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A Leitura e a Escrita da Linguagem Matemática e a Alfabetização Matemática

No documento DOUTORADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA (páginas 180-184)

Capítulo IV Alfabetização e Letramento

4.6 A Alfabetização Matemática na Perspectiva de Ocsana Danyluk

4.6.3 A Leitura e a Escrita da Linguagem Matemática e a Alfabetização Matemática

A leitura e a escrita da Linguagem Matemática foram processos estudados por Ocsana Danyluk (1989, 1991a, 1991b, 2002) em suas pesquisas. Tais processos foram abordados diante do interesse da autora em pesquisar o fenômeno alfabetização matemática, a partir da Alfabetização, comumente discutida em Língua Materna.

Na busca de conhecer o significado da palavra Alfabetização, Danyluk (2002) foi conduzida a outras palavras, como, por exemplo, leitura, escrita e alfabeto. A autora utilizou como base para seus estudos duas definições para o

termo, uma, retirada do dicionário Aurélio (1993) e outra dos estudos desenvolvidos na área de Língua Portuguesa, que, para Danyluk (2002), tem caráter mais pedagógico. O dicionário define a alfabetização como ação de alfabetizar, de propagar o ensino da leitura, [...] alfabetizar é ensinar a ler (DANYLUK, 2002, p.20). Já a definição com caráter mais pedagógico, foi apresentado pela autora como algo que diz respeito à aprendizagem da leitura e da escrita e não somente ao ato de ler.

A partir de tais definições é que a autora entendeu não ser possível desvincular o termo alfabeto desse processo, pois para ler e escrever os alunos precisam conhecer os signos que darão significados às suas ações no processo de alfabetização. Pensando dessa mesma forma em matemática, a autora adotou o termo alfabetização matemática em seus estudos que focalizam o processo de leitura e de escrita da linguagem matemática. Dentro desse raciocínio, a autora diz que,

considerada como ciência, a matemática mostra-se mediante uma linguagem, a qual possui uma disposição convencional de ideias que são expressas por signos com significados. Um exemplo disso é o próprio sistema de numeração, em que cada símbolo representa uma ideia que diz sobre uma quantidade. Quer dizer, são signos transcritos pelos diferentes numerais, que podem ser tomados como parte do alfabeto matemático (DANYLUK, 2002, p.20).

Sendo assim, a autora entende que a Alfabetização Matemática está completamente relacionada a leitura e a escrita da linguagem matemática, utilizada nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

De acordo com o pensamento de Danyluk (2002), a Matemática apresenta uma linguagem de abstração completa e como qualquer sistema linguístico, necessita de signos que expressem uma mensagem.

A Matemática possui signos para comunicar significados matemáticos. Assim, a leitura da linguagem matemática acontece a partir do domínio, da compreensão e da interpretação dos signos e das relações implícitas do que está sendo dito. Ao ter este domínio, o aluno, em seu meio, exerce sua comunicação de forma consciente, podendo ocorrer através da escrita matemática.

Portanto, a Alfabetização Matemática de Danyluk (2002) diz respeito aos atos de aprender a ler e a escrever a linguagem matemática, utilizada nos anos iniciais da escolarização. Ela é entendida como fenômeno que trata da compreensão, da interpretação e da comunicação dos conteúdos matemáticos ensinados na escola, tidos como iniciais para a construção do conhecimento matemático (p.20). A partir desta ideia central a autora entende que o aluno alfabetizado em Matemática compreende o que leu e escreve o que se compreende a respeito das primeiras noções de lógica, de aritmética e de geometria.

Dentro desta perspectiva, a leitura e a escrita das primeiras ideias matemáticas fazem parte do contexto de alfabetização. De acordo com a autora, leitura e escrita podem fazer parte da etapa cujas primeiras noções das diversas áreas do conhecimento podem ser enfocadas e estudadas dentro de um contexto geral da alfabetização (DANYLUK, 2002, p.21).

Isso significa que as ideias de Alfabetização Matemática de Danyluk (2002) estão diretamente relacionadas à Alfabetização em Língua Materna e aos anos iniciais de escolarização, sem perder de vista a importância do contexto da criança de forma macro e o papel do professor nesse processo, utilizando-se de práticas em que o diálogo e a escuta sejam ações recorrentes.

