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2 O CONCEITO DE TEATRO.

2.2 A LEITURA DRAMATIZADA E A CRIANÇA COM TDAH

“A dramaturgia também renova o seu sentido de acordo com o entendimento de texto como algo aliado à ação, e não mais como resultado unicamente literário e prévio, resultante da imaginação de um único autor”. (TONEZZI, 200ι, p.24).

Ler é a decodificação dos símbolos gráficos. A leitura é um processo perceptivo durante o qual se reconhecem símbolos, gerando transparência nos conceitos intelectuais onde a continuidade desse processo resulta num treinamento de qualidade especial.

Ao expandir os limites dessa proposta mais essencialmente pedagógica, explorando a estética teatral com não atores, embriaga-se nesse trabalho com o espetáculo que constitui a comunicação humana em relação aos processos de significação não verbais como, por exemplo: gestos corporais, expressão fisionômica, entonação de voz entre outros, que surgem como elemento importante e não como meros coadjuvantes da linguagem.

O recurso visual, tanto quanto o auditivo e vários outros, pode funcionar portanto como forma auxiliar de compreensão e comunicação. Faz-se necessário, dessa maneira, que o orientador esteja atento em comunicar-se não apenas verbalmente, mas por meio de gestos, inflexões diferenciadas de voz, exemplificações visuais, toques físicos. Num segundo momento, nos trabalhos de voz, são desenvolvidas articulações com vogais, tonalidades, timbres e ressonâncias diversas. (TONEZZI, 2007, p.51).

Não se trata aqui, de exercícios de improvisação e criatividade com voz, em que a sonoridade trabalhada permite a exploração de novas formas de comunicação e expressão. Na verdade são exercícios puramente técnicos de articulação e projeção, onde o objetivo é a percepção e o uso de determinados músculos e movimentos necessários à projeção do som na articulação de palavras e sentenças.

Utilizando-se de um método muito particular, que integra dramaturgia, temas atuais relacionados aos alunos e a sua realidade, e atividades teatrais diversas, oferece um conjunto de variados exercícios, que constituem um estímulo à arte de fazer teatro na escola, é claro, em outros espaços.

Muitos são os sentidos utilizados para a palavra „representação‟. Dentre eles, destaca-se o sentido comum de „tornar presente‟ e de „significar‟; nas artes plásticas, o de „ser imagem ou a reprodução de alguma coisa‟; no teatro, „representar‟ é utilizado não só no sentido de „montar uma peça, leva à cena, exibir montagem final de um espetáculo‟, mas também no sentido de „participação de um ator na encenação ou na interpretação de personagens de uma peça‟. Ainda no teatro, a palavra refere-se também à função maior do trabalho do ator, que é justamente representar (BAREICHA, 2004, p. 26).

De acordo com Bareicha (2004, p.2θ) “O conceito de representação foi cunhado e estudado inicialmente como fenômeno psicológico e depois como fenômeno sócio- psicológico. De modo geral, significa „algo que é impresso em nossas mentes e que interfere nas decisões do indivíduo”.

Portanto as representações sociais são na verdade um processo dinâmico de criação e recriação permanente de uma realidade em uma interação constante e dialética entre o indivíduo e o grupo a que pertence, diz (BAREICHA, 2004, p.26).

Muitos de nós, quando crianças, já adormecíamos ao som da voz de nossos pais, que nos abriam as portas do mundo encantado, ao ler os livros e contar histórias. Para onde vai o prazer infantil, quando essas mesmas histórias são reduzidas a fichas de leitura para serem entregues ao professor?

Contar uma história é abrir uma janela para o mundo. A imagem de janela traz à nossa mente o desenho geométrico de um certo enquadramento do mundo. Em assim sendo, o narrador, aquele que traça essa janela, escolhe de acordo com seus objetivos e interesses, declarados ou não, conscientes ou não, chamar a atenção do seu interlocutor para alguns aspectos da realidade. Para participar dessa seleção de imagens, o leitor olha para esse ângulo do mundo projetado sobre ele o que suas necessidades e expectativas o estimulam. Nesse processo, os fatores desejo e prazer entram em circulação. (AMARILHA, 2000, p.13).

A questão que se impõe aos professores hoje é a recuperação do prazer de ler, perdido já nos primeiros anos de escolaridade. Cabe aos professores e a escola a busca de novas metodologias de ensino, como a inclusão de expressões artísticas, nesse caso o teatro, na prática pedagógica, contribuindo para a formação do leitor.

O teatro é um meio de formação de leitores que pode motivar contagiar o leitor com TDAH para o hábito de ler, em todos os graus de ensino, é o teatro. Ele auxilia a criança com TDAH no aprendizado e na memorização de um determinado conteúdo que na sala de aula em condições normais não conseguiria.

É um recurso dramático utilizado por atores e diretores, para iniciar os trabalhos de criação de personagens. Torna-se, portanto, difícil afirmar que a leitura dramatizada não pode ser considerada uma ação teatral, quando durante seu processo se faz uso de gestos, movimento, corpo, improvisação, máscaras, entonação de voz, temos um texto, assumimos personagens e temos um público. A condição primeira para um gesto ou uma situação estar assinalada pela substantividade teatral é a intenção de ser teatro.

A leitura não é uma via de mão única, os livros, os textos não são fontes de conhecimento para cabeças vazias, mas sim um diálogo entre autores e leitores possuidores de uma cultura, com formações e opiniões próprias. É desse diálogo que surge a produção do sentido. É isso que chama a atenção da criança TDAH, a possibilidade de uma leitura interessante, a ideia de ser e de viver o personagem. Ela não está preocupada com significados, palavras, mais com a imitação, com a ação. Em alguns casos após a leitura percebe-se que o aluno mais disponível a imitação, dramatização do texto é o TDAH.

É agindo, atuando, que consegue demonstrar o nível de interação, receptividade e apreensão; do que sentado conversando a respeito. Não descartando aqui é claro, a possibilidade de uma reação contrária de inibição, intimidação e medo. Cada criança, cada grupo tem a sua característica. Dificilmente encontraremos a mesma reação, é pouco provável. Cada texto promove uma empatia diferente em cada ouvinte. Considera-se nesse processo de leitura as pré-condições (nível de domínio das habilidades de leitura, fluência e repertório), as expectativas positivas (satisfação na leitura, segurança ao se expor em público, as relações interpessoais), seleção adequada dos textos, contos e lendas a serem trabalhadas, de preferência escolhidas pela criança.

A leitura lúdica, conforme a entendemos, depende de dois aspectos: da proposição do texto e da participação do leitor, isto é, inclui em sua dinâmica os aspectos objetivos e subjetivos do processo de leitura. Como aspecto objetivo, consideramos o próprio texto que já possui uma determinada materialidade lingüística e se apresenta ao leitor. Como aspecto subjetivo, entendemos a colaboração do leitor que em sintonia com o texto tece a leitura. Para entendermos essa intersecção é preciso acompanhar, temporariamente, esse processo. (AMARILHA, 2000, p. 16).

Jogar com as palavras do texto, fazer entonação da voz, gesticular, atrair a sua atenção e entusiasmo da criança pelo texto lido é de fundamental importância para o processo de leitura. Segundo Sanctum (2011, p. 91) “De acordo com Boal, a Palavra é uma das maiores criações do ser humano. Através da palavra nossa comunicação pode se ampliar e podemos organizar o mundo através de conceitos”.

Segundo Amarilha (2000, p.1ι) ”Embora o simples conhecimento de todas as palavras de um texto não assegure sua compreensão genérica, é fato, porém, que o leitor não pode dispensar as bases linguísticas expostas no texto para processar uma leitura significativa”.

As práticas da Estética do Oprimido que se concentram na palavra é a produção de poesias, escritos de fatos que mais impressionou o grupo nos últimos tempos. Uma atividade interessante é a Declaração de Identidade, onde cada participante se declara para três destinos diferentes. Poderia escolher me declarar para minha mãe, meu cachorro e meu chefe, por exemplo. De acordo o destinatário da declaração, a forma e o conteúdo do que é escrito se modifica necessariamente. Depois uma análise é feita coletivamente do que foi escrito e lido. É uma forma de vermos as palavras de outra maneira, representando a mesma pessoa de formas distintas. (SANCTUM, 2011, p. 91).

Nesse caso, sem essas condições anteriormente organizadas e pensadas pelo professor, a criança compensará a ausência de prazer com: desatenção, sonolência, irritação, devaneio, hostilidade, inquietação, e por fim abandono da leitura. Cabe ao professor utilizar meios que possibilitem o interesse e chame a atenção. Esses aspectos atrapalham a compreensão da leitura, porque além de haver dificuldade no processamento, as representações não são mantidas pelo tempo necessário para que possam ser processadas. É nesse momento que o teatro, como recurso a leitura dramatizada, gestos, entonação de voz, e movimentos chama a atenção do TDAH, contribuindo como instrumento e meio facilitador desse processo. Após entender esses aspectos, no que se refere à inserção dos participantes, Spolin (2007, p.32) apresenta os pontos essenciais de todo jogo teatral:

O primeiro deles é o foco. Este permite manter o jogo em movimento e é o meio de se chegar ao objetivo. Ao mesmo tempo, apresenta um “problema” a ser solucionado. A sua função é de suma importância: “Através do foco entre todos, dignidade e privacidade são mantidos e a verdadeira parceria pode nascer”; A instrução, segundo ponto a ser valorizado, é o que permite “guiar” o jogo na direção do foco. “A instrução pode ser evocativa, plena de potencialidades; pode ser um catalisador estimulante, provocante”; O terceiro ponto é a avaliação. Esta não se pauta em julgar ou criticar, mas simplesmente “contabilizar” o que foi apreendido ou realizado no decorrer do jogo. “A avaliação, muitas vezes, é uma oportunidade para o professor e os jogadores emitirem uma opinião sobre a „maneira certa‟ de fazer algo”. (SPOLIN, 200ι, p.32-35).

A leitura ativa uma série de ações na mente do leitor, denominadas estratégias de leitura. Uma estratégia é um amplo esquema para obter, avaliar e utilizar informações. O mais importante nesse momento para o professor, enquanto mediador desse processo é a possibilidade que surge de construir significados, que se desenvolvem e se modificam durante a leitura.

Percebe-se, no entanto que a leitura como a escuta dos textos dramatizados reativam zonas do cérebro que nos esquecemos de usar na percepção rasa, plana da linguagem.

A brincadeira como a arte proporciona no ambiente escolar, infinitas possibilidades de construção e criação facilitando a leitura e a contextualização de todos os conteúdos, independentemente de sua área específica.

É nesse aspecto que as técnicas, exercícios e jogos teatrais do Teatro do Oprimido somam a esse trabalho práticas que contribuem para a construção do processo de leitura, consciência corporal, desenvolvimento da imaginação, memorização e autonomia da criança com TDAH.

Estabeleci, pois, o teatro do oprimido para compor o campo de trabalho teórico- prático, por acreditar que ele é um conjunto de técnicas que convergem para o tema e que se firmam a partir de uma contribuição equilibrada de trabalho coletivo, contribuindo para a formação da criança com TDAH nos vários contextos, mas, principalmente, no contexto dramático e com a manutenção do vínculo educacional.