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Discussões Acerca da Alfabetização de “Caráter Finito”

No documento DOUTORADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA (páginas 135-138)

Capítulo IV Alfabetização e Letramento

4.2 Discussões Acerca da Alfabetização de “Caráter Finito”

De acordo com as ideias apresentadas por Cook-Gumperz (1991), a Alfabetização por volta do século XVIII ocorria pelas necessidades surgidas no interior das famílias. Ela se desenvolvia vinculada ao dia a dia, às necessidades do homem e, portanto, apresentava uma finalidade.

Todas essas “intencionalidades”, muitas vezes, relacionavam-se a questões políticas e de poder, onde o conhecimento e seu domínio determinava a posição de destaque que possivelmente o cidadão assumiria na sociedade. Contudo, é importante ressaltar que nesse contexto os “direitos” não eram igualitários, tampouco representavam alguma possibilidade de ascensão social, mas sim eram instrumentos de manutenção das posições sociais e, portanto, não eram acessíveis a todos.

A mão de obra rural era a que prevalecia nesta época. No entanto, a partir do desenvolvimento econômico, esta passa a ser substituída pela mão de obra operária, exigindo dos cidadãos uma melhor formação, embora, no caso da Alfabetização, ainda com caráter mecânico e restrito ao domínio da leitura e da escrita.

Em decorrência de tais mudanças, é atribuído à escola papel fundamental de principal instituição de formação. Nesse contexto, a alfabetização vista como técnica de leitura e escrita surge de maneira fundamental no processo de formação dos cidadãos, sendo responsabilidade direta da escola.

Tal visão, ou seja, a Alfabetização vinculada ao ensino e aprendizagem da leitura e da escrita, também foi considerada por Abud (1987) como de caráter restrito e ligada ao método tradicional de ensino, no qual não necessariamente havia

interação direta do estudante com o conhecimento, cabendo ao professor “ensinar” as letras e suas “combinações” aos alunos.

Ao considerar a relação direta entre escolarização e alfabetização nos moldes apresentados nos cinco parágrafos anteriores, Tfouni (2004) acredita que isso desencadeia o desenvolvimento de uma visão finita do processo de alfabetização. Pois, em parte, essa visão é permeada por um processo limitado a objetivos a serem atingidos, objetivos esses que são fruto de uma necessidade da instituição escolar e não do educando. Este, nesta concepção, fica sujeitado ao conhecimento ensinado por aquela, sem muitas vezes, ter a possibilidade de transcender as realidades (própria e escolar).

Diante destas questões e influenciados também por ideias freirianas (FREIRE, 1976, 1990), professores, pesquisadores e outros estudiosos começaram a buscar transcender as visões finitas preponderantemente presentes no processo de ensino e aprendizagem da Alfabetização. As ideias que nortearam tais mudanças relacionaram-se à educação como prática da liberdade e, consequente, à conscientização do homem na sociedade.

Discussões sobre a necessidade do uso social da escrita, da leitura, da utilização crítica dos conhecimentos no sentido do homem poder agir e interagir na sociedade diante de problemas do dia a dia tomaram conta do ambiente educacional e contribuíram para o processo de ampliação do conceito de alfabetização.

A partir de 1975, o Simpósio Internacional sobre Alfabetização de Persépolis aprova uma declaração que amplia o conceito de Alfabetização, dando-o um sentido que transcende a aprendizagem da leitura e da escrita (PENHA e MONTEIRO, 2005). A ideia posta era a de desenvolver, através destas ferramentas, a consciência crítica do educando, possibilitando transformação social. Conforme Silva e Espósito (1990) esta passa a ser a discussão de âmbito acadêmico científico à época.

Compreendendo todo este processo como tal, Giroux (1989) afirma que,

(..) a alfabetização, como constructo social, teve de ser enraizada em um espírito de crítica e em um projeto de possibilidades que permitissem às pessoas participar no entendimento e na

transformação de suas sociedades... a alfabetização tinha que se tornar um pré-requisito para a emancipação social e cultural (p.148).

Giroux (1989) evidencia a necessidade de um vínculo da Alfabetização a um processo crítico e de formação voltado à democracia. Uma alfabetização como veículo que pode conduzir o cidadão a novas possibilidades sociais e à ampliação do repertório cultural do homem, por meio de sua inserção nas práticas sociais de leitura e escrita. Assim, salienta que a alfabetização com visão restrita,

(...) está também fundamentalmente ligada a formas de ignorância política e ideológica que funcionam como uma recusa em conhecer os limites e as consequências políticas no mundo de alguém. (...) O que é importante reconhecer aqui é a necessidade de reconstituir uma visão radical de alfabetização, centrada na importância de identificar e transformar essas condições sociais e ideológicas que minam a possibilidade de formas de vida comunitária e pública organizadas em torno dos imperativos de uma democracia crítica (GIROUX, 1989, p.151).

Nesta perspectiva, Giroux (1989) tenta levar ao entendimento das pessoas a necessidade de mudança da forma como a Alfabetização estava sendo vista (Abud, 1987; Cook-Gumperz, 1991; Tfouni, 2004) e praticada ao longo da história. A visão que se propunha era diferente, que extrapolasse, por exemplo, a aquisição de códigos no simples aprendizado da leitura, da escrita na Língua Materna e na Matemática.

Sob esse mesmo ponto de vista, foi que Tfouni (1986) desenvolveu estudos evidenciando a necessidade de se pensar ou propor uma teoria de letramento que não se voltasse apenas à aquisição da leitura e da escrita, diferenciando assim letramento de alfabetização. Os conhecimentos (baseados no Letramento) deveriam ter preocupações políticas e sociais de inclusão e justiça, contribuir para a libertação do homem e seu pleno desenvolvimento. A ideia pregada era que o homem ao adquirir criticamente a “tecnologia” do ler e escrever, seja em Língua Materna ou Matemática, adquirisse também a capacidade de agir socialmente, por meio da aplicação dos conhecimentos adquiridos em contextos específicos e com uma intencionalidade determinada.

Dentro deste quadro de novas ideias, fatos e maneiras de compreender o processo de acesso, construção e uso do conhecimento, foi que o termo Letramento foi adotado para designar o caráter funcional da alfabetização. Nesse sentido, observamos que tanto a língua materna como a matemática assumem papel significativo.

No documento DOUTORADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA (páginas 135-138)