No processo de Alfabetização Matemática de Danyluk (1989) a sintática não pode se sobrepor à semântica. É neste sentido que a autora acredita na necessidade de envolvimento da criança com o que foi lido; o que foi lido, por sua vez, precisa adquirir um sentido e um significado no contexto, lugar onde o homem se insere; o leitor-receptor precisa reelaborar o que leu, atribuindo novos significados e, desta forma, a criança precisa compreender, interpretar e comunicar com consciência a Linguagem Matemática. Dentro de todo este quadro, a autora não descarta em hipótese alguma, o papel social e cultural do meio em que a criança vive, acreditando que é a partir da realidade dela que o interesse pela aprendizagem pode se dar.

Toda a aprendizagem do registro matemático está relacionada ao por quê, ao como e ao o quê as crianças aprendem. Elas aprendem, de acordo com Danyluk (2002) para se identificar, informar, representar e serem solícitas umas com as outras. Escrevem para registrar a compreensão sobre o contar, para fazer

correspondências, comparações e para estabelecer relações de ordem. As crianças escrevem e atribuem significado ao que escreveram neste processo.

Por fim, os registros são feitos de diferentes formas, sendo eles representados por gestos, desenhos, sinais, representações gráficas de números e séries de números. Para a autora, tais atos de registro são necessários para que a criança desenvolva o sentido, o significado e o mecanismo da escrita convencional (DANYLUK, 2002, p. 230). Estes aspectos permeiam a Alfabetização Matemática de Danyluk (2002) e precisam ser trabalhados nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Diante do exposto, a autora chega à conclusão que o sentido e o significado da Alfabetização Matemática está no contexto em que ela é trabalhada, da mesma forma como ocorre ou deveria ocorrer com a alfabetização em Língua Materna. Tanto a Língua Materna, como a Matemática são dois componentes da alfabetização que são mostrados por uma linguagem repleta de signos, cujos significados estão diretamente relacionados ao contexto de uso e de aprendizagem. As letras e os números são signos a serem lidos e escritos, fazendo parte de sistemas de representações criados e adotados pelos homens.

Nesta busca, a autora atribui papel importante ao docente, quando diz que

o professor que alfabetiza, no início da escolarização, deve respeitar o modo pelo qual as crianças realizam seus registros, permanecendo com a criança, ouvindo-a e permitindo que ela escreva aquilo que sabe. Seus registros devem ser vistos como produções criativas, espontâneas e não como escritas em que falta exatidão (DANYLUK, 2002, p.231).

Desta forma, o professor precisa conhecer e saber o que a criança é capaz de fazer antes de entrar na escola.

A autora afirma que somente no momento em que o professor se considerar aprendiz e se colocar em estado de escuta ouvindo o que seu aluno já sabe fazer de Matemática e o que ele cria é que o ensino da Matemática mudará (DANYLUK, 2002. p. 233). O professor precisa compreender seu papel de desenvolvedor e

estimulador do diálogo e da escuta em sala de aula para que a matemática ensinada seja criativa, viva e significativa.

Nesta perspectiva, a compreensão da autora, quanto ao processo de Alfabetização Matemática:

diz respeito aos atos de ler e de escrever a linguagem matemática. Quanto ao ato de ler, envolve a compreensão e a interpretação dessa linguagem. E a escrita faz com que a compreensão existencial e a interpretação desenvolvidas sejam fixadas e comunicadas pelo registro efetuado. Ainda, permite melhor expressão e desenvolvimento do pensamento, podendo o registro escrito ser retomado continuamente pelo sujeito-autor e por outros sujeitos, companheiros ou não de uma mesma interrogação. Possibilita, igualmente, uma dialética entre o já pensado e fixado pela escrita e aquilo que está sendo construído em um momento presente pelo sujeito e seus interlocutores. Ao professor alfabetizador compete tornar vivos os momentos de criação de escritas durante as aulas (DANYLUK, 2002, p.234).

Desta forma, quando a criança ler, compreender, interpretar e comunicar os signos e símbolos expressos pela linguagem matemática e sua consciência voltar-se ao desvelamento dos significados que estão implícitos, podemos dizer que a criança foi alfabetizada matematicamente nos moldes de Danyluk (1989, 2002).

4.7. A Alfabetização ou Letramento Matemático de Maria da Conceição Ferreira

No documento DOUTORADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA (páginas 180-184)