis, desconhecendo se há outros melhores devido a complexidade tecnológica que envolve a área (FERNANDES, 2009).

Apesar de tudo, há de ser manifestado que muito já foi realizado para o desenvolvimento da segurança contra incêndio em edificações, mas conforme Del Carlo (2008), o Brasil terá de continuar a queimar etapas na luta contra o tempo, pois o desenvolvimento da pesquisa percorre em paralelo, e deve existir o alinhamento com a comunidade científica e profissional globalizada. Exprime assim o autor, que a primeira crise a ser enfrentada no setor será a necessidade de uma gerência a nível nacional em SCIE, complementado por um ordenamento jurídico organizado e suscetível a atualizações tecnológicas. E esta crise e exposição de deficiências já foi motivada com a recente tragédia de proporções épicas ocorrida em 2013 no Brasil.

Fernandes (2009) apresenta um quadro interessante do país como agente regulador da SCIE, a qual possui ambivalência na manutenção do equilíbrio social e do mercado através da sua regulamentação técnica, tendo responsabilidade sobre os potenciais efeitos nefastos por sua ineficiência. Isto inclui a geração de custos absurdamente diferenciados, empíricos e injustificáveis entre edificações semelhantes ao longo do território de um mesmo país.

Em sua concepção, o Estado (administração pública) deve ampliar e padronizar o caráter técnico profissional da regulamentação, como reforçar a função informativa preventiva, sendo inconcebível a repetitibilidade habitual do corpo normativo. A presença de experts nos quadros públicos aumenta sua responsabilidade, pois se pressupõe que será prevista na regulamentação para os projetos a percepção subestimada dos cidadãos quanto ao nível dos riscos a que estão expostos.

Nota-se, que além da necessidade de aperfeiçoar os fatores humanos envolvidos através do ensino, da pesquisa, e desenvolver de forma técnica e científica os regulamentos, há a relevante importância em estabelecer transparência, objetividade e eficiência da gestão pública em efetivar a segurança contra incêndio em edificações, baseada no conhecimento profissional e na investigação fundamentada, e ainda manter um equilíbrio satisfatório entre o consumidor seguro e os fornecedores dos equipamentos, sistemas e serviços. Tudo isto refletirá em um sistema regulador inter-relacionado, contínuo e manifestado expressamente nos regulamentos.

Fernandes (2009) defende que um atuante órgão regulador nacional produziria os seguintes resultados para o desenvolvimento técnico em SCIE no país:

a) centralizaria e organizaria a expertise técnica e profissional para uma regulamentação adequada;

b) reduziria as lacunas e possibilidades de interpretações subjetivas na aplicação das leis e normas;

c) evitaria um envolvimento direto dos governos estaduais nos quesitos técnicos, permitindo uma atenuação da responsabilização política, onde muitas polêmicas causadas pela desatualização e lacunas normativas na aplicação sobre empreendimentos inovadores poderiam ser evitadas, minimizando desgastes da administração e dos administradores;

d) concentraria as mais diversas análises estatísticas atinentes, inclusive das causas dos incêndios, bem como as respectivas avaliações dos riscos decorrentes, contribuindo com seus resultados para uma constante revisão e aperfeiçoamento do sistema de gestão.