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4.1 O ORDENAMENTO JURÍDICO E TÉCNICO DE SCIE

4.1.3 A Elaboração das Normas Técnicas de SCIE

4.1.3.3 A normalização no Brasil

No ano de 1973 por meio da Lei Federal nº 5.966/73, foi instituído o Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (SINMETRO), para formular e executar a política nacional de normalização, metrologia e certificação de qualidade, tendo por órgão nacional de coordenação o Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (CONMETRO).

Segundo o site da Confederação Nacional da Indústria, o SINMETRO visa prover o desenvolvimento através de uma infraestrutura de serviços tecnológicos capaz de avaliar, padronizar e certificar produtos, processos e serviços por meio de organismos de certificação e laboratórios acreditados pelo Instituto Nacional de Metrologia (INMETRO).

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) também faz parte do SINMETRO como órgão normalizador nacional reconhecido internacionalmente e fundamentado pelo Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, pela Resolução nº 07/1992 e pela Resolução nº 06/2002, ambas do Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (CONMETRO). Possui sua estrutura para elaboração de normas semelhante ao modelo

português, constituído por organismos de normalização setorial e comitês técnicos, conhecidos pela sigla CB.

A elaboração das normas também é feito por especialistas e entidades que aderem em caráter voluntário, e após a geração da demanda, o tema é estudado e inserido no programa de normalização do CB relacionado. Do trabalho do comitê, é gerado o projeto de norma que passa por consulta pública e posteriormente análise das modificações, passando por consulta pública novamente ou não, dependendo das divergências sugeridas. Havendo o consenso, a norma é homologada e passa a ter a designação de norma brasileira (NBR). O processo de normalização é ilustrado na Figura 15. Como órgão nacional, também é responsável pela harmonização das normas dos órgãos regionais de que faz parte, bem como acolhimento das normas internacionais.

Figura 15 – Processo de elaboração das normas técnicas

As normas brasileiras de SCI, segundo Gil e Seito (1999 apud BRENTANO, 2007), podem ser classificadas como de especificação, procedimento, padronização, método de ensaio, classificação, simbologia e terminologia. A ABNT possui o Comitê Técnico 24 (CB-24) destinado exclusivamente à normalização concernente à segurança contra incêndio, o qual editou 63 normas que estão em vigor, além de normas pertencentes a outros comitês, como é o caso da norma de saídas de emergência, de centrais prediais de gás liquefeito de petróleo ou as normas de armazenamento de gases e líquidos combustíveis e inflamáveis.

Apesar disto, ainda existem matérias que não são abordadas, como por exemplo, controle de fumaça, método de caracterização da reação ao fogo dos materiais de revestimento e

compartimentação. Ficam então a cargo das regulamentações dos Estados cobrirem estas lacunas, complementar alguns aspectos operacionais de sistemas que não estejam contempladas nas normas como, por exemplo, tempo para acionamento de alarme geral ou especificações das portas a serem aplicadas nas caixas de escadas enclausuradas pressurizadas, ou ainda, atualizar alguns aspectos que ainda estão estagnados em normas não revisadas como a norma de saída de emergência que possui sua última versão vigente desde o ano de 2001.

As análises sistemáticas e atualizações deveriam ser mais rotineiras, mas como diz Brentano (2007), os avanços tecnológicos estão acelerados e a necessidade de novas normas é urgente, mas a ABNT está correndo contra o tempo e tentando atualizá-las com maior frequência.

A harmonia entre os regulamentos e as normas técnicas deve ser total, clara e principalmente complementar, e não justapostos. E isto se inicia na sinergia entre todos os órgãos colaboradores envolvidos para a elaboração destes documentos.

O que acontece não raramente, é que tanto a regulamentação quanto a normalização algumas vezes agem de forma paralela em cumprimento aos seus anseios, ficando então normas técnicas inócuas e regulamentos tecnicamente desatualizados ou que indicam parcialmente o cumprimento das normas existentes.

Isto pode confundir os projetistas que devido ao direcionamento técnico fornecido pela sua educação formal, tendem a buscar normas técnicas sem entenderem a obrigação de cumprirem o constante no ordenamento jurídico, diferente em cada Estado.

Um bom exemplo de harmonização é que alguns Estados por meio de instruções normativas dos respectivos Corpos de Bombeiros Militares estão passando a adotar a NBR 15514 (ABNT, 2008) para a segurança no armazenamento de recipientes transportáveis de gás liquefeito de petróleo (GLP), ou a NBR 17505-7 (ABNT, 2015) para armazenamento de líquidos inflamáveis e combustíveis.

E necessitando um melhor refinamento para concordância entre si, ressaltamos os regulamentos que tratam requisitos também abordados nas normas de desempenho das construções habitacionais, NBR 15575 (ABNT, 2013). A norma de desempenho, imprescindível para o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat do

Ministério das Cidades, em alguns aspectos são discordantes com os regulamentos estaduais, principalmente no que tange aos seguintes aspectos:

a) a norma de desempenho indica, para as saídas de emergência, o dimensionamento pela NBR 9077 (ABNT, 2001), sendo que já existem regulamentações estaduais atualizadas em 2015 que modificam algumas exigências, como distâncias máximas a percorrer e número de saídas;

b) a norma de desempenho indica o uso da NBR 13714 (ABNT, 2000) para o dimensionamento dos sistemas de hidrantes e mangotinhos, e a NBR 12693 (ABNT, 2013) para o uso de extintores de incêndio, sendo que da mesma forma, já existem regulamentos estaduais mais modernos que modificam alguns requisitos como volume de reservatório ou capacidade extintora dos extintores;

c) as discriminações para controle de materiais de acabamento e de revestimento não são as mesmas em alguns pontos, como cozinhas, fachadas e faixa de classes permitidas para alguns ambientes. As minutas das novas Instruções Técnicas do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de São Paulo já apresentam harmonização com a norma de desempenho, contudo, as regulamentações dos demais Estados que introduzem estas normativas, ainda estão fundamentadas nas instruções técnicas mais antigas de 2001 e 2011 conforme o ano de vigência;

d) há discrepância para alguns tempos requeridos de resistência ao fogo para o dimensionamento de segurança estrutural em situação de incêndio, principalmente para os prédios mais altos, assim como o tempo determinado a ser aplicado em elementos de compartimentação (isolamento de riscos).

A existência destas normas e regulamentos não harmonizados causará problemas posteriores para a aprovação de projetos. A inserção de medidas de desempenho nos regulamentos é possível e necessária, ao encontro do contexto mundial, mas deve ser colocada paulatinamente em consonância com a evolução dos recursos humanos e logísticos do país.

Destaca-se mais uma vez a necessidade de um ente a nível nacional que identifique este cenário, faça um diagnóstico para encontrar soluções, e congregue os esforços de todos os

profissionais e entidades envolvidas para a harmonização das normas e regulamentos ao encontro da segurança para a sociedade brasileira